sábado, 6 de outubro de 2012

Farmers have a passion for peppers


Texto: Kristi Pihl, Tri-City Herald

Spicy or sweet, oblong or round, chili peppers fill the passionate hearts of a few Columbia Basin farmers.

At Alvarez Organic Farms of Mabton, chili peppers are Hilario Alvarez's specialty. "That is what he really loves growing," said Eddie Alvarez, Hilario's son.

Alvarez Organic Farms has more than 150 varieties of chili peppers covering about 30 acres, he said. And his dad continues to create new varieties each year by cross-pollinating chili pepper plants to meet the demand he sees.

For Rudy Pea, his passion for chili peppers took him from growing peppers in his Kennewick backyard to filling a half-acre on a Pasco field with more than 5,000 plants.

Pea's efforts to create a blend from his peppers for wife Michelle's eggs resulted in the Tri-City blend sold by his small business, Rudy's Pepperblends.

Washington doesn't make it on the list of states that produce the most chili peppers -- unlike California, Arizona, New Mexico and Texas, according to the U.S. Department of Agriculture.

And Washington's 55 acres are barely a blip in the 22,100 acres grown nationwide. The state may not make the list of top chili growers, but chilies are among the more than 300 crops grown in Washington, making us one of the most agriculturally diverse states.

The national production is valued at $146.8 million, with 4.8 million cwt, or hundredweight, of chilies produced in 2011, according to the USDA.

But that doesn't stop Alvarez Organic Farms from being well known for its chili peppers and its edible chili pepper wreaths, Eddie Alvarez said.

Chili peppers range from sweet to hot and are good for everything from roasting and grilling to creating salsa, he said. They add color and a little kick to practically any dish.

"A lot of people think that peppers are just hot," he said.

But some peppers, like the sugar baby, are so sweet, he said it's almost like eating candy.

The ghost pepper is one of the hottest that both Alvarez and Pea grow. Pea said it's rated 1 million on the Scoville scale that rates the heat of chili peppers, unlike jalapeos, which are about 10,000.

Both Pea and Alvarez are harvesting chili peppers by hand now.

Alvarez said his family and their crew of 15 started harvesting chili peppers in August. He hopes to continue harvesting through the first few weeks of November, but that's all dependent on Mother Nature, he said. They harvest 40 to 50 tons of chilies a year.

It's time intensive to pick chili peppers, especially the tiny ones, Alvarez said. One of the smallest is called bird beak, and while small, it packs a spicy punch.

Once the first frost hits, Alvarez said they will go full throttle to pick everything they can before the first large frost comes.

Pea started picking at the end of August. The first freeze will mark the end of his harvest. If not for the freezes, Pea said the plants would last 20 to 30 years.

Instead, Alvarez and Pea said they tend to start planting pepper plants in greenhouses in February each year.

By May, Alvarez is planting the pepper plants on about a quarter of his 120 acres. He grows about 250 varieties of vegetables, including bell peppers, squash, potatoes, onions, okra, beans and corn.

Water for the plants, Pea said, is critical.

By late July, the green peppers had started to change color, Pea said.

Chili peppers start green, and as they turn color, they become more flavorful and hotter, Alvarez said. While some like to use the green chili peppers, most customers wait for the red ones.

Red tends to be the final color for chili peppers, although they may turn purple or yellow before going to red. And some will become a bright orange or yellow chili pepper, he said.

On some plants at Pea's field, different types of the peppers can be seen. A cross between a Thai dragon and a pequin pepper plant has small, round peppers like the original pequin, and a skinny, stubby version of a Thai dragon and a longer, sweeter version of the normal Thai dragon.

Pea said his varieties have continued to increase in the past six years as his plants have cross-pollinated themselves, creating new ones.

One benefit is that more of his chili peppers will just fall off the stem, instead of having to use fingernails to peel the stem from the top of the pepper, Pea said.

Next year, Pea said he plans to grow fewer plants. This year, he had more than he needed. It's too much for one person, he said.

Pea dries, smokes and grinds them. He uses the Pasco Specialty Kitchen to create his products, including blends of chili peppers, which can be used for cooking, and a dry salsa blend that customers add to a can of diced tomatoes.

Rudy's Pepperblends are available at the Pasco and Richland farmers markets, the Kennewick Red Apple Market, Country Mercantile and Pasco's Knutzen's Meats.

Alvarez said his dad got into chili peppers while he was growing them in Mexico for another farmer.

Once he moved to the United States and started his farm 35 years ago, that's what he started growing.

Pepper wreaths are something his dad came up with. Once they are hung in a cool, dry place for a few weeks, they can be saved all year and used as dried peppers, he said.

Alvarez said he started drying chili peppers about five years ago. He's tried smoking them with mesquite or hickory or drying them to make a nice chipotle pepper.

Alvarez sells his peppers at the Pasco Farmers Market and other farmers markets, including many in the Seattle area. He also sells chili peppers to restaurants, grocery stores and even a chocolatier.
  
