sexta-feira, 12 de setembro de 2014

Nitro ácidos graxos: mais um fator positivo na dieta do mediterrâneo

Karla Silva Ferreira, Luiz Fernando Miranda da Silva e Maicon Martins Teixeira

A dieta do mediterrâneo ficou mundialmente conhecida pelo fato de reduzir a incidência de doenças cardiovasculares. Esta dieta é caracterizada pelo elevado consumo de frutas, hortaliças, azeite de oliva e sementes; moderado consumo de laticínios; baixo consumo de carne bovina e consumo regular de pescados. Indiscutivelmente, é uma dieta saudável, rica em vitaminas, minerais e substâncias antioxidantes. Além disso, há que se considerar que o potássio é importante na redução da pressão arterial e este mineral é abundante nos vegetais, principalmente nas leguminosas.

Entretanto, seu efeito na redução de doenças cardiovasculares não poderia ocorrer apenas pelo fato de ela ser nutritiva, rica em antioxidantes e nem pelo baixo consumo de carne vermelha. Quanto ao azeite de oliva, não é um óleo que se destaque de outros. Até pelo contrário. Os óleos de soja, canola e linhaça são os que, além de conter o ácido graxo essencial da família ômega-6, o ácido linoleico, são melhores fontes do outro ácido graxo essencial, o ácido linolênico da família ômega-3.
A partir do ácido linoleico, um ômega-6, os animais produzem o ácido araquidônico, ômega-6. Já a partir do ácido linolênico o organismo produz os ácidos graxos ácido eicosapentaenóico (EPA) e docosahexaenóico (DHA), todos da família ômega-3. Entretanto, esta transformação é muito limitada e por isso é recomendado o consumo de peixes e produtos marinhos, principais fontes destes ômega-3.

Os ácidos graxos das famílias ômega-6 e ômega-3 têm muitas funções nos seres vivos. Uma delas é serem precursores de substâncias vasodilatadoras, que atuam reduzindo a pressão arterial. A substância clássica é o epoxieicosatrienóico, formado a partir do ácido graxo araquidônico, da família ômega-6. Outras mais potentes são formadas a partir dos ácidos graxos da família ômega-3. A partir do EPA é formado o epoxieicosatetraenóico e, a partir do DHA, o epoxidocosapentaenóico, que é o mais potente de todos. Estas substâncias não permanecem por muito tempo no organismo. São logo modificadas pela enzima epóxi hidrolase que as transforma em substâncias sem atividade vasodilatadora e anti-inflamatória ou que têm atividade até contraria, elevando a pressão arterial. Muitos medicamentos utilizados na prevenção de doenças cardiovasculares atuam na inibição desta enzima.

A importante descoberta na dieta do mediterrâneo é que o consumo de gorduras, no caso deles o azeite, com alimentos ricos em nitrito e nitratos, propicia a formação de nitro ácidos graxos, que são potentes inibidores das enzimas epóxi hidrolases. Estes nitro ácidos graxos se ligam às enzimas epóxi hidrolases inativando-as, de forma que os epóxis vasodilatadores formados a partir dos ácidos graxos ômega-6 e ômega-3 permanecem por mais tempo no organismo.

Um aspecto interessante nesta pesquisa é que o oxido de nitrogênio (NO) já era conhecido como uma substancia sintetizada em nosso organismo e que possuía ação anti-inflamatória e de dilatação dos vasos sanguíneos, o que culmina com a redução da pressão arterial, de ataques cardíacos e de arteriosclerose. A maneira clássica do organismo sintetizá-lo é a partir de um componente das proteínas, o aminoácido arginina. Entretanto, há indivíduos que não fazem essa síntese devidamente.

A outra via é por meio de bactérias que habitam a boca. Os nitratos e nitritos presentes nos alimentos são absorvidos, atingem a corrente sanguínea e a maior parte deles vai para as glândulas salivares. Na saliva, as bactérias os convertem em oxido de nitrogênio (NO). Este óxido de nitrogênio, no estômago, pode reagir com ácidos graxos formando os nitro ácidos graxos. Mas isso só ocorre quando a alimentação contém também ácidos graxos insaturados, como é o caso do azeite de oliva e outros óleos vegetais. No caso do azeite de oliva, já foi constatado que possui nitro ácidos graxos já prontos.
Esta informação mostra a evolução do conhecimento e do rompimento de paradigmas. Um dos pontos polêmicos é sobre a ingestão de nitratos e nitritos, o que durante muito tempo foi considerado prejudicial para a saúde. Os nitratos e nitritos são potentes bactericidas e utilizados desde séculos passados na conservação de carnes, no processo de cura. Ainda atualmente são os mais potentes inibidores do crescimento do Clostridium botulinum, uma bactéria que produz uma toxina letal. Tanto é que a saliva é utilizada pelos animais e humanos para tratar machucados, o que realmente procede, porque contém elevadas quantidades de nitrato.

A associação entre nitratos e problemas para a saúde começou a partir de 1940, quando sua presença na água foi associada à incidência de meta-hemoglobinemia em crianças. Esta doença se caracteriza pela alteração da hemoglobina (oxidação do ferro), o que impossibilita o transporte de oxigênio. Ela pode ser causada por diversos fatores, dentre eles o nitrato e nitrito. Com isso o governo de alguns países, inclusive Estados Unidos, estabeleceu que a quantidade de nitrato na água potável deveria ficar abaixo de 44 mg/Litro.

Associado a isso, em 1956, pesquisadores identificaram substâncias com potencial carcinogênico, as nitrosaminas, formadas a partir da reação de nitratos e nitritos com componentes das proteínas. Estas substâncias poderiam ser formadas nas carnes curadas, principalmente quando aquecidas, e também no estômago. Posteriormente, foi descoberto que a vitamina C inibia a formação das nitrosaminas, que a quantidade formada no organismo não era suficiente para causar câncer e que nem todas as crianças são susceptíveis à formação de meta-hemoglobinemia.

Então, em 2003, especialistas da Organização Mundial de Saúde declararam que as pesquisas até então não comprovavam que o consumo de nitrato e nitrito era prejudicial para a saúde humana. A partir desta data, foram intensificadas as pesquisas sobre a presença de nitratos e nitritos nos alimentos e muitas comprovaram seus efeitos benéficos para a saúde. Inclusive foram identificados como importantes fatores positivos na dieta dos japoneses. O que não se sabia era como eles atuavam para baixar a pressão arterial.

Agora a questão: Quais são os alimentos ricos em nitratos e nitritos? A beterraba é apontada como a melhor fonte. Há diversos estudos mostrando o efeito hipotensor do suco de beterraba. As folhas verdes também são ricas nestas substâncias. De acordo com os pesquisadores, os alimentos que não recebem intensa radiação solar tendem a acumular nitrito e nitrato. As carnes curadas (presunto, mortadela, patês de carne, bacon etc) são tratadas com nitrato e nitrito para a conservação. Mas como a maior parte dos nitratos ingeridos vão para a saliva, o ato de cuspir é uma forma de eliminá-los, portanto, os indivíduos que cospem muito podem ter menor formação de nitro ácidos graxos. 
Enfim, pode-se concluir que há vários fatores que tornam a dieta do mediterrâneo benéfica para a saúde: possui variedade de alimentos e alimentos nutritivos: hortaliças, frutas, sementes, laticínios, óleos vegetais, peixes e até mesmo carne vermelha. Sendo assim, fornece vitaminas, minerais, ácidos graxos insaturados, substâncias antioxidantes e, pelo consumo simultâneo de azeite e vegetais, propicia a formação dos nitro ácido graxos que têm função anti-hipertensiva e anti-inflamatória, o que previne doenças cardiovasculares. Além disso, pelo sim ou pelo não, as frutas e hortaliças folhosas são boas fontes de vitamina C, o que minimiza a formação das nitrosaminas. Mas não se pode desconsiderar outros aspectos do povo do mediterrâneo, como os hábitos de vida, particularmente a prática de atividade física moderada regularmente e o bem estar emocional.

