Coleção de Bactérias da Mata Atlântica, CBMA

A Coleção de Bactérias da Mata Atlântica, CBMA, situa-se no Laboratório de Genética Molecular de Micro-organismos do Instituto Oswaldo Cruz, FIOCRUZ, e tem como finalidade: amostrar, isolar, preservar e caracterizar a diversidade de bactérias cultiváveis do solo da Mata Atlântica. Representa a fonte primária de parte da microbiota deste bioma para estudos básicos e biotecnológicos e, como Coleção, é testemunho destes estudos, permitindo sua rastreabilidade. Como sua taxonomia é definida pela informação contida no gene ribossomal 16S rRNA, e estas sequências podem ser livremente acessadas, são inúmeras as possibilidades de estudos.

Trata-se de uma Coleção de serviço e pesquisa. A CBMA é filiada à World Federation for Culture Collections, WFCC, sob o registro WDCM958.

Até o presente o acervo da CBMA contém 800 isolados correspondendo a 100 morfotipos obtidos nos oito pontos de coleta representados pelos cinco tipos de solo.

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sexta-feira, 12 de julho de 2013

Diversidade na Saúde - Editorial da Revista RADIS

Vamos combinar que todo mundo é diferente e pode apresentar deficiências em algum momento. Melhor assim, do que tentar inutilmente estabelecer um padrão de normalidade e adequar a vida a esta suposta maioria. No SUS, esta forma de exclusão acaba deixando muita gente fora do princípio de saúde para todos.

Como provocação, não usamos na chamada de capa desta edição qualquer palavra em língua portuguesa, só uma mensagem na Língua Brasileira de Sinais, a Libras. Excluímos todos, exceto quem conhece essa forma de comunicação com ou entre surdos. Mesmo a revelação, na segunda página, do significado Acessibilidade para todos não contempla cegos, que, em conhecendo braile, precisariam das inscrições em relevo para a leitura. Ainda assim, restaria o impedimento aos não alfabetizados e, para qualquer um, saber o que queremos dizer com acessibilidade.

Esperamos que a reportagem contribua para a mudança de concepções individuais, práticas coletivas e políticas públicas em direção à ampla inclusão. Segundo o IBGE, há no Brasil 45 milhões de pessoas que declaram ter alguma deficiência.

A diversidade de tratamentos eficazes no SUS é objeto de outra matéria. Medicinas e práticas de saúde não alopáticas, muitas delas milenares, são cada vez mais procuradas. Embora haja uma política oficial para ofertá-las de forma complementar ou substitutiva, há grande resistência à mudança de paradigma.

Debate entre especialistas da problemática relacionada às drogas desconstrói estereótipos e propõe abordagens para a questão do crack com foco na saúde e em políticas públicas que respeitem direitos.

Dois exemplos recentes de desrespeito às diferenças revelam a imposição de preceitos religiosos à legislação de um Estado laico. A Câmara de Deputados aprovou em comissões, ainda não em plenário, o chamado Estatuto do Nascituro, contra os direitos e a saúde da mulher, oferecendo dinheiro para quem mantiver gravidez por estupro, e um outro projeto de lei, que afronta os direitos do homossexual, o conhecimento da psicologia e a evolução da sociedade, autorizando tratamentos para curar gays.

Está em risco também a exitosa política brasileira de combate ao HIV/aids, que se notabilizou pela eficiência das campanhas preventivas criadas pelos próprios grupos expostos ao risco. Uma escalada de intervenções de cunho conservador nessas estratégias culminou com a demissão de dirigentes do programa governamental.

Em junho, o país foi abalado por grandes manifestações populares. As avaliações sobre seus objetivos, formas de organização, efeitos e continuidade seguem abertas. Por ora, saudamos o exercício da cidadania e da democracia inerentes à concepção ampliada de saúde de nossa linha editorial há 31 anos. Lembramos que o ideário da Reforma Sanitária, além de um SUS público e de excelência para todos, propugna amplos direitos sociais e melhorias em educação, trabalho, habitação, transporte, lazer, na qualidade de vida enfim, com liberdade e participação social nas decisões de Estado.


Rogerio Lannes Rocha
Coordenador do Programa Radis

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Acessibilidade para todos. Revista Radis 130.
Para download da revista:

Obesidade infantil pode ser motivada por propagandas publicitárias

Índices do IBGE indicam que um terço das crianças brasileiras estão obesas

Ádlia Tavares - Da Secretaria de Comunicação da UnB

Trinta e três por cento das crianças brasileiras estão acima do peso. O dado é da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), desenvolvida pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisadoras da Universidade de Brasília garantem que a cultura alimentar contemporânea é dinamizada por propagandas publicitárias. A solução para o problema seria a intervenção do Estado, com medidas como a regulamentação da publicidade de alimentos com excesso de gordura, sal e açúcar para crianças.

O projeto de pesquisa e extensão PropagaNUT – Alimentação nas diferentes mídias atua desde 2005 no estudo da publicidade de alimentos e seus efeitos nos hábitos alimentares. A iniciativa tem foco maior no público infantil, “pois a criança, até os 12 anos de idade, não tem condições cognitivas de avaliar o efeito da publicidade sobre ela”, defende a professora Renata Monteiro, coordenadora do projeto. “O problema é maior entre crianças de 5 a 9 anos, que são mais suscetíveis à publicidade e tem tendência ao ganho de peso”, destaca.

Segundo a pesquisadora, as crianças começam a consumir alimentos pouco saudáveis não necessariamente pelo sabor. “Ela vai ao fast-food motivada pelo brinde, que é colocado para que os pequenos sejam apresentados a esses alimentos”, afirma Monteiro. Outra forma de estímulo utilizada pelas empresas é a produção de embalagens com personagens conhecidos. Além disso, os alimentos ricos em gorduras, sal e açúcar agradam o paladar das crianças. “Temos sensações fisiológicas que são despertadas por esses alimentos”, explica a professora.

Emília Silberstein/UnB Agência
A professora Renata Monteiro é coordenadora do projeto PropagaNUT

Para estimular a discussão sobre o tema, o PropagaNUT exibiu o documentário Muito além do peso, que reflete sobre os riscos de tantas crianças brasileiras pesarem mais do que deveriam. A sessão ocorreu na noite desta segunda-feira (8), na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi, e foi seguida de debate. A produção tem depoimento da professora do Departamento de Nutrição Elizabetta Recine, membro do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea). O longa-metragem é uma produção da Maria Farinha Filmes, patrocinada pelo Instituto Alana, e pode ser baixado gratuitamente no site do filme.

RISCOS - Para Elizabetta Recine, a situação “é triste agora e pior quando se pensa a médio e longo prazo”. A pesquisadora destaca que, em razão da obesidade infantil, crianças tem desenvolvido doenças até então características de adultos, como diabetes do tipo 2, depressão e problemas no coração. No combate ao sobrepeso, os pais não seriam os únicos responsáveis pela educação alimentar de seus filhos. “A indústria tem o discurso de que a culpa é do pai que não regula, mas é muito difícil para quem está educando ir contra um universo fantasioso”, defende Monteiro. 