Data: 06.10.2012
Link:

Algumas espécies nativas e medicinais do Jardim Botânico do Rio de Janeiro

 Unha-de-vaca
 Cacau
 Andiroba
Ipê-roxo
Pau-ferro
Bauhinia forticata Link
pata-de-vaca; unha-de-vaca; bauinia; mororó
Família: Leguminosae
Usos populares: Antidiabético, combate a elefantíase, expectorante, diurético.
Ações terapêuticas: Antiinflamatório, hipoglicemiante.

Carapa guianensis Aubl.
Andiroba
Família: Meliaceae
Usos populares: Antidiarréico, anti-reumático, febrífugo, hepático, resolutivo nas doenças da pele, purgativo, tônico, vermífugo, repelente para insetos.
Ações terapêuticas: Antiinflamatório.

Tabebuia impetiginosa (Mart. ex DC.) Toledo
Ipê-roxo, pau-d’arco
Família: Bignoniaceae
Usos populares: Antidiarréico, antiinfeccioso, antiinflamatório, antitumoral, depurativo, febrífugo.
Ações terapêuticas: Antiinfeccioso, cistostática, imunoestimulante.

Theobroma cacao L.
Cacaueiro
Família: Sterculiaceae
Usos populares: Estimulante, diurético, para angina do peito e pressão alta; "manteiga" para queimaduras.
Ações terapêuticas: Estimulante, diurético, dilata os brônquios.

Caesalpinia ferrea Mart.
Jucá, pau-ferro; muirê-itá
Família: Leguminosae
Usos populares: Antidiarreico, antianêmico, cicatrizante, hemostático, peitoral, tônico.
Ações terapêuticas: Anti-helmíntico, hipoglicemiante.

Edital seleciona projetos de pesquisa em agroecologia e sistemas orgânicos - Jornal da Mídia

Link: 


Brasília  – O Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Ministério da Educação (MEC) e Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), por meio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), tornam pública a chamada MCTI/MEC/Mapa/CNPq nº 46/2012, cuja íntegra encontra-se disponível na página do CNPq na Internet: http://www.cnpq.br.

Objetivo: selecionar propostas para apoio financeiro a projetos que integrem atividades de extensão tecnológica, pesquisas científicas e educação profissional para construção e socialização de conhecimentos e práticas relacionados à agroecologia e aos sistemas orgânicos de produção, com a implementação ou manutenção de Centros Vocacionais Tecnológicos (CVT) em Agroecologia e Produção Orgânica ou de Núcleos de Estudo em Agroecologia e Produção Orgânica (NEA).


As propostas aprovadas serão financiadas com recursos no valor global estimado de R$ 8,9 milhões. A íntegra da chamada pode ser obtida no site http://www.cnpq.br, onde podem ser obtidas todas as informações.

Data: 06.10.2012

Eric Hobsbawm - 1917-2012


Veja a repercussão da morte de um dos maiores historiadores do século XX.


O historiador britânico Eric Hobsbawm morreu de pneumonia nesta segunda-feira (1º) aos 95 anos em Londres. O intelectual marxista é considerado um dos maiores historiadores do século XX. Ele também era um entusiasta e crítico do jazz, escrevendo resenhas para jornais sobre o gênero musical e publicando o livro "História social do jazz".

Sua filha, Julia Hobsbawm, disse: "Ele morreu de pneumonia nas primeiras horas da manhã em Londres. Ele fará falta não apenas para sua esposa há 50 anos, Marlene, e seus três filhos, sete netos e um bisneto, mas também por seus milhares de leitores e estudantes ao redor do mundo". "Até o fim, ele estava se esforçando ao máximo, ele estava se atualizando, havia uma pilha de jornais em sua cama", completou a filha.

Trajetória - Eric John Ernest Hobsbawm nasceu de uma família judia em Alexandria, no Egito, em 9 de junho de 1917. Seu pai era britânico, descendente de artesãos da Polônia e Rússia, e a família de sua mãe era da classe média austríaca. Hobsbawn cresceu em Viena, capital da Áustria, e em Berlim, capital da Alemanha.

Ele aderiu ao Partido Comunista aos 14 anos, após a morte precoce de seus pais. Na ocasião, ele foi morar com seu tio. Na escola, ele informou o diretor que ele era comunista e argumentou que o país precisava de uma revolução.

"Ele me fez umas perguntas e disse: 'Você claramente não faz ideia do que está falando. Faça o favor de ir à biblioteca e veja o que consegue descobrir'", disse em uma entrevista à BBC em 2012. "E então eu descobri o Manifesto Comunista [de Karl Marx] e foi isso", relatou, indicando o começo de sua formação marxista.

Em 1933, quando Hitler começava a subir no poder na Alemanha, Hobsbawm foi para Londres, na Inglaterra, onde obteve cidadania britânica.

O historiador se filiou ao Partido Comunista da Inglaterra em 1936 e continuou membro da legenda mesmo após o ataque das forças soviéticas à Hungria em 1956 e as reformas liberais de Praga em 1968, embora tenha criticado os dois eventos. O ex-líder do partido Neil Kinnock chegou a chamar Hobsbawm de "meu marxista predileto".

Anos depois, ele disse que "nunca havia tentado diminuir as coisas terríveis que haviam acontecido na Rússia", mas que acreditava que, no início do projeto comunista, um novo mundo estava nascendo.