Referências

1) Arthur A. Spector, AA; Fang, X; Snyder, GD; Weintraub, NL. Epoxyeicosatrienoic acids (EETs): metabolism and biochemical function. Progress in Lipid Research. 2004. Vol 43, p. 55–90.
2) Charles, RL, Rudyk, O; Prysyazhna, O;Kamynina, A; Yang, J; Morisseau, C; Hammock, BD; Freeman, , BA; Eaton, P. Protection from hypertension in mice by the Mediterranean diet is mediated by nitro fatty acid inhibition of soluble epoxide hydrolase. PNAS, 2014. V. 11, p. 8167–8172.
3) Christie, WW. Nitro fatty acids and related metabolites: occurrence, chemistry and biology. lipidlibrary.aocs.org. http://lipidlibrary.aocs.org/Lipids/nitrofa/file.pdf
4) Gilchrist, M; Winyard, PG; Benjamin, N. Dietary nitrate – Good or bad? Nitric Oxide, 2010. V. 22, p. 104–109.
5) Petersson, J; Jagare, A; Carlstrom, M; Roos, S; Schreiber, O; Jansson, EA; Phillipson, M; Persson, AEG; Christoffersson, G; Lundberg, JO; and Holm, L. - Gastroprotective and blood pressure lowering effects of dietary nitrate are abolished by an antiseptic mouthwash. Free Radical Biology & Medicine, 2009. V. 46, p. 1068-1075.
6) Sand, J; Bryan, NS. – Unique combination of beetroot and hawtrom berry promotes nitric oxide production and reduces triglycerides in humans – Nitric Oxide, 2011. p. 62-69.
7) Sobko, T; Marcus, C; Govoni, M; and Kamiya, S. - Dietary nitrate in Japanese traditional foods lowers diastolic blood pressure in healthy volunteers. Japanese Traditional Food, 2009. V. 22, p. 136-140. 

Postado por Ciência UENF

Inpa seleciona participantes com pés diabéticos para tratamento alternativo com gel de gengibre amargo


Sex, 12 de Setembro de 2014
Com o objetivo de avaliar clinicamente o processo inflamatório e a resposta da cicatrização em feridas em pé diabético, durante o tratamento experimental com o gel do óleo essencial do gengibre amargo, o Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa/MCTI) em parceria com a Prefeitura de Manaus, está selecionando 40 pessoas para participarem dos testes do tratamento terapêutico alternativo. O processo foi aberto nesta quinta-feira (11) e segue até o preenchimento das vagas.

A seleção dos participantes faz parte do projeto de pesquisa do mestrando, o enfermeiro Maurício Ladeia, intitulada “Avaliação do potencial terapêutico do gengibre amargo da espécie Zingiber zerumbet no processo inflamatório em portadores de úlceras em pé diabético”. Ladeia cursa Mestrado em Biologia Urbana, na Universidade Nilton Lins, e tem como orientador o pesquisador do Inpa, Dr. Carlos Cleomir de Souza, do Laboratório de Química de Produtos Naturais.

De acordo com o mestrando, a seleção dos participantes diabéticos com feridas no pé será realizada na Unidade Básica de Saúde (UBS) José Amazonas Palhano, da Secretaria Municipal de Saúde (Semsa). Os interessados podem ligar no horário das 8h às 12h, para o telefone 3644-9879 para se inscrever e agendar entrevista informando o nome, o número do RG e o telefone para contato. A entrevista e o tratamento acontecerão na UBS, que fica na rua Antônio Matias, s/nº, bairro São José I, zona Leste de Manaus.

Ladeia explica que o pé diabético é uma lesão decorrente do diabetes mellitus e ocorre quando uma área lesionada (ferida) acidentalmente ocorre no pé e desenvolve uma úlcera crônica. O aparecimento da lesão acontece em decorrência da doença já instalada, com o comprometimento da circulação sanguínea e perda da sensibilidade cutânea, devido à deficiência da produção de insulina e aos níveis de glicemia mal controlados.

Segundo Ladeia, serão formados quatro grupos de participantes para o estudo clínico experimental com pacientes de ambos os sexos, na faixa etária de 18 a 70 anos, todos diabéticos independentes do tipo 1 ou 2. “Todos serão tratados da mesma forma, em paralelo ao tratamento clínico convencional que já realizam”, diz. 

O mestrando explica que o tratamento alternativo será realizado durante 90 dias por uma equipe de profissionais de saúde multidisciplinar e incluirá exames laboratoriais e de eletrocardiograma para subsidiar a avaliação das funções metabólicas, renal, hepática e cardíaca.

Após esse período, será avaliada semanalmente a evolução dos participantes tratados com o gel do óleo essencial do gengibre amargo - que não é o mesmo gengibre conhecido como mangarataia, assim como será feito um comparativo com os participantes que receberam o tratamento convencional.

A cada dois dias será feito o curativo com a limpeza e remoção do tecido necrosado e logo após aplicado o gel do gengibre amargo na lesão. E a cada sete dias será feita uma foto dessa lesão que passará por uma avaliação, por meio de um programa de imagem, que fará a análise de retração dessas úlceras em decorrência do tratamento terapêutico do produto aplicado. 

Cicatrizante 

Segundo o pesquisador Dr. Carlos Cleomir, o extrato do gengibre amargo tem um potencial cicatrizante, anti-inflamatório, hipoglicêmico, analgésico além de ser vasodilatador e possuir várias propriedades de interesse farmacológico em nível terapêutico. 

De acordo com o pesquisador Carlos Cleomir, esta pesquisa se faz necessária em função da necessidade de se conhecer o diabetes, que é a quarta principal causa de morte por doença no Brasil e a principal causa de cegueira adquirida. “A chance de sofrer amputações nos membros inferiores é 40 vezes maior entre os diabéticos”, diz o pesquisador. 

Para Ladeia, o tratamento alternativo proporcionará aos portadores de diabetes alguns benefícios, como menor tempo de tratamento e hospitalização, bem como redução do número de amputações decorrentes de úlceras inferiores chamadas de pés diabéticos. Segundo o mestrado, dados do Ministério da Saúde apontam que são realizadas no Brasil cerca de 60 mil cirurgias de mutilação ou amputação por ano. Deste total, cerca de 70% são provocadas pelo diabetes.

O projeto tem aprovação do Comitê de Ética com seres humanos do Inpa e conta com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam).

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Brincadeira reduz impacto do câncer em crianças

Por Da Redação - agenusp@usp.br
Publicado em 12/setembro/2014

Marcela Baggini, do Serviço de Comunicação Social da Prefeitura do Campus USP de Ribeirão Preto
imprensa.rp@usp.br
Nas brincadeiras, as crianças compreendem melhor seu estado de saúde

Na Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto (EERP) da USP, o faz de conta deixa de ser uma brincadeira e se torna um aliado no tratamento contra o câncer infantil. Os benefícios da prática foram comprovados pela pesquisa da terapeuta ocupacional Nathália Rodrigues Garcia-Schinzari.

Orientada pela professora Luzia Iara Pfeifer, o estudo contou com 15 crianças com idade entre 4 e 7 anos, diagnosticadas com câncer, que eram atendidas pelo Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HC-FMRP) da USP e, algumas, pelo Grupo de Apoio à Criança com Câncer de Ribeirão Preto (GACC – Ribeirão Preto).

Segundo a pesquisadora, brincar de faz de conta auxilia no desenvolvimento cognitivo, no uso da linguagem, além de beneficiar aspectos sociais e emocionais. “É fundamental que as crianças doentes consigam expressar seus sentimentos, medos, dúvidas e sua capacidade de enfrentar os problemas e as dificuldades da vida e por meio do brincar de faz de conta isso se torna possível”, afirma a terapeuta ocupacional.

Numa brincadeira de faz de conta, diz a pesquisadora, as questões abordadas pelas crianças com câncer são diferentes daquelas abordadas pelas crianças saudáveis. “Elas falavam sobre os efeitos da quimioterapia, afastamento da escola, morte e momentos saudáveis em família”.

Para Nathália, a brincadeira faz com que as crianças compreendam melhor seu estado de saúde, bem como o tratamento que vão enfrentar. “Geralmente, a criança com câncer fica assustada com as mudanças repentinas em sua vida, entre elas a queda do cabelo”.

O estímulo à brincadeira, diz a pesquisadora, também pode ser uma forma de aproximação entre o paciente e profissional da saúde. “Quando estimulamos o brincar de faz de conta de uma criança, estamos fortalecendo sua criatividade, expressividade e capacidade de enfrentar os problemas e as dificuldades da vida”, diz a pesquisadora.

O estímulo ao brincar de faz de conta e a qualquer atividade lúdica é comum em hospitais no Brasil e no mundo e, geralmente, é utilizado pela equipe de Terapia Ocupacional, Psicologia e Enfermagem. Inclusive, diz Nathália, há artigos publicados nacionais e internacionais sobre a importância do brincar junto à criança hospitalizada.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens


Mais informações: (11) 96519-4637 nati.garcia@ig.com.br
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Biotropica publica edição especial sobre ecossistemas brasileiros

Periódico reúne artigos open access de pesquisadores de diversos países

Agência FAPESP – A revista científica Biotropica publicou edição especial intitulada "Biologia e Conservação dos Ecossistemas Brasileiros”, com artigos open access de pesquisadores que atuam no Brasil e em outros países.

