Fenômeno placebo-nocebo: evidências psiconeurofisiológicas

Por Marcus Zulian Teixeira 
10/11/2013

Apesar de o efeito placebo (nocebo) ser considerado por muitos como uma ilusão, ele é uma realidade observada em toda prática terapêutica, com seus mecanismos psiconeurofisiológicos estudados e descritos na literatura médica. Por ser um aspecto inerente ao cuidado médico, deveria ser conhecido por todos que se dedicam à prática e à pesquisa clínica. Com este intuito, nos aprofundamos no estudo desse fenômeno (Teixeira, 2009, 2010), citando uma síntese dos aspectos fundamentais.

Em qualquer tratamento farmacológico, os efeitos terapêuticos relacionam-se a dois tipos de fatores: específicos (dose, duração, via de administração, farmacodinâmica, farmacocinética, interações medicamentosas etc.) e não específicos (história e evolução natural da doença, regressão à média, aspectos socioambientais, variabilidade inter e intra-individual, desejo de melhora, expectativas e crenças no tratamento, relação médico-paciente, características não farmacológicas do medicamento etc.). O fenômeno placebo-nocebo faz parte destes últimos, sendo atribuível à relação médico-paciente o componente mais robusto, segundo pesquisas recentes.

Etimologicamente, o termo placebo se origina do latim placeo, placere, que significa agradar, enquanto o termo nocebo se origina do latim nocere, que significa infligir dano. De forma generalizada, entende-se efeito ou resposta placebo como a melhoria dos sintomas e/ou funções fisiológicas do organismo em resposta a fatores supostamente não específicos e aparentemente inertes (sugestão verbal ou visual, comprimidos inertes, injeção de soro fisiológico, cirurgia fictícia etc.), sendo atribuível, comumente, ao simbolismo que o tratamento exerce na expectativa positiva do paciente. Efeito nocebo é um fenômeno oposto, em que a antecipação e a expectativa por um resultado negativo podem conduzir à agravação de um sintoma ou doença. Exemplos naturais de efeito nocebo são observados no impacto de diagnósticos negativos e na desconfiança do paciente em relação à equipe médica ou por algum tipo de tratamento, tendo seus mecanismos psiconeurofisiológicos estudados de forma análoga ao efeito placebo.

Com a introdução sistemática dos ensaios clínicos placebos-controlados, considerado o padrão-ouro para avaliar a eficácia dos tratamentos, relatos frequentes de mudanças clínicas significativas nos grupos demonstraram que a intervenção placebo pode causar efeitos consideráveis em diversas condições clínicas. Revisões sistemáticas de ensaios clínicos placebos-controlados evidenciaram a resposta placebo (% de melhora) em diversas doenças, constatando sua influência em doença de Crohn (19%), síndrome da fadiga crônica (20%), síndrome do intestino irritável (40%), colite ulcerativa (27%), depressão maior (30%), mania (31%), enxaqueca (21%), dentre outras.

Os diversos fatores envolvidos na relação médico-paciente, do acolhimento ao teor específico das declarações feitas pelo terapeuta, influenciando a expectativa por uma melhora ou piora do quadro clínico, podem desencadear efeitos significativos no desfecho de qualquer tratamento, farmacológico ou não, alterando a atividade de determinadas regiões cerebrais e a liberação de neurotransmissores específicos.

Mecanismos psico-indutores do fenômeno placebo-nocebo

Dentre os mecanismos psico-indutores do efeito placebo, o condicionamento inconsciente reivindica que a resposta surge após a exposição repetida do indivíduo a associações de sugestões sensoriais neurais (características do comprimido, tipo de terapêutica, ambiente do consultório etc.) com intervenções de tratamento efetivas (ex: resposta placebo analgésica observada após a administração de comprimidos inertes com características semelhantes aos da morfina administrada previamente). Segundo um paradigma estritamente behaviorista (pavloviano), as sugestões sensoriais neurais podem extrair de forma automática e isolada, após a intervenção placebo, uma resposta semelhante ao tratamento efetivo. Deste modo, o condicionamento inconsciente estaria relacionado ao fato de que os pacientes, por meio da percepção visceral ou somática, são capazes de monitorar rapidamente as flutuações no estado dos órgãos internos (feedback sensorial), com resposta placebo proporcional ao grau de abrangência dessa percepção. De forma análoga, o efeito nocebo seria consequência do condicionamento inconsciente prévio por experiências negativas (ex: pacientes alérgicos ao perfume de flores manifestam sintomas alérgicos quando expostos a flores artificiais).

Outro importante mecanismo psico-indutor do fenômeno placebo-nocebo é a expectativa consciente dos pacientes nas perspectivas de melhora ou piora clínicas, que pode ser incrementada pelas sugestões verbais que acompanham o tratamento. Um modelo experimental tem avaliado o impacto clínico das expectativas positiva e negativa isoladamente, revelando ou ocultando ao paciente a administração ou a suspensão do tratamento melhor indicado (open-hidden paradigm). Nesse contexto, estudos evidenciam que um mesmo tratamento mostra-se mais efetivo quando é revelado (open) do que quando é ocultado (hidden) ao paciente, indicando que a expectativa positiva desempenha um papel crucial na resposta terapêutica (efeito placebo). Considerando que o desfecho clínico secundário a um tratamento não revelado (hidden) representa o efeito específico do tratamento em si, livre de qualquer contaminação psicológica, o resultado de um tratamento revelado (open) representa a somatória dos efeitos específicos e não específicos. A diferença entre essas abordagens é o componente placebo, embora nenhum placebo tenha sido administrado. De forma análoga, a expectativa negativa é avaliada com a revelação ou a ocultação da suspensão do tratamento indicado, mostrando que o grupo que sabia da interrupção apresentou piora dos sintomas (efeito nocebo) de forma mais intensa e antecipada do que o outro grupo.

Apesar dos defensores de um ou outro mecanismo, condicionamento inconsciente e expectativa consciente são adjuvantes na modulação placebo-nocebo, um amplificando a resposta do outro.

Mecanismos psiconeurofisiológicos do fenômeno placebo-nocebo

Mapeando áreas cerebrais responsáveis pelo fenômeno placebo-nocebo por Tomografia por Emissão de Pósitrons (PET) e Ressonância Nuclear Magnética Funcional (RNMf), estudos descrevem os mecanismos psiconeurofisiológicos envolvidos no processo. A resposta placebo analgésica tem como mediadores os peptídeos opióides endógenos (endorfinas), que atuam nos sítios dos receptores dos opioides exógenos (morfina) distribuídos em regiões cerebrais específicas (tronco encefálico, tálamo e medula espinhal). Dentre os mecanismos moduladores da analgesia placebo, observa-se que a expectativa positiva (melhora da dor) estimula o córtex pré-frontal (dorsolateral, medial e orbitofrontal) e o sistema opioide do tronco encefálico, áreas responsáveis pela modulação da dor emocional. Em relação ao efeito nocebo hiperálgico, a percepção da intensidade do estímulo doloroso é amplificada após uma expectativa negativa (piora da dor), com aumento na atividade de diversas regiões cerebrais (córtex pré-frontal orbitofrontal, córtex cingulado anterior e córtex insular anterior). Sugestões verbais negativas induzem ansiedade antecipatória sobre o provável aumento da dor (hiperalgesia nocebo), ativando o sistema colecistoquinérgico facilitador da transmissão dolorosa e diminuindo a atividade dos opioides endógenos.

Em resposta às injeções placebo de solução salina em pacientes portadores de doença de Parkinson, estudos demonstram a liberação de quantidades significativas de dopamina endógena no estriado dorsal, com melhoras clínicas evidentes. Observa-se também que a expectativa positiva relacionada à antecipação do benefício terapêutico e acompanhada pela liberação da dopamina pode ser um fenômeno comum ao efeito placebo em qualquer distúrbio clínico placebo-responsivo.

Na depressão, a resposta placebo apresenta um padrão metabólico similar ao dos antidepressivos (fluoxetina, por exemplo), sendo evidenciado no aumento da liberação do neurotransmissor serotonina no córtex pré-frontal, cíngulo anterior, córtex parietal, insula posterior e cíngulo posterior, além da diminuição de sua metabolização no cíngulo subgenual, para-hipocampo e tálamo.