Durante a Segunda Guerra Mundial, Hobsbawm foi alocado a uma unidade de engenharia em que foi apresentada a ele, pela primeira vez, a classe proletária. "Eu não sabia muito sobre a classe proletária britânica, apesar de ser comunista. Mas, vivendo e trabalhando com eles, pensei que eram boas pessoas", disse à BBC em 1995.

O historiador aprovou neles a "solidariedade, e um sentimento muito forte de classe, um sentimento de pertencer junto, de não querer que ninguém os derrubasse". Hobsbawm afirmou que ele tinha vivido "no século mais extraordinário e terrível da história humana".

Ele veio ao Brasil em 2003 participar da primeira edição da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), evento do qual foi estrela.

Vida acadêmica - Hobsbawm estudou no King's College de Cambridge e começou a dar aula na Universidade de Birkbeck em 1947, mais tarde tornando-se reitor da instituição. Ele também passou temporadas como professor convidado nos Estados Unidos e lecionou na Universidade de Stanford, no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT) e na Universidade de Cornel.

Em 1998, ele recebeu o título de Companhia de Honra. O prêmio, raramente concedido a historiadores, o colocou ao lado de ilustres como Stephen Hawking, Doris Lessing e Sir Ian McKellan.

Seu colega historiador A.J.P. Taylor, morto em 1990, disse que o trabalho de Hobsbawm se destacava pelas explicações precisas dos acontecimentos pelo interesse em pessoas comuns. "A maior parte dos historiadores, por uma espécie de mal da profissão, se interessa somente pelas classes mais altas e pressupõe que eles mesmos fariam parte destes privilegiados se tivessem vivido um século ou dois atrás - uma possibilidade muito remota", escreveu Taylor. "A lealdade do Sr. Hobsbawm está firmemente do outro lado das barricadas", disse.

Obras - O primeiro livro de Hobsbawm, "Rebeldes primitivos", publicado em 1959, é um estudo dos que ele chamava de "agitadores sociais pré-políticos", incluindo ligas de camponeses sicilianos e gangues e bandidos metropolitanos, um exemplo de seu interesse pela história das organizações da classe trabalhadora.

No mesmo ano, ele escreveu uma obra sobre jazz e começou a colaborar como crítico para a revista "New Statesman" usando o pseudônimo Francis Newton, em homenagem ao trompetista comunista que acompanhava a cantora americana de jazz Billie Holiday.

Em 1962, ele publicou "Era da revolução", primeiro de três volumes sobre o que chamou de "o longo século XIX", cobrindo o período entre 1789, ano da Revolução Francesa, e 1914, começo da I Guerra Mundial. Os seguintes foram "Era do capital" (1975) e "Era dos impérios" (1987).

O quarto livro da sequência, "Era dos extremos" (1994), retratou a história até 1991, com o fim da União Soviética. Ele foi traduzido para quase 40 línguas e recebeu muitos prêmios internacionais.

Suas memórias, publicadas quando tinha 85 anos, elencaram os momentos cruciais na história europeia moderna nos quais ele viveu, e também foram um best-seller. Seu último livro é "Como mudar o mundo", de 2011, e é um compilado de textos escritos, desde a década de 1960, sobre Karl Marx e o marxismo. De acordo com o jornal britânico "The Guardian", ele tem um livro em revisão a ser publicado em 2013.

O século de Hobsbawm
Artigo de Vladimir Safatle, professor livre-docente do Departamento de filosofia da Universidade de São Paulo.

Morreu ontem Eric Hobsbawm, um dos mais influentes historiadores do século 20. Sua influência veio não apenas de um trabalho seguro e rigoroso de pesquisa historiográfica que privilegiava movimentos sociais dos séculos 19 e 20. Na verdade, em uma época como a nossa, que parece abraçar de maneira entusiasmada a crítica das chamadas "metanarrativas" com suas visões de processos globais e movimentos teleológicos, Hobsbawm destoava por ser um dos poucos que não se contentavam em afundar-se na micro-história.

Sem medo de procurar processos nos quais rupturas socioeconômicas e produção de novas ideias de cunho universalista se entrelaçam, Hobsbawm soube, como poucos, mostrar como a história da modernidade ocidental sempre foi a história das revoluções.

Fiel à filosofia da história de cunho hegeliano herdada pela tradição marxista, ele escreveu quatro livros clássicos ("A Era das Revoluções", "A Era do Capital", "A Era dos Impérios" e "Era dos Extremos") a fim de mostrar como as exigências igualitárias de liberdade enunciadas pelos setores populares da Revolução Francesa moldarão o curso da história como uma voz que sempre volta. Tal voz da igualdade será o fator de inquietude de uma história que será, cada vez mais, realmente mundial.

Adorno dizia que a fixação positivista nos "fatos" escondia, muitas vezes, a simples incapacidade de enxergar estruturas. Pensar é saber estabelecer relações e, se é inegável que certas construções da historiografia marxista demonstram-se infrutíferas e demasiado genéricas, há de se reconhecer que a rejeição em bloco dessa tradição teve forte impacto negativo na nossa capacidade de pensar a história.

