Importância da flora espontânea dos quintais- IV

Serralha

A serralha, também denominada de chicória-amarga e serralha-branca, é uma espécie conhecida por muitos. Antes era usada com frequência na alimentação, mas, que com o tempo, foi sendo esquecida ou deixada de ser utilizada como alimento. Mesmo não mais recebendo a devida atenção pelo ser humano, ainda persiste, felizmente, em nossos quintais. Apesar de não ser nativa, no Brasil ocorre nas lavouras, nos quintais e até nas calçadas, demonstrando o quanto é resistente e de fácil cultivo.

Além do uso como alimento, é uma espécie que atrai pulgões e, consequentemente, também as joaninhas, as quais são inimigos naturais desses e de outros insetos. Também pode ser utilizada na alimentação animal, pois é bem aceita pelo gado.

O nome científico da serralha é Sonchus oleraceus L, que se propaga facilmente por sementes, fato que lhe garante a sua sobrevivência nos mais versos locais. Quando o solo é rico em matéria orgânica e bem arejado, cresce em abundância, e com melhores qualidades nutricionais.

Para ser consumida, é considerada de melhor sabor antes do florescimento, mas algumas pessoas consomem também as suas flores. É comum ser cozida juntamente com o feijão, o que, segundo alguns, facilita a digestão.

Como medicinal, tem tido algumas referências no tratamento do vitiligo, ainda não comprovado cientificamente, tanto na forma de consumo in natura, quanto aplicada em compressas ou em emplastro sobre a área com sintomas de vitiligo. Outros usos populares são: digestiva e diurética; e recomendada para tratar cistites, feridas, escaras, úlcera varicosa e falta de apetite.

Algumas pesquisas revelaram resultados, como, por exemplo, que a serralha possui atividade antioxidante, altos valores pró-vitamínicos A, quando comparadas às folhas de salsão e hortelã. Nas pesquisas que realizamos, relacionadas com a qualidade nutricional de plantas espontâneas, comprovamos que a serralha é uma boa fonte de ácido ascórbico e de sais minerais.

Texto: Marcos Roberto Furlan e colaboração da farmacêutica Giany Margareth de Cassia Thomazin


Fonte da foto: Link: http://pt.wikipedia.org/wiki/Serralha

terça-feira, 26 de junho de 2012

Fatores que afetam os teores de princípios ativos - V

Aspectos da reprodução dos vegetais

Conhecer aspectos relacionados à forma de reprodução dos vegetais é essencial na produção de plantas medicinais, pois influencia na variação dos teores de princípios ativos.

Santos e Motta (2008) observam que, quando as flores apresentam estames e pistilo, são ditas perfeitas (bissexuadas) ou hermafroditas, ou monoclinas. Se apresentam somente androceu (flores estaminadas) ou somente o gineceu (flores pistiladas), são chamadas flores imperfeitas (unissexuais) ou diclinas.

Espécies monoicas

As espécies que produzem flores masculinas (estaminadas) e flores femininas (pistiladas), na mesma planta, são denominadas de monoicas. Se os estames e os pistilos estiverem na mesma flor, a planta é denominada de hermafrodita, sendo que alguns autores a consideram também como monoica.

Plantas com flores hermafroditas têm mais chances de serem autopolinizadas, e, portanto, produzir descendentes com menor variação de princípios ativos. No entanto, alguns fenômenos podem impedir que isso ocorra, como, por exemplo, a dicogamia e a autoincompatibilidade.

Na dicogamia, na mesma flor ocorrem diferenças quanto à maturidade dos órgãos masculinos e femininos, isto é, um amadurece primeiro do que o outro. Quando o outro amadurece o primeiro pode não estar mais disponível. Quanto à autoincompatibilidade, há algum impedimento fisiológico para que ocorra a autofecundação, o qual, geralmente, é de origem genética.

Infelizmente, não é possível reconhecer visualmente algum mecanismo que impede a planta monoica de se autopolinizar.

Exemplos de espécies monoicas:

Achillea millefolium
Calendula officinalis
Matricaria chamomilla
Foeniculum vulgare
Melissa officinalis
Phyllanthus niruri
Plantago major
Ruta graveolens
Salvia officinalis
Taraxacum officinale
Thymus vulgaris

Alogamia

Uma forma de reprodução que mais provoca variabilidade no teor de princípios ativos é aquela na qual o grão de pólen de um indivíduo é transportado para o estigma da flor de outro indivíduo. É denominada de alogamia ou de fertilização cruzada. A planta que possui essa forma de reprodução é classificada como alógama.

