Proteção da biodiversidade é uma questão de direitos humanos, aponta relator da ONU

ONU

O mundo caminha rumo à sexta onda de extinção global de espécies, ameaçadas cada vez mais pela destruição de habitats naturais, pela caça ilegal e pelas mudanças climáticas. O alerta é do especialista independente da ONU, John Knox, que lembrou nesta semana que (1) que os direitos a alimentação, saúde, água e vida dependem da biodiversidade.

“Estamos indo em direção à sexta onda global de extinção de espécies na história do planeta”, mas países continuam fracassando em impedir o fim da biodiversidade, alertou nesta semana (1) o especialista da ONU em direitos humanos e meio ambiente, John Knox. Segundo relator, principais ameaças à fauna e à flora terrestres são a destruição dos habitats, a caça ilegal e as mudanças climáticas.

“As pessoas não podem gozar de seus direitos humanos sem os serviços que ecossistemas saudáveis fornecem. E proteger a biodiversidade é necessário para garantir que os ecossistemas permaneçam saudáveis e resilientes”, disse Knox em comunicado emitido às vésperas do Dia Mundial da Vida Selvagem, lembrado em 3 de março, e logo após a publicação do primeiro relatório da ONU sobre biodiversidade e direitos humanos.

A análise aponta que “a diversidade biológica e os direitos humanos estão interligados e são interdependentes”. Segundo o documento, entre os impactos negativos da extinção de espécies, está a queda na produtividade e estabilidade das atividades agrícolas e de pesca — o que é uma ameaça ao direito a alimentação.

As obrigações dos Estados para manter
seus compromissos de direitos humanos
incluem o dever de proteger a biodiversidade
da qual esses direitos dependem.

Eliminar a biodiversidade também destrói fontes potenciais de substâncias medicamentosas e terapêuticas, além de aumentar a exposição a algumas doenças infecciosas e restringir o desenvolvimento do sistema imunológico humano. Segundo Knox, essas consequências podem violar o direito a vida e a saúde.

Ao acabar com mecanismos naturais de filtragem da água, a perda da diversidade de espécies de plantas e animais também um risco ao direito a água.

“As obrigações dos Estados para manter seus compromissos de direitos humanos incluem o dever de proteger a biodiversidade da qual esses direitos dependem”, alertou Knox.

O especialista afirmou ainda que, além dessa obrigação mais geral, países devem implementar medidas específicas envolvendo a divulgação de informações públicas sobre projetos que afetem a biodiversidade. Outra recomendação é garantir a participação dos cidadãos em processos decisórios. O relator cobra ainda que soluções satisfatórias e efetivas sejam encontradas em casos onde houve, de fato, perda da biodiversidade.
Populações mais vulneráveis

Knox lembrou que, embora a destruição da riqueza biológica afete a todos, as consequências mais duras atingem os que precisam diretamente da natureza para a sua vida cultural e material.

“Mesmo quando devastar florestas ou construir represas trazem benefícios econômicos, esses benefícios são normalmente aproveitados desproporcionalmente pelos que não dependem diretamente do recurso (envolvido) e os custos são impostos desproporcionalmente aos que dependem”, disse o relator.

O especialista acrescentou ainda que a proteção dos direitos de povos indígenas e de outras comunidades dependentes de ecossistemas naturais é, além de uma obrigação de direitos humanos, a melhor maneira para preservar a biodiversidade.

“Sobre isso, são particularmente perturbadoras as ameaças crescentes e a violência contra os que protegem a biodiversidade de caçadores, traficantes e negócios ilegais”, acrescentou Knox, que explicou que os que arriscam suas vidas pela biodiversidade “não são apenas ambientalistas, são também defensores dos direitos humanos”. Para o relator, governos devem se empenhar em proteger ativistas.

Da ONU Brasil, in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 06/03/2017

Arroz e feijão também opções em sistemas de produção agroecológicos

Embrapa

Duas das principais culturas do país nas pequenas propriedades e presenças assíduas na mesa dos brasileiros, o arroz e o feijão são também opções em sistemas de produção agroecológicos, a exemplo de outras culturas, em especial, hortaliças.

Em Goiás, a inserção do cereal e da leguminosa em sistemas agroecológicos, ou seja, dentro da perspectiva da diversificação de cultivos, da redução da dependência de insumos externos às propriedades rurais, da manutenção dos recursos naturais e do desenvolvimento local sustentável, já mostra ser favorável para transformar a realidade dos agricultores familiares, mas ainda há muito a ser feito.