“O Estado tem papel fundamental”, afirma a professora Elizabetta Recine. Ela ressalta que a alimentação da criança deve ser orientada desde muito cedo. "Os hábitos alimentares são definidos desde os primeiros anos de vida”, conta Recine. A professora Renata Monteiro destaca a importância da intervenção estatal na apresentação dos alimentos para os mais novos. "O público infantil é hipossuficiente e precisa da proteção da regulação da publicidade”, defende.

Todos os textos e fotos podem ser utilizados e reproduzidos desde que a fonte seja citada. Textos: UnB Agência. Fotos: nome do fotógrafo/UnB Agência.

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Educação alimentar e nutricional precisa fazer parte do currículo escolar

Por Renata do Amaral

O documentário “Muito além do peso”, da diretora Estela Renner, tem chamado atenção para uma nova realidade brasileira: com a desnutrição em queda no país, agora o problema de saúde que aflige as crianças é a obesidade. O filme mostra que a qualidade dos alimentos ingeridos fica a desejar, ocasionando doenças diversas. A preocupação é semelhante à da nutricionista Alicinez Guerra Albuquerque, mestre pelo Programa de Pós-Graduação em Nutrição da Universidade Federal de Pernambuco, que buscou saber como o conhecimento sobre a alimentação e nutrição é repassado para os alunos nas escolas públicas.

Orientada por Mônica Maria Osório de Cerqueira e coorientada por Cleide Maria Pontes, a dissertação “Conhecimentos e práticas de educadores e nutricionistas sobre a educação alimentar e nutricional no ambiente escolar” procurou responder à seguinte questão: quais são os conhecimentos teóricos e as práticas de Educação Alimentar e Nutricional (EAN) dos educadores e nutricionistas na escola pública estadual de Pernambuco? A construção de hábitos alimentares saudáveis pode e deve começar na infância. A ideia é que os conteúdos ligados às escolhas alimentares saudáveis sejam tocados em várias disciplinas, segundo os parâmetros curriculares nacionais.

“A EAN envolve um processo educativo, com intuito de formar, compartilhar e melhorar os hábitos alimentares. O processo da EAN não pode limitar-se ao conteúdo, é preciso ter habilidade em dialogar o conhecimento junto ao aluno partindo do seu contexto alimentar de acesso aos alimentos, tornando a aprendizagem mais fácil”, explica Alicinez. Ela realizou o estudo na Secretaria Estadual de Educação de Pernambuco (SEE) e na escola pública estadual Severino de Andrade Guerra (Esag), no município de Machados, no Agreste. O local foi escolhido por ter um Programa de Alimentação Escolar que oferece cardápios orientados por nutricionista.

Ela entrevistou sete educadores da Gerência de Políticas Educacionais (GPE) do Ensino Fundamental II da SEE, na função de técnicos de ensino que planejam o currículo escolar; oito professores do Ensino Fundamental II da Esag; e 13 nutricionistas responsáveis técnicos pelo Programa Nacional de Alimentação Escolar (Pnae) das escolas públicas estaduais do Estado. Em seguida, usou a técnica da Análise de Conteúdo, de Bardin, que apontou para três temas recorrentes: a carência da escola em práticas de EAN, as estratégias de EAN na escola (a merenda faz parte, mas não é suficiente) e as limitações para a prática de EAN na escola.

Os entrevistados indicaram carência de ações efetivas de EAN e os professores se disseram pouco instruídos sobre o tema para poder passar o conteúdo com segurança. “É primordial que os profissionais sejam formados continuamente para tal, a fim de tornar o olhar mais sensível para os problemas sociais relacionados à alimentação, de modo interdisciplinar, reconhecendo a necessidade de integrar os saberes e as ações para melhorar a qualidade de vida da comunidade escolar e da sociedade”, afirma. Apesar de a merenda ter boa aceitação, a nutricionista observou que há considerável consumo de alimentos ricos em gordura e açúcar comprados fora da escola.

A EAN busca promover a saúde e a segurança alimentar, ou seja, o direito humano ao acesso a alimentos em qualidade e quantidade suficientes sem comprometer outras necessidades. De acordo com o perfil de saúde e nutrição da população, professores e nutricionistas podem atuar juntos na prevenção de males crônicos como obesidade, hipertensão, diabetes e doenças do coração. Alicinez defende que a escola é um ambiente privilegiado para desenvolvimento da EAN em busca da cidadania e da qualidade de vida ao integrar a questão alimentar e nutricional com o contexto real dos estudantes.

Mais informações
(81) 2126.8463

Alicinez Guerra Albuquerque

Data: 08.07.2013
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Primeira fábrica de medicamentos com células vegetais funcionará no Ceará

19/06/2013 às 09h30

A primeira plataforma tecnológica para produção de medicamentos biológicos a partir de células vegetais, como as da cenoura e do tabaco, envolve parceria entre a Fiocruz e a empresa israelense Protalix, o norte-americano Centro Fraunhofer para Biotecnologia Molecular e a iBio Inc., anunciou o Ministério da Saúde nesta terça-feira (18).

Esta foi também a primeira biotecnologia de base vegetal que obteve registro no Food and Drug Administration (FDA) e na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), em todo o mundo. Deve começar a funcionar a pleno vapor em 2016. O novo pólo da Fiocruz será instalado no município de Eusébio, próximo à Fortaleza (Ceará) e a construção começa em 2014.

A fábrica produzirá inicialmente medicamentos para doenças raras, como o Taliglucerase Alfa Humana Recombinante, para a doença de Gaucher, e a primeira vacina do mundo a partir de uma planta, contra febre amarela.

O processo de produção a partir da extração vegetal é uma novidade no país. A tecnologia garante maior segurança do que os biológicos produzidos a partir de vírus e bactérias. Produz menos efeitos colaterais e enfrenta menor resistência do organismo humano que recebe o tratamento. Além disso, requer menos investimentos.

Biológicos consomem 43% dos recursos da Saúde para medicamentos

Os produtos biológicos são mais eficazes em relação aos medicamentos tradicionais de síntese química, aumentando as possibilidades de sucesso no tratamento principalmente para doenças crônicas. Eles são feitos a partir de material vivo e manufaturados a partir de processos que envolvem medicina personalizada e biologia molecular.

Atualmente os biológicos consomem 43% dos recursos do Ministério da Saúde com medicamentos, cerca de R$ 4 bilhões por ano, apesar de representarem 5% da quantidade adquirida.

O Brasil já produz, via transferência de tecnologia, 14 biológicos para doenças como hemofilia, esclerose múltipla, artrite reumatoide e diabetes.

Até 2017, estes produtos terão fabricação 100% nacional. Este ano, foi finalizada a transferência tecnológica da vacina contra a influenza e o Instituto Butantan conquistou o domínio de todas as etapas da produção do insumo.

A campanha da gripe deste ano foi a primeira que contou com vacina da influenza feita pelo Instituto Butantan do começo ao fim do processo. O laboratório público foi o responsável pela produção de 6,5 milhões de doses, o que equivale a 15% do total de 44 milhões de doses distribuídas este ano.

Na campanha de 2015, o Butantan já terá conquistado capacidade de produção suficiente para abastecer toda a demanda nacional. O produto 100% brasileiro é fruto da transferência de tecnologia do laboratório privado Sanofi Pasteur.