Publicada pela Association of Tropical Biology and Conservation, a Biotropica é um dos principais periódicos científicos internacionais sobre ecologia, conservação e gestão dos ecossistemas tropicais e evolução, comportamento e biologia populacional de organismos tropicais.

O editor-chefe da publicação, Emilio Bruna, professor de Ecologia Tropical e Estudos Latino-americanos na University of Florida, nos Estados Unidos, e diretor do Florida-Brazil Linkage Institute, apresentou a edição, lembrando que o Brasil sempre exerceu fascínio sobre os naturalistas. “Muitos estarão familiarizados com os escritos de [Charles] Darwin, [Alfred Russel] Wallace, [Theodore] Roosevelt, [Alexander] von Humboldt e [João Teodoro] Descourtilz descrevendo suas experiências formativas neste vasto e exuberante país”, disse na introdução do periódico.

“O Brasil continua a ser uma inspiração para os biólogos contemporâneos, resultando em uma literatura sofisticada que nos permite avançar na nossa compreensão dos fatores ecológicos e evolutivos que estruturam ecossistemas tropicais, documentando as ameaças à sua continuidade e descrevendo estratégias inovadoras para a sua conservação.”

Os artigos reunidos destacam os ecossistemas e a biodiversidade única do Brasil, as abordagens utilizadas na sua compreensão e conservação e a diversidade de estudos na área. “Você vai encontrar trabalhos sobre a Amazônia e a Mata Atlântica, claro, mas nós esperamos que aqueles menos familiarizados com o Brasil aproveitem a oportunidade de ler sobre biomas menos conhecidos, como a Caatinga, a floresta de araucária e o Cerrado”, disse Bruna.

A edição está disponível para acesso no site da editora Wiley

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‘Encontro com pacientes humaniza o pesquisador’, diz oncologista

Grupo que estuda o câncer de cabeça e pescoço promove reuniões com voluntários que doaram amostras de tecido para explicar objetivos das pesquisas em andamento (foto: Gencapo)

12/09/2014

Por Karina Toledo

Agência FAPESP – Com o objetivo de conhecer e prestar contas a parte dos voluntários que contribuíram para pesquisas realizadas desde 2002, o grupo autodenominado Gencapo (Genoma do Câncer de Cabeça e Pescoço) – consórcio que reúne pesquisadores de diversas instituições – promoveu em 2013 o 1º Encontro com a Ciência. A experiência foi relatada em um artigo publicado este mês na revista The British Medical Journal (BMJ).

“Nosso objetivo era explicar o que tem sido feito com as amostras de sangue e de tumores doados pelos pacientes, bem como falar sobre as expectativas e as limitações das pesquisas em andamento”, contou Eloiza Helena Tajara, professora da Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto (Famerp) e coordenadora do Projeto Temático FAPESP que financia os trabalhos do grupo.

O Gencapo é composto por 50 pesquisadores e mais de 30 estudantes. Tem como objetivo realizar análises clínicas, genéticas e epidemiológicas em carcinomas de cabeça e pescoço, em busca de marcadores que ajudem no diagnóstico precoce e no tratamento da doença. Os cientistas também atuam na prevenção.

Cerca de 30 integrantes do grupo estiveram presentes no encontro, realizado na Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP). Também compareceram 40 dos 3 mil pacientes que já contribuíram para as pesquisas do grupo. Segundo Tajara, foram convidados apenas aqueles que já haviam sido tratados e estavam sem sinais de recaída.

“Selecionamos um grupo pequeno porque era uma experiência piloto e havia a limitação do auditório, que comporta apenas 90 pessoas. Sabíamos que muitos viriam acompanhados de familiares”, explicou a pesquisadora.

Durante o evento, os cientistas transmitiram informações sobre o câncer de cabeça e pescoço. Também falaram sobre as pesquisas que vêm sendo realizadas com auxílio das amostras doadas e responderam às dúvidas dos pacientes.

Além de Luisa Lina Villa (Faculdade de Medicina da USP e Instituto do Câncer do Estado de São Paulo) e do oncologista Marcos Brasilino de Carvalho (Hospital Heliópolis), também autores do artigo da BMJ, participaram da apresentação os pesquisadores do Gencapo Fabio Nunes, Patricia Severino, Raquel Moysés, Rossana López, Tatiana Toporkov e Victor Wünsch Filho.

“Estamos sempre prestando contas às agências de fomento. Mas também devemos ter a preocupação de prestar contas ao paciente que responde aos longos questionários de pesquisa, doa sangue e amostras de tumor”, comentou Carvalho, idealizador do encontro.

Para o oncologista, além de desmistificar a pesquisa científica para os pacientes, esse tipo de experiência contribui para a humanização dos pesquisadores. Essa também é a avaliação de Tajara. “Muitos de nós, no dia a dia do laboratório, nos esquecemos de que por trás daquele fragmento de tecido existe uma pessoa que sofreu ou que está sofrendo com o câncer”, disse a pesquisadora.

De acordo com Tajara, parte dos jovens cientistas ainda não havia tido contato direto com os pacientes afetados pelo câncer de cabeça e pescoço, doença que pode comprometer a fala e desfigurar a face.

“Acredito que todos os grupos de pesquisa que trabalham com amostras biológicas deveriam promover encontros com os voluntários. Esse tipo de experiência ajuda a manter os pesquisadores motivados, mas principalmente diminui a distância entre o paciente e o pesquisador”, avaliou Tajara.

Para a sua realização, disse Tajara, o evento contou com a ajuda de todos os membros da equipe do Gencapo, especialmente seus bolsistas, e a colaboração de José Eluf Neto, Roger Chammas e da enfermeira Maria Luiza Baggio.

O artigo Research interests: behind the biological sample (doi:10.1136/bmj.g5231) pode ser lido emwww.bmj.com/content/349/bmj.g5231

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Medicina de família reduz em torno de 80% os problemas de saúde

21/08/2014
Rio de Janeiro
Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil Edição: Stênio Ribeiro

O acompanhamento de perto dos pacientes, nos consultórios das clínicas médicas ou mesmo em casa, pode reduzir em 80% os problemas de saúde da população. A chamada medicina de família visa a detectar precocemente e tratar as doenças logo em sua fase inicial, evitando que se agravem com o tempo, o que significa mais custos para o sistema e sofrimentos para as pessoas.

O assunto está sendo debatido por médicos e profissionais de saúde reunidos no 4º Congresso da Associação de Medicina de Família e Comunidade do Estado do Rio de Janeiro (Amfac-RJ), que prossegue até o próximo sábado (23).

“Não é mais aquela história do postinho, que faz uma medicina de pobre para pobre, e sim médicos com grande qualidade, que conseguem fazer um trabalho bom e gratificante junto às pessoas, com respeito. Essa especialidade da medicina de família, que temos hoje, é uma retomada dos médicos que iam às casas das pessoas, mas com arcabouço teórico e conceitual; com técnicas específicas, que permitem um trabalho com muito mais qualidade. Cerca de 80% dos problemas de saúde que atingem a população podem ser resolvidos na atenção primária”, disse Rodrigo Pacheco, conhecido como Maranhão, diretor da Amfac-RJ e médico de família na Rocinha, zona sul do Rio, com cerca de 70 mil habitantes.

O secretário municipal de Saúde do Rio, Daniel Soranz, confirmou os dados apresentados pelo diretor da Amfac-RJ e disse que a meta é chegar a 2016 com pelo menos 70% das famílias incluídas no sistema. “Com profissionais qualificados e unidades estruturadas é possível resolver de 80% a 85% dos problemas do dia a dia. Na maioria das vezes, quando ficamos doente, não precisamos de um hospital ou um centro cirúrgico, mas um bom cuidado e acompanhamento, numa unidade de atenção primária”, disse Soranz.

Segundo ele, o programa de saúde da família é uma prioridade no Rio de Janeiro. “Em 2009 tínhamos 3% de cobertura – a menor do país. Hoje já temos 45% de cobertura, e a nossa meta é chegarmos a 70% em 2016. Esperamos avançar ainda mais nos próximos anos. É um desafio grande, mas é factível, pois este é o caminho para a cidade do Rio. Se a gente não tiver uma atenção primária organizada, como há em outros países, vai ser difícil termos um sistema de saúde mais equânime”, disse Soranz, que assumiu a secretaria recentemente.

Segundo ele, são 900 equipes de família no município do Rio, e a meta é chegar a 1.300 equipes. “Tem uma quantidade grande de médicos que precisam ser formados. A cidade tem hoje o maior número de residentes de medicina da família do país, com 100 vagas para o primeiro ano e mais 100 para o segundo ano. Isso é fundamental para formarmos recursos humanos para ocupar as vagas das novas unidades que serão inauguradas”, destacou.