Mas isso nunca impediu Hobsbawm de imergir nos detalhes e encontrar, por exemplo, na voz de Billie Holiday as marcas do sofrimento social dos esquecidos do sonho americano (conforme o livro "História Social do Jazz") ou nas desventuras do bandido Jesse James algo de fundamental a respeito dos descaminhos de nosso ideal de liberdade e das debilidades do poder (conforme o livro "Bandidos"). Hobsbawm sabia ler tais "fatos isolados" como sintomas sociais.

Alguns, como o historiador britânico Tony Judt, insistiam que Hobsbawm não teria capacidade de compreender as ilusões que moldaram o século 20, em especial o comunismo. Talvez seja o caso de dizer que a compreensão da história como simples crítica das ilusões corre o risco de perder de vista o essencial: de onde vem a força que faz com que indivíduos consigam ir além de seus próprios interesses imediatos? O que talvez explique porque quis o destino que o último livro de Hobsbawm se chamasse exatamente "Como Mudar o Mundo".

Hobsbawm expandiu limites do pensamento marxista
Artigo de Jorge Grespan, professor do Departamento de História da Universidade de São Paulo.

Eric Hobsbawm conquistou justo prestígio entre o grande público apreciador da história e também entre seus colegas de ofício, o que já é em si algo digno de nota. Claro e elegante, abordou temas aparentemente tão distintos como o mundo do trabalho e o jazz, sempre preocupando-se em relacionar as várias esferas da vida social e fugir de explicações unilaterais, pintando quadros históricos largos, mas precisos.

Incluindo-se na geração de historiadores do pós-Guerra que chamava de "modernizadores", dedicou-se inicialmente à história do século 19, e o sucesso alcançado por seu "A Era das Revoluções" levou-o a escrever "A Era do Capital" e "A Era dos Impérios".

Não os escreveu para os colegas, mas tornou-se referência também para eles, carentes de obras que rompessem limites entre temas particulares e situações nacionais.

Teve nesse ponto importância decisiva, ao criticar a historiografia acadêmica tanto por sua especialização excessiva quanto pelos preconceitos que a impedem de se dirigir a um público leigo.

Hobsbawm chegava a se apresentar como "vulgarizador". Mas não nos enganemos: atingir um público amplo significava não satisfazer a curiosidade acrítica do mercado editorial, e sim participar de um esforço formador.

Em grau e forma própria, compartilhava com colegas como Christopher Hill e E. P. Thompson de uma atitude crítica em relação ao que se consideraria próprio a um historiador marxista e, por isso, inovou nos temas e métodos, como ao escrever sobre uma de suas paixões, o jazz.

Aqui, como na obra sobre "A Invenção das Tradições", o interesse é iconoclasta. Trata-se de solapar entidades caras ao neoconservadorismo militante a partir dos anos 1970, descobrindo o lado mistificador de certos apelos ao passado legitimador.

Mais do que expressão do inconformismo racial nos EUA, o jazz é entendido no contexto da história da indústria, em especial a cultural. E tradições importantes da monarquia inglesa são examinadas e diferenciadas dos "costumes" em que se baseia o direito consuetudinário típico da ilha, para evidenciar que nelas o passado aparece como algo justificador da resistência a mudanças perigosas para os poderes constituídos.

Mostra assim aos críticos que o marxismo não precisa ser economicista. Mas o mostra também aos marxistas. Esses são seus grandes legados.

Como seria inevitável, há quem discorde de teses expostas na sua vasta obra. Mas não quem negue que ele foi um dos maiores historiadores marxistas de nossa era, cujos "extremos" parece que só começaram depois de 1991.

DEPOIMENTOS

"Um dos mais lúcidos, brilhantes e corajosos intelectuais do século 20 (...) Quatro meses atrás, Hobsbawm enviou-me uma carinhosa mensagem: 'Diga ao Lula para seguir lutando pelo Brasil, mas não se esquecer jamais da sofrida África.'"
Luiz Inácio Lula de Silva, ex-presidente da República

"Morre um dos maiores historiadores de nossa época. Homem de posições políticas claras, nunca perdeu o amor pela objetividade. Tinha especial interesse pelo Brasil, onde era amplamente relacionado. Mantive com ele relação de admiração e amizade."
Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República

"Foi um gigante da história política, alguém que influenciou toda uma geração de líderes e acadêmicos. E era um agitador incansável por um mundo melhor."
Tony Blair, ex-primeiro ministro britânico

"Ele se ocupava do passado em função do presente. Seus livros seguem atualíssimos."
Evaldo Cabral de Melo, historiador e diplomata

"Mais do que um dos principais historiadores, foi um dos principais críticos do século 20. Teve coragem de romper com a cronologia estabelecida pelos historiadores."
Lilia Moritz Schwarcz, antropóloga e historiadora

"Excelente historiador social e um historiador político capaz de fazer grandes panoramas, além de lutar por transformações que levassem a uma sociedade mais justa e igualitária."
José Murilo de Carvalho, historiador e cientista político

"Embora ele tivesse suas convicções, nítidas e assumidas, nunca lhe faltou generosidade com as ideias e posições alheias. O debate cultural vai ficar desfigurado sem sua reflexão histórica."
Nicolau Sevcenko, historiador e escritor

"Por muito tempo, era o único historiador que a gente conseguia ler com prazer. Seus livros eram um balão de oxigênio para quem gostava de história."
Luciano Figueiredo, historiador

