Sobre a importância dos quintais, cada vez mais desaparecidos e, com isso, as nossas raízes também.
sexta-feira, 19 de janeiro de 2018
quinta-feira, 18 de janeiro de 2018
Alelopatia e a produção de princípios ativos em plantas medicinais
Texto:
Giovanna Brito Lins - Bacharelado em Ciência e Tecnologia e bacharelado em Biologia - UFABC - Universidade Federal do ABC
A alelopatia é um fenômeno caracterizado pela liberação de substâncias químicas sintetizadas por um organismo que possam afetar direta ou indiretamente a coexistência de outros seres vivos em um ambiente.
Estes compostos bioativos, denominados por aleloquímicos, estão comumente associados aos mecanismos de defesa fisiológica nas plantas, determinando algumas relações ecológicas entre animais (geralmente insetos), bactérias, fungos e outras plantas. Desta forma, possuem aplicabilidade na agricultura, como na área dos defensivos agrícolas, principalmente.
Os aleloquímicos também podem estar associados à medicina. O eucalipto (Eucalyptus sp.) produz óleo essencial que apresenta efeito inibitório sobre a germinação de sementes e o desenvolvimento de outras plantas, ou reduzem a produção destas (CREMONEZ et al., 2013) (1). Este mesmo óleo é explorado por suas propriedades antibióticas, analgésicas e expectorantes, devido à presença de terpenos, além de efeitos antioxidantes causados por flavonoides envolvidos nos sistemas de defesa da planta (2).
Outro exemplo é a pesquisa de Bitencourt (2011), que demonstrou que o extrato de pinhão-manso (Jatropha curcas L.) é eficiente para tratamento de dermatites, comprovando a ação bactericida contra Staphyloccocus aureus, S. saprophyticus e S. epidermidis (3). Sousa et al. (2009) comprovaram que o extrato de pinhão-manso apresenta uma efetiva toxidez a alguns grupos de insetos considerados pragas agrícolas no Brasil (4).
Picão-preto (Bidens pilosa L.), espécie com ação alelopática comprovada, possui vários componentes químicos tóxicos que eliminam bactérias e fungos (5). Pereira et al. (1999) verificaram ação anti-inflamatória de extratos de picão-preto e concluíram que o extrato pode ajudar a fortalecer e proteger seres humanos de lesões. Além disso, o extrato é capaz de inibir a síntese de ciclooxigenase (COX) e prostaglandinas, as quais estão relacionadas ao processo inflamatório (5).
Portanto, muitas das substâncias liberadas no fenômeno da alelopatia possuem também ação medicinal. Pode-se concluir que quando uma planta é estimulada para se defender de outra, ocorre aumento na produção das substâncias alelopáticas e, consequentemente, aumento na eficácia medicinal.
Fontes:
1. CREMONEZ et al. Principais plantas com potencial alelopático encontradas nos sistemas agrícolas brasileiros.
2. Eucalipto.
3. BITENCOURT. Desenvolvimento de cosmecêuticos a partir de extratos bacterianos de pinhão manso (Jatropha curcas L.)
Disponível em: http://portal.ftc.br/bioenergia/dissertacoes/Disserta%C3%A7%C3%A3o%20%20Mauro%20Bitencourt.pdf
4. SOUSA et al. Atividade inseticidade de genótipos de pinhão manso para insetos-praga de produtos armazenados
Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/228453715_Atividade_inseticidade_de_genotipos_de_pinhao_manso_para_insetos-praga_de_produtos_armazenados
Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/228453715_Atividade_inseticidade_de_genotipos_de_pinhao_manso_para_insetos-praga_de_produtos_armazenados
5. Plantas medicinais e suas indicações terapêuticas.
Disponível em: http://www.ced.net.br/fitoterapia/Plantas%20Medicinais%20e%20Indica%C3%A7%C3%B5e%20%201a%20parte.pdf
6. PEREIRA et al. Immunosuppressive and anti-inflammatory effects of methanolic extract and the polyacetylene isolated from Bidens pilosa L.