De forma análoga aos fenômenos dolorosos, a expectativa negativa desperta o efeito nocebo, piorando a evolução clínica da doença de Parkinson e da depressão. Em todos os exemplos citados, o condicionamento inconsciente amplifica as respostas placebo e nocebo.

No entanto, pelos resultados apresentados, não temos como generalizar uma suposta especificidade e magnitude do fenômeno placebo-nocebo. Dependendo da sensibilidade individual, do tipo de sintoma ou doença, da informação transmitida ao paciente, da expectativa (associada ou não à sugestão verbal), das experiências prévias do paciente com as diversas situações e tratamentos (condicionamento inconsciente) etc., os efeitos da intervenção placebo-nocebo diferem caso a caso, envolvendo diferentes mecanismos psiconeurofisiológicos e suas respectivas áreas cerebrais. 

Marcus Zulian Teixeira é doutor em medicina (FMUSP), pesquisador e coordenador da disciplina Fundamentos da Homeopatia (FMUSP).
Mais informações: http://www.homeozulian.med.br .

Referências:

Teixeira M. Z. “ Ensaio clínico quali-quantitativo para avaliar a eficácia e a efetividade do tratamento homeopático individualizado na rinite alérgica perene” tese. São Paulo: Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo; 2009. Disponível em:http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/5/5159/tde-10062009-102220/pt-br.php .

Teixeira M. Z. “Bases psiconeurofisiológicas do fenômeno placebo-nocebo: evidências científicas que valorizam a humanização da relação médico-paciente”. Rev Assoc Med Bras. 2009; 55(1): 13-18. Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ramb/v55n1/v55n1a08.pdf .

Teixeira M. Z, Guedes C.H, Barreto P.V, Martins M.A. “The placebo effect and homeopathy”. Homeopathy . 2010; 99(2): 119-129. Disponível em: http://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/20471615 .

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Plantas medicinais: entre a tradição popular e o uso médico

Tratar doenças com os recursos disponíveis na natureza foi a primeira forma usada pelo homem nos períodos históricos mais remotos. Desde então foram consideradas determinadas espécies eficazes para combater certos sintomas e doenças. Assim o chamado uso estimulado pela tradição é feito até hoje, mas os avanços da medicina e da indústria farmacêutica, juntamente com a ação das agências reguladoras, no caso do Brasil a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mudaram esse cenário e a utilização aleatória das plantas com benefícios medicinais passou a ser mais estudada e regulamentada.

Com longa experiência nessa área, Ceci Lopes, ginecologista da Faculdade de Medicina e presidente da Associação Médica Brasileira de Fitomedicina (http://espaber.uspnet.usp.br/espaber/www.sobrafito.com.br), organização que estimula a aplicação racional e científica dos princípios terapêuticos das plantas, explica que “fitoterapia é qualquer tratamento com planta, seja um chá ou um medicamento sintético, vendido em farmácia. Muitos remédios são originários de fitoterápicos, mas passam por modificação química ou purificação do princípio ativo quando são industrializados”.

A relevância de algumas espécies vegetais não escapou ao olhar do Ministério da Saúde, que em 2006 lançou a Política Nacional de Práticas Integrativas, que apresenta mais opções para tratamento na rede pública. Além da fitoterapia, incluem-se a homeopatia, acupuntura e medicina Chinesa. A implementação desse projeto é incentivada pela Organização Mundial da Saúde, não só no Brasil, mas em outros países ao redor do mundo.

Segundo informações do próprio Ministério, o financiamento de fitoterápicos começou efetivamente em 2007. Atualmente são um total de oito medicamentos industrializados que têmplantas como princípio ativo e foram aprovados pela Anvisa. Os escolhidos são: alcachofra, aroeira, cáscara- sagrada, espinheira santa, garra do diabo, guaco, isoflavona de soja e unha-de-gato.

O professor do Departamento de Botânica do Instituto de Biociências Antonio Salatino explica a sua atividade no laboratório e revela que um dos seus trabalhos atuais é feito com o própolis com suas funções anti-inflamatórias e antissépticas, um produto da apicultura, mas que temsubstâncias retiradas das plantas. “Nós procuramos determinar a composição química das plantas, fazer análises de atividades biológicas e também mantemos contato com colegas de outras instituições.”

Ele conta uma história que ilustra evidências do uso de plantas: “O homem das neves é o corpo humano muito estudado, mais até do que algumas múmias. Seu corpo foi achado nos Alpes e levado para a universidade. Junto a ele havia uma bolsa que continha casca de bétula, provavelmente usada como um medicamento. Hoje sabemos que a casca contém ácido betulínico, que tem atividade anti-HIV, inibindo a replicação do vírus”. “Mas ainda nenhum de seus derivados está sendo efetivamente utilizado”, completa.

Sobre a aplicação cotidiana, a ginecologista Ceci traça um paralelo importante, dizendo que até o solo no qual o vegetal foi plantado influencia no resultado final e cita a hortelã. “Às vezes usamos um chá achando que estamos tomando um remédio. Temos a hortelã do supermercado e a plantada na horta,variedades do solo e da própria espécie, além da forma de preparo, que extrai substâncias de modo mais ou menos concentrado. Tudo isso faz muita diferença na hora de tomar a bebida e em seus resultados”, alerta.

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Entre cobras, lagartas e cacatuas – estratégias da natureza que confundem e surpreendem

Por Giselle Soares e Cristiane Delfina 
10/11/2013

A cacatua Snowball é uma celebridade mundial. O pássaro, que vive em um santuário de aves nos Estados Unidos, ganhou fama após aparecer, há poucos anos, em um vídeo em que dançava de maneira sincronizada ao som de "Everybody", do grupo americano Backstreet Boys e já apareceu em programas de grande audiência, como o Late Show, no canal Animal Planet e até mesmo em um comercial da rede fast food Taco Bell. O comportamento inusitado chamou atenção dos pesquisadores Aniruddt Patel e John Iversen do Instituto de Neurociências de La Jolla, na Califórnia, e Micah Bregman, da Universidade da Califórnia em San Diego, e resultou no artigo “Investigating the human-specificity of synchronization to music”, escrito em parceria com Irena Schulz e Charles Schulz, do santuário Bird lovers Only Rescue Service, onde Snowball vive, publicado nos anais da 10ª Conferência Internacional sobre Percepção Musical e Cognição, realizada em 2008 em Sapporo, no Japão. Foi o primeiro caso documentado de um animal que, sem treinamento, podia se mover de acordo com a batida da música.

Por meio do estudo com Snowball, a equipe de Patel chegou à conclusão de que a capacidade de aprendizagem vocal demonstrada por humanos, papagaios, golfinhos e outras espécies fornece a base motora e auditiva para a sincronização com o ritmo da música. Adena Schachner, da Universidade de Harvard, também realizou estudos com Snowball e com Alex, um papagaio-cinzento que também demonstrava habilidade de "dançar", e os resultados foram publicados em 2009 no artigoSpontaneous motor entrainment to music in multiple vocal mimicking species” na revista Current Biology. Além da pesquisa com Alex e Snowball, Schachner analisou vídeos do YouTube para buscar evidências de outros animais que demonstrassem essa mesma capacidade. Assim como os estudos de Patel, o artigo da pesquisadora sugere que as espécies que aparentemente possuíam a habilidade eram capazes de reproduzir os sons que escutam por imitação, o que os pesquisadores chamam de mimetismo vocal. Laura Kelley, da Universidade de Cambridge explica, no artigo "Vocal mimicry in songbirds” que o mimetismo vocal consiste na capacidade de copiar a vocalização de outras espécies ou sons ambientes, e que é muito comum em pássaros.

Mimetismo e camuflagem

O termo "mimetismo" tem origem na expressão grega mimetés, que significa imitação. A coordenadora do Laboratório de Fisiologia Comparativa da Pigmentação do Instituto de Biociências da USP, Maria Aparecida Visconti, define o mimetismo na natureza como a presença, em indivíduos de determinada espécie, de características que os confundem com indivíduos de outra espécie. Segundo Visconti, essa semelhança pode se dar principalmente no padrão de coloração, mas outras particularidades como a forma do corpo e a presença de determinadas substâncias, conferem a esses organismos alguma vantagem adaptativa.