Fonte: Portal Planalto com informações do Ministério da Saúde
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Aluna de Biomedicina da Uniara desenvolve pesquisa sobre ação antibacteriana de extratos de coentro e manjericão

Publicado em: 08/07/2013

A ação antibacteriana e antiaderência dos extratos vegetais do coentro e do manjericão, está sendo pesquisada in vitro pela estudante do segundo ano do curso de Biomedicina do Centro Universitário de Araraquara – Uniara, Priscila Pereira de Faria, sob orientação do professor Adilson César Abreu Bernardi. O trabalho, intitulado “Avaliação da ação antimicrobiana e antiaderência de extratos vegetais de manjericão e coentro usados na culinária com temperos em cepas bacterianas de interesse médico”, foi um dos contemplados pela bolsa PIBIC/CNPq da instituição, por meio do Centro Integrado de Estudo e Pesquisa – CiePesquisa.

Priscila explica que o projeto “busca uma alternativa natural da inibição ou da erradicação dos processos infecciosos, que são preocupantes devido ao grau de patogenicidade de cada agente, podendo levar a diferentes enfermidades infecciosas no homem, utilizando as ervas, de fácil acesso à população e apreciadas na culinária brasileira como temperos e também usadas para outros fins”. “O foco é relacionado à linha de pesquisa do meu orientador, que são os biofilmes microbianos que trazem grandes prejuízos às áreas industriais, alimentícias e da saúde”, completa.

Ela comenta que a fitoterapia é utilizada há milhares de anos pela medicina popular. “O problema é que o arsenal terapêutico e o desenvolvimento de novas drogas só diminuíram nas últimas décadas. Além disso, o mau uso dos antibióticos e o maior tráfego global de bactérias resistentes pioram o cenário. Desse modo, a pesquisa busca encontrar substâncias mais eficazes e menos tóxicas na corrida contra a resistência e o surgimento de micro-organismos cada vez mais patogênicos. Portanto, o principal objetivo desse trabalho para a comunidade é contribuir no tratamento de processos infecciosos importantes e na inibição da colonização em superfícies”, detalha a estudante.

O estudo ainda está em fase inicial de desenvolvimento, de modo que, segundo Priscila, ainda é muito cedo para que haja conclusões. “Porém, conforme lido na literatura científica para a confecção desse projeto, promissores ou não, os resultados serão valiosos e contribuirão para novos conhecimentos e aprimoramento da pesquisa, pois não quero parar por aqui”, ressalta.

A conquista da bolsa, segundo Priscila, foi uma das melhores realizações durante sua graduação. “Com isso, terei a oportunidade de atuar no desenvolvimento dessa pesquisa, que apresenta um tema de importante relevância na área da saúde. Todavia pretendo fazer com que o descobrimento de novas substâncias com atividade antimicrobiana passe a ser posteriormente empregado da forma correta e utilizado na sociedade para evitar, assim, a resistência, e até mesmo promover a erradicação de micro-organismo patogênicos que acometem o homem”, declara.

Ela finaliza agradecendo a Uniara, “especialmente pelo setor de pesquisa, ao curso de Biomedicina e à abertura que o orientador ofereceu para iniciar os conhecimentos científicos”.
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Anvisa suspende chá e produto sem registro

2 de julho de 2013

A Anvisa determinou, nesta sexta-feira (12/7), a proibição da distribuição e comercialização de todos os lotes do produto Funchinane – Chá Misto Solúvel, produzido pela empresa Naturelife Indústria e Comércio de Alimentos. A Agência detectou a presença de maltodextrina, sucralose e dióxido de silício, substâncias não permitidas para chás.

Também foi proibida a distribuição e comercialização de todos os lotes dos medicamentos Bio Waist Spirulina em cápsulas e Bio Waist QS – Quitosana e Spirulina em cápsulas, fabricados pela empresa La Mata Laboratório Botânico Ltda. O motivo da suspensão é a ausência de registro na Agência.

Ambas as suspensões são válidas para todo o país e foram publicadas no Diário Oficial da União. Acesse as resoluções na íntegra.
 



Pesquisa irá desenvolver biscoito anticárie

Notícias da FAPEAM

20/06/13 - Comer e deixar, frequentemente, de escovar os dentes é um perigo à saúde bucal, pois pode ocasionar o surgimento de placas bacterianas. Caso o resíduo não seja removido, ele pode acumular mais massa e endurecer, evoluindo para o que os dentistas chamam de tártaro. Isso ocorre porque após a pessoa se alimentar, as bactérias existentes na boca se juntam com os restos de comida presos entre os dentes e os ácidos que ajudam na digestão. O acumulo de sujeira na boca degrada o esmalte dos dentes levando às tão temíveis cáries.

E se esse problema pudesse ser evitado comendo? Isso mesmo, mastigando? A possibilidade existe e inspirou a pesquisadora do Instituto Federal do Amazonas (IFAM), Célia Emi Sasahara da Silva, a desenvolver uma pesquisa que pretende colocar em um simples biscoito características dos sabores amazônicos e fitoterápicos que podem evitar o surgimento da cárie.

A ideia de Sasahara consiste em fazer um biscoito nutritivo usando farinha de pupunha, adicionando gengibre, canela e xilitol (um adoçante natural encontrado no milho, framboesa e ameixa). Os três produtos naturais são conhecidos pela ação anticariogênica.
Ela explicou que a pesquisa vai trabalhar com seis possíveis combinações dos ingredientes fitoterápicos para poder avaliar o valor nutricional e, principalmente, a eficácia do produto em reduzir o risco de desenvolvimento de cárie.

A pesquisa foi aprovada, junto com outras três propostas, no edital 003/2013, referente ao Programa de Apoio à Formação de Recursos Humanos Pós-Graduados do Estado do Amazonas – RH-Mestrado, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM). Sasahara vai fazer mestrado no curso de Biologia Urbana, no Centro Universitário Nilton Lins (UniNilton Lins), com previsão de término no próximo ano.

Além de Sasahara, a estudante Erika Oliveira Abinader obteve bolsa para estudar também no UniNilton Lins; Paula de Oliveira Cunha irá desenvolver seu trabalho na Faculdade de Odontologia de Bauru (USP), e Lidiane da Silva na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. O investimento disponibilizado para as quatro propostas foi de cerca de R$ 92 mil.

Sobre o RH Mestrado

Concede bolsas de mestrado a profissionais interessados em realizar curso de pós-graduação stricto sensu, em Programa de Pós-Graduação recomendado pela CAPES em outros Estados da Federação ou no Estado do Amazonas desde que o Programa de Pós-Graduação não tenha sido atendido pelo Programa de Apoio à Pós-Graduação Stricto Sensu – POSGRAD.

Imagem 2: Ricardo Oliveira/Agência FAPEAM.

Leandro Guedes – Agência FAPEAM
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Pesquisadores desenvolvem ricota com sabor de tucumã

Notícias da FAPEAM

01/07/13 - O tucumã, fruto com grande valor nutricional e bastante consumido no Amazonas, desperta cada vez mais o interesse de estudos científicos em áreas diversas. Diante de seu potencial mercadológico, pesquisadores estão desenvolvendo uma ricota (produto derivado do queijo) com sabor tucumã.