"Odiava qualquer tipo de nacionalismo. Era comunista porque sempre pensou no comunismo como um movimento internacional."
Donald Sassoon, professor da Universidade de Londres

 "Era um historiador extremamente talentoso, lúcido, que nunca se furtou de lidar com as questões mais difíceis. Eu o conheci em Cuba, no final de 1967, e me lembro de uma figura independente e extremamente instrutiva. Mesmo que não concordasse sempre com ele, reconheço que foi um dos gigantes."
Todd Gitlin, sociólogo, professor da Columbia University

"Podemos dividir Hobsbawm em dois: um que fala do período que não viveu, que é também o período que não está marcado pela ideologia que ele assumiu, e outro que fala do período que viveu. Concordando-se ou não com a linha histórica que ele representa, ele é um grande historiador quando trata do período que não viveu e um historiador menor ou, pior, um ideólogo da História ao tratar do século 20. Ele permaneceu fiel à União Soviética apesar de suas críticas. Com sua morte, encerra-se um ciclo de escrita da História. Nunca mais teremos um historiador importante, no sentido de qualidade e ser bastante lido, que faça o mesmo caminho de Hobsbawm."
Demétrio Magnoli, sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP

"Depois dos anos 50, a teoria marxista rapidamente degenerou numa escolástica principalmente porque procurava manter a unidade de um sistema cujas fundações começavam a ser abaladas. Em vez de retornar ao exame das primeiras noções, como aquela da forma de valor, ela procurou sustentar a todo o custo a unidade do sistema. Os historiadores foram a gloriosa exceção dessa mania. Eric Hobsbawm foi o maior deles, acompanhando as novas formas das crises revolucionárias até mostrar como o ciclo das revoluções chegava a seu fim. Exemplo de intelectual engajado que não se aferra à unidade abstrata do sistema."
José Arthur Giannotti, professor emérito de filosofia da USP

"Foi um grande historiador e um escritor de primeira qualidade, capaz de fazer sínteses muito ricas e escrever obras deliciosas. Viveu 95 anos, pode realizar muitas coisas. A única questão que não foi bem resolvida foi o balanço de suas relações como Partido Comunista, mas esse é um ponto pequeno no conjunto de sua obra."
Renato Janine Ribeiro, professor de ética e filosofia política da USP

"Ninguém que tenha participado da primeira Flip, em 2003, vai se esquecer da visão de Eric Hobsbawn sendo perseguido por fãs pelas ruas de Paraty e depois dizendo que aquela tinha sido a primeira vez em que fora tratado como um popstar e que tinha gostado. E nem vai se esquecer dele pulando de um barco de pescador para a praia... com seus 80 anos."
Liz Calder, editora inglesa e idealizadora da Festa Literária Internacional de Paraty

Data: 02.10.2012
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Novo manifesto da SBPC e ABC sobre o Código Florestal

Senhora Presidenta,

A Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) e a Academia Brasileira de Ciências (ABC) vêm mais uma vez manifestar sua preocupação com o Código Florestal, desta vez por meio de alterações na MP 571/2012 aprovadas pelo Congresso Nacional, que representam mais retrocessos, e graves riscos para o País.

O Brasil deveria partir de premissas básicas que ele próprio aprovou em fóruns internacionais, como na Rio+20, Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável. O documento aprovado na Rio+20, denominado "O Futuro que Queremos", ressalta o compromisso com um futuro sustentável para o planeta de modo que haja a integração equilibrada das dimensões social, econômica e ambiental.

O documento reconhece a importância da colaboração da comunidade científica e tecnológica para o desenvolvimento sustentável e o fortalecimento da conexão entre a ciência e as políticas, mediante avaliações científicas confiáveis que facilitem a adoção de decisões informadas.

Reafirma a necessidade de promover, fortalecer e apoiar uma agricultura mais sustentável, que melhore a segurança alimentar, erradique a fome e seja economicamente viável, ao mesmo tempo em que conserva as terras, a água, os recursos genéticos vegetais e animais, a diversidade biológica e os ecossistemas e aumente a resiliência à mudança climática e aos desastres naturais.

Também reconhece a necessidade de manter os processos ecológicos naturais que sustentam os sistemas de produção de alimentos. Além disto, ressalta os benefícios sociais, econômicos e ambientais que as florestas, seus produtos e serviços, podem proporcionar para as pessoas e para as economias. Para que isto ocorra, os países concordaram em envidar esforços para o manejo sustentável das florestas, a recomposição, a restauração e o florestamento, para aumentar as reservas florestais de carbono.

Com a aprovação da MP 571/2012 pelo Senado o Brasil deixará de cumprir os compromissos que assumiu com seus cidadãos e com o mundo, aprovando medidas que não privilegiam a agricultura sustentável e que não reconhecem a colaboração da ciência e da tecnologia nas tomadas de decisão.