Esse trabalho vem sendo aprimorado pela Embrapa, por meio de atividades de pesquisa, a fim de demonstrar alternativas para a inserção do arroz e do feijão nos sistemas agroecológicos. O foco do trabalho no momento se concentra, principalmente, em corredores agroecológicos e técnicas para uso de fertilizantes orgânicos. No entanto, o melhoramento de feijão nesses sistemas e a busca de materiais crioulos são trabalhos com grande potencial de impacto nos próximos anos, além do controle biológico de doenças do arroz.

Os corredores agroecológicos são uma estratégia de produção que combina cultivos alimentares intercalados e alternados com adubos verdes e plantas de cobertura do solo, dentre outros tipos de espécies vegetais. No caso da Embrapa em Goiás, o trabalho é feito com o estabelecimento de parcelas de arroz, feijão, crotalária e guandu. Como se trata de uma proposta de agricultura biodiversa, existe ainda a possibilidade de diferentes outras rotações como milho, mandioca, mucuna e milheto, por exemplo.

“A ideia dos corredores agroecológicos é viabilizar o equilíbrio ecológico de determinada área, conforme os interesses e possibilidades do agricultor. Tratos culturais e manejo poderão variar, mas a diversidade é buscada para facilitar o controle biológico de pragas e doenças, assim como o controle de plantas daninhas. A intenção é imitar o que existe na natureza”, afirmou o pesquisador responsável pelo trabalho, Agostinho Didonet, da Embrapa.

Além desses pontos destacados, um aspecto fundamental é a conservação de recursos naturais, principalmente, o solo. Todo manejo realizado com a inserção de adubos verdes está também voltado para o enriquecimento do solo com matéria orgânica e para o favorecimento da retenção de água, da reciclagem de nutrientes e do condicionamento químico, físico e biológico do solo.

Esse trabalho integra o projeto de pesquisa: “Corredores agroecológicos como estratégias para produção de alimentos e sementes, focados no manejo da agrobiodiversidade e sustentabilidade de pequenas propriedades familiares – Agrobio II”, coordenado pela Embrapa Cerrados, que abrange pequenas propriedades nos municípios de Catalão, Silvânia e Pirenópolis (GO).

Resíduo vira adubo

Complementar à estratégia de usar plantas que funcionam como adubos, os adubos verdes, para o manejo agroecológico do solo, a Embrapa vem estudando a viabilidade e o efeito de fertilizantes alternativos. O objetivo é ter opções que sejam de baixo custo e que proporcionem o reaproveitamento de resíduos já existentes nas propriedades, a fim de enriquecer o solo com nutrientes para as plantas crescerem e produzirem.

A pesquisadora da Embrapa, Flávia Alcântara, realiza estudos com fertilizantes orgânicos junto a propriedades familiares da região de Orizona (GO), buscando aproveitar como adubo resíduos advindos da pecuária leiteira, cultivos de grãos, hortaliças e fruteiras.

“A intenção é utilizarmos matérias primas locais, de preferência presentes nas próprias propriedades. A partir disso, avaliamos formulações e métodos de produção de composto orgânico. Em Goiás, especificamente, materiais muito comuns são esterco bovino, folhas de bananeira e capins diversos. Geralmente, utilizamos 25% de resíduos de origem animal para 75% de resíduos vegetais. As formulações também podem ser enriquecias com fontes minerais de fósforo, não sintéticas, como o termofosfato magnesiano, ou com pós de rocha”, disse Flávia.

Ela destacou ainda um dos diferenciais desse trabalho que é a participação dos agricultores. “Eles são experimentadores e, ao mesmo tempo, agentes de multiplicação dos métodos de produção e uso dos fertilizantes, capacitando outras pessoas em suas próprias propriedades, que se transformam em pólos irradiadores do conhecimento”, afirmou a pesquisadora.

Lourenço Sebastião de Mesquita, da Cooperativa de Agricultores Familiares de Buritizinho, município de Orizona, é uma dessas pessoas que participa do trabalho de pesquisa com fertilizantes orgânicos e acredita nos benefícios. “Eu creio que para o pequeno produtor seja uma das alternativas mais viáveis, porque há o aproveitamento de resíduos que existem na propriedade e, com isso, pode-se reduzir custos e melhorar a produção”, considerou Lourenço. As atividades com fertilizantes orgânicos das quais a pesquisadora Flávia coordena fazem parte do Projeto Compostar.