Disponível em: Immunosuppressive and anti-inflammatory effects of methanolic extract and the polyacetylene isolated from Bidens pilosa L. - ScienceDirect
quarta-feira, 17 de janeiro de 2018
terça-feira, 16 de janeiro de 2018
Sobre o site kaaete.org
O Projeto Ka'a-eté surgiu como uma pequena ideia de mapear Plantas Comestíveis Não Convencionais, mas acabamos descobrindo que podíamos ir muito além disso. Nossa missão é criar uma base de conhecimento livre sobre plantas alimentícias não convencionais que incentive e resgate a cultura de consumo desses alimentos como uma estratégia para o combate a fome por meio de uma rede de conexão entre produtores e consumidores numa dinâmica de economia social e criativa.
São várias plantas cadastradas.
Exemplo do conteúdo de cada ficha:
Assa peixe
Assa peixe, assa-peixe-branco, cambará-guaçu
Vernonanthura phosphorica
1 a 3 metros de altura, vive por anos. Rizomas, poucos ramos, pelos distribuidos, cor cinza ou roxa. Textura semelhante ao papel, parte superior rugosa, inferior com pelos finos e brancos, 10 a 22cm. Ramo amplo com flores brancas.
O que são PANCS? do site: kaaete.org
"Plantas Alimentícias Não Convencionais", é um termo que abrange uma quantia enorme de plantas. Algumas análises trazem a informação de que temos 26 mil espécies com potencial alimentício.
Exemplos:
- Árvores das quais os frutos são subutilizados. Ex.: BUTIÁ.
- Consumida em alguma região brasileira, mas subutilizada no restante. Ex.: ERVA MATE
- Nasce espontaneamente. Ex.: CAPUCHINHA.
-Planta usada com fins paisagísticos, além de ser comestível. Ex.:HIBISCO.
- Plantas de sabor e características incríveis, mas pouco cultivada. Ex.: MANGARITO.
PANCs é um mundo de sabor e cor ainda desconhecido pela maioria, é a biodiversidade pela boca, é o resgate da cultura alimentar local, de alimentos ancestrais, sabores, técnicas, sabedoria, resgate da natureza.PANCs são as plantas da periferia, sucateadas, esquecidas, negligenciadas. PANCs nascem no cimento, na brecha da rua, na casa da vó, na aldeia, no meio de monocultura, na praça, no jardim, na horta caseira, no terreno abandonado.
São resistência e autonomia, tem nutrientes e propriedades medicinais. São vida, são vivas!
Caso não goste do sabor de uma ou outra, não te preocupe, tem muitas para experimentar.Bom plantio, Boa colheita, Bom novo ciclo.
Link:
Saião, Picão Preto e Caruru são algumas das PANCS que podem fazer parte da sua mesa
O agrônomo e produtor rural Raul Porto Serrichio fala sobre os usos e propriedades medicinais dessas plantas
Marianna Rosalles
Brasil de Fato | São Paulo (SP),4 de Agosto de 2017 às 15:55
Caminhada de identificação das PANCS no extremo sul de São Paulo / Arquivo pessoal
As Plantas Alimentícias Não Convencionais podem estar presente em sopas chás, saladas, entre outras receitas. Elas inclusive podem ser utilizadas para fins terapêuticos.
Hoje, o agrônomo e produtor rural Raul Porto Serricchio vai apresentar algumas delas e suas propriedades, a começar por duas plantas bastante encontradas no país, o Saião e o Picão Preto.
"Tem duas plantas que eu acho bem interessantes e que praticamente você encontra por todo o Brasil que é o Saião e o Picão Preto. O Saião, além de ter um uso medicinal já consagrado, ela tem um uso como Planta Alimentícia Não Convencional. Você pode fazer um suco verde para tomar, acrescentando limão, ou pode fazer uma salada. E o Picão preto que também é uma planta consagrada de uso medicinal, bem reconhecida, é uma planta muito rica em sais minerais, então é importante que você consuma em sua dieta, e é uma planta de fácil crescimento, é uma planta espontânea.", explica o agrônomo.
Uma outra PANC que fazia parte da mesa do brasileiro e tem voltado com força total é o Caruru. "Ela é espontânea, e foi muito usada. Ainda do que a gente chama de PANCS e se ouvia falar com uma certa frequência e algumas pessoas ainda fazem uso é o Caruru, ou Bredo, o famoso bolinho de Caruru, que é rico em ferro! Tem muita gente que ainda não conhece mas falando pelas minhas andanças por aí ela é uma das plantas que não se perderam no conhecimento e no uso. Então ela é uma planta rica em sais minerais, e ela responde muito bem no caso quando a gente está cultivando, em um solo com bastante matéria orgânica ela se desenvolve muito bem."