Para o diretor da Amfac-RJ, a experiência do Programa Mais Médicos, que trouxe para o país milhares de profissionais, principalmente cubanos, vai na linha da medicina de família, e demonstrou ser bem sucedida. “Temos 14 mil médicos novos no país, e eu não conheço nenhum médico desempregado por causa disso. O país conseguiu absorver toda essa mão de obra. Nós tínhamos uma necessidade de médicos inegável. Existiam postos de trabalho que não eram ocupados”, disse Maranhão.

Informações sobre a programação do congresso e outros dados sobre medicina de família podem ser acessados no endereço eletrônico www.amfacrj.org.

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O que seria do MILHO sem o BORO?

Para a saúde do milho, vários metais são necessários: Cobre, Zinco, Molibdênio, Níquel, Ferro, Magnésio, entre outros. O que poucos sabem, é que o metaloide Boro (elemento atômico número 5) também é um micronutriente da planta.
Boro no Milho

Esta descoberta foi feita recentemente (em 2009), mas somente agora se estabeleceu o verdadeiro papel do Boro no milho e o mecanismo de sua absorção, em um artigo publicado nesta semana.

De acordo com os autores, B ocorre na parede celular, onde reticula o polissacarídeo peptídico rhamnogalacturonana II (RGII). Boro também é responsável por outros processos, incluindo sinalização química e funções na membrana celular.
O milho precisa de Boro

Veja artigo em http://www.plantcell.org/content/26/7/2728.full

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Uma molécula para falar diretamente com Deus

Os oráculos da Grécia antiga chamavam esta planta de Herba Apollinaris; tomavam um chá e, em transe, diziam entrar em contato direto com Apollo.

Herba Apollinares, a Hyoscyamus Niger

Trata-se da Hyoscyamus niger , conhecida pelo nome comum de Meimendro. Esta planta, embora tóxica, enfeita jardins e praças no mundo inteiro. Suas folhas, flores e frutos contém alguns alcalóides tropanos, como a escopolamina e a atropina. O chá da planta é soporífero e anestésico. Concentrado, é um veneno. Doses moderadas levam a alucinações.
Alcalóides tropanos do meimendro

Como exemplo, veja a atropina: a substância é um antagonista do receptor da acetilcolina, o principal neurotransmissor do sistema parassimpático.

Tem ação fisiológica muito ampla, pois atua também no sistema nervoso central. Na medicina, tem uso oftálmico, inibidor de secreções e antídotos para gases nervosos e pesticidas fosforados. Em doses maiores, provoca alucinações, excitação, taquicardia e euforia. É um euforizante alucinógeno.

Outro alcalóide da planta é a escopolamina, cuja molécula difere da atropina devido ao oxigénio do epóxido no anel : é usada no “soro da verdade” dos romances policiais.
É euforizante e ajuda combater náuseas nos astronautas da NASA.

Com estas características, os oráculos tinham muito para acreditar que de fato falavam com o Deus Apollo.

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“Açougue vegetariano” é atração na Holanda (http://ecoredesocial.com.br/)

Publicado em 31/07/2014
Não há sangue no açougue administrado pelo chef Maarten Kleizen na cidade de Haia, na Holanda. Cercado por dezenas de afiados facões, ele passa o dia com o uniforme de trabalho quase totalmente imaculado: as manchas vermelhas que aparecem aqui e ali não são de um pedaço cortado de alcatra, mas de beterraba.

No sentido estrito da palavra, o açougue de Kleizen nem poderia ser chamado de açougue, visto que, no local, carne é um elemento inexistente. “Nosso nome [De Vegetarische Slager, em holandês, ou Açougue Vegetariano] é algo apenas para chocar”, diz ele.

A loja gerenciada por Kleizen é a matriz de uma rede de “açougues vegetarianos” que hoje vende seus produtos em toda a Holanda e boa parte da Europa. Ela foi criada em 2010 pelo fazendeiro holandês Jaap Korteweg, que queria dar aos carnívoros opções saudáveis de alimentação, mas sem abrir mão do sabor proporcionado por um belo filé ou por um prato à base de frango ou peixe.

Para isso, Korteweg desenvolveu uma verdadeira (e secreta) alquimia culinária, usando soja e tremoço para criar receitas que reproduzem, à perfeição, carnes vermelhas, brancas, tirinhas de bacon e até crustáceos.

No “açougue” de Haia, a maioria dos itens é vendida refrigerada – mas tudo fresco, cortado e temperado no mesmo dia: no local, há hambúrgueres de soja (mas que têm gosto de hambúrguer), potes de molho barbacue e receitas como “frango ao molho curry”, “ceviche”, “nuggets”, “camarão marinado” e “frango xadrez” – olhando de perto, e mesmo provando os pratos, um desavisado jamais diria que, ali, o tremoço faz o papel da carne.

Erra quem pensa que o principal comprador do Açougue Vegetariano é o público vegetariano. “A maioria dos clientes que entra aqui é carnívora, mas são pessoas que querem diminuir seu consumo de carne”, explica Kleizen.

Um desses clientes é o estudante holandês de arquitetura Nick Krouwel, 25 anos, morador da cidade de Roterdã: “consumo carne em eventos especiais, como festas e churrascos. Mas, durante a semana, tento seguir uma dieta vegetariana. Me sinto mais saudável e acho que o consumo elevado de carne prejudica o meio ambiente”, conta ele.

Maarten Kleizen calcula que cerca de 70 pessoas entrem no Açougue Vegetariano de Haia em seus dias de funcionamento, onde é também possível adquirir pratos quentes (feitos na hora) e produtos como azeites, geleias orgânicas e patês veganos. Com duas filiais em Amsterdã, o negócio tem seus produtos vendidos em mais de 1.000 mercados da Europa.

Os preços, por sua vez, estão longe de serem abusivos: um prato de “frango” ao molho curry, por exemplo, custa 6,50 euros (cerca de R$ 20).

Se depender de Korteweg o fim da carne está próximo. Em seu site, ele afirma querer transformar seu negócio “no maior açougue do mundo – e num curto prazo”.

Ainda não há previsão de vendas para o Brasil.
ENDEREÇO

Rua Spui 167A – Centro – Haia (Holanda)

Aberto das 11h às 18h às terças, quartas e sextas; das 11h às 21h às quintas; e das 11h às 17h aos sábados.

Mais informações: www.vegetarianbutcher.com

Fonte: Comidas e Bebidas UOL / Fotos do site Vegetarian Butcher

Link:

FARM TO SCHOOL, o que é isso mesmo? (http://ecoredesocial.com.br/)

Publicado em 28/08/2014
Imagem da internet, sem crédito para o fotógrafo

*por Mirian Teresa de Sá Leitão

No mês de agosto, devido ao Dia Internacional da Saúde, mas já vai lá alguns anos, me chamaram a atenção as palestras a respeito da obesidade infantil /juvenil, que já se anunciava também como uma questão importante aqui no Brasil. E muitas inquietações e considerações começaram naquele momento a povoar a minha mente.

A inquietação perante a realidade e a pesquisa de práticas no Campo da Saúde/Educação fazem parte constante da minha vida. E não é de agora, lá pelos anos 2007/2008 questionamentos como: Por que crianças e adolescentes se alimentam tão mal, principalmente nos grandes centros urbanos? O afastamento gradual que tivemos durante décadas, de uma alimentação saudável e orgânica, com o advento da mecanização da agricultura, poderia ter sido diferente nas cidades como o RJ? Que papel a escola e educadores tinham nesse contexto que se anunciava, de obesidade/sobrepeso e suas cormobidades?

E a partir dessas inquietações e da conversa com colegas na Universidade, conheci através de uma colega, que estava no Brasil e que morara na Califórnia, o Movimento FARM TO SCHOOL. Me encantei com o que se apresentava, uma resposta aos meus questionamentos.

Muitos dirão: Mas modelos de outros países nunca dão certo quando os exportamos.

Ou ainda: Experiências americanas são próprias para as suas culturas, aqui no Brasil tendem a não apresentar resultados tão bons. Mas, como estudiosa, penso que a ciência avança com as experiências e práticas, tanto bem sucedidas, como mal sucedidas, e deixando o senso comum de lado, iniciei uma pesquisa sobre esse movimento, o FARM TO SCHOOL – suas ações e resultados. Naquele momento minha referida colega ajudou-me repassando informações que possuía e algumas fotos e outras informações fui pesquisando sozinha, eu e meu computador amigo rs.

O encantamento com tudo que passei a descobrir me deu a certeza que queria ver algo parecido algum dia aqui, em terras tupiniquins…Mas o que se refere, ndagarão-me, vou tentar resumir.