Espécies alógamas

Helianthus annuus
Petroselinum crispum
Rheum officinale
Rosmarinus officinalis

Autogamia

Se a oosfera (óvulo da flor) for fecundada pelo grão de pólen de uma mesma flor ou de flores distintas, mas presentes no mesmo indivíduo, a reprodução é denominada de autogamia, e a planta classificada como autógama.

Como nas plantas autógamas ocorre a autopolinização, espera-se menos variabilidade genética entre os indivíduos, pois as plantas que se reproduzem por autofecundação são quase ou completamente  homozigóticas.

Importante realçar que em muitas espécies podem ocorrer as duas formas, com predominância de uma. Para facilitar a classificação, tendo em vista a possibilidade de ocorrência das duas formas na mesma espécie, pesquisadores consideram plantas alógamas as que possuem mais de 40% de taxa de polinização cruzada.

Os agentes naturais da polinização, tais como, vento, insetos, pássaros, aves e morcegos, podem favorecer uma das duas formas.

Espécies autógamas

Catharanthus roseus
Ocimum basilicum
Ocimum carnosum


SANTOS, D. Y. A. C.; MOTTA, L. B. Diversidade da morfologia floral. In: SANTOS, D. Y. A. C.; CHOW, F.; FURLAN, C. M. (org.) Ensino de Botânica - Curso para atualização de professores de Educação Básica: A Botânica no cotidiano. São Paulo: Universidade de São Paulo, Fundo de Cultura e Extensão: Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo, Departamento de Botânica, 2008. p.13-18. (Projeto de Cultura e Extensão).



Fonte: alterado de 


Planta da semana: erva-baleeira - II


Notícia publicada em 2005, sobre o fitoterápico produzido a partir da erva-baleeira

Antiinflamatório 100% nacional

Acheflan é o primeiro antiinflamatório fitoterápico desenvolvido no Brasil. Com dois meses no mercado, empatou em vendas com o conhecido Cataflan, informou a Agência Fapesp em 31/8. “Nenhuma parte da pesquisa foi realizada fora do Brasil”, disse o pesquisador em farmacologia João Batista Calixto, da Universidade Federal de Santa Catarina, que levou “vida dupla” nos últimos sete anos, para manter o segredo do projeto, quase que totalmente desenvolvido com recursos privados. O Laboratório Aché e o grupo de pesquisa assinaram um contrato de prestação de serviço. “Todos que participaram receberam pelos serviços, não existe direito sobre royalties ou algo parecido”.

O antiinflamatório é feito com base numa planta da Mata Atlântica, a erva-baleeira ou maria milagrosa (Cordia verbenacea). O dono do laboratório, Victor Siaulys, jogava tênis no Guarujá (SP) quando sofreu contusão. “Apareceram com uma solução caseira que foi aplicada no ombro, e a melhora foi bem rápida”, contou o médico Dagoberto Brandão, dono da consultoria Pharma Consulting. Os três, então, deram início ao processo de desenvolvimento do antiinflamatório fitoterápico nacional.

O farmacólogo pretende continuar aproximando as pesquisas feitas na universidade e a iniciativa privada. “Existe muito ranço sobre essa questão no Brasil. De um lado, é preciso dizer que não adianta nada existir a patente se, por trás disso, não vier a inovação, a novidade e a aplicação industrial”. E a iniciativa privada, para ele, deve ter em mente que o conhecimento tem valor em si mesmo. “Muitos querem tudo de graça”. Os detalhes do projeto foram apresentados pela primeira vez à comunidade científica na Reunião Anual da Federação de Sociedades de Biologia Experimental (Fesbe) encerrada em 27 de agosto na cidade de Águas de Lindóia (SP).

“O dossiê enviado à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) com o objetivo de aprovar o medicamento é considerado uma referência”, elogia Dagoberto Brandão. “Todas as fases dos testes pré-clínicos e clínicos foram realizadas com absoluta precisão.” E acrescenta: “Em 100% dos testes em humanos nenhum efeito adverso foi registrado”. Para ele, há no caso uma grande vitória simbólica: “Isso serve para mostrar aos jovens estudantes, ao governo em geral e a toda a população que nós podemos fazer. Isso representa um sonho de muitas pessoas”.

Ele acredita que o que restou ao Brasil é desenvolver medicamentos a partir de plantas. “Não adianta querer ganhar a primeira divisão, se o nosso time está apto a jogar na segunda”. O Laboratório Aché gastou R$ 15 milhões para desenvolver o produto, valor considerado pequeno para o desenvolvimento de um medicamento desse tipo.