A ABC e a SBPC são contra as seguintes alterações na MP 571/2012:

Definição de Pousio sem delimitação de área - Foi alterada a definição de pousio incluída pela MP, retirando o limite de 25% da área produtiva da propriedade ou posse (Art. 3o inciso XXIV). Para a ABC e SBPC as áreas de pousio deveriam ser reconhecidas apenas à pequena propriedade ou posse rural familiar ou de população tradicional, como foram até o presente, sem generalizações. Além disto, deveriam manter na definição o percentual da área produtiva que pode ser considerada como prática de interrupção temporária das atividades agrícolas.

Redução da obrigação de recomposição da vegetação às margens dos rios - O texto aprovado pelo Senado Federal beneficiou as médias e grandes propriedades rurais, alterando o Art. 61-A da MP 571/2012. Nele, a área mínima obrigatória de recuperação de vegetação às margens dos rios desmatadas ilegalmente até julho de 2008 foi reduzida. As APPs não podem ser descaracterizadas sob pena de perder sua natureza e sua função. A substituição do leito maior do rio pelo leito regular para a definição das APPs torna vulneráveis amplas áreas úmidas em todo o país, particularmente na Amazônia e no Pantanal, onde são importantes para a conservação da biodiversidade, da manutenção da qualidade e quantidade de água, e de prover serviços ambientais, pois elas protegem vidas humanas, o patrimônio público e privado de desastres ambientais.

Redução das exigências legais para a recuperação de nascentes dos rios. A medida provisória também consolidou a redução da extensão das áreas a serem reflorestadas ao redor das nascentes. Apesar de que a MP considera como Área de Preservação Permanente (APP) um raio de 50 metros ao redor de nascente, a MP introduziu a expressão "perenes" (Art. 4o, inciso IV), com o intuito de excluir dessas exigências as nascentes intermitentes que, frequentemente, ocorrem em regiões com menor disponibilidade anual de água. Para fins de recuperação, nos casos de áreas rurais consolidadas em Áreas de Preservação Permanente no entorno de nascentes e olhos d'água perene, é admitida a manutenção de atividades agrossilvipastoris, de ecoturismo ou de turismo rural, sendo obrigatória a recomposição do raio mínimo de 15 (quinze) metros (Art. 61-A § 5º).

Reflorestamento de nascentes e matas ciliares com espécies arbóreas frutíferas exóticas. É inaceitável permitir a recuperação de nascentes e matas ciliares com árvores frutíferas exóticas, ainda mais sem ser consorciada com vegetação nativa, em forma de monocultivos em grandes propriedades. Os cultivos de frutíferas exóticas exigem em geral uso intensivo de agrotóxicos, o que implicará contaminação direta dos cursos de água (Art. 61-A, inciso V).

Áreas de Preservação Permanente no Cômputo das Reservas Legais - As Áreas de Preservação Permanente não podem ser incluídas no cômputo das Reservas Legais do imóvel. As comunidades biológicas, as estruturas e as funções ecossistêmicas das APPs e das reservas legais (RLs) são distintas. O texto ainda considera que no referido cômputo se poderá considerar todas as modalidades de cumprimento da Reserva Legal, ou seja, regeneração, recomposição e compensação (Art. 15 § 3o ). A ABC e a SBPC sempre defenderam que a eventual compensação de déficit de RL fosse feita nas áreas mais próximas possíveis da propriedade, dentro do mesmo ecossistema, de preferência na mesma microbacia ou bacia hidrográfica. No entanto, as alterações na MP 571/2012 mantêm mais ampla a possibilidade de compensação de RL no âmbito do mesmo bioma, o que não assegura a equivalência ecológica de composição, de estrutura e de função. Mantido esse dispositivo, sua regulamentação deveria exigir tal equivalência e estipular uma distância máxima da área a ser compensada, para que se mantenham os serviços ecossistêmicos regionais. A principal motivação que justifica a RL é o uso sustentável dos recursos naturais nas áreas de menor aptidão agrícola, o que possibilita conservação da biodiversidade nativa com aproveitamento econômico, além da diversificação da produção.

Redução da área de recomposição no Cerrado Amazônico - O Art. 61-B, introduziu a mudança que permite que proprietários possuidores dos imóveis rurais, que em 22 de julho de 2008, detinham até 10 (dez) módulos fiscais e desenvolviam atividades agrossilvipastoris nas áreas consolidadas em Áreas de Preservação Permanente, recomponham até o limite de 25% da área total do imóvel, para imóveis rurais com área superior a 4 (quatro) e até 10 (dez) módulos fiscais, excetuados aqueles localizados em áreas de floresta na Amazônia Legal. Este dispositivo permitirá a redução da área de recomposição no Cerrado Amazônico. Toda a Amazônia Legal seguia regras mais rígidas. Com a mudança, apenas áreas de florestas da Amazônia Legal ficam excluídas do limite de 25%.

Delegação aos Estados para definir, caso a caso, quanto os grandes proprietários devem recuperar de Áreas de Preservação Permanente (APPs) ilegalmente desmatadas. A delimitação de áreas de recuperação, mantidos os parâmetros mínimos e máximos definidos pela União, foi remetida para o Programa de Regularização Ambiental (PRA) a delimitação de áreas de recuperação. Atualmente esta competência é compartilhada entre municípios, Estados e governo federal. Determinar que cada estado defina o quanto os grandes proprietários terão de recuperar das áreas de preservação irregularmente desmatadas, pode incentivar uma "guerra ambiental".