O FARM TO SCHOOL, que iniciou-se timidamente lá pelos fins dos anos de 1990 em Santa Mônica, na Califórnia e na Flórida, cresceu, e muito. E em 2012 já acontece em mais de 47 estados americanos, não mais como um movimento, mas como um Programa apoiado pelo Departamento de Agricultura Americano e se propõe a:” fortalecer os sistemas locais e regionais de alimentação, assegurando saúde para todas as crianças”. Combina alguns ingredientes: alimentos frescos produzidos localmente passam a estar mais presentes na alimentação dos estudantes, enquanto os alunos estudam sobre a agricultura local, benefícios de uma alimentação saudável e plantio.

O FARM TO SCHOOL enriquece a ligação entre consumidores e produtores familiares (fazendeiros), que oferecem produtos frescos e saudáveis em escolas e pré-escolas, em uma espécie de cantinas escolares. Embora o Programa ocorra na quase totalidade dos estados, em uma infinidade de escolas, tem uma formatação local, mas tem um ponto em comum, propiciar aos alunos o conhecimento de como o alimento chega até a mesa deles e uma alimentação de qualidade.

O Programa favorece:

- A Escola, pois serve uma alimentação fresca e saudável, implementando uma educação nutricional e práticas de plantio e saúde.

- Os agricultores (fazendeiros) locais, pois dá suporte aos mesmos conectando-os as escolas e pré-escolas, e oportuniza que produtores, pescadores e processadores alimentares familiares um ganho financeiro, pois passam a venderem localmente seus produtos.

- A comunidade local, pois reduz a emissão de carbono ao reduzir o transporte dos produtos, favorece a economia local e estimula atividades como hortas escolares e programas de compostagem, criando um ambiente saudável em torno da comunidade escolar.

- As “cantinas escolares” servem como uma espécie de feiras para os produtores locais e os estudantes tem uma relação estreitada com produtos frescos e saudáveis, aprendem a experimentar nas escolas uma alimentação de qualidade, compartilhando essas conexões com seus familiares.

- E especificamente na sala de aula temos propostas muito interessantes: currículo parcial ou totalmente direcionado as atividades, as crianças exploram por exemplo, as frutas e vegetais frescos através das aulas de culinária e “teste do gosto”. A partir de uma abordagem multidisciplinar entendem como se dá o crescimento das plantas nas aulas de ciências, artes e atividades nas hortas escolares, além do conhecimento sobre agricultura local.

Incrível esse FARM TO SCHOLL, não é mesmo?

Articulista convidada:
Mirian Teresa de Sá Leitão é educadora, especialista em Gestão Ambiental e Mestre em Ciências. Membro do Coletivo Hortação.

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Pequeño huerto contra industria

septiembre 8, 2014 

La agricultura intensiva o industrial prometía acabar con el hambre en el mundo. Hoy en día, después de asistir y sufrir las consecuencias de un método agresivo y contaminante, su fracaso es un hecho. En un planeta cuya población no para de crecer, la seguridad alimentaria no dependerá de la industria. Según la ONU, los pequeños agricultores que practican una agricultura familiar y de supervivencia producen hasta el 80% de los alimentos necesarios en los países no industrializados garantizando la nutrición de millones de personas.
En efecto, los pequeños agricultores y su modelo agrícola razonado alimentan a un enorme número de personas quienes, si dependieran de la agricultura industrial, sufrirían enormes carencias. Pero estos agricultores familiares poseen menos de un cuarto de la tierra de cultivo del planeta y la tendencia apunta a una paulatina reducción de esta superficie.

La ONG británica Grain publicó un informe el pasado 18 de junio en el que informan sobre los problemas a los que se enfrentan los pequeños agricultores, que hoy en día disponen de sólo el 17,2% de la superficie agrícola mundial (sin contar con China en el cálculo).
Una de las causas de este retroceso de la superficie total de tierras de cultivo en manos de pequeños agricultores se debe al acaparamiento de tierras por grandes fondos de inversión. Este acaparamiento no sólo afecta a África y Asia, si no que también llega a Europa, donde la mitad de las tierras están controladas por una minoría de consorcios y grandes propietarios. La lucha de los agricultores por defender sus tierras ha propiciado su criminalización desde algunos sectores interesados y muchos de ellos se vieron obligados a vender y abandonar su profesión de toda la vida.

Según indica Henk Hobbelink, coordinador de Grain, “si no se revierte esta tendencia, el mundo perderá su capacidad de satisfacer sus propias necesidades alimentarias. ”

El informe muestra que las pequeñas explotaciones son más productivas que las grandes. Tomando como referencia los datos de Eurostat, Grain enuncia 20 países de la Unión Europea que registran unos índices de producción por hectárea más altos en las pequeñas explotaciones que en las grandes. Los autores del informe reclaman verdaderas reformas agrarias que devuelvan la tierra a los pequeños agricultores.


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“É pelo coração que me ligo à minha horta…”


Texto completo no:



Horta, pedaço de nós mesmos, mãe. Se compreendermos que ela é não só a nossa origem como também nosso destino, e se a amarmos, então estaremos amando a nós mesmos, como seremos. Não, não tenho uma horta para economizar na feira. Tenho uma horta porque preciso dela, como preciso de alguém a quem amo.
Com a temática do Bem Comum, o 46º Festival de Inverno da UFMG, realizado entre os dias 18 e 26 de julho, trouxe para dentro do campus da UFMG novas (ou apenas esquecidas e invisibilizadas) formas de se apropriar do espaço público. Reunindo indígenas, quilombolas, congadeiros, agricultores urbanos, moradores de ocupações, bicicleteiros e quem mais se interessasse por repensar e viver os usos tradicionalmente dados ao espaço, o festival permitiu o intercâmbio entre diferentes saberes, gostos, músicas, gerações e significados.

Dentro deste universo tão diverso, o GT Plantar, Cozinhar e Comer (Hortas e Comidarias) se propunha a investigar e construir o mundo da terra e da cozinha, explicitando este vínculo que o modo de vida urbano tende a obscurecer. Convidada pela coordenação do GT a contribuir na construção do mesmo, a AMAU – Articulação Metropolitana de Agricultura Urbana esteve presente em diferentes momentos no festival.

A horta é parte do meu corpo, do lado de fora, e é por isso que pode ser comida, entrar para dentro, transformar-se em vida, minha vida. Eu dou vida à horta, preparo a terra, planto as sementes, rego, elas vivem, e depois se oferecem a mim, através do meu desejo.

Na sexta-feira, dia 19, um grupo de 12 pessoas pôde conhecer três espaços produtivos distintos da Região Metropolitana: o Ervanário São Francisco no Alto Vera Cruz, a horta do Frutos da União localizada no Ribeiro de Abreu, e a horta comunitária dos Borges em Sabará.

Nascido da necessidade do casal Tantinha e Fernando em tratar dos problemas de saúde de sua família, o Ervanário São Francisco vem ao longo de 17 anos trabalhando com as práticas complementares em saúde, como aproveitamento integral dos alimentos, agricultura urbana, resgate e ativação de conhecimentos tradicionais, preparo e uso das plantas medicinais, massagens, orações e formação de grupos e pessoas. O grupo ainda, comercializa seus produtos em diferentes espaços como a Feira Terra Viva, aos sábados, e a feira da Bernardo Monteiro, às sextas-feiras. Na AMAU, o grupo integra a Comissão de Plantas Medicinais.

Cultivada em terreno pertencente à igreja no bairro Ribeiro de Abreu a partir da iniciativa de três senhoras, Júlia, Amélia e Bernadete, a horta do Frutos da União atualmente promove a comercialização de seus produtos quinzenalmente aos sábados em feira realizada no próprio espaço de produção. O grupo também participa da Feira Terra Viva e integra as comissões de Agrobiodiversidade, onde D. Júlia é guardiã de sementes, e Mulheres.
Já a horta dos Borges é uma iniciativa da qual participam 18 famílias, situada às margens do rio das Velhas e apoiada pela prefeitura de Sabará que fornece esterco, água e eletricidade. Recentemente ingressos na AMAU, o grupo comercializa sua produção na Feira da Cidade Administrativa às sextas-feiras, e na Feira Terra Viva. Última parada da visita, neste espaço cada um dos visitantes recebeu um mini-kit de hortaliças, produto semelhante a um buquê composto por alface, agrião e rúcula.