Muitas vezes o mimetismo é confundido com a camuflagem ou cripticidade, em que o organismo se mistura com o meio em que vive. "Pode ser um predador, que dessa forma consegue se aproximar de sua presa sem que esta perceba, ou pode ser um recurso das presas, que conseguem se esconder mais facilmente de eventuais predadores", explica Visconti.

Uma espécie que apresenta mimetismo e camuflagem é o bicho-pau, também conhecido em algumas partes do Nordeste como mané-magro, objeto de pesquisa de Nathália Coelho Vargas, mestre em biologia animal pela Universidade Federal de Viçosa e professora do curso de Ciências Biológicas da Faculdade Cathedral de Boa Vista, em Roraima. Ela esclarece que esses insetos liberam uma secreção amarelada e viscosa para assustar seus predadores, como se fossem venenosos, e ainda se confundem com os galhos onde se encontram.

"Quando ameaçado, o bicho-pau balança o corpo com movimento semelhante dos galhos. Eles se camuflam por coloração crítica, que pode se alterar de acordo com o ambiente onde se encontram, como outra forma de defesa", explica Vargas. Ela lembra, ainda, que existem diversos tipos de mimetismos, que podem ser classificados quanto ao valor adaptativo que beneficia a espécie imitadora ou quanto às diferentes funções que desempenham na vida do organismo. " Mimetismo não é nada mais e nada menos que uma semelhança física ou comportamental, é um mecanismo adotado por uma espécie que imita outra com a finalidade de proteção contra seus respectivos predadores", complementa a pesquisadora, em consonância com a fala de Visconti.

Vargas aponta outros exemplos das vantagens que essas adaptações proporcionam a diversas espécies de animais e plantas, como de orquídeas, aranhas, lagartas e borboletas. As flores da orquídea Ophrys apifera mimetizam fêmeas de abelhas, liberando um odor para atrair os machos. Assim, quando o zangão tenta copular com a flor, ele se enche de pólen e contribui para a reprodução da orquídea. A lagarta Euchelia jacobaea, berrantemente colorida com faixas amarelas e negras, é rejeitada por aves insetívoras após um contato mínimo, devido a secreções nauseantes que emanam. Vargas explica que as vespas que trazem o mesmo padrão de coloração têm igualmente um gosto nauseoso, por causa de seus órgãos digestivos. As aves, após terem atacado vespas ou lagartas daquelas espécies, rejeitam qualquer inseto com o mesmo tipo de padrão cromático.

O estudo desses mecanismos de adaptação é importante para a compreensão das relações ecológicas entre os animais e o meio em que vivem, do próprio conceito de evolução de Charles Darwin e dos mecanismos de coloração e termorregulação enquanto atributos essenciais para a manutenção das populações em ambientes naturais. Citando estudos do biólogo evolutivo e geneticista inglês Ronald Fisher (1930), Elynton Alves do Nascimento, doutor em ciências na área de entomologia pela USP, afirma em sua teseque o mimetismo é a melhor aplicação pós-darwiniana do conceito da seleção natural, tendo contribuído muito para o avanço das ciências naturais por chamar atenção para a importância das observações ecológicas na interpretação do material depositado em museus.

O desequilíbrio dos ambientes afeta diretamente espécies que dependem deles para se proteger, pois pode impedir sua livre circulação "disfarçada" entre as formas, cores e texturas conhecidas. No caso de indivíduos mímicos, se as espécies originalmente venenosas (ou perigosas, por outras razões) são extintas, não servirão mais como referências evolutivas a serem evitadas. Ou seja, as "cópias" também ficam ameaçadas.

O pesquisador brasileiro Renan Janke Bosque, doutorando pela Universidade do Mississipi pelo programa Ciência sem Fronteiras, desenvolve uma pesquisa que objetiva contribuir para a compreensão da evolução do mimetismo, utilizando as serpentes com o padrão coral como modelo. Segundo ele, diversas hipóteses têm sido levantadas para explicar o aparecimento desse padrão de coloração. " A mais aceita é que o padrão coral serve como um sinal de advertência de periculosidade para os potenciais predadores. Dessa maneira, a serpente se beneficia dessa sinalização, pois evita uma tentativa de predação. Porém, uma das premissas para que o mimetismo tenha sucesso como estratégia adaptativa é que modelo e mímico apresentem a mesma distribuição geográfica", elucida Bosque.
Foto 1: Oxyrhopus trigeminus - PARNA Sete Cidades PI. Autor da foto: Guarino Rinaldi Colli
Foto 2: Micrurus ibiboboca - FLONA Araripe CE. Autor da foto: Guarino Rinaldi Colli

Com sua pesquisa, Bosque pode concluir que o gênero Oxyrhopus (serpente coral falsa) apresenta uma distribuição geográfica associada ao gênero Micrurus, a "verdadeira" coral, uma das serpentes mais venenosas do Brasil. Entretanto, essa sobreposição não é coincidente para todos os tipos de coloração encontrados nesses gêneros, indicando que outras possíveis explicações, que não o mimetismo, podem levar ao aparecimento dessa coloração em Oxyrhopus.

Seja em cobras corais, lagartas, ou orquídeas, o mimetismo e a camuflagem se configuram como surpreendentes estratégias desenvolvidas para ludibriar predadores e sobreviver às adversidades.

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A expansão chinesa a partir da medicina tradicional

Por Liliana Fróio*

O despertar chinês não ocorre somente no âmbito econômico e da política internacional verifica-se também uma expansão cultural da potência asiática. Tal processo de expansão provém tanto de políticas planejadas, que objetivam a divulgação da imagem do país, quanto de processos de contato espontâneos ou não planejados. Esses processos espontâneos, muitas vezes, são os mais intensos, impactantes e que exigem ajustes internos e respostas dos países parademandas nacionais que surgem. O aumento na mobilidade de informação e de pessoas possibilita um cenário de constante interação entre culturas, o que provoca impactos variados para os Estados. O contato comparticularidades culturais estrangeiras certamente resulta em consequências sociais.

A expansão da medicina tradicional chinesa (MTC) se insere nesse processo, ao trazer consigo valores próprios, provocando mudanças socioinstitucionais nas regiões em que se insere. Trata-se de um sistema sanitário oriental e completamente diverso da medicina ocidental, que se difunde em vários sistemas de saúde nacionais de tal forma que passa a exigir uma resposta dos países para esse fenômeno. Particularmente a acupuntura, uma técnica peculiar da medicina chinesa, já é amplamente utilizada em pelo menos 78 países.

A medicina chinesa baseia-se nos princípios filosóficos da cultura oriental, o que a diferencia consideravelmente da medicina alopática do Ocidente. Para a MTC, o fundamental não é saber do que o corpo humano é constituído, nem de que forma seus órgãos se dispõem, mas sim observar o modo como o corpo é estimulado, tanto por fatores endógenos quanto exógenos. Por isso, até final do século XIX, essa técnica médica não se interessa pela anatomia e dissecação, criando uma fisiologia imaginária. Por exemplo, a comunicação do corpo não ocorreria por meio de artérias, veias, nervos, vasos linfáticos ou tendões, mas sim por canais de energia, denominados meridianos. A saúde do indivíduo é o resultado de um equilíbrio entre duas forças opostas – oyine oyang– cuja complementação é fundamental. Essas forças circulam no organismo sob a forma de energia, que percorre o corpo dentro dos canais. A distribuição dessa energia vital pode sofrer perturbações e os órgãos enfrentam desequilíbrios por excesso ou insuficiência de energia. Dessa forma, o corpo funcionaria sob o efeito da circulação dessa energia posta em movimento, e não da circulação de sangue.