Mais de 400 participantes

No dia 17 de fevereiro, a Fazendinha Agroecológica da Embrapa, em Santo Antônio de Goiás (GO), recebeu mais de 400 pessoas interessadas em ver de perto os trabalhos com o plantio de diferentes espécies, buscando a segurança alimentar, o manejo de pragas e doenças; e a fertilidade e conservação de solo. Houve um dia de campo abordando os corredores agroecológicos, os fertilizantes orgânicos, e as variedades tradicionais e crioulas de arroz e de feijão para comunidades de agricultores.

Na ocasião, foram inaugurados o centro de treinamento da Fazendinha Agroecológica e a unidade de produção de fertilizantes orgânicos. Todas essas instalações foram conseguidas, a partir de emenda parlamentar aprovada pela senadora Lúcia Vânia que compareceu no dia de campo. Em pronunciamento, a senadora considerou que parte de seu trabalho é obter recursos para o desenvolvimento da pesquisa e da transferência de tecnologia no país e no Estado de Goiás, que tem vocação para o campo.

Por Rodrigo Peixoto, Embrapa Arroz e Feijão

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 06/03/2017

Vitaminas do complexo B podem ajudar a reduzir danos causados pela poluição do ar

Da Agência Xinhua / ABr

Tomar vitaminas do complexo B pode ajudar a reduzir alguns dos efeitos nocivos da poluição do ar, mostra estudo divulgado nessa segunda-feira. A informação é da Agência Xinhua.

A pesquisa, coordenada por Jia Zhong, da Escola de Saúde Pública Mailman, da Universidade de Columbia, revelou que as vitaminas do complexo B, como o ácido fólico e as vitaminas B6 e B12, podem desempenhar papel fundamental na redução do impacto da poluição do ar sobre um tipo específico de modificação genética, que tem sido associada a doenças cardiovasculares e até mesmo ao câncer.

“O fundamento molecular mecanicista dos efeitos sobre a saúde da poluição do ar não são totalmente compreendidos, e a falta de opções preventivas individuais representa lacuna crítica de conhecimento,” escreveram Zhong e seus colegas em um artigo.

“Nosso estudo demonstrou os efeitos epigenéticos da poluição do ar e sugeriu que as vitaminas B poderiam ser usadas como prevenção para complementar as regulamentações e atenuar o impacto dessa poluição”.

O estudo, feito com pesquisadores da Escola de Saúde Pública TH Chan de Harvard, na Suécia, China, Cingapura, México e Canadá, foi publicado online na revista americana Proceedings of The National Academy of Sciences.

Os pesquisadores administraram um placebo ou suplemento de vitamina B (2,5 mg de ácido fólico, 50 mg de vitamina B6 e 1 mg de vitamina B12) diariamente a cada adulto recrutado para o estudo, que incluía dez pessoas.

Para participar da intervenção, os voluntários deveriam ser não fumantes, saudáveis, de 18 a 60 anos de idade, que não estivessem tomando quaisquer medicamentos ou suplementos vitamínicos.

Os resultados mostraram que a suplementação de quatro semanas com vitamina B pode reduzir de 28% a 76% o dano causado pela exposição às partículas PM2,5, com diâmetro aerodinâmico de 2,5 ou menos.

Zhong disse à Xinhua que o estudo ainda está em fase inicial e que atualmente não conseguiram recomendar a suplementação de vitaminas do complexo B.

Em vez disso, ela sugeriu manter uma dieta saudável e equilibrada, com fontes suficientes de vitaminas do complexo B.

Em geral, essa suplementação deve ser considerada com base na condição do indivíduo e em consulta com a recomendação de um médico, acrescentou.

“Embora o controle e a regulação de emissões sejam a espinha dorsal da prevenção, as altas exposições são, infelizmente, a regra ainda em muitas megacidades em todo o mundo,” disse Andrea Baccarelli, professora e catedrática do Departamento de Ciências da Saúde Ambiental da Escola Mailman.

“Como indivíduos, temos poucas opções para nos proteger contra a poluição do ar, especialmente em áreas fortemente poluídas, são urgentemente necessárias validar nossas descobertas e, finalmente, desenvolver intervenções preventivas usando vitamina B para conter os efeitos da poluição do ar na saúde,” acrescentou Andrea.