RS tem 280 espécies de animais ameaçadas de extinção, além de 10 já extintas. Veja a lista

Fonte: Daniel Hammes
Lista de espécies ameaçadas é um instrumento para a gestão ambiental do RS – Foto: Glayson Bencke

O Governo do Estado homologou hoje (9) a lista de espécies da fauna gaúcha ameaçadas de extinção. A listagem, primeira atualização feita desde 2002, indica que o Rio Grande do Sul possui 280 espécies de sua fauna em algum grau de ameaça de extinção (Vulnerável, Em Perigo ou Criticamente em Perigo) além de 10 já extintas. Significa que estão ameaçados 22% dos mamíferos, 18% dos peixes de água doce, 16% dos anfíbios, 11% dos répteis e 14% das aves nativas do Rio Grande do Sul. A lista, coordenada pela Fundação Zoobotânica (FZB) com apoio da Secretaria Estadual do Meio Ambiente (Sema), é resultado do trabalho de 129 especialistas de 40 instituições que analisaram o estado de conservação de 1,6 mil espécies.

“Uma lista de espécies ameaçadas serve para subsidiar as políticas públicas e também como um termômetro de como o ser humano está tratando o ambiente natural”, diz Glayson Bencke, coordenador geral do trabalho e pesquisador do Museu de Ciências Naturais da FZB. “Com essa atualização, o Rio Grande do Sul cumpre um dos principais compromissos assumidos pelo Brasil na Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB) – reforçado recentemente pelas Metas de Aichi para a Biodiversidade”, reforça o diretor geral da Sema, o biólogo Luís Fernando Perelló. “Ou seja, trata-se de monitorar a biodiversidade produzindo listas de espécies ameaçadas e, partir daí, construir planos de ação para tentar reverter ou pelo menos estancar o quadro de espécies ameaçadas”, explica.

Os critérios, procedimentos e definições utilizados para a revisão da lista foram desenvolvidos pela União Internacional para a Conservação da Natureza (IUCN, sigla em inglês), amplamente empregados em avaliações das condições de conservação de espécies em nível global e regional (países ou estados). A revisão periódica da lista é prevista tanto no Código Estadual do Meio Ambiente como no Decreto Estadual 41.672/2002, que também estabelece a obrigatoriedade da constituição de uma comissão multi-institucional formada por especialistas em fauna para coordenar o processo.

Tecnologia de ponta

Para a revisão da lista, foi desenvolvida pela FZB e Procergs uma ferramenta inovadora, o “Live”, sistema digital operado via web. Ele auxilia na elaboração e revisão de listas de espécies ameaçadas de extinção, permitindo documentar e gerenciar todas as etapas do processo de organização das chamadas listas vermelhas.

Graças ao Live, que permite acesso remoto às bases de dados, formulários de avaliação de espécies e documentos relevantes, a maior parte das atividades relacionadas à revisão da lista pode ser desenvolvida à distância, sem a necessidade de reuniões presenciais, o que viabilizou a participação de um grande número de especialistas e reduziu significativamente os custos do processo de reavaliação.

Ameaça por grupo (índice e número)

Invertebrados – 39% (49 espécies)

Peixes – 18% (74 espécies)

Anfíbios – 16% (16 espécies)

Répteis – 11% (12 espécies)

Aves – 14% (91 espécies)

Mamíferos – 22% (38 espécies)

Espécies por categoria de ameaça

Vulnerável – 99 espécies

Em perigo – 108 espécies

Criticamente em perigo – 73 espécies
Arquivos para download

Fonte: Fundação Zoobotânica do Rio Grande do Sul

EcoDebate, 12/09/2014

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quinta-feira, 11 de setembro de 2014

Cientistas buscam alternativas para combater esquistossomose

Por Da Redação - agenusp@usp.br

Publicado em 11/setembro/2014 

Da Assessoria de Comunicação do IFSC
comunicifsc@ifsc.usp.br
IFSC busca produtos naturais que tenham atividade contra a doença

No Instituto de Física de São Carlos (IFSC) da USP, cientistas trabalham com frentes alternativas para eliminar a esquistossomose, doença transmitida pelo Schistosoma mansoni, verme hematófago transmitido por caramujosBiomphalaria, que vive nas águas de rios, e que todos os anos causa milhares de mortes no mundo. No Grupo de Cristalografia do Instituto, a pesquisadora Ana Carolina Mafud pesquisa a bioprospecção de produtos naturais — a busca por produtos naturais que tenham atividade contra a doença — e o reposicionamento de fármacos, que consiste pesquisar em banco de dados moléculas já testadas e comercializadas contra qualquer doença e observar suas atividades no combate à esquistossomose. Ana Carolina é pesquisadora em estágio de pós-doutorado do IFSC, supervisionada pela docente Yvonne Mascarenhas.

“Em relação à bioprospecção, três candidatos já apresentaram resultados satisfatórios: jaborandi, louro e uchi-amarelo”, conta a cientista. Tais resultados, inclusive, serão apresentados por Ana na edição de 2014 do Simpósio Brasileiro de Química Medicinal. “Nessa frente de pesquisa, conto com a colaboração do pesquisador Josué de Moraes, que tem toda sua formação acadêmica na USP. Ele já passou pelo Butantã, Instituto Adolfo Lutz e, atualmente, é consultor de saúde pública na Câmara Legislativa do Estado de São Paulo, além de possuir um laboratório de pesquisa, o ‘Núcleo de Pesquisa em Doenças Negligenciadas’, na Faculdade de Ciências de Guarulhos (FACIG), o que facilita a realização de ensaios in vitro e in vivo“, conta Ana Carolina.

Tal facilidade a estimulou a realizar estudos de reposicionamento de fármacos. “Observamos, por exemplo, por intermédio de dados bibliográficos, que o Diclofenaco pode ajudar o organismo a não atacar o granuloma”, descreve. “Testes in vitro nos permitiram confirmar essa suposição e tivemos uma nova surpresa: o Schistosoma também é atacado, além do Diclofenaco agir sinergisticamente com o Praziquantel”, relembra a pesquisadora.

Criado em 1975 num esforço conjunto das indústrias farmacêuticas Bayer e Merryck, o Praziquantel foi um medicamento desenvolvido para atuar na cura da esquistossomose. Contudo, não foi efetivo. Ele não ataca os ovos nem as formas jovens do Schistosoma mansoni, impedindo sua eliminação definitiva do organismo. Uma segunda deficiência do medicamento foi relatada recentemente: o surgimento de casos de resistência ao Praziquantel por algumas cepas do verme no continente africano.

Outro problema do Praziquantel, esse de natureza estrutural, é que o medicamento é administrado como mistura racêmica, ou seja, ele possui dois estereoisomeros: um com atividade antelmintica e outro sem. Como se trata de um processo muito caro, a separação não é feita, e uma das estruturas tem seu efeito anulado, implicando num aumento da concentração do fármaco na dose, o que torna os comprimidos muito grandes e de difícil ingestão, principalmente por crianças, bastante afetadas pela doença. Outra dificuldade refere-se à insolubilidade e gosto desagradável do medicamento, tornando-os ainda mais indigerível.

A cristalografia como protagonista

Mas ainda há uma outra interrogação: como o Diclofenato e o Praziquantel, de classes químicas tão diferentes, podem atacar uma mesma doença? Partindo de estruturas cristalográficas e utilizando técnicas de bioinformática, Ana Carolina conseguiu resolver a dúvida: graças a uma região comum na composição eletrônica da estrutura dos dois fármacos*.

Outra técnica utilizada por Ana Carolina é o virtual screening, que consiste na sobreposição virtual das moléculas anotadas para encontrar candidatos que possuam estruturas moleculares similares ao Praziquantel. “No caso de nossa pesquisa, foram selecionadas moléculas que tenham similaridade, tanto do ponto de vista 2D, ou seja, a estrutura molecular simples, quanto 3D, que leva as distancias e ângulos interatômicos e o volume de van der Waals e potencial eletrostático em consideração. Uma vez encontradas, Josué realiza os testes para ver se a atividade, de fato, existe”, elucida Ana Carolina.

Em relação à bioprospecção de produtos naturais, Ana Carolina e os demais integrantes dessa pesquisa — a pós-doutoranda Lis S. Miotto e o aluno de graduação do Instituto de Química de São Carlos (IQSC) da USP Thiago Rubio — utilizam outras técnicas para o desenvolvimento do estudo, entre elas a resolução da estrutura cristalina por difração de raios-X e análises térmicas de TG e DSC, além de outras técnicas adjacentes, como espectroscopia RAMAN. Ana Carolina, especificamente, faz também cálculos ab initio e semiempíricos de constantes físico-químicas. “Todos os dados que fornecemos auxiliam na elaboração dos ensaios in vitro e in vivo realizados por Josué”, conta.

O futuro da pesquisa

Embora animada com todos os resultados alcançados até o momento, Ana Carolina faz uma ressalva. “Entre a descoberta de produtos naturais com ação contra a esquistossomose e sua transformação em fármaco leva-se cerca de 15 anos. O Brasil, em toda sua história, nunca conseguiu produzir qualquer fármaco”, lamenta. Outra barreira a ser vencida, também referente à bioprospecção, é a criação de uma técnica capaz de tornar solúveis os elementos de interesse de produtos naturais.