Verifica-se, portanto, que consiste em uma técnica com concepções diferentes acerca do corpo, da saúde e da doença, mas que está se expandindo em diversos países do Ocidente, provocando reações sociais e exigindo medidas para integrá-la aos seus sistemas de saúde nacionais. A penetração dessa técnica esbarra em problemas relativos à legislação e à regulação de produtos, formação e licença para profissionais, informação e conscientização acerca dos serviços prestados, controle da eficiência e qualidade do serviço.

O que resulta desse processo tem uma lógica complexa. Surgem novos problemas diante dessa comunicação intercultural. O indivíduo, os hábitos, a cultura, a particularidade médica, que eram estranhos, podem tornar-se próximos e características distintas entre culturas diminuírem. Como consequência, pode-se observar a tolerância e o universalismo, em que todos se sentem incluídos, mas também podem ocorrer resistências, que em casos diversos são retratados nos movimentos de antiglobalização ou de choque entre percepções culturais.

Para compreender a capacidade de tolerância ou de aceitação de uma sociedade diante de uma particularidade cultural distinta é preciso considerar a capacidade dessa sociedade de integrar algo novo. Existem culturas mais abertas e outras mais resistentes. Dependendo da história social de um povo, a aceitação ou aquisição cultural pode ocorrer com maior ou menor facilidade. Para analisar esse grau de aceitação, seria importante verificar como está ocorrendo a gestão da heterogeneidade nessas sociedades, o que significa conhecer políticas dominantes dentro dos Estados e atitudes dos indivíduos. A realidade social e histórica de um povo é que permite compreender a penetração da medicina chinesa. Os grupos sociais experimentam concepções diversificadas acerca da etiologia das doenças e, para interpretar os fenômenos corporais,pessoas apoiam-se em noções, símbolos e esquemas de referência interiorizados de acordo com sua vivência social e cultural.

As representações sociais acerca da saúde e da doença aparecem, assim, articuladas à visão que cada indivíduo possui do biológico e do social e podem explicar reações sociais em relação aos novos conceitos de tratamento trazidos pela medicina tradicional chinesa. Essas representações sociais são dinâmicas, construídas ao longo do tempo, provêm das interações entre o social e o mental, das evoluções históricas, do que é apresentado para sociedades e da forma como interagem com novas situações que lhes aparecem. Portanto, a dinâmica global vem acelerando os contatos culturais, provocando mudanças socioinstitucionais internas e, em certos casos, alterações nas representações sociais, mas não se trata de um processo homogêneo para todas nações, sendo necessário identificar condições que explicam os impactos diferenciados para cada região.

A expansão da medicina tradicional chinesa

A medicina tradicional chinesa foi divulgada, inicialmente, nas regiões vizinhas à China, a partir da expansão territorial do império. Foi por meio das relações comerciais que os países do Ocidente tiveram seus primeiros contatos com o mundo asiático. A abertura para oeste, por meio da Rota da Seda, fez com que mercadorias chinesas chegassem à Ásia Menor e depois à Europa. As viagens do italiano Marco Polo, no final do século XIII, tornaram possíveis os primeiros contatos, ainda tímidos, com o desconhecido mundo chinês. Em 1255, o Ocidente já tinha relatos sobre uma exótica medicina praticada pelos chineses, com a obra de William de Rubruk intitulada Viagem à terra dos mongóis.Entretanto, nessa época, o que interessava aos europeus era, sobretudo, a seda chinesa.

Os contatos em maior escala entre o Ocidente e a China, que despertaram o interesse ocidental para um outro aspecto da cultura chinesa, em especial para sua arte médica tradicional, ocorreu concretamente a partir do século XVI, na época da expansão marítima europeia. Mas só os primeiros missionários enviados por Luís XIV, que reinou na França entre 1643 e 1715, é que começaram a compreender e a estudar instituições da civilização chinesa, inclusive suas técnicas médicas. Na Europa, o primeiro tratado de acupuntura, Les secrets de la médecine des chinois, surgiu em 1671, publicado pelo padre Harvieu. Algum tempo depois, outro religioso, o padre Cleyer, também editava um trabalho sobre a medicina chinesa em latim. Depois deles, mais de 200 autores europeus seguiram divulgando trabalhos sobre o tema.

Os padres jesuítas portugueses, que viveram no Japão por longos períodos a partir do século XVI, também puderam conhecer a forma japonesa de praticar a medicina chinesa e, no século XVII, começaram os relatos propriamente ditos de médicos ocidentais que viveram na Ásia. Iniciou-se, assim, um período de interesse do Ocidente pela medicina chinesa, particularmente pela acupuntura. O doutor Joseph Berlioz, da Escola Médica de Paris, por volta de 1810, foi responsável pela introdução da acupuntura como prática terapêutica dentro da Europa. No entanto, não era fiel ao método chinês. Limitando-se à ação local sobre a dor e negligenciando os conceitos de energia vital da medicina chinesa, o que se praticava era um método primitivo de entendimento das técnicas chinesas.

O diplomata francês Soulié de Morant foi para a China aos vinte anos para trabalhar em um banco. Em 1898, recebeu seu diploma da Escola de Línguas Orientais e seu conhecimento em chinês proporcionou-lhe entrar para o Ministério dos Assuntos Estrangeiros, sendo nomeado cônsul da França e Shangai. O conhecimento da língua chinesa permitiu a Morant traduzir os tratados médicos chineses que, até então, por questões linguísticas, estavam fora do alcance até mesmo de sinólogos e de médicos em missão oficial empenhados em desvendar a medicina chinesa. Soulié de Morant não parou mais de trabalhar e divulgar a MTC, apesar da constante desconfiança dos médicos ocidentais. A comunidade científica da época, apesar dos resultados positivos obtidos pela MTC, permanecia incrédula em relação a essa técnica médica e ao trabalho de Morant. O fato de Morant não possuir formação médica contribuía para a reação negativa da comunidade médica ocidental. Entretanto, o que mais causava desconfiança dos cientistas e pesquisadores do Ocidente era a introdução de uma técnica terapêutica com conceitos e métodos tão diferentes dos seus, considerados pouco racionais ou científicos para os padrões ocidentais estabelecidos. Soulié de Morant chegou a ser acusado de praticante ilegal da medicina pela Ordem dos Médicos da França.

No decorrer dos anos, a medicina chinesa foi, então, conquistando a França, a Europa e posteriormente o mundo. Sua credibilidade aumentava com os resultados positivos obtidos, o que demonstrava que não se tratava de uma técnica charlatã ou esotérica. Notadamente a França e a Alemanha contam com a maior parte dos técnicos acupunturistas, seguidos de Itália, Bélgica e países nórdicos. O que se vê é um sistema sanitário externo, especificamente oriental e completamente diverso da medicina ocidental, expandir-se e integrar-se em vários sistemas de saúde nacionais.

A cultura médica chinesa no Brasil

A forma como a medicina chinesa se inseriu no Brasil pode ser compreendida por quatro fatores: dois de âmbito interno e dois provenientes do contexto internacional. As justificativas internas remetem à história dos imigrantes orientais para o país e à evolução da cultura médica nacional. O Brasil não consistia na rota prioritária dos chineses para a América Latina e não adotou políticas de incentivo à imigração, o que demonstra o baixo índice de imigrantes chineses para o país, ao contrário do que se verificou com a imigração japonesa3. Os japoneses foram contratados para trabalhar nas plantações de café e, quando os contratos venceram, grande parte deles mudou-se para o interior paulista ou para a região litorânea. Entre 1910 e 1914, chegaram cerca de 14.200 imigrantes japoneses. Entre 1925 e 1935, já havia cerca de 140.000 e atualmente estima-se que a comunidade japonesa ultrapasse um milhão de pessoas. A comunidade chinesa, em contrapartida, é estimada em cerca de 190 mil habitantes4.

Foram, portanto, principalmente os imigrantes japoneses que introduziram a técnica médica oriental no país, a qual foi disseminada na classe médica pelo fisioterapeuta europeu naturalizado brasileiro Friedrich Johann Spaeth. Em 1958, Spaeth fundou a Sociedade Brasileira de Acupuntura e Medicina Oriental e começou e ensinar a acupuntura para profissionais da área de saúde. Em 1961, o médico vascular chinês Wu Tou Kwang deu um novo incentivo às técnicas médicas orientais no país que, entretanto, ainda contavam com a recusa do Conselho Federal de Medicina brasileiro em regularizar a prática como atividade médica. O embate ocorria devido à repercussão de tal medida para a corporação médica nacional.