Diminuição da proteção das veredas - O texto até agora aprovado diminuiu a proteção às veredas. A proposta determina ainda que as veredas só estarão protegidas numa faixa marginal, em projeção horizontal, de 50 metros a partir do "espaço permanentemente brejoso e encharcado" (Art. 4o, inciso XI), o que diminui muito sua área de proteção. Antes, a área alagada durante a época das chuvas era resguardada. Além desse limite, o desmatamento será permitido. As veredas são fundamentais para o fornecimento de água, pois são responsáveis pela infiltração de água que alimenta as nascentes da Caatinga e do Cerrado, justamente as que secam durante alguns meses do ano em função do estresse hídrico.

Regularização das atividades e empreendimentos nos manguezais - O artigo 11-A, incluído pela MP, permite que haja nos manguezais atividades de carcincultura e salinas, bem como a regularização das atividades e empreendimentos de carcinicultura e salinas cuja ocupação e implantação tenham ocorrido antes de 22 de julho de 2008 (§§ 1o 6º). Os manguezais estão indiretamente protegidos pelo Código Florestal desde 1965, e diretamente desde 1993, na Mata Atlântica, e 2002, na Amazônia. Esse artigo, além de promover a regularização de áreas desmatadas irregularmente, permite que novas áreas sejam abertas para instalação de criações de camarões.

Senhora Presidenta, se queremos um futuro sustentável para o País, se queremos promover o desenvolvimento do Brasil, se queremos que a agricultura brasileira perdure ao longo do tempo com grande produtividade, que minimizemos os efeitos das mudanças climáticas, que mantenhamos nosso estoque de água, essencial para a vida e para a agricultura, que protejamos a rica biodiversidade brasileira, temos que proteger nossas florestas.

Portanto solicitamos cordial e respeitosamente que Vossa Excelência atue para garantir que os itens acima apontados sejam considerados na MP 571/ 2012, aprovada pelo Senado Federal.

Atenciosamente,

Helena B. Nader
Presidente SBPC

Jacob Palis
Presidente ABC

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Destaques do artigo "Allium sativum L. na prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares" publicado na Revista BIOFAR (volume 7, n.2)

Título: Allium sativum L. na prevenção e tratamento de doenças cardiovasculares
Autores: Fabiana Campos Chagas, Jaqueline Fonseca Zanetti, Vanessa Cruz de Oliveira, Raquel dos Santos Donatini

Textos retirados do artigo

A literatura disponível cita até o momento cerca de trinta substâncias já isoladas do alho, sendo que a maioria dos efeitos biológicos é atribuída aos compostos organossulfurados. 

Entre as substâncias mais importantes estão aliina, alicina e ajoeno (Butt et al., 2009). O quadro 1 apresenta os compostos sulfurados e não-sulfurados já identificados no alho, bem como a respectiva atividade biológica de cada um deles.

 
Os bulbos desse vegetal contem elevadas quantidades de g-glutamil-S-alil-L-cisteína e S-alil-L-cisteína sulfóxido (aliina) que são considerados precursores de outras substâncias, pois sofrem reações por vias separadas e dão origem a diferentes compostos (Khoo; Aziz, 2009).

A aliina, através da maceração ou esmagamento, é convertida em alicina pela ação da enzima aliinase. No caso de alho na forma de cápsulas, a aliina é convertida em alicina somente quando chega ao intestino. A alicina é bastante instável e se decompõe em compostos sulfurados, entre os quais se encontra principalmente o ajoeno (Turner; Molgaard; Marckmann, 2004).

Já o g-glutamil-S-alil-L-cisteína é convertido S-alilcisteína, outra substância que possui grande importância terapêutica (Amagase, 2006). Um esquema deste processo está representado na figura abaixo.

 Considerações finais dos autores

O levantamento dos estudos indicam que o alho é um importante aliado contra as doenças cardiovasculares, quando associado a uma dieta adequada e estilo de vida saudável. Seu uso é seguro, apresenta toxicidade muito baixa e efeitos colaterais não significativos. Através de mecanismos diversos sua ação é exercida por intermédio de determinadas substâncias, as quais desempenham papel importante impedindo a formação de radicais livres, reparando lesões ou protegendo a integridade da membrana celular. Também há diminuição da hipertensão arterial provavelmente devido a inibição da atividade da enzima conversora de angiotensina e sua ação como hipolipemiante ocorre principalmente pela inibição da HMG-CoA redutase.

Através de uma análise de dados, percebe-se que o alho possui ações benéficas sobre os parâmetros cardiovasculares, visto que sua ação é mais acentuada quando consumido na forma crua. 

Em contrapartida, algumas divergências podem ser vistas nos estudos publicados, uma resposta a esta questão seria relacionar os possíveis interferentes, tais como o ambiente de plantio, que compreende o tipo de solo, o clima da região, período de colheita e sazonalidade, também deve-se observar o modo de preparo da forma farmacêutica, modo de conservação e prazo de validade, além da população estudada, dose empregada e duração do estudo. Todas estas características podem influenciar na concentração das substâncias ativas do alho que desempenham seus efeitos benéficos. 