Porém, por sua baixa toxicidade e aceite no organismo — testes in vivo já realizados em ratos trouxeram resultados promissores —, os produtos naturais parecem, ainda, ser a melhor alternativa para produção de um fármaco contra a esquistossomose. E, mais do que isso, podem se mostrar úteis para cura de outras doenças negligenciadas.

O trabalho foi publicado pelo International Journal of Antimicrobials Agents, uma revista da International Society of Chemoterapy.

Foto: Marcos Santos / USP Imagens

Mais informações: email carolmafud@gmail.com

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Consumo de café e refrigerante de cola causa alterações ósseas

Jornal da UNICAMP
Campinas, 11 de agosto de 2014 a 24 de agosto de 2014 – ANO 2014 – Nº 602

Constatação de pesquisa desenvolvida na Faculdade de Odontologia de Piracicaba corrobora dados da literatura

Edição de Imagens: Diana Melo
O consumo frequente de café e de refrigerante à base de cola (Coca-Cola) promove alterações ósseas e pode aumentar o risco de fraturas, principalmente no sexo feminino. A conclusão é da tese de doutorado do cirurgião-dentista Amaro Ilídio Vespasiano Silva, defendida recentemente, no programa de Pós-Graduação em Radiologia Odontológica da Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP), sob a orientação do professor Lourenço Correr Sobrinho. Embora a pesquisa tenha sido feita em modelo animal (ratos), sustenta o autor, seus resultados podem ser extrapolados para os seres humanos. “Estudos encontrados em literatura específica acompanharam populações (homens e mulheres) que consumiram refrigerante à base de cola e chegaram a resultados semelhantes aos encontrados na minha tese”, afirma o pesquisador.

Em seu trabalho, que teve a coorientação do professor Francisco Haiter Neto, Amaro Silva também analisou os efeitos do consumo de refrigerante à base de guaraná (Antárctica) sobre os tecidos ósseos. De acordo com ele, a bebida causa igualmente alterações na estrutura óssea, mas os resultados não foram determinantes a ponto de reduzir a resistência do osso, assim como ocorreu com o café e o refrigerante à base de cola. A grande responsável por esse efeito deletério, informa o pesquisador, é a cafeína, presente nas três bebidas consideradas, em proporções diferentes.

A substância, conforme o cirurgião-dentista, age sobre o metabolismo ósseo. “Ela induz a diferenciação de células precursoras de tecido ósseo em osteoclastos, células responsáveis pela reabsorção óssea. Quando a cafeína está presente em grande quantidade, ocorre um aumento na diferenciação de osteoclastos, e com isso um aumento significativo na reabsorção óssea. Como consequência, temos uma redução da massa óssea e o aumento do risco de fraturas”, detalha. 

A ideia de desenvolver o trabalho, conforme o autor, veio da necessidade de saber se a cafeína interferiria na qualidade do osso – estrutura e resistência. “Alguns estudos apresentam controvérsias a respeito. O fato de as bebidas serem amplamente consumidas no Brasil, inclusive por crianças e adolescentes, foi determinante para a escolha do tema”, diz. Amaro Silva esclarece que as alterações mais pronunciadas nos ossos das fêmeas apuradas na pesquisa se dão provavelmente por causa de fatores hormonais. 

Apesar de o estudo não ter avaliado os teores hormonais, afirma, a grande diferença entre machos e fêmeas está na variação hormonal. “No caso dos seres humanos, a mulher possui um ciclo hormonal que influencia diretamente sobre o metabolismo do osso. Ocorre que a cafeína interfere sobre esse ciclo, o que faz com que haja maior desmineralização do tecido ósseo”, reforça. Questionado sobre a possibilidade de se fazer um consumo seguro das três bebidas investigadas, Amaro Silva informa que até o momento a ciência não determinou um valor máximo nesse sentido. “Os estudos apontam que a menor concentração de cafeína, consumida no menor intervalo de tempo, já é capaz de produzir efeitos adversos sobre o metabolismo ósseo”, aponta.

Metodologia

Como dito anteriormente, a pesquisa para a tese de doutoramento de Amaro Silva foi desenvolvida em modelo animal. Ele selecionou 80 ratos adultos do Biotério Central da Unicamp, sendo 40 machos e 40 fêmeas, com idade de 90 dias. Durante o transcorrer do estudo, os animais foram mantidos em gaiolas de policarbonato, em local com temperatura e umidade controladas, com ciclos alternados de 12 horas em ambientes claro e escuro. 

A alimentação constou do fornecimento de ração balanceada padrão e água à vontade para todos os grupos de animais, além de dieta à base de café e refrigerantes de cola e guaraná para os grupos experimentais. As gaiolas possuíam dois bebedouros, um com água e o outro com a dieta selecionada, dispostos em posições opostas e reabastecidos diariamente com 500 ml de cada substância. O volume diário consumido era anotado e posteriormente tabulado, com a finalidade de estabelecer a média de consumo diário de água, café e refrigerantes à base de cola e de guaraná em cada grupo experimental. Todos os animais foram pesados semanalmente, para verificar se havia ocorrido ganho e/ou perda de peso, em função das dietas utilizadas.

Decorridos quarenta e oito dias de administração das dietas à base de café e refrigerantes, todos os animais foram novamente pesados, com o objetivo de registrar a média de peso corporal final em cada grupo experimental, o que permitiu analisar se havia ocorrido ganho ou perda de massa corporal em cada rato. Após o procedimento de pesagem, todos os animais foram sacrificados, seguindo o protocolo estabelecido pela Comissão de Ética no uso de Animais. Em seguida, os fêmures direitos dos animais foram dissecados e armazenados em recipientes de vidro individualizados para cada amostra, contendo formol. 

Após esses procedimentos, dois métodos avaliaram as consequências da dieta sobre os tecidos ósseos. Para análise da microarquitetura óssea trabecular dos fêmures foi utilizado um equipamento denominado microtomógrafo computadorizado. Para a análise da resistência óssea, foi empregado o teste de resistência à flexão de três pontos, por meio de uma máquina de ensaios mecânicos. Segundo o autor, a tese não avaliou os efeitos do consumo das bebidas sobre os dentes dos ratos. “Isso será feito em um próximo estudo, dentro do pós-doutorado”, adianta Amaro Silva.

O pesquisador destaca que os resultados obtidos por sua pesquisa corroboram com dados já presentes na literatura sobre o efeito adverso do consumo de café e refrigerante à base de cola cobre o tecido ósseo. “Em relação ao consumo do refrigerante à base de guaraná, não existia até então a avaliação de seus componentes sobre a microarquitetura e resistência óssea, sendo este o pioneiro na área”, garante Amaro Silva, que contou com bolsa de estudo concedida pela Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).

O cirurgião-dentista observa, ainda, que a sua tese faz parte de um projeto amplo, no qual outra aluna do doutorado está realizando a análise da densidade mineral óssea e a avaliação dos níveis séricos de cálcio, fósforo e magnésio. O objetivo é encontrar valores característicos de redução da densidade mineral óssea e de perda de minerais.

Os estudos provenientes desse projeto já foram premiados na 30ª Reunião Anual da Sociedade Brasileira de Pesquisa Odontológica, tendo recebido o primeiro lugar. Também receberam o prêmio no IX Congresso Nacional de Radiologia Odontológica (Conabro). A equipe de trabalho é composta ainda pelos alunos de doutorado Yuri Nejaim, Gina Roque Torres e Maria Beatriz Carrazoni Cal Alonso.

Publicação

Tese: “Avaliação da microarquitetura e resistência óssea em ratos submetidos à dieta diária de café e refrigerantes à base de cola e guaraná”
Autor: Amaro Ilídio Vespasiano Silva
Orientador: Lourenço Correr Sobrinho
Coorientador: Francisco Haiter Neto
Unidade: Faculdade de Odontologia de Piracicaba (FOP)
Financiamento: Capes

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Lição que vem da natureza

Jornal da UNICAMP
Campinas, 09 de junho de 2014 a 22 de junho de 2014 – ANO 2014 – Nº 600

Docente desenvolve nanomateriais que realizam fotossíntese artificial com o objetivo de transformar água e luz solar em fonte de energia

Edição de Imagens: Diana Melo
Primeiro, compreender a natureza. Depois, tentar imitá-la. Adotado pelos cientistas há centenas de anos, esse princípio tem sido responsável por algumas das mais significativas descobertas da ciência ao longo da história. O preceito também serviu de inspiração ao professor Jackson Dirceu Megiatto Júnior, do Instituto de Química (IQ) da Unicamp, que obteve importantes avanços na sua desafiadora proposta de transformar água e luz solar em fonte de energia. Baseado na capacidade das plantas de realizar fotossíntese, o docente desenvolveu nanomateriais com propriedades similares. “Converter água e luz solar em fonte de combustível é algo que a natureza faz rotineiramente através da fotossíntese. O que estamos tentando fazer é reproduzir artificialmente esse processo em nossos laboratórios”, explica.