O segundo fator que explica os rumos dessa técnica médica no Brasil remete à capacidade de tolerância ou aceitação nacional. Ao verificar a história da medicina brasileira, percebe-se que as ideias e os conhecimentos médicos aceitos e praticados provêm de influências diversas. A medicina brasileira foi influenciada pelos ibéricos, franceses, holandeses, jesuítas, indígenas e negros. Por volta de 1530, chegam os primeiros profissionais formados em medicina que trazem consigo a visão terapêutica ibérica da época, assim como chegam também os negros e, com eles, novas patologias e práticas de cura. Na terra em que tudo faltava, os jesuítas tornaram-se médicos e enfermeiros, adquiriram os conhecimentos da medicina indígena, identificaram vegetais terapêuticos, cultivaram, experimentaram e exportaram ervas variadas para a Europa, sendo algumas incorporadas à farmacopeia mundial. A medicina jesuítica foi, portanto, substituindo aos poucos o curandeirismo vigente.

As técnicas médicas brasileiras do período foram influenciadas por uma medicina mais avançada vinda da Europa, mas também tiveram de lidar com as limitações do ambiente em termos materiais ou culturais. A medicina europeia chegou, encontrou a medicina nativa, dela se utilizou, trouxe elementos novos e acabou gerando uma técnica tipicamente brasileira. O resultado foi uma medicina mesclada, composta de superstições e crendices populares, ao mesmo tempo em que tinha seu lado empírico, experimental, inspirado na manipulação da rica vegetação brasileira.

Os hábitos e as práticas médicas atuais desenvolvidas no Brasil sofreram influência desse período. O fato de o Brasil ter contado com uma medicina primitiva, que procurava tratamentos pelos meios naturais existentes, aproveitando-se da rica vegetação local, contribuiu para que não ocorresse um completo estranhamento perante as ideias trazidas pela medicina chinesa. Dessa forma, ao invés da introdução de uma arte médica completamente diferente, o que poderia causar maior choque, o que se vê é a penetração de uma técnica que encontra identificações dentro da cultura brasileira. O uso de plantas terapêuticas no Brasil e na China é baseado em princípios diferentes; entretanto, é possível identificar 24 espécies em comum que são utilizadas em ambos os países para finalidades médicas5. Assim, o processo de expansão da medicina chinesa poderia ser encarado como um retorno ao passado.

O terceiro fator insere-se em um momento amplo de crise do paradigma médico do Ocidente. O crescente uso da medicina chinesa poderia ser explicado, sobretudo, devido à crise dos sistemas de saúde, ou, por que não dizer, do próprio modo de vida do Ocidente. A busca de um tratamento médico com técnicas mais humanas e integradoras seria o reflexo do desgaste do crédito social da biomedicina.

Por fim, a globalização apresenta-se como o quarto motivo que explica o avanço da cultura médica oriental. Trata-se do contato espontâneo entre os povos, resultado de fluxos turísticos e migratórios ou da dinamização tecnológica. A globalização cultural refletia, anteriormente, a difusão dos valores ocidentais pelo mundo. Entretanto, atualmente, são os valores do Oriente que estão penetrando no Ocidente. A China, em especial, deixou seu legado cultural com invenções como a seda, a porcelana, o papel, a pólvora, a acupuntura, o macarrão. No século XXI, o Oriente vem sendo difundido por meio do alto padrão de comércio entre as nações, que também aproxima os hábitos e comportamentos.

Os impactos socioinstitucionais

De acordo com Marilene Cabral do Nascimento6, podem-se estabelecer três conjunturas bem definidas no processo de penetração da medicina chinesa no Brasil. Até a década de 1970, a acupuntura e as técnicas chinesas causaram polêmicas no país, oscilando entre taxações como técnicas de curandeiros e charlatanismo. Houve ainda certo nível de intolerância por parte dos conselhos de medicina que resultaram em ameaças, prisões e processos contra acupunturistas que não possuíam formação médica.

O movimento dos acupuntores, em contrapartida, não se intimidou e fez uma ofensiva contra os atos da classe médica. Frederich Spaeth, juntamente com o Instituto de Acupuntura de São Paulo, com a Associação Brasileira de Acupuntura e com a Federação Sul-Americana de Acupuntura, começou a procurar a imprensa nacional, argumentando que a existência de charlatões nesse meio era em decorrência da ausência de regulamentação dessa técnica médica. Spaeth alertava ainda sobre a legalização dessa prática em outros países e sua recomendação pela Organização Mundial da Saúde7.

A divulgação sobre a MTC permitiu o ingresso da acupuntura nas instituições brasileiras oficiais de saúde. Os constantes resultados positivos com o uso da medicina chinesa provocou uma adequação das instituições para a inserção dessas técnicas nos programas de atendimento nacional.

Em 1981, foi implantado o Departamento de Acupuntura no Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Pernambuco, tanto para atendimento da população como para trabalhos de pesquisa. Foi aberto, ainda, um curso técnico de acupuntura no estado de São Paulo, reconhecido pelo Ministério da Educação (MEC) e, em 1983, a Universidade de Pelotas abriu um polo de estudo da acupuntura na instituição. Nesse momento, houve uma dinamização crescente nas instituições para adequar essa arte médica aos seus programas. No Rio de Janeiro, foram oferecidos serviços de acupuntura em três hospitais. Em 1984, discutia-se sobre a introdução da acupuntura na rede hospitalar do Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social (atual INPS).

A principal controvérsia ocorreu, majoritariamente, sobre a questão da exclusividade médica para a prática da acupuntura. Divergências nesse campo provocaram uma divisão entre os acupuntores, fazendo com que alguns médicos acupunturistas abandonassem a Associação Brasileira de Acupuntura (ABA) e fundassem a Sociedade Médica Brasileira de Acupuntura (SMBA), em 1984. Os médicos da SMBA eram a favor da regulamentação da profissão apenas para médicos formados, ao que a ABA alegava que o fato de ser médico não determinava competência do profissional, mas apenas uma formação específica. A SMBA se dirigiu à mídia nacional para elencar os riscos do uso da acupuntura por profissionais que não fossem médicos, tais como a contaminação por doenças como a Aids e a hepatite em razão da falta de esterilização adequada do material e também lesões nos órgãos vitais pelo manuseio errado das agulhas.

Em 1990, debatia-se acerca da legitimação e da regulamentação da acupuntura. O reconhecimento pela corporação médica brasileira das práticas vindas do Oriente ocorreu devido ao aumento da sua popularidade, o que exigiu uma resposta da classe médica. A acupuntura foi reconhecida pelo Conselho Federal de Medicina do Brasil como ato médico em 1992 e como especialidade médica em 1995. Elaborou-se um projeto para aprimorar a acupuntura, abrir novas linhas de investigação científica, criar padrões de qualidade na formação de especialistas e incrementar o intercâmbio científico, tecnológico e cultural entre o Brasil e a China. O projeto foi aprovado pela Superintendência de Cooperação Internacional do CNPq e possibilitou a participação de docentes chineses nos cursos universitários de especialização e nos programas de residência médica, mestrado e doutorado. Na época do projeto, praticamente toda a diretoria da SMBA visitou a China. Foram estabelecidos acordos e buscou-se compreender os mecanismos regulamentadores da prática e do ensino da acupuntura na China.

No âmbito de acordos internacionais firmados, os governos do Brasil e da China estabeleceram, em 1988, o Convênio sobre Cooperação no Domínio da Medicina e dos Fármacos Tradicionais e o Convênio de Cooperação Científica e Tecnológica na Área de Fármacos Destinados ao Combate das Grandes Endemias. Em 1996, na reunião de cooperação científica e tecnológica entre os dois países, o Brasil buscou soluções conjuntas para as seguintes questões: mecanismos de controle da qualidade dos produtos e serviços da medicina chinesa oferecidos em redes públicas e privadas de assistência à saúde; formas de implantar o uso rotineiro de medicamentos de origem vegetal pela população brasileira, especialmente da área rural; como realizar pesquisas científicas básicas e estudos clínicos, particularmente sobre a acupuntura. A farmácia chinesa é caracterizada pelo uso de emplastros, unções, pílulas, xaropes, granulados que provêm da sua flora diversificada. O Brasil também possui uma flora rica e abundante, o que gera uma grande expectativa de cooperação entre os países nesse campo.