A ricota é um queijo obtido a partir do soro do leite o que a diferencia de outros tipos de queijo e a torna mais leve e pobre em gordura. É um alimento que possui rápida digestão devido ao perfil de aminoácidos que compõem suas proteínas, é rica em vitaminas A, D, E, B e possui alto teor de cálcio. “A união desses dois produtos: ricota e tucumã, sem duvida, vai gerar um alimento muito saudável com alto valor nutricional”, enfatizou o coordenador do estudo, professor doutor José Merched Chaar, da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

A pesquisa intitulada “Elaboração, composição nutricional e vida de prateleira de queijo ricota sabor tucumã” tem por objetivo dar sabor peculiar a um produto, muitas das vezes, descartado pelos produtores de queijo da região.

O projeto será desenvolvido em Autazes (AM). Em seguida serão realizadas análises laboratoriais assim como os testes de aceitabilidade. “Procuramos os principais fornecedores do município para realizar pesquisas que pudessem ser aplicadas agregando valor aos alimentos”, afirmou Chaar. “Imagina você encontrar no supermercado um produto de qualidade, com o sabor que você gosta e ainda de alto valor nutricional”, completou.

Processo é semelhante à produção da ricota tradicional

O processo de industrialização é semelhante ao do queijo ricota tradicional, com o diferencial da adição do tucumã. A pesquisa está na fase de testar qual é a melhor forma para adicioná-lo, seja na forma de óleo, polpa ou mousse da fruta.

De acordo com o Chaar, a pesquisa iniciou a partir de observação do desperdício do soro retirado após a industrialização do queijo produzido no Estado. ”Cada 50 mil litros de leite industrializados para a fabricação de queijo geram 45 mil litros de soro, que são desperdiçados no Amazonas”, comentou.

A pesquisa além de buscar uma alternativa tecnológica para o reaproveitamento do soro do queijo, visa também a geração de mais renda para o pequeno produtor. Estima-se que no Brasil 50% do soro seja despejado diretamente nos rios, sem nenhum tipo de tratamento, causando poluição ao ambiente devido ao seu alto teor de matéria orgânica.

Financiamento

A pesquisa coordenada por Chaar está sendo desenvolvida com concessão de bolsa de estudo da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) para a aluna Ana Carolina de Souza Hanna no âmbito do programa de Pós-graduação em Ciência dos Alimentos da Faculdade de Ciência Farmacêuticas (FCF), da Universidade Federal do Amazonas (Ufam).

Fonte: CIÊNCIA em PAUTA

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Nome científico : Astrocaryum aculeatum

Pesquisa financiada pela FAPEAM avalia potencial farmacológico do murici amazônico

Notícias da FAPEAM
Na região norte o fruto é usado na preparação de sucos, sorvetes e licores (Foto: Reprodução)

10/07/13 - O Brasil importa a maioria dos medicamentos que consome. Um problema que, segundo alguns especialistas, pode ser amenizado se o potencial farmacológico de algumas plantas brasileiras forem mais valorizados, principalmente o de espécies amazônicas.

O murici, do gênero Brysonima (Malpighiaceae), rico em cálcio e fósforo é uma dessas espécies promissoras. Na região norte o fruto é usado na preparação de sucos, sorvetes e licores, mas alguns pesquisadores têm visto nele muito mais que seu sabor exótico.

Diversos grupos de pesquisa na América Latina têm estudado esse gênero e comprovado diversas potencialidades farmacológicas. Aqui no Amazonas, a professora-pesquisadora da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da UFAM, Fernanda Simplício, está desenvolvendo um estudo sobre o murici para avaliar a capacidade anti-inflamatória e analgésica da fruta.

O projeto prevê a realização de três etapas que envolvem desde a extração de substâncias puras do murici, avaliação de ação cicatrizante e toxicidade, finalizando com testes para saber se medicamentos podem ser produzidos com o fruto.

A pesquisadora diz que espera obter quatro substâncias químicas com potencial farmacológico. Se os resultados forem positivos, ela pretende solicitar patentes para as atividades com as substâncias. A pesquisa tem como um dos objetivos desenvolver novos medicamentos com produtos amazônicos para que o mercado e sistema de saúde local obtenham um pouco mais de autonomia em relação a outros estados do País.

Simplício vai dar andamento a sua pesquisa com financiamento da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas(FAPEAM). O projeto 'Potencial Medicinal de Espécies do Gênero Brysonima (Malpighiaceae) de Ocorrência na Cidade de Manaus, Amazonas, Brasil' foi um dos aprovados pelo Conselho Diretor da fundação para participar do Programa de Concessão de Bolsas de Apoio Técnico a Projetos de Pesquisa- Apoio Técnico. O estudo vai contar com investimento em torno de R$ 45 mil.

Leandro Guedes - Agência FAPEAM

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Consea pede proibição de agrotóxicos vedados em outros países

O Brasil tornou-se o maior consumidor de agrotóxicos do mundo com 19% do mercado mundial. A taxa de crescimento do mercado brasileiro de agrotóxicos, entre 2000 e 2010, foi de 190% contra 93% do mercado mundial.
http://www.unisinos.br/blogs/projeto-alerta/2011/03/30/agrotoxicos-nos-alimentos/

O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (CONSEA) encaminhou à presidenta da República, Dilma Rousseff, Exposição de Motivos (EM) com as propostas elaboradas pela Mesa de Controvérsias sobre Agrotóxicos, realizada em Brasília, nos dias 20 e 21 de setembro de 2012. A EM foi aprovada na Plenária do Conselho de junho deste ano, depois de ter sido discutida nas Comissões Permanentes.

O documento é uma crítica ao processo de “modernização” agrícola conhecido como “Revolução Verde”. Esta “modernização” transformou o modelo de produção agrícola e o país em uma grande fazenda monocultora e dependente de insumos químico-industriais. O governo de Ernesto Geisel estimulou a “Revolução Verde” e esse padrão se mantém, sendo a diretriz das políticas agrícolas governamentais.

Em 2007, a Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura (FAO) realizou a Conferência Internacional sobre a “Agricultura Orgânica e Segurança Alimentar” e concluiu que a agricultura convencional esgotou sua capacidade de alimentar a população global e que existe a necessidade de substituição pela agricultura ecológica.

A Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), realizada em 2010, recomendou que os governos estimulassem o uso de diferentes formas de agricultura sustentável, entre elas a orgânica. Por sua vez, o Relator Especial sobre o Direito Humano à Alimentação, Olivier de Schutter, afirmou na Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU) que a agroecologia é um novo paradigma de desenvolvimento agrícola que pode efetivar rapidamente o direito humano à alimentação adequada.

O Brasil tornou-se o maior consumidor de agrotóxicos do mundo com 19% do mercado mundial. A taxa de crescimento do mercado brasileiro de agrotóxicos, entre 2000 e 2010, foi de 190% contra 93% do mercado mundial.

A evolução da taxa de consumo de agrotóxicos, em 2005, cresceu de 7,5 quilos por hectare para 15,8 quilos por hectare em 2010. O percentual mais elevado se encontra entre os estabelecimentos com mais de 100 hectares dos quais 80% usam agrotóxicos

A Exposição de Motivos avalia o peso dos agrotóxicos nos custos de produção, os incentivos e das isenções tributárias aos produtos químicos que reduziu a zero as alíquotas, o impacto agroquímico dos produtos transgênicos.