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 15/03/2017

Plantas brasileiras recém-descobertas já correm risco de extinção

Plantas brasileiras recém-descobertas já correm risco de extinção. Entrevista especial com Renato Goldenberg
Foto: IHU

IHU

Apesar de a biodiversidade brasileira ser conhecida no mundo todo como a mais rica e diversificada do planeta, ainda existem enormes dificuldades e desafios quando se trata de conhecer a flora de regiões como o Sul da Bahia, o Espírito Santo e a Amazônia, diz o engenheiro agrônomo e biólogo Renato Goldenberg à IHU On-Line, na entrevista a seguir, concedida por telefone.

Pesquisador do projeto “Diversidade da flora vascular e status de conservação das espécies endêmicas em três unidades de conservação da Floresta Atlântica Montana no estado do Espírito Santo”, Goldenberg tem pesquisado e classificado novas espécies de plantas no Espírito Santo e afirma que mesmo espécies recém-descobertas já correm risco de extinção. Segundo ele, isso ocorre, de um lado, porque há dificuldades em estudar as plantas dessas regiões, visto que o “histórico de coletas é muito pobre” se comparado a grandes centros como São Paulo e Rio de Janeiro e, de outro, porque as espécies descobertas “ocorrem em uma área intensamente habitada na periferia da região metropolitana de Vitória, e é muito difícil conservar qualquer espécie da biodiversidade em regiões como essa por conta da superpopulação”.

Na entrevista a seguir, Goldenberg também comenta a necessidade de se pesquisar a biodiversidade da Amazônia e do Cerrado. “É mais urgente estudarmos a flora da Amazônia, justamente porque não a conhecemos completamente. De outro lado, em razão da taxa de destruição, é urgente estudarmos o Cerrado, porque em meio século ele deixará de existir”, aconselha. Apesar dessa demanda, frisa, “agora existe o risco de não conseguirmos tocar os projetos” por conta da crise brasileira.
Renato Goldenberg | Foto: UFPR

Renato Goldenberg é graduado em Engenharia Agronômica pela Universidade de São Paulo – USP, mestre e doutor em Biologia Vegetal pela Unicamp. Atualmente é professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – Como está sendo feita a sua pesquisa de identificação e classificação de novas plantas em três unidades de conservação no Espírito Santo? Essa pesquisa se restringe a áreas do Espírito Santo ou envolve outras regiões do país?

Renato Goldenberg – O projeto do qual essa pesquisa faz parte foi financiado pela Fundação Grupo Boticário da Natureza em 2008. O projeto financiou a coleta, por parte da nossa equipe, de plantas em três Unidades de Conservação – UCs no Espírito Santo. Depois que essas plantas são coletadas, há um longo processo de maturação e identificação de todas elas, justamente porque a identificação das espécies é muito demorada. Uma planta coletada em 2009, por exemplo, há sete anos, fica num herbário pelo qual passam especialistas do mundo todo. No Brasil, em geral, essas plantas ficam no herbário do Jardim Botânico do Rio de Janeiro.

Para saber se uma determinada espécie de planta é nova ou não, primeiro temos que ter acesso a toda a bibliografia já publicada sobre esse gênero, e isso inclui analisar os materiais fundadores, ou seja, trabalhos sobre tipos nomenclaturais publicados em francês, em 1850, em inglês, em 1871, e em latim, em 1828, os quais nos permitem identificar as famílias das plantas. A maior parte desses trabalhos não está no Brasil e essa é uma grande dificuldade que temos ao trabalhar com diversidade, justamente porque as primeiras espécies descobertas no Brasil foram descritas no final do século passado, e os primeiros coletores e botânicos não eram brasileiros, mas alemães, franceses, ingleses ou norte-americanos. Logo, os tipos nomenclaturais estão listados no exterior e a pesquisa sobre a identificação de novas espécies se torna mais difícil.

Para saber se a espécie de uma planta é nova, tenho que compará-la com toda a bibliografia existente, ou seja, não pode ser com 99% da bibliografia, mas com 100%. Além disso, é preciso comparar todos os tipos nomenclaturais, e com base nessas comparações chegamos à conclusão de se a espécie é nova ou não. Apesar de todo esse processo, nossa finalidade não é descrever uma espécie nova, e sim compreender quais são as espécies que existem.