A medicina tradicional chinesa no Brasil não evoluiu, portanto, para um choque cultural, mas provocou consequências sociais importantes que levaram os grupos sociais e o governo a buscar, na experiência asiática, soluções para suprir os desafios apresentados por esse contato. Os problemas relacionados às técnicas orientais não passam mais pelo questionamento da sua eficácia como prática terapêutica, mas por questões internas em relação à definição da profissão de acupunturista. A evolução desse contexto de expansão da medicina tradicional chinesa evidencia outras formas de influência e de destaque da China no mundo, as quais também exigem adaptações, canais de entendimento e cooperação entre os países.

Liliana Fróio é pesquisadora do Núcleo de Estudos de Política Comparada e Relações Internacionais da Universidade Federal de Pernambuco e professora do Departamento de Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba.

Notas

1. Organização Mundial de Saúde. Estrategia de la OMS sobre medicina tradicional: 2002-2005, p. 11.

2. Sournia, Jean-Charles. História da medicina. Tradução de Jorge Domingues Nogueira. Lisboa: Instituto Piaget, 1992, p. 140.

3. Os chineses se dirigiram para países em que já havia parentes instalados ou então países que já eram rota de migração e possuíam comunidades chinesas formadas. Na América Latina, os países que estavam na rota do coolie trade (Cuba, Peru, México, Panamá, Costa Rica, Honduras, Trinidad, Guiana) receberam uma maior quantidade desses imigrantes e, portanto, eram mais procurados pelos chineses que optavam livremente pela imigração.

4. Conselho Regional de Medicina do Estado de São Paulo. A acupuntura no Brasil. Disponível em <http://www.cremesp.com.br/forum/viewtopic.php?p=826&> Acesso 07 jan 2008.

5. Matos, F. J. A.; Machado, M. I. L.; Alencar, J. W.; Matos, M. E. O.; Craveiro, A. A. Plants used in traditional medicine of China and Brazil. Mem. Ins. Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, v. 86, suppl. II, 1991, p. 13-15.

6. A autora fez um estudo sobre a acupuntura no Brasil, do período de 1974 a 1996, baseado em matérias de jornais de grande circulação do Rio de Janeiro e São Paulo.

7. Em 1979, a Organização Mundial de Saúde já reconhecia o uso da acupuntura como técnica terapêutica eficaz para mais de 40 doenças.

Referências bibliográficas

Amaro, Ana Maria. O mundo chinês: um longo diálogo de culturas. Lisboa: Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, 1998.

Barbier, René. Do pensamento chinês. In: Guimarães, Lytton L. (org). Ásia – América Latina – Brasil: a construção de parcerias. Brasília: Neasia/CEAM/Unb, 2003.

Beau, Georges. A medicina chinesa. Tradução de Maria Cristina Paschoal Basto e Maria Angela Calvão da Silva; Revisão de Hésio Cordeiro. Rio de Janeiro: Interciência, 1982.

Filho, Lycurgo Santos. História geral da medicina brasileira. São Paulo: Hucitec, 1977.

Le Goff, Jacques. Uma história dramática. In: Le Goff, Jacques. As doenças têm história. Tradução de Laurinda Bom. Lisboa: Terramar, 1985.

Matos, F. J. A.; Machado, M. I. L.; Alencar, J. W.; Matos, M. E. O.; Craveiro, A. A. Plants used in traditional medicine of China and Brazil. Memórias do Instituto Oswaldo Cruz. Rio de Janeiro, v. 86, sup. 2, 1991.

Nascimento, Marilene Cabral do. De panacéia mística a especialidade médica: a acupuntura na visão da imprensa escrita. Rio de Janeiro: UERJ, IMS, 1997.

Nogueira, Maria Inês. “Entre a conversão e o ecletismo: de como médicos brasileiros tornam-se chineses”. 2003. 155 f. Tese (doutorado em saúde coletiva) – Instituto de Medicina Social, Universidade do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2003.

Organização Mundial de Saúde. Estrategia de la OMS sobre medicina tradicional: 2002-2005.

Sournia, Jean-Charles. História da medicina. Tradução de Jorge Domingues Nogueira. Lisboa: Instituto Piaget, 1992.

Valadão, Roxana. Caminhos da acupuntura no Brasil (1970-1990). Anais do VI Seminário Nacional de História da Ciência e Tecnologia, n. 6, Rio de Janeiro, 1997.

Data: 10/04/2012
Veículo: comciencia.br
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Razões para desintoxicar-se e a vitalidade dos alimentos

Por Conceição Trucom

Aprendendo a nos desintoxicar descobriremos os segredos da saúde plena, a prevenir doenças e a evitar os estimulantes artificiais, que mascaram tudo com a falsa ideia de gerar prazer.

Quanto melhor nos sentimos, mais procuramos meios naturais para nos equilibrarmos (sol, água, alimentos vivos, atividade física, lazer, respiração, etc.). Recorrer às drogas que causam dependência e arruínam a saúde não pode ser considerada uma atitude espiritual ou sábia.

Quanto mais intoxicados estamos, mais precisamos de estimulantes – cada vez mais fortes – para “manter” o equilíbrio. Qualquer desequilíbrio em nosso corpo físico muda nossa disposição e provoca distúrbios emocionais. Qualquer emoção provoca uma descarga de adrenalina no sangue como reação ao estresse. Isso cria um bloqueio das funções de eliminação do corpo, elevando o nível de intoxicação e agravando os distúrbios emocionais.

Esse círculo vicioso é interrompido assim que usamos um processo de desintoxicação, precioso meio preventivo e curativo de numerosos desequilíbrios psíquicos.

Muitos distúrbios, que à primeira vista parecem ter apenas causas psicológicas, são transformados pelos processos físicos de limpeza do organismo. A cura de diversas doenças psiquiátricas graves, freqüentemente consideradas incuráveis, mostra isso.

Qualquer intoxicação do corpo e, qualquer distúrbio emocional provoca uma diminuição das funções cerebrais. Todo mundo sabe como é difícil raciocinar com clareza após uma refeição pesada.

Descobrir o efeito positivo da desintoxicação sobre as faculdades mentais é apaixonante. A concentração, a memória, a capacidade criativa e intuitiva ficam extraordinariamente aguçadas.

Eu sempre afirmo: intestino preso e corpo intoxicado “emburrecem”. Em contrapartida, um corpo desintoxicado fica mais criativo e inteligente. E para fechar, um corpo limpo gera uma harmonia que sinaliza no mínimo saúde.

Todas as grandes religiões da história instituíram períodos de descanso do organismo (Shabat, Ramadã, Quaresma, jejum ritual), para assegurar a boa condição física durante o ano e criar momentos privilegiados para a vida espiritual.

As técnicas de desintoxicação são instrumentos valiosos para nos libertarmos do condicionamento educacional, dos hábitos sociais nocivos para a saúde, das emoções desequilibradas, dos preconceitos e da intolerância.

A experiência individual é insubstituível quando se trata de aprender, sem fanatismo, a manter a forma física, a equilibrar a vida emocional, a ampliar nossa consciência espiritual. Os hábitos agradáveis, a refeição saborosa e os pequenos prazeres não devem ser obrigatoriamente abolidos para sempre. Não há como obter saúde com atitudes de disciplina espartana, mas sim por uma sucessão de adaptações sábias.

A DESINTOXICAÇÃO ALIMENTAR

Sempre é salutar aliviar o organismo da sobrecarga alimentar. A energia normalmente consumida para realizar a digestão de alimentos pesados servirá então para realizar uma limpeza e uma regeneração do corpo físico. Os produtos da natureza (frutas, hortaliças, ervas e sementes) são os alimentos que exigem o menor trabalho digestivo.