O documento coloca em dúvida a legitimidade dos estudos que são feitos pelas próprias empresas solicitantes, para o registro de produtos agrotóxicos.

O Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional apresentou à presidenta Dilma Rousseff uma série de propostas, entre as quais se podem destacar a de Proibir no Brasil os agrotóxicos já vedados em outros países; Proibir as pulverizações aéreas de agrotóxicos; Definir metodologia única de monitoramento em todos os órgãos ambientais nas três esferas federativas; Criar penalidades, incluindo o pagamento de ressarcimento financeiro, para os responsáveis pela contaminação por agrotóxicos e por transgênicos de sistemas agroecológicos, entre outras.


O INESC faz parte da coordenação da Comissão Permanente 1 do Consea, que trata do Sistema e da Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. O Instituto contribuiu para a elaboração da Exposição de Motivos e tem se posicionado nos diversos espaços institucionais contra a maciça utilização de agrotóxicos e sementes transgênicas.

Edélcio Vigna (Consultor do Inesc)

Informe do Inesc, publicado pelo EcoDebate, 12/07/2013

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Insegurança alimentar é resultado de um contexto político, econômico e social. Entrevista com Brizabel da Rocha


Foto: Marcos Santos/USP Imagens

“Todos nós nos encontramos, de uma forma ou de outra, em insegurança alimentar. Isso porque todos estamos rodeados de alimentos com agrotóxicos, alimentos com alto processo de industrialização que deixam de ser alimentos”, alerta a economista.

Confira a entrevista.
Foto: trabalhosdegeografia2c.blogspot.com.br

A fome no Brasil é um “fenômeno socialmente produzido e reproduzido, pela mão do homem, que iniciou com a usurpação de terras indígenas pelos colonizadores, que deram origem a nossa aristocracia rural”, diz Brizabel da Rocha, autora de Política de segurança alimentar nutricional e sua inserção ao sistema único de assistência social (São Paulo: Paco Editorial, 2012). Ao avaliar as políticas públicas brasileiras de combate à fome, ela enfatiza que “desde a República até o nosso século encontramos políticas públicas reprodutoras da pobreza, na tentativa de sua superação, com supremacia dos interesses econômicos sobre os direitos sociais”.

Brizabel da Rocha também comenta a lei n. 11.346/2006, que criou o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN e assinala que há “dificuldades por parte dos poderes públicos para fazer cumprir o direito humano ao alimento e à nutrição (leia-se o art. 2º da lei n. 11.346/2006), seja por desconhecimento, seja pela evidente fragmentação das políticas públicas no âmbito da gestão pública”. Para garantir a segurança alimentar, ela propõe uma “intersetorialidade” entre as políticas públicas e uma nova maneira de “compreender o modelo de desenvolvimento econômico, político e cultural para o país”.

Brizabel da Rocha (foto abaixo) é graduada em Economia Doméstica pela Universidade de Passo Fundo – UPF, especialista em Cooperativismo e Associativismo pela Universidade do Vale dos Sinos – Unisinos, e em Gestão da Educação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS (2007). Também é mestre em Serviço Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul – PUCRS (2011). Atualmente é colaboradora técnica doInstituto Harpya Harpia/SP, uma OSCIP que atua na defesa e promoção do direito humano ao alimento e à nutrição.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Historicamente, como os programas de combate à fome foram construídos no país? Que aspectos caracterizaram tais programas ao longo dos últimos 70 anos?
Foto: palavraria.wordpress.com

Brizabel da Rocha – Na história recente de nosso país encontramos a origem da fome como um fenômeno socialmente produzido e reproduzido pela mão do homem, iniciado com a usurpação de terras indígenas pelos colonizadores, os quais deram origem a nossa aristocracia rural. Da República até o nosso século, encontramos políticas públicas reprodutoras da pobreza, na tentativa de sua superação, com supremacia dos interesses econômicos sobre os direitos sociais. Ao abordarmos a questão da fome, num país como o Brasil, de dimensões continentais, rico em suas fontes naturais (minerais, hídricas, ecossistêmicas), sua biodiversidade, seu clima tropical, e também em suas fronteiras agrícolas, temos de abordar a questão da terra, da agricultura, das opções de desenvolvimento, e reconhecer que a fome (em suas diversas expressões), mesmo em diferentes períodos históricos e de desenvolvimento do país, é o resultado de um contexto político, econômico e social.

Dessa forma, os aspectos que caracterizaram os programas públicos de combate à fome sempre estiveram diretamente ligados à alternância dos ciclos administrativos, governamentais, ao longo dos anos. Foram avanços trazidos pelo médico, escritor e político pernambucano Josué de Castro, já em 1940, a partir de estudos científicos de e inquéritos alimentares, que caracterizaram cinco “áreas alimentares” no país, instituindo na época uma nova visão sobre os programas públicos. Houve retrocessos e negação do fenômeno da fome e da pobreza, no período ditatorial (1964 a 1986). Também houve certa estagnação na década de 1990. Porém, os movimentos sociais e populares, em 1993, recolocaram o tema na agenda. Houve nova retomada somente a partir do ano de 2003, no primeiro mandato do presidente Lula.

IHU On-Line – Desde a criação do Serviço de Alimentação e Previdência Social – SAPS, em 1940, que buscava baratear o valor da alimentação para o trabalhador, até a instituição do programa governamental Fome Zero, que avaliação é possível fazer sobre as políticas públicas brasileiras nessa área?

Brizabel da Rocha – Os programas desse período a partir do SAPS, embora morosos na sua implantação e implementação, procuraram abordar questões estruturais e imediatas que estavam presentes naquela década. Houve a criação do Serviço Técnico de Alimentação Nacional – STAN, ligado diretamente ao poder Executivo. Tinha por função estimular pesquisa de nutrição e aperfeiçoar os processos industriais de produção de alimentos bem como instalar a Comissão Nacional de Alimentação – CNA, que estabeleceu o Plano Nacional de Alimentação, o qual reconheceu, pela primeira vez, as questões estruturais, econômicas e políticas geradoras da fome. Foi o último programa, quando então vivemos o período do governo militar, quando todos os programas foram fragmentados, com multiplicidade de ações, sem a visão de direitos vinculados a um forte cunho clientelista e paternalista (que de alguma forma ainda hoje se vê). Isso proporcionava a dependência da população pobre às benesses do governo. No final da década de 1990, as medidas foram de caráter administrativo, privatizações, reforma do estado, sem incidir nas questões sociais marcadas por profundas desigualdades.

O processo de institucionalização de uma política pública de Estado para o combate à fome é retomado no período de 2003, quando da criação do Ministério Extraordinário de Segurança Alimentar – MESA com o lançamento do programa Fome Zero, que unifica ações de transferência de renda. É preciso olhar esse programa como uma estratégia dentro doSistema de Segurança Alimentar Nutricional – SISAN, atualmente em fase de implantação em todo o país, como ocorreu com o Sistema Único de Saúde – SUS e com o Sistema Único de Assistência Social – SUAS.

IHU On-Line – A partir de que momento a fome passou a ser compreendida numa perspectiva de Segurança Alimentar Nutricional? Que mudanças ocorreram nos programas sociais a partir dessa interpretação?