Biodiversidade desconhecida

Feita essa explicação inicial sobre como funciona o processo de descobrir e descrever novas espécies, posso dizer que a Mata Atlântica é um ambiente biodiverso e algumas regiões da Mata Atlântica são mais bem amostradas do que outras regiões do país, justamente porque toda a região do Rio de Janeiro, principalmente a que está localizada atrás dos morros cariocas, foi o primeiro lugar em que se começou a coletar espécies no Brasil. O Rio de Janeiro tem dois dos cinco maiores herbários do país. Do mesmo modo, São Paulo e os estados do Sul têm várias universidades que possuem herbários importantes. O problema começa justamente quando queremos conhecer a biodiversidade de estados como o Espírito Santo ou de regiões como a do sul da Bahia, que são lugares extremamente diversos desses estados que mencionei anteriormente e onde o histórico de coletas é muito pobre.

A verdade é que nós botânicos – e com isso vou fazer uma autocrítica -, costumamos sempre coletar as espécies nos mesmos lugares, o que dificulta a descoberta de novas espécies

Sabemos que existem diversas espécies restritas que ocorrem só nesses lugares e que nunca foram coletadas. Logo, tentando responder a sua pergunta, a pesquisa foi realizada no Espírito Santo justamente para tentar identificar a biodiversidade da região. Entretanto, o ritmo de descrição das espécies novas é proporcional ao conhecimento da flora. Assim, a quantidade de espécies novas descritas para São Paulo, Rio de Janeiro, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul é superbaixa, enquanto a quantidade de novas espécies existentes no Espírito Santo e na Bahia é enorme. Nos últimos 15 anos pesquisando a biodiversidade do Espírito Santo, só eu, trabalhando individualmente com uma família, já descrevi entre 20 e 30 espécies. Na Bahia, por exemplo, também foram encontradas entre 20 e 30 novas espécies.

IHU On-Line – Que outras regiões do Brasil ainda são potenciais para o descobrimento de novas espécies, além da Bahia e do Espírito Santo?

Renato Goldenberg – A verdade é que nós botânicos – e com isso vou fazer uma autocrítica -, costumamos sempre coletar as espécies nos mesmos lugares, o que dificulta a descoberta de novas espécies. Ainda existem vários locais ao longo da Mata Atlântica que são pouco coletados por dificuldade de acesso. Mesmo nos estados em que são feitas muitas coletas, como no Rio de Janeiro e em São Paulo, muito material novo e desconhecido ainda pode ser coletado. Além do Espírito Santo e da Bahia, existem algumas regiões mais ao Norte, no Nordeste, de altitude mais elevada, onde existem florestas mais úmidas, que também são lugares ricos em biodiversidade, mas onde são realizadas poucas coletas. Especialmente nas montanhas do Espírito Santo e da Bahia e ao Leste e ao Sul de Minas Gerais, ainda existem bastantes espécies para serem conhecidas.

IHU On-Line – Em quais biomas brasileiros as plantas são mais desconhecidas?

Renato Goldenberg – No Brasil como um todo, certamente na Amazônia e, nesse sentido, é mais urgente estudarmos a flora da Amazônia, justamente porque não a conhecemos completamente. De outro lado, em razão da taxa de destruição, é urgente estudarmos o Cerrado, porque em meio século ele deixará de existir.

IHU On-Line – Um dos fatos que chamam a atenção na sua pesquisa é que algumas das plantas recém-descobertas correm risco de extinção. Já é possível identificar os fatores que põem essas plantas em risco e que medidas poderiam ser tomadas para que a espécie possa se desenvolver?

Renato Goldenberg – Primeiro vou explicar como analisamos e como entendemos o risco de extinção e depois vou comentar o tópico da conservação. Existem critérios técnicos que determinam se uma espécie corre ou não risco de extinção: o primeiro deles leva em conta a distribuição geográfica da espécie, e o segundo critério considera o local onde essas plantas ocorrem, justamente para verificar se a quantidade de plantas no local é pequena ou não, se o local é ameaçado por algum tipo de empreendimento, por mudanças climáticas ou pelo que quer que seja.