Além disso, são dotados de extraordinárias propriedades despoluidoras, ou seja, depurativas. Sua riqueza em fibras assegura uma verdadeira “faxina” no tubo digestivo, levando embora, junto com as fezes, uma grande quantidade de toxinas e resíduos.

Graças a seu elevado teor de vitaminas, sais minerais, oligoelementos, enzimas e substâncias biologicamente ativas de todo tipo, os vegetais fornecem aos órgãos de eliminação os elementos de que necessitam para funcionar plena e perfeitamente. Além disso, quando consumidos crus, fornecem ao corpo uma água cheia de vitalidade.

A maioria das hortaliças demanda calorias ao se deslocarem de uma extremidade à outra do tubo digestivo. Na realidade, para digeri-las, o organismo queima mais calorias do que recebe. Isso gera um balanço calórico negativo, provocando uma perda de peso por combustão das gorduras em excesso.

No livro Você sabe se desintoxicar (Dr. Soleil – Ed. Paulus) os alimentos estão classificados em quatro categorias, de acordo com o seu grau de VITALIDADE.

Acho este conceito de extrema sabedoria, e toda vez que acesso um esclarecimento de forma tão clara e objetiva, não resisto, compartilho imediatamente:

1) Alimentos que GERAM VIDA – chamados BIOGÊNICOS

São a base ideal da alimentação, usando um ponto de vista qualitativo. São os germes e os brotos dos grãos, dos cereais, das leguminosas, das ervas e das hortaliças.

Germes e brotos são as plantas no início de seu crescimento, portanto extremamente ricas em substâncias chamadas de micronutrientes. São as vitaminas, sais minerais, oligoelementos, aminoácidos, enzimas, hormônios vegetais, estimulantes biológicos, etc.).

Ao ingerirmos esse tipo de alimento cru e fresco eles irão reforçar a vitalidade das células e permitir que elas se regenerem constantemente.

2) Alimentos que ATIVAM A VIDA – chamados BIOATIVOS

São a base ideal da nossa alimentação do ponto de vista quantitativo. São as frutas, ervas, hortaliças, leguminosas, nozes (sementes oleaginosas), os bagos, grãos e cereais que já estão maduros e são consumidos em perfeito estado, crus ou deixados de molho.

Os alimentos que geram a vida, e os alimentos que ativam a vida são considerados ALIMENTOS VIVOS. Foram previstos pela natureza para assegurar a vida e o bem estar do ser humano. Seu consumo traz vitalidade e saúde em qualquer idade.

3) Alimentos que DIMINUEM A VIDA – chamados BIOESTÁTICOS

São os alimentos cuja força vital foi reduzida pelo tempo (alimentos crus armazenados por muito tempo), pelo frio (refrigeração e congelamento) ou pelo calor (cozimento). Estão inclusos aqui as carnes, o leite e derivados e os ovos.

O consumo de alimentos bioestáticos é o resultado de hábitos sociais. Seu consumo assegura o funcionamento mínimo de nosso organismo, mas provoca o envelhecimento das células, pois não lhes fornece as substâncias vivas necessárias para sua saudável regeneração.

4) Alimentos que DESTROEM A VIDA – chamados BIOCÍDICOS

São os alimentos que predominam na alimentação moderna. São todos os alimentos cuja força vital foi destruída pelos processos físicos ou químicos de refino, conservação ou preparo.

Os alimentos biocídicos foram inventados pelo homem para sua própria perda. Ganham em praticidade, perdem em qualidade. Ganham em prazer, perdem em saúde.

Falamos do açúcar, principalmente o refinado, sal, chá preto, café, chocolate, bebidas alcoólicas, frituras, alimentos industrializados e aditivados, margarina e óleos refinados.

Envenenam pouco a pouco as células com as substâncias nocivas que contêm. É preciso saber que, mesmo em pequenas doses, qualquer produto químico adicionado aos alimentos é tóxico.

Os processos agrícolas modernos e a industrialização introduzem no organismo substâncias que paralisam o instinto alimentar, perturbam a assimilação e bloqueiam a eliminação. 

Enfraquecem pouco a pouco o sistema imunológico, causam vários problemas de saúde e abrem portas às chamadas doenças da civilização: doenças cardiovasculares, câncer, reumatismo, diabetes e outras doenças degenerativas e doenças mentais.

RESUMINDO:

ALIMENTOS DE ALTA VITALIDADE

São os alimentos usados na prática da Alimentação Desintoxicante. São fáceis de digerir e apoiam os mecanismos de desintoxicação do corpo: BIOGÊNICOS (geram vida) + BIOATIVOS (ativam a vida).

ALIMENTOS DE BAIXA VITALIDADE

Exigem do organismo grande esforço para serem digeridos, intoxicam e entopem o organismo: Bioestáticos (diminuem a vida) + Biocídicos (destroem a vida).

Conceição Trucom – autora do livro Alimentação Desintoxicante Editora Alaúde.
Reprodução permitida desde que citada a fonte.
Data: 23.03.2011

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Breve história da genética construída por infográfico

By Juliana Fontes | 28 de agosto de 2013

A equipe do projeto Labroots desenvolveu um infográfico para fazer um breve percurso pela trajetória da genética ou ciência dos genes. Passando de geração em geração o genoma, ou nosso DNA, pode revelar a história da humanidade.

A observação dos fenômenos hereditários tem sua atenção desde muito tempo atrás, voltando na história, quando na agricultura já havia seleção dos melhores animais e plantas para o melhoramento das espécies. Dessa mesma forma em Esparta – uma das principais cidades-estados da Grécia antiga – a prática da eugênia se referia a seleção de humanos recém-nascidos saudáveis e sem deficiências físicas ou mentais para o melhoramento da espécie, condenando os estivessem fora desse padrão à morte.

O infográfico faz uma síntese vertical sobre o assunto, trata de conceitos básicos sobre genética, traz nomes importantes como Darwin, Aristóteles , Hipocrátes, entre outros – que fazem parte de uma lista de cienticistas com contribuição para as pesquisas sobre genética – até chegar uma abordagem atual sobre o assunto e aborda o futuro através do projeto Genoma Humano. O que parecia ser tarefa complicada, pode ser sintetizada através da complementariedade da linguagem visual e verbal textual utilizada pelos infográficos. Esse exemplo demonstra as possibilidades de síntese e apelo informacional dessa importante ferramenta de expressão.
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A história das especiarias

By Nupejoc | 8 de novembro de 2011

O dinheiro atualmente faz o mundo girar, mas por muito tempo, este papel foi desempenhado pelas especiarias. Este é o tema do History of Spice que resgata um pouquinho da história e da influência dos condimentos pelo mundo.

O trabalho traz várias informações legais, como um “termômetro de ardência” de pimentas – condimento que representa 60% das vendas de especiarias. Uma linha do tempo que mostra os diferentes usos das especiarias (para embalsamar mortos, como remédio, como perfume, como incenso e, claro, como tempero na comida). Mix de condimentos encontradas em alguns países, como a Pumpkin pie Spice nos Estados Unidos que consiste na mistura de canela, noz-moscada, gengibre e cravo. E um tradicional gráfico-pizza, que apesar da simplicidade, desempenha muito bem seu papel deixando visualmente claro que mais da metade da produção mundial de condimentos concentra-se na Índia.
O site Cool Infographics fez um post sobre o trabalho no qual além dos elogios, fez uma observação importante: Afinal, o que significa o tamanho do círculos no mapa?

Por Natália Pilati

Telhado verde reduz temperatura e aumenta umidade

Por Valéria Dias - valdias@usp.br
Publicado em 22/novembro/2013

O uso de telhado verde se mostrou eficiente para reduzir os impactos no microclima no topo de um edifício na região central de São Paulo, como mostra estudo realizado na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Telhado verde é o uso de vegetação como gramíneas, arbustos e árvores no topo de telhados comuns ou em laje de concreto.
Edifício Conde Matarazzo, sede da Prefeitura de SP: telhado verde tem até lago

Os prédios analisados foram o Edifício Conde Matarazzo (sede da Prefeitura de São Paulo), localizado entre a rua Dr. Falcão e o Viaduto do Chá, e que possui um amplo telhado verde; e o Edifício Mercantil/Finasa (rua Líbero Badaró), cuja laje é de concreto. Os resultados indicaram que o edifício com telhado verde chegou a ficar 5,3 graus Celsius (ºC) mais frio do que o edifício de concreto; já a umidade relativa do ar foi 15,7% maior. Os dois edifícios estão no centro de São Paulo.