Além dessas, o Raul nos contou sobre a Ora-pro-nóbis, bastante conhecida entre as pessoas que não consomem proteína animal. "Outra planta interessante é a Ora-pro-nóbis, que está bem famosa, está todo mundo falando dela né, que é a proteína vegetal que ela chega a ter de 25% a até 30% de proteína. Esse alto teor de proteína é quando a folha já está desidratada. Se você pegar ela verde para fazer um bolo ou incrementar alguma coisa, um suflê por exemplo, ela não vai ter aqueles 25% ou mais de proteína. Se você é uma pessoa que é vegetariana ou vegana que está buscando a ora-pro-nóbis como fonte de proteína, lembre-se, ela em base seca, desidratada ou em pó tem 25% ou mais de proteína.
Viu só? Tem muito mais coisas nos quintais e jardins do que se imagina, que inclusive podem se transformar em alimento e ocupar a mesa dos brasileiros.
Edição: Anelize Moreira
Link:
PANCs, para alimentar o mundo - site www.ufrgs.br/vies
“Tudo foi mato um dia, até as pessoas descobrirem que aquilo se poderia comer, com as plantas mudando de categoria e inaugurando um novo paradigma alimentar.” Valdely Kinupp
No mundo existem 7 bilhões de pessoas, e até 2050 seremos 9 bilhões, como alimentar tantas pessoas, é uma questão que ganha força quando se pensa que mais de um bilhão de pessoas passam fome. No entanto a produção bruta de alimentos também cresce assim como o numero de pessoas obesas no mundo que já ultrapassa a casa dos bilhões.
Por isso talvez seja uma questão de distribuição e raridade. De Distribuição, pela situação de a comida não chegar às pessoas que mais precisam. E raridade, pois existem muitas monoculturas, a dieta da maioria das pessoas é baseada em poucos alimentos e o ciclo de produção calcado na demanda que mantém a situação. Esse “vício” é prejudicial inclusive para o meio ambiente, a agricultura já é uma das atividades que mais prejudicam o planeta. Não só no caso do desmatamento, para abrir espaço para monoculturas, mas também toda a emissão de gases-estufa provocada pela industrialização da agricultura. “A ideia de que somos cada vez mais numerosos e por isso precisamos produzir mais é equivocada. Precisamos é produzir melhor. Menos da metade dos grãos hoje em dia é destinada à alimentação, enquanto a maior parte serve para fabricar rações animais, biocombustíveis e outros produtos industriais.”, essa é a posição de Benedikt Haerlin, da fundação Zukunftsstiftung Landwirtschaft, que apoia projetos ecológicos.
Por outro lado, o preço cada vez mais caro, e muitas vezes flutuante, onera quem tem condições de comprá-los. Para a maioria dos países, assim como o Brasil, a dieta é muito baseada em alimentos, no caso plantas, exóticos. E para suprir essa demanda, há duas possibilidades. Primeiro pode-se importar a comida, aumentando o custo final, e pior, fortalecendo o sistema de monocultura no país de origem, e no outro cria uma dependência perigosa e desnecessária. A segunda é plantá-las no próprio país o que demanda muitos cuidados, fora que por estarem fora de seu habitat natural se tornam muito suscetíveis a mudanças, não resistindo facilmente.
“Se fala que a Amazônia vale trilhões. Vale nada. As pessoas estão passando fome lá. Muita gente vivendo precariamente, como aqui, na famosa Porto Alegre, com sua periferia cheia de pessoas comendo mal, sentindo frio ao dormir. Não adianta termos uma biodiversidade imensa na Região Metropolitana se não a comemos ou a utilizamos de forma sustentável para outros fins. Muito menos geramos divisas e empregos, porque ninguém planta.” Valdely Kinupp
Para lutar contra esse contexto insustentável, podemos fazer a nossa parte não desperdiçando comida e aproveitando melhor os alimentos. Além disso, podemos diversificar a nossa alimentação. Usar alimentos nativos, e até que não consideramos alimentos ainda. É ai que as PANCs entram.