O que acontece com essas espécies descobertas no Espírito Santo é que elas ocorrem em uma área intensamente habitada na periferia da região metropolitana de Vitória, e é muito difícil conservar qualquer espécie da biodiversidade em regiões como essa por conta da superpopulação. Nós coletamos essas espécies no campo e encontramos, para duas dessas espécies, populações superpequenas. As duas espécies que estão ameaçadas têm pelo menos uma população de cada uma delas dentro de uma Unidade de Conservação, que é a Reserva Biológica de Duas Bocas, no município de Cariacica. Ainda assim elas estão sob risco porque a quantidade de plantas existentes é muito pequena. É possível que daqui a alguns anos alguém colete plantas iguais em outros lugares e, por conta disso, podemos mudar a estatística em relação ao risco de extinção delas, embora seja pequena a probabilidade de plantas como essas serem encontradas em outros lugares.

Então, devido à distribuição geográfica restrita, à ocorrência de pouquíssimas espécies e à pressão que ocorre sobre essas áreas naturais onde essas plantas se desenvolvem, elas têm um risco de extinção bastante alto. Elas só não estão criticamente em perigo porque existem populações dentro das Unidades de Conservação. Apesar disso, há uma preocupação com o desenvolvimento dessas espécies, justamente porque está em curso uma revisão de áreas de proteção ambiental no país para atender a interesses econômicos.

É necessário minimamente mantermos as Unidades de Conservação tais como elas estão

Sobre a segunda parte da sua pergunta, acerca de como preservar essas espécies que estão em extinção, eu diria que em primeiro lugar é preciso conter o que o governo está querendo fazer, ou seja, é fundamental não intensificar a atuação humana sobre as Unidades de Conservação. É necessário minimamente mantermos as Unidades de Conservação tais como elas estão. Em segundo lugar, diria que existem ações individuais que podemos efetuar sobre essas plantas. Essas ações envolvem a conscientização das pessoas que vivem ao redor dessa biodiversidade, e a conscientização da administração das UCs de que existem plantas que só ocorrem em determinadas Unidades.

IHU On-Line – Há um discurso recorrente sobre a importância de se conhecer e preservar a biodiversidade brasileira. Nesse sentido, quais são os incentivos dados para a realização desse tipo de pesquisa no país?

Renato Goldenberg – Você me faz essa pergunta em uma época muito difícil para nós. Sempre foi difícil fazer pesquisa no Brasil, porque nunca recebemos muitos incentivos, principalmente em termos financeiros, mas pelo menos existiam instituições com um peso e com recursos humanos suficientes para manter esse tipo de pesquisa andando. Hoje em dia não sabemos se teremos universidade pública e financiamento do CNPq para os próximos anos; aliás, não sei se terei meu emprego como professor da universidade pública daqui a cinco anos, porque a pressão atualmente é muito grande. Os cortes recentes no CNPq não são restritos à nossa área; os cortes de verbas e de financiamento do CNPq são para o país inteiro, para todos os pesquisadores. Portanto, não é só esse tipo de pesquisa que desenvolvo que está correndo perigo, na verdade é todo o sistema de ensino e pesquisa no Brasil que está em risco.

O incentivo e o investimento sempre foram insuficientes no país, mas era um insuficiente com o qual conseguíamos dar andamento aos trabalhos. Agora, no entanto, existe o risco de não conseguirmos tocar os projetos. Desculpe meu pessimismo, talvez seja exagerado, mas hoje temos, basicamente, financiamentos do governo e de algumas poucas fundações particulares. Inclusive, no Brasil há muito poucas fundações particulares que apoiam a pesquisa. Existem alguns programas da Fundação Boticário e da Natura, principalmente da Fundação Boticário que, tradicionalmente, financia pesquisa, especificamente, de conservação e em alguns casos de conhecimento das espécies nativas para a conservação. Fora isso, a maior parte dos programas de financiamento é feita pelo CNPq.

IHU On-Line – De outro lado, existem financiamentos de fundações estrangeiras que têm interesse em estudar a biodiversidade brasileira?

Renato Goldenberg – Não. O que existem são iniciativas individuais de alguns poucos pesquisadores. São projetos de pesquisadores estrangeiros, que envolvem pesquisadores brasileiros, e eu mesmo faço parte de um desses projetos. Cada país financia a sua pesquisa com restrições ao financiamento de pesquisadores estrangeiros, e isso é completamente compreensível. Eu participo, por exemplo, de um projeto com um grupo de pesquisadores do Jardim Botânico de Nova York. Não recebo nenhum incentivo financeiro para isso. Eles me dão apenas um “apoio moral”, e a nossa produção científica é boa por causa deles, porque eu posso enviar alunos para trabalhar nos laboratórios de lá, o que é bastante importante, e eles financiam pesquisas de campo quando vêm fazer alguma pesquisa no Brasil.