Megiatto começou a se envolver com o tema da fotossíntese artificial logo após o seu doutorado, feito na Universidade de São Paulo (USP). Na época, ele ficou intrigado com a possibilidade de transformar água e luz em energia. A ideia fisgou o jovem cientista de tal maneira que ele passou a buscar dados que pudessem orientá-lo sobre que caminho seguir com uma pesquisa na área. A natureza, claro, foi uma das suas “fontes de inspiração e informação”. “Comecei a estudar profundamente o processo de transformação de água em carboidratos (fonte de combustível) realizado pelas plantas diariamente há bilhões de anos na Terra. Então, passei a me questionar se a Química seria capaz de sintetizar materiais ou elaborar sistemas que pudessem fazer a mesma coisa”, conta.

O professor do IQ observa que a fotossíntese natural é um processo extremamente complexo, constituído por várias etapas. Algumas delas ainda não são bem compreendidas pela ciência. “O primeiro desafio, então, foi tentar entender o máximo possível sobre o processo, para em seguida tentar imitá-lo”, diz. Nessa ocasião, Megiatto teve a oportunidade de fazer dois pós-doutorados relacionados ao assunto na New York University e na Arizona State University, nos Estados Unidos. “Lá, eu trabalhei com materiais que buscavam transformar água e luz solar nos gases oxigênio e hidrogênio, sendo que o nosso interesse estava obviamente relacionado a este último gás, que é uma promissora fonte de combustível”, acrescenta.

Após cinco anos de trabalhos, afirma Megiatto, o grupo do qual fazia parte obteve avanços significativos. Logo depois, ele trouxe a experiência adquirida nos Estados Unidos para a Unicamp, onde foi aprovado no concurso para a vaga de docente no IQ. “Meu retorno ao Brasil se deu principalmente pela chance de trabalhar em uma Universidade de reconhecida excelência e também porque esse trabalho estava vinculado ao Programa de Bioenergia da Fapesp [Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia - Bioen]”, detalha. Nos estudos que desenvolveu no exterior, o cientista analisou proteínas e enzimas presentes nas folhas das plantas, para saber como elas funcionam.

Uma das constatações feita por ele é que as proteínas apresentam diferentes pigmentos, sendo predominante a clorofila, de cor verde. Elas é que são responsáveis, durante a fotossíntese, pela absorção da luz solar, que por sua vez ativará as moléculas de água no interior da folha. “Quando tentamos extrair seletivamente essas moléculas de clorofila das proteínas da folha, descobrimos que elas são estáveis somente quando ligadas à sua estrutura proteica natural. Fora dela, as moléculas se degradam e param de funcionar. Ou seja, deixam de absorver a luz solar, pois precisam da proteína para cumprir essa tarefa”.

Como seria impossível, diante dos recursos oferecidos atualmente pela ciência, sintetizar essas proteínas em laboratório, o pesquisador e sua equipe recorreram à engenharia molecular em busca de uma alternativa. “O que nós fizemos inicialmente foi sintetizar moléculas muito similares às clorofilas, chamadas porfirinas, que dispensam a estrutura proteica para realizar absorção de luz sem se degradar”, relata Megiatto. A saída parecia perfeita, até que os cientistas constataram que, a despeito de serem estáveis durante o processo de absorção de luz, as porfirinas se degradavam primeiro que as moléculas de água durante o processo artificial de fotossíntese. Dito de outro modo, elas eram mais estáveis que a clorofila, mas não o suficiente para a conclusão do processo.
Os cientistas se puseram, então, à procura de uma solução para o problema. Eles precisavam encontrar um elemento que pudesse ampliar a estabilidade das porfirinas. Depois de vários testes, descobriram que o flúor, quando ligado quimicamente a essas moléculas, oferecia o resultado desejado. Entretanto, como em ciência é comum se enfrentar sucessões de dificuldades, Megiatto e seus companheiros depararam com mais um entrave, este ligado à velocidade com que ocorrem dois processos presentes na fotossíntese. O primeiro deles acontece quando as porfirinas recebem a luz solar, que é transformada em energia química no interior destas moléculas.

O segundo se dá no momento em que as porfirinas, já ativadas pela luz, reagem com as moléculas de água, fazendo com que os átomos desta última se rearranjem em hidrogênio e oxigênio. “Acontece que havia uma enorme diferença de velocidade entre estes dois processos. Ao receberem luz, as porfirinas se ativavam. Entretanto, como o processo de transferência de energia para as moléculas de água é lento, as porfirinas se desativavam antes de o processo ser concluído. O desafio foi encontrar um intermediário que tornasse estes dois processos cineticamente compatíveis”.

Nessa etapa, os pesquisadores recorreram novamente à natureza. “Na natureza, existe uma molécula que promove a ‘conversa’ entre as clorofilas e as moléculas de água, que é um aminoácido do tipo tirosina, presente na proteína das folhas. A tirosina apresenta um grupo fenólico em sua estrutura que possui uma propriedade bastante peculiar. Ele é capaz de receber rapidamente a energia proveniente das clorofilas ativadas e armazená-la pelo tempo necessário para que as moléculas de água ao seu redor sejam decompostas em hidrogênio e oxigênio. Moléculas do tipo fenol são produzidas às toneladas atualmente”, detalha o docente da Unicamp.

A partir dessa informação, os cientistas conectaram quimicamente as porfirinas a um fenol e conseguiram finalmente estabelecer uma sintonia entre os dois processos. “Obtivemos um aumento de eficiência muito significativo. Ao compararmos o processo natural ao artificial, por meio de análises técnicas corriqueiras, nós constatamos que a resposta de um é muito similar à do outro. Em outras palavras, nós conseguimos ficar muito próximos da estrutura da natureza”, assegura Megiatto. Divulgados para a comunidade científica através de artigos publicados em revistas de alto impacto, como a Nature, os resultados do estudo tiveram ampla repercussão, conforme o professor do IQ explica.

Uma das consequências dessa repercussão foi o interesse da imprensa pelo tema. “Fui procurado por diversos veículos de comunicação, para os quais dei entrevistas. Foi algo novo, mas muito interessante para mim. Nós cientistas estamos acostumados a nos comunicar com nossos pares, mas não com a comunidade leiga. Particularmente, gostei muito da experiência. Até crianças vieram me fazer perguntas sobre a pesquisa”, diverte-se Megiatto. O próximo passo do trabalho, antecipa o pesquisador, será buscar um sistema completo de produção de energia. A proposta é conectar uma célula solar construída com os nanomateriais que realizam fotossíntese artificial a uma célula combustível, que reorganiza os átomos de hidrogênio e oxigênio, gerando água novamente e energia na forma de eletricidade.

Isso já está sendo feito em colaboração com um grupo de cientistas norte-americanos na Arizona State University. “Vamos ver se essa conexão funciona bem. Mesmo que funcione, o sistema ainda não será atrativo do ponto de vista econômico. É que o processo de preparação das porfirinas é caro. Então, o maior desafio que teremos pela frente será melhorar as rotas sintéticas, de modo a baratear o custo de produção desses nanomateriais. Eu tenho convicção de que isso será possível ao longo do tempo. Essa fase eu pretendo desenvolver aqui na Unicamp, com a colaboração do grupo de pesquisa que estou formando. Já temos um projeto pré-aprovado pela Fapesp, na linha Jovem Pesquisador, cujo financiamento gira em torno de R$ 1 milhão, pelo período de quatro anos. Esses recursos serão utilizados para reformar e equipar o laboratório no qual trabalharemos”, informa.

Enquanto os recursos não são liberados, o docente do IQ tem feito contato com estudantes interessados em participar das pesquisas. Atualmente, ele já conta com dois de iniciação científica, um de mestrado e um de doutorado. Além desses, um aluno de pós-doutorado italiano também está chegando para integrar a equipe. “O interessante é que entre esses estudantes não há só químicos. Temos também um engenheiro químico e uma aluna de estatística. A união de profissionais de diferentes áreas é fundamental para o sucesso desse tipo de pesquisa. Somente a Química não daria conta de responder a todas as perguntas. A abordagem multidisciplinar é uma exigência cada vez maior para quem quer atuar na fronteira do conhecimento”, considera Megiatto.

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