Portanto para que o efeito cardiovascular benéfico do alho seja comprovado é de extrema necessidade a realização de mais pesquisas padronizadas, visto que a literatura disponível apresenta certas deficiências metodológicas.


Texto completo no link:
http://eduep.uepb.edu.br/biofar/v7n2/alliumsativum.pdf

Explorar biodiversidade de forma sustentável é chave para segurança alimentar

Conhecer a biodiversidade brasileira e explorá-la de forma sustentável. Para Fernanda Dias Bartolomeu Abadio Finco, professora da Universidade Federal do Tocantins (UFT), esse é o caminho para garantir a segurança alimentar da população.

“Não basta ter alimento, ele tem de ser sustentável e contemplar aspectos econômicos, sociais, ambientais e culturais das comunidades”, afirmou Finco durante o Seminário sobre Segurança Alimentar e Nutricional realizado na FAPESP em 1º de outubro.

O evento reuniu os vencedores do 57º Prêmio Bunge e do 33º Prêmio Bunge Juventude, que em 2012 contemplou os temas “Avaliação Educacional” e “Segurança Alimentar e Nutricional”.

Contemplada na categoria “Juventude”, Finco apresentou resultados de sua pesquisa de doutorado, realizada na Universidade Hohenheim, na Alemanha, cujo objetivo era descobrir e divulgar as propriedades funcionais de frutas típicas da região Norte do Brasil.

“Além de promover o consumo desses alimentos entre a população local, o objetivo é agregar valor aos produtos. Pode ser que alguém se interesse em estudar o processo tecnológico de polpa, por exemplo. Isso pode fomentar o extrativismo”, explicou Finco.

Para identificar frutas interessantes para a pesquisa, o primeiro passo foi conhecer os hábitos alimentares e os aspectos socioeconômicos da população. Foram entrevistados 57 moradores de duas comunidades rurais da Área de Proteção Ambiental Ilha do Bananal/Cantão, região de transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica localizada no Tocantins.

O trabalho de campo revelou que 84% dos entrevistados estavam em situação de insegurança alimentar, ou seja, não tinham acesso garantido a alimentos. Paradoxalmente, quase 40% estavam com sobrepeso e 14% eram obesos.

Apesar de os dados indicarem baixo consumo de frutas e hortaliças por essa população, Finco viu na bacaba – fruta extraída de uma palmeira amazônica – uma boa candidata para a pesquisa. “Chegamos a estudar também o jenipapo, mas nos concentramos na bacaba, pois ela mostrou mais potencial”, disse.

A segunda etapa do trabalho foi investigar em laboratório a presença de substâncias antioxidantes na bacaba. “A literatura científica mostra que o consumo de alimentos ricos em antioxidantes está associado a menor risco de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes, câncer e doença cardiovascular”, disse Finco.

As análises bioquímicas revelaram a presença de 1.759 compostos fenólicos com potencial ação antioxidante na bacaba. Por meio de ensaios laboratoriais, a pesquisadora comparou a atividade antioxidante dessa fruta com a de outros alimentos funcionais.

“Embora a bacaba perca para o açaí no teor de antioxidantes, está bem à frente do mirtilo ou da cereja, que são alimentos reconhecidos como funcionais, mas de acesso mais difícil no Brasil”, contou.

Por último, a pesquisadora investigou o efeito do extrato de bacaba em linhagens de células de câncer de mama e verificou que os antioxidantes da fruta induzem a apoptose, ou seja, o suicídio das células malignas.

“Mostramos que, no caso da bacaba, isso ocorre pela ativação de complexos proteicos conhecidos como caspases. Mas cada extrato vegetal age de forma diferente”, ressaltou.

A pesquisa foi concluída em agosto de 2011 e teve como desdobramento um projeto de cooperação internacional entre o Brasil e a Alemanha batizado de Eco-Nutrição, no qual Finco coordena uma equipe interdisciplinar.

“Investigamos agora as propriedades funcionais do babaçu. Temos interação com uma empresa, parceria com o doutorado em Ciência Animal da UFT, com pesquisadores da Embrapa, com economistas. A ideia é montar uma rede e buscar apoio governamental. Também pretendemos voltar às comunidades estudadas para trabalhar com educação nutricional”, disse Finco.

Biodiversidade e segurança

Em um debate realizado no fim do seminário, Adalberto Luis Val, membro da Fundação Bunge e do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), também ressaltou a importância da biodiversidade brasileira para a segurança alimentar.

“Entre os países produtores de alimento no mundo, o Brasil é o único capaz de ampliar a produção acima de suas necessidades. Mas não podemos fazer isso à custa da destruição dos ambientes que temos hoje no país. Não podemos avançar sem conhecer essa biodiversidade”, afirmou Val.

Também participaram do debate de encerramento Sérgio Alberto Rupp de Paiva, da Sociedade Brasileira de Alimentação e Nutrição, e Valdemiro Carlos Sgarbieri, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). O evento foi aberto pelo presidente da FAPESP, Celso Lafer, e pelo presidente do conselho administrativo da Fundação Bunge, Jacques Marcovitch.  

Agência Fapesp
Texto: Karina Toledo
Data: 05.10.2012
Link:
ou


Bacaba (Oenocarpus bacaba). 
Foto: Evandro Ferreira