No país existe um grande preconceito e medo em relação aos pesquisadores estrangeiros que vêm para cá, porque em geral se acha que eles vão roubar nossas pesquisas ou a biodiversidade, mas não é o caso, eles não têm a intenção de levar o nosso patrimônio para fora.

(EcoDebate, 12/05/2017) publicado pela IHU On-line, parceira editorial da revista eletrônica EcoDebate na socialização da informação.

[IHU On-line é publicada pelo Instituto Humanitas Unisinos – IHU, da Universidade do Vale do Rio dos Sinos Unisinos, em São Leopoldo, RS.]

9 verdades e 1 mentira sobre doenças cardiovasculares

Inspirado na corrente “9 verdades e 1 mentira”, que circula pelo Facebook, a Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP) elenca alguns fatores de risco para doenças cardíacas

Em 2016, ocorreram 349 mil óbitos por doenças cardiovasculares no Brasil, um aumento de 1,39% em relação a 2015. Mesmo sabendo da importância da prevenção e sobre os fatores de risco que desencadeiam doenças cardiovasculares, algumas pessoas não conseguem aderir uma rotina e hábitos alimentares mais saudáveis.

Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) indicam que, a cada ano, 17,3 milhões de pessoas falecem em todo o mundo vítimas de doenças cardiovasculares. A estimativa para 2030 é preocupante, pois o total de óbitos deverá chegar a 23,6 milhões.

Confira, a seguir, as verdades e a mentira sobre doenças cardiovasculares:

Etnia – Existem fatores de risco não evitáveis, controláveis ou tratáveis, como a etnia. Certos grupos étnicos têm maior risco para desenvolver doenças cardiovasculares.

Hipertensão – A Hipertensão Arterial Sistêmica (HAS) ou Pressão Alta (PA), sozinha, é a principal causa de doenças do coração, dos rins, de Acidente Vascular Cerebral, de comprometimento das artérias e dos olhos, além de matar mais que doenças como câncer e até mesmo a AIDS.

História familiar – Se familiares próximos, como pais e irmãos, têm ou tiveram problemas do coração, as pessoas têm mais chances de desenvolver as mesmas doenças. Este é mais um fator de risco não evitável, controlável ou tratável, mas serve de alerta para os membros da família.

Idade – Com o envelhecimento, aumentam os problemas que afetam a saúde do coração e, consequentemente, os riscos de desenvolver doenças também aumentam. Outro fator de risco não evitável, controlável ou tratável, mas serve de alerta para os membros da família.

Estresse excessivo – Consequência do ritmo da vida moderna, o estresse é inevitável e é preciso aprender a conviver porque também está relacionado ao aumento do risco cardíaco.

Bebida alcoólica – O consumo excessivo de álcool pode ser danoso à saúde do coração e está relacionado ao desenvolvimento de hipertensão, alteração no ritmo do coração e aumento de peso.

Colesterol elevado – Elemento importante para vários processos orgânicos, entre eles, a formação das células, a produção de hormônios, de vitamina D e de ácidos que ajudam a digerir as gorduras. O problema é que o ser humano necessita apenas de uma pequena quantidade de colesterol no sangue, produzida quase que totalmente pelo fígado. O excedente acaba se acumulando nas paredes das artérias, aumentando o risco de problemas cardiovasculares, como infarto do miocárdio ou acidente vascular cerebral.

Sedentarismo – A falta de atividade física é importante fator de risco para as doenças cardiovasculares. O sedentarismo contribui para o desenvolvimento de hipertensão arterial, obesidade, diabetes, colesterol elevado e outras doenças.

Tabagismo – A maior causa evitável de mortes no mundo é o tabagismo. Os fumantes têm o risco de morte súbita até quatro vezes maior do que não fumantes. O vício do cigarro aumenta as chances de ter infarto do miocárdio, Acidente Vascular Cerebral, conhecido como derrame, angina e outras doenças, como câncer.

Apenas obesos têm problemas no coração – A obesidade é apenas um dos fatores que fazem acelerar o processo de aterosclerose coronária, podendo aumentar a chance de o indivíduo desenvolver hipertensão arterial, diabetes e doença cardíaca, mas as pessoas magras também podem ser afetadas, principalmente se tiverem fatores de risco.

Fonte: Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP)

in EcoDebate, ISSN 2446-9394, 05/05/2017