Brizabel da Rocha – No Brasil, as primeiras referências documentais de governo datam do final do ano de 1985, através do Ministério da Agricultura, quando foi elaborada a proposta de Política Nacional de Segurança Alimentar com objetivos centrais de atender às necessidades alimentares da população e atingir a autossuficiência nacional de produção de alimentos, com o que se critou o Conselho Nacional de Segurança Alimentar. A proposta, à época, teve pouca repercussão, mas sementes foram lançadas. Passou-se a incorporar, no conceito de segurança alimentar, temas relevantes como a qualidade sanitária, biológica, nutricional e cultural dos alimentos, assim como a segurança alimentar domiciliar, agregando-se aí noções correlacionadas como a de assistência básica à saúde, o cuidado promovido no lar, o cuidado do preparo dos alimentos, a necessidade do aleitamento materno. Dessa forma foi dado ao conceito – para além do acesso aos alimentos – uma face mais humana. Nessa década, a política da saúde foi a que mais avançou em formulação e compreensão, tendo definido a Política Nacional de Alimentação e Nutrição – PNAM, através da portaria de n. 710 (de 10-06-1999), e tendo incorporado o conceito de SANS, fundado no direito humano à alimentação e nutrição. Aí o MS assumiu compromissos com os problemas relacionados à escassez alimentar, à pobreza, à desnutrição infantil e materna, bem como com o quadro de excessos, tais como as altas taxas de prevalência de sobrepeso e obesidade na população adulta e jovem, adolescentes e crianças.

IHU On-Line – Pode nos falar do processo de construção da lei n. 11.346/2006, que criou o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN? Quais os principais desafios desde sua instituição?

Brizabel da Rocha – O processo da construção dessa legislação foi o resultado da relação dialética entre a sociedade e o Estado, às vezes sob demandas discordantes. A serviço das classes dominantes, o Estado realiza ações protetoras, incorporando políticas no campo dos direitos sociais. Essa legislação, como todas as outras no âmbito dos direitos sociais, foi fruto da organização, mobilização e pressão da sociedade civil, tendo como vertente essa relação com o Estado.

Porém, o caráter positivo da política não é automático, sugerindo um contínuo desafio frente aos vários interesses que permeiam o poder do capital. Observo dificuldades por parte dos poderes públicos em fazer cumprir o direito humano ao alimento e à nutrição (leia-se o art. 2º da lei n. 11.346/2006), seja por desconhecimento, seja pela evidente fragmentação das políticas adotadas no âmbito da gestão pública. Foi e será necessário que a voz das ruas se faça ouvir em busca de garantir os seus direitos.

O art. 5º da referida lei prevê que o Estado busque a soberania alimentar como um dos pressupostos da garantia da SANS, o que na realidade é contraditório frente à formulação da política macroeconômica do país, pela pouca ou nenhuma participação da área econômica nos espaços em que se definem as ações e programas que se configuram como sendo de segurança alimentar. Além disso, há um enfraquecimento dos Estados nacionais frente ao poderio dos grandes conglomerados do mercado agroalimentar mundial. Por fim, um dos desafios que estão postos para ser colocados em prática é o caráter eminentemente multidimensional, que é a intersetorialidade da política.

IHU On-Line – Você aponta a intersetorialidade como um desafio na Política de Segurança Alimentar Nutricional. Com quais outras políticas públicas ela deve estar integrada?

Brizabel da Rocha – Esta política pública pressupõe a articulação e a integração de ações no âmbito do acesso à alimentação adequada em quantidades suficientes, com qualidade, desde a produção ao consumo para toda a população, favorecendo ações setoriais de forma sustentável, envolvendo tanto as políticas econômicas e financeiras quanto as políticas sociais.

O conceito de SANS, incorporado ao Sistema de SANS, amplia-se na medida em que a garantia do direito humano à alimentação adequada e à nutrição só vai ocorrer se forem consideradas as condições efetivas das populações de produzirem ou adquirirem com dignidade seu próprio alimento, com acesso à renda, com direito e acesso ao trabalho, com redistribuição de terra, com uma política agrária adequada, com política agrícola voltada para a produção de alimentos (agricultura familiar), com acesso à educação e aos meios promotores da saúde, saneamento básico, acesso à água de qualidade, alimentação saudável, etc.

Trabalhar essa intersetorialidade seria compreender um novo modelo de desenvolvimento econômico, político e cultural para o país. Seria também um desafio às políticas sociais e seus profissionais, já que requer alterações nas relações de poder, que historicamente se construíram de forma centralizada e hierarquizada.

IHU On-Line – Como equacionar problemas estruturais no que se refere à questão da fome e da segurança alimentar, superando o assistencialismo que domina as políticas públicas na área? Por que é tão difícil ultrapassar essa barreira do assistencialismo?

Brizabel da Rocha – Passa pelo processo de educação de um povo. É interessante que na minha pesquisa de mestrado, onde tento verificar como esse direito humano é garantido à população de três regiões distintas de Porto Alegre, a categoria “educação” foi a primeira evidenciada pelos sujeitos pesquisados. Ela surge como fio condutor para garantia de condições de qualidade de vida, saúde, possibilidade de participação efetiva do ser humano em seu núcleo familiar, em sua comunidade, permeando todo o processo de vida das pessoas para que a cidadania seja exercida. Essa cidadania só será exercida plenamente pela dignidade do trabalho, constitutivo da identidade humana. Faz-se necessário o acesso ao trabalho e aos meios de produção.

IHU On-Line – Diante dos programas sociais e das políticas públicas direcionadas à alimentação, é possível falar em insegurança alimentar no Brasil?

Brizabel da Rocha – Costumo dizer que a população mandatária da política de assistência social é uma população em insegurança alimentar. A insegurança alimentar, em qualquer dos seus graus de gravidade, é mais frequente nos domicílios dos estratos sociais mais baixos. Via de regra, a população em insegurança alimentar associa uma combinação de fatores tais como baixa escolaridade, trabalho informal, precarização das condições de trabalho, ausência de renda, ou renda muito baixa, incidência da questão de gênero, mulheres chefes de família, e crianças.

Porém, todos nós nos encontramos, de uma forma ou de outra, em insegurança alimentar. Isso porque todos estamos rodeados de alimentos com agrotóxicos, alimentos com alto processo de industrialização que deixam de ser alimentos. Lembro o recente caso da alteração criminosa do leite no Rio Grande do Sul. Há também os alimentos geneticamente modificados, dos quais não sabemos os efeitos colaterais em nosso organismo, sem contar os efeitos com relação ao meio ambiente. As águas contaminadas. Enfim, todos nós estamos afetos.

(Ecodebate, 12/07/2013) publicado pela IHU On-line, parceira estratégica do EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos - IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

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União Europeia bane cosméticos testados em animais

Com proibição, bloco europeu tenta pressionar parceiros comerciais a fazerem o mesmo.

Com entrada em vigor da proibição a produtos de beleza experimentados em animais, bloco tenta pressionar parceiros comerciais a fazerem o mesmo. Ativistas aplaudem, mas criticam brechas na lei e pedem banimento global.

Entrou em vigor nesta quinta-feira (11/07), na União Europeia, uma proibição completa da comercialização de produtos cosméticos desenvolvidos a partir de testes em animais – mesmo que tenham sido fabricados fora do bloco.