Texto completo no link:
Pancs – A revolução alimentar - do site astrolabio.org.br
LINK DO TEXTO:
Alimentação alternativa e investigativa, saiba sobre as plantas alimentícias não convencionais, o projeto Ka'a-eté e as Pancs do Tear
por Milena Vilma e Bruna
Da edição 08 - Outras Ecologias
astrolábio nº 21 ano II set. 2017
Alimentação e nutrição são processos essenciais na manutenção da vida dos seres vivos no planeta e ocorrem de forma bastante complexa e interligada entre múltiplos agentes e relações no cotidiano. Essa reflexão é importante, tendo e vista a estada dos seres humanos neste solo e suas diversas intervenções no meio ambiente. Atualmente, vivemos em uma sociedade bastante conturbada e cheia de práticas nocivas ao nosso lugar comum, Terra.
Entre os impasses societários existentes hoje quando pensamos na cadeia de produção de alimentos, especialmente no Brasil, destacam-se importantes problemas a serem transpostos: o crescente aumento de doenças crônicas não transmissíveis e cânceres na população; o abusivo uso de agrotóxicos em monoculturas na agricultura nacional; o constante desperdício de alimento, que começa na colheita e termina nas residencias; o fenômeno da fome que ainda está presente nos nossos dias. O desafios são muitos e estão postos para aqueles que estão atentos a esses movimentos e possuem em si motivação para enfrentá-los.
É com este plano de fundo que nasce o projeto Ka’a-eté, uma base de conhecimento livre sobre plantas alimentícias não convencionais que incentive e resgate da cultura de consumo desses alimentos como uma estratégia para o combate a fome por meio de uma rede da conexão entre produtores e consumidores numa dinâmica de economia social e criativa.
Ka’a-eté é uma palavra tupi guarani que significa Mata Importante, Ka’a representa Mata e Eté representa Importante. O motivo de se trabalhar com nessa temática deriva das potencialidades ambientais, sociais e econômicas do consumo e manejo das Plantas Alimentícias Não Convencionais (PANC). Sabe-se que 60% do quadro alimentar atual da população mundial é composta por poucas variedades vegetais, especialmente de arroz, trigo e milho, sendo que estimativas trazem a informação da existência de mais de 26 mil espécies com potencial alimentício. As PANC são centro de estudos de muitos pesquisadores desde a década de 80 a nível internacional, no Brasil, as pesquisas de Valdely Kinupp na primeira década dos anos 2000 tem sido um marco teórico para diversas ações. O consumo dessas plantas nos possibilita uma nova experiência alimentar, mais saudável, sustentável e solidária.
A ideia do Ka’a-etê é agregar essa vivência ao mundo técnológico por meio de um aplicativo é a proposta dessa iniciativa.O projeto é integrado por seis pessoas implicadas com os temas de agroecologia, segurança alimentar e nutricional, tecnologia e economia criativa. Uma convergência da vida que tem agregado seus conhecimentos e vivências para o desenvolvimento deste trabalho. Cinco destes integrantes estão participando de um desafio mundial de empreendedorismo na temática de combate à fome chamado Thought For Food (TFF Challenge) que te como questão norteadora “Como alimentar 9 bilhões de pessoas até 2050?”. Inicialmente como uma plataforma de mapeamento e reconhecimento das plantas em Porto Alegre e Região Metropolitana de forma colaborativa com usuários cadastrados, em um segundo momento, ampliando-se para um marketplace ao unir produtores e consumidores, formando assim uma rede viva entre plantas e pessoas, produção e consumo, coleta e plantio. Gerando uma economia social, ambiental e criativa, ou seja, uma “Economia Viva”.
Hoje, a equipe movimenta-se por duas temáticas principais, tecnologia e as PANC. Relsi Maron, Rosana Waszak e Vagner Ribas estão a frente das atividades de desenvolvimento e programação do aplicativo; enquanto, Milena Ventre, Igor Symanski e Bruna de Oliveira conduzem as tarefas relacionadas as plantas, desde-se produção de conteúdo sobre manejo e cultivo, usos e preparações culinárias e potencialidades nutricionais a dicas para reconhecimento das estruturas delas. Pensamos que a fome não está reduzida a falta de alimentos, mas sim, está também relacionada a falta de