“O telhado verde absorveu grande parte da radiação solar emitindo uma menor quantidade de calor para a atmosfera, o que aumenta a qualidade ambiental das cidades, podendo fazer parte das políticas públicas do município como forma de ampliar as áreas verdes”, diz o geógrafo e professor universitário Humberto Catuzzo, autor da tese de doutorado Telhado verde: impacto positivo na temperatura e umidade do ar. O caso da cidade de São Paulo. A tese, defendida em 4 de outubro deste ano, teve orientação da professora Magda Adelaide Lombardo.

Os edifícios foram escolhidos pois ambos se localizam na borda direita do Vale do Anhangabaú e estão sujeitos a condições atmosféricas e de insolação semelhantes . No topo foram instalados sensores a 1,5 metros (m) do chão (padrão internacional para medição da temperatura e umidade relativa do ar) e que foram captados de 10 em 10 minutos durante um ano e onze dias. Dois sensores foram colocados em lados diferentes do Edifício Conde Matarazzo. Os dados foram comparados com os do outro sensor, instalado no Edifício Mercantil/Finasa.

A coleta ocorreu de 20 de março de 2012 até 31 de março de 2013. A partir daí foi feita a comparação dos dados primários coletados por meio de estatística e gráficos, demonstrando as variações das temperaturas máximas, mínimas e umidade relativa do ar. Também foram analisadas as amplitudes térmicas e higrométricas (umidade relativa do ar) em todas as estações do ano. “Fiz ainda uma comparação destes resultados com os dados oficiais coletados pelo Instituto Nacional de Meteorologia (INMET) localizado no Mirante de Santana.”


Sede da Prefeitura (esq.): telhado verde chegou a ficar 5,3ºC mais frio do que o edifício Edifício Mercantil/Finasa, com laje de concreto (dir.). Umidade relativa do ar foi 15,7% maior

Resultados

A diferença entre as temperaturas máxima e mínima (amplitude térmica) do dia chegou a ser 6,7º C menor no telhado verde em um dia de verão. “Isso significa que ele demora mais a aquecer e a resfriar, o que mantém a temperatura do ar muito mais constante”, aponta. Já a amplitude higrométrica chegou a ser 7,1% menor no telhado verde, o que significa que ele perde menos umidade do que o telhado de concreto ao longo do dia.

Na comparação com os dados do INMET, a variação mais significativa foi de 3,2º C mais frio no telhado verde e 21,7% mais úmido. Ou seja, o telhado verde mesmo estando em plena área central, apresenta menor aquecimento e maior umidade relativa do ar, comparado com o telhado de concreto ou até mesmo com a estação do INMET.

Segundo o pesquisador, o concreto possui características que fazem com ele esquente muito quando o sol incide, e irradie muito calor ao mesmo tempo, fazendo, inclusive, o vapor d´água diminuir (umidade relativa). Já as áreas verdes possuem característica oposta — demoram mais para aquecer, retém o calor por mais tempo e mantém a umidade também por muito mais tempo — por isso nos sentimos tão bem debaixo da sombra de uma árvore.

“Há ainda outros fatores que não foram estudados nesta tese, mas que podem trazer benefícios se criarmos uma política de implantação de telhados verdes. A criação de corredores ecológicos onde pássaros e insetos possam “migrar” entre parques e o conforto interno dos prédios que poderiam diminuir custos com ar-condicionado são exemplos de efeitos possíveis que merecem investigação”, destaca. “Cabe ressaltar que, em países europeus, e em algumas cidades dos Estados Unidos e da Argentina, existem leis, incentivos fiscais e financeiros dados às construções que utilizam este tipo de estrutura. O poder público tem um papel de extrema importância, uma vez que em nossas cidades é cada vez mais necessário melhorar a qualidade socioambiental do meio urbano.”
Telhado verde da sede da Prefeitura (esq.) e a laje de concreto do Mercantil/Finasa (dir): uso de telhados verdes como políticas públicas poderiam ampliar áreas verdes das cidades

Tipos de telhado verde

Catuzzo explica que o telhado verde pode ser do tipo intensivo (vegetação de porte arbustivo a arbóreo, com grama permanente, que requer adequado processo de impermeabilização, sistema de irrigação e drenagem, alta manutenção e tem um alto custo). Há ainda o extensivo (vegetação rasteira, geralmente gramíneas, com baixa manutenção, nenhuma irrigação e menor custo). Existe também um terceiro tipo, classificado como semi-intensivo (gramíneas e arbustos, sendo também necessário sistema de impermeabilização e irrigação constante).

“Para todos eles é fundamental que se realizem cuidados especiais quanto à impermeabilização e o cálculo de peso da estrutura, para verificar se realmente o edifício ou casa suporta o peso”, conclui.

Imagens: Humberto Catuzzo
Mais informações: email hcatuzzo@yahoo.com, com Humberto Catuzzo

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Biodiversity Higher in the Tropics, but Species More Likely to Arise at Higher Latitudes

Nov. 22, 2013 — A new study of 2300 species of mammals and nearly 6700 species of birds from across the globe helps explain why there are so many more species of plants and animals in the tropics than at higher latitudes. In a study supported by the National Evolutionary Synthesis Center in North Carolina, researchers found that while the tropics harbor a greater diversity of species, the number of subspecies -- potential stepping stones in the process by which one species becomes two -- is actually greater in the harsher environments typical of higher latitudes.

The surprising results suggest that the latitudinal diversity gradient may be due higher species turnover -- a higher potential for speciation counterbalanced by a higher potential for extinction -- towards the poles than near the equator, the researchers say.

Scientists have known for more than a century that species diversity increases towards the equator. Think tropical rainforests -- which house two thirds of the world's species -- teeming with buzzing insects, screeching birds and howling monkeys, versus the frigid tundra, where life is largely limited to scattered trees and only a few dozen kinds of mammals, such as caribou and foxes.

Numerous hypotheses have been proposed to explain this pattern. One idea is that tropical regions harbor greater biodiversity because they are especially fertile grounds for the formation of new species -- i.e., "cradles of diversity." Another idea is that biodiversity hotspots are less likely to lose the species they already have.

"There's a lot of controversy over what explains the global pattern of biodiversity," said lead author Carlos Botero of North Carolina State University.

In a study to appear in the November 22 issue of Molecular Ecology, Botero and colleagues assembled a data set of climate and weather patterns across the globe, and combined it with genetic data other information for nearly 50% and 70% of all mammals and birds known to be alive today.

The team was surprised to find that while the number of bird and mammal species increases closer to the equator, the number of genetically distinct groups within each species -- known as subspecies -- is greater in the harsher environments typical of higher latitudes.

"These are environments that are colder and drier, and where the differences between the hottest and coolest months are more extreme," Botero explained.

Animals in these environments are more likely to freeze during cold winters or die during usually hot summers. "If extreme weather events wipe out a population every now and then, but don't wipe out an entire species, the populations that survive will be geographically separated and could start to diverge from one another," Botero said.

The results are consistent with a 2007 study by researchers at the University of British Columbia suggesting that -- contrary to conventional wisdom -- species arise faster in temperate zones than in the tropics. "It may be that species come and go more frequently in the temperate zones," Botero said.

Comparing biodiversity in the temperate zones with that in the tropics is like comparing the coins in your pocket with the coins in your piggy bank, he added. "There are usually more coins in your piggy bank than in your pocket. But you're always spending the coins in your pocket, and receiving new coins in the form of change. The coins in your piggy bank turn over less often, but over time they add up."

Journal Reference:
Botero, C., et al. Environmental harshness is positively correlated with intraspecific divergence in mammals and birds. Molecular Ecology, 2013 DOI:10.5061/dryad.sb175

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