Testes do tipo já são proibidos na UE desde 2009. E, com a nova legislação, busca-se, ainda que de forma indireta, fazer com que seus parceiros comerciais sigam o mesmo caminho. Ativistas tratam a medida europeia como um marco, mas dizem que o objetivo principal ainda não foi alcançado: o banimento global desse tipo de experimento.

Muitos, como Irmela Ruhdel, da Associação Alemã do Bem-Estar Animal, e Silke Bitz, bióloga e porta-voz da ONG Médicos Contra Experimentos em Animais, reclamam que as novas regras ainda têm muitas lacunas.

“Se uma empresa europeia quiser comercializar produtos na China, por exemplo, ela pode ainda fazer testes em animais, já que a prática é permitida pelas autoridades chinesas”, diz Silke Bitz.

Cerca de 12 milhões de animais são utilizados a cada ano para fins científicos na UE

Outro ponto criticado é que a proibição se aplica apenas ao campo dos cosméticos. Quando um ingrediente é utilizado em outros produtos, como de limpeza, por exemplo, ele muda de categoria para substância química.

“A indústria de cosméticos ainda pode utilizar o ingrediente, já que claramente ele não foi testado em animais para fins puramente cosméticos”, afirma, por sua vez, Irmela Ruhdel.

Há também uma série de exceções. Os testes em animais podem ser realizados caso aprovados pela Comissão Europeia, quando, por exemplo, há um ingrediente importante que não pode ser substituído e haja a preocupação que ele possa ser prejudicial. Isso se aplica principalmente a substâncias que possam causar câncer ou esterilidade.

A indústria critica a nova legislação. “Precisamos de muito tempo para testes de segurança importantes, cujos métodos alternativos ainda não estão disponíveis”, diz Birgit Huber, diretora de produtos de beleza da Associação da Indústria de Higiene Pessoal e Produtos de Limpeza (IKW, sigla em alemão).

Falta de métodos alternativos

Na busca por métodos alternativos, a indústria dos cosméticos alemã decidiu parar, desde 1989, com o teste de produtos finais em animais. No entanto, o desenvolvimento de métodos alternativos não foi completado, e mais pesquisas ainda precisam ser realizadas.

Ativistas dos direitos dos animais sabem que novos métodos de teste ainda precisam ser desenvolvidos. No entanto, Bitz reclama da falta de comprometimento da indústria. Outro ponto é o investimento disponível. Se mais verbas de impostos fossem colocadas nessas áreas de pesquisa, afirmam ativistas, o avanço seria mais rápido e visível.

Pesquisa com células in vitro é uma maneira de substituir experiências com animais em laboratório

Se os ingredientes são testados em animais, é um risco incalculável a aplicação dos resultados em seres humanos, alega Bitz. “Você não tem como saber se uma pessoa aleatória vai reagir de forma diferente”, afirma. Ela apoia a pesquisa de células em laboratório, os chamados testes in vitro.

Só na União Europeia, cerca de 12 milhões de animais são utilizados anualmente para fins científicos. No entanto, nos últimos anos, a participação da indústria dos cosméticos foi relativamente baixa: cerca de dois mil animais por ano (0,02%).

Dessa maneira, a indústria de cosméticos pode até ser a força motriz para o desenvolvimento de métodos alternativos, diz Irmela Ruhdel: “Esses métodos alternativos que não utilizam animais também podem ser usados para o teste de drogas e produtos químicos, o que diminuiria o teste com animais também em outras áreas”.

A proibição de testes em animais para a indústria de cosméticos ainda é pouco, lamenta Bitz. “Nosso principal objetivo é o fim de todos os experimentos com animais”. Isso, no entanto, será algo de difícil implementação política. Experimentos com animais ainda são parte essencial de pesquisas médicas.

Matéria da Agência Deutsche Welle, DW, publicada pelo EcoDebate, 12/07/2013

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quinta-feira, 11 de julho de 2013

Desertificação já atinge uma área de 230 mil km² no Nordeste

Mapeamento feito por satélite feito pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites da Universidade Federal de Alagoas lança alerta para o fenômeno

Como se não bastasse a falta de chuvas, o Brasil vê se alastrar no Nordeste um fenômeno ainda mais grave: a desidratação do solo a tal ponto que, em última instância, pode torná-lo imprestável. Um novo mapeamento feito por satélite pelo Laboratório de Análise e Processamento de Imagens de Satélites da Universidade Federal de Alagoas (Lapis), que cruzou dados de presença de vegetação com índices de precipitação ao longo dos últimos 25 anos, até abril passado, mostra que a região tem hoje 230 mil km² de terras atingidas de forma grave ou muito grave pelo fenômeno.

A área degradada ou em alto risco de degradação é maior do que o estado do Ceará. Hoje, o Ministério do Meio Ambiente reconhece quatro núcleos de desertificação no semiárido brasileiro. Somados, os núcleos de Irauçuba (CE), Gilbués (PI), Seridó (RN e PB) e Cabrobó (PE) atingem 18.177 km² e afetam 399 mil pessoas.

Num artigo assinado por cinco pesquisadores do Instituto Nacional do Semiárido (Insa), do Ministério da Ciência e Tecnologia, são listados seis núcleos, o que aumenta a área em estado mais avançado de desertificação para 55.236 km², afetando 750 mil brasileiros.

Os dois núcleos identificados pelos pesquisadores do Insa são o do Sertão do São Francisco, na Bahia, e o do Cariris Velhos, na Paraíba, estado que tem 54,88% de seu território classificado em alto nível de desertificação.

Trata-se de um prolongamento que une o núcleo do Seridó à microrregião de Patos, passando pela dos Cariris Velhos. Apenas na microrregião de Patos, 74,99% das terras estão em alto nível de desertificação, segundo dados do Programa Estadual de Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos da Seca da Paraíba.

- A degradação do solo é um processo silencioso – afirma Humberto Barbosa, professor do Instituto de Ciências Atmosféricas e coordenador do Lapis, responsável pelo estudo. – No monitoramento por satélite fica evidente que as áreas onde o solo e a vegetação não respondem mais às chuvas estão mais extensas. Em condições normais, a vegetação da Caatinga brota entre 11 e 15 dias depois da chuva. Nestas áreas, não importa o quanto chova, a vegetação não responde, não brota mais.

Estão em áreas mapeadas como críticas de desertificação municípios como Petrolina, em Pernambuco, que tem mais de 290 mil habitantes, e Paulo Afonso, na Bahia, com 108 mil moradores. Barbosa explica que a desertificação é um processo longo e a seca agrava a situação. Segundo ele, em alguns casos, a situação é difícil de reverter.

Na Bahia, numa extensão de 300 mil km² no Sertão do São Francisco, os solos já não conseguem reter água. Na região de Rodelas, no Norte do estado, formou-se, a partir dos anos 80, o deserto de Surubabel.

Numa área de 4 km², ergueram-se dunas de até 5 metros de altura. Segundo pesquisadores, a área foi abandonada depois da criação da barragem da hidrelétrica de Itaparica, usada para o pastoreio indiscriminado de caprinos e, por fim, desmatada. O solo virou areia. O rio, que era estreito, ficou largo, e o grande espelho d’água deixou caminho livre para o vento.

- Não existe dúvida de que o processo de degradação ambiental é grave e continua aumentando – desabafa Aldrin Martin Perez, coordenador de pesquisas do Insa. – A população aumentou, o consumo aumentou. Há consequências políticas, sociais e ambientais. Se falassem do problema de um banco, todos estariam unidos para salvá-lo. Como não é, não estão nem aí.

No Sul do Piauí, onde fica o núcleo de Gilbués, são 15 os municípios atingidos. Nos sete em situação mais grave, segundo dados do governo do estado, a desertificação atinge 45% do território de cada um.

Em Gilbués, uma fazenda modelo implantada pelo governo do estado conseguiu recuperar o solo e fazer florescer milho. Todos os anos se comemora ali a festa do milho, mas a experiência de recuperação é limitada. Hoje, 10,95% das terras do Sul do estado apresentam graus variados de desertificação.

Em Alagoas, estudos apontam que 62% dos municípios apresentam áreas em processo de desertificação, sendo os níveis mais graves registrados nos municípios de Ouro Branco, Maravilha, Inhapi, Senador Rui Palmeira, Carneiros, Pariconha, Água Branca e Delmiro Gouveia.

A cobertura florestal do estado é tão baixa que Francisco Campello, responsável pelo programa de combate à desertificação do Ministério do Meio Ambiente, chegou a dizer que, se fosse uma propriedade, Alagoas não teria os 20% de reserva legal.

Degradação intensa

A seca no Nordeste sempre existiu. O que está em jogo agora não é só a falta de chuva, mas a degeneração da terra. O solo frágil exige preservação da vegetação de caatinga e técnicas de manejo, inclusive de pastoreio.

Mas 30% da energia consumida no Nordeste vem da lenha, e o que queima é a mata nativa. Segundo relatório do governo do Rio Grande do Norte, que divide com a Paraíba o núcleo de desertificação do Seridó, além da retirada de lenha, a degradação vem do desmate para abrir espaço para agricultura, pecuária, mineração e extração de argila do leito de rios para abastecer a indústria de cerâmica.

Ao comparar estudos de 1982 e 2010, os especialistas chegaram à conclusão que se passaram 28 anos de intensa degradação sem que a situação se alterasse. A indústria de cerâmica segue como principal fonte de renda e emprego.

Pelo menos 104 empresas competem pela argila para fabricar telhas e tijolos. Dos seis municípios do Núcleo de Desertificação, cinco fazem parte do Polo Ceramista do Seridó e abrigam 59 empresas do setor.

- O Brasil ainda trata a seca como se fosse o Zimbábue ou outros países muito pobres da África – afirma Barbosa. – Isso não é aceitável. Temos pesquisa, técnicas e ferramentas para evitar que a degradação aconteça. Os políticos tratam a seca em ciclos de quatro anos, que é a duração de seus mandatos. Se nada acontecer, as pessoas dos municípios atingidos pela desertificação vão migrar para grandes centros, gerando outros problemas.

Em Gilbués, as crateras abertas no solo, conhecida como voçorocas, compõem uma paisagem chocante. Mas os locais onde não surgem fendas na terra expostas são ainda mais preocupantes.

Ano após ano, as pessoas não percebem que a vida do solo está se esvaindo. Somente ao cavar fendas é que se percebe que o solo está cada vez mais raso e a camada de vida, que são os 5 cm mais próximos à superfície, está mais estreita ou quase inexiste.

A perda de fertilidade se alastra também por parte de Minas Gerais e por áreas do Rio Grande do Sul, onde há o fenômeno denominado arenização – não é desertificação porque esta pressupõe escassez de chuva e aridez, o que não ocorre por lá.

Em Minas, a área de maior risco envolve 69 mil km² em 59 municípios no Norte, Jequitinhonha e Mucuri. Em documento entregue ao Ministério do Meio Ambiente, o governo de Minas calculou em R$ 1,29 bilhão o custo de projetos de prevenção.

- O problema é que os solos estão sendo compactados – diz Afrânio Righes, ex-chefe do Centro Regional Sul de Pesquisas Espaciais, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e professor de engenharia ambiental do Centro Universitário Franciscano (Unifra), em Santa Maria (RS). – O solo já não age como uma esponja, absorvendo a chuva. Com o plantio direto, sem aragem da terra, e o uso de grandes máquinas na lavoura, a água não infiltra, escorre sobre a superfície e se perde. Os impactos da estiagem aumentam, porque há pouca água acumulada na terra. Por isso, é preciso cavar sulcos na terra, a cada 10 metros, para forçar a infiltração. Como não existe máquina adequada para isso, os agricultores não o fazem.

Em Minas, vegetação e terra sofrem com queimadas frequentes, destruição de matas que protegem nascentes, assoreamento de rios e até irrigação, que capta água em excesso, comprometendo cursos d’água e causando salinização do solo.

No Rio Grande do Sul, a ânsia de unir criação de gado e plantio de soja, em busca de lucros maiores, saturou o solo na região de Alegrete, resultando na arenização. Sobrou o “deserto de São João”.

- O solo não era propício para a soja e a camada orgânica se foi em pouco tempo – explica Righes. – Ficou areia pura e, com o vento, ela não parava de avançar.

A solução encontrada pelos gaúchos para barrar o deserto surgido nos pampas foi plantar eucalipto no entorno da área, criando uma cortina de contenção dos ventos.

- A mudança climática tem peso importante nos processos de desertificação – afirma Manuel Otero, representante do Instituto Interamericano de Cooperação para a Agricultura (IICA). – Mudou a sequência e intensidade das chuvas. Há menos água disponível. E mais degradação ambiental significa mais pobreza.

Para Otero, a boa notícia é que o ciclo vicioso pode ser quebrado. Com apoio da União Europeia, o instituto levou para o município de Irauçuba técnicas e ações para impedir que a desertificação se alastre. O coordenador de Recursos Naturais e Adaptação às Mudanças Climáticas do IICA, Gertjan Beekman, afirma que técnicas simples, como barramento da água, já deram resultado no município de Canindé.

- Nascentes que estavam secas oito anos atrás ressurgiram – comemora Beekman. – Isso mostra que é possível reverter esse processo.

Na Argentina, 70% a 80% da superfície do país são vulneráveis à desertificação, principalmente ao Norte. No Brasil, toda a região do semiárido é considerada área suscetível. Segundo Perez, do Insa, não existe um único modelo ou indicador padronizado para determinar a extensão das terras em processo de desertificação no país.

- Não há no Brasil monitoramento sistêmico, apenas estudos pontuais – diz o pesquisador. – A sensibilização não é algo imediato. É preciso estimular as pessoas a olharem com outro olhar e reconstruir a memória intergeracional. A própria sede da Convenção das Nações Unidas para o Combate à Desertificação e Mitigação dos Efeitos das Secas fica na Alemanha, onde não há o problema.

(Cleide Carvalho / O Globo)

http://oglobo.globo.com/amanha/desertificacao-ja-atinge-uma-area-de-230-mil-km-no-nordeste-8969806#ixzz2YeOVnplc

Matéria em O Globo, socializada pelo Jornal da Ciência / SBPC, JC e-mail 4765.

EcoDebate, 11/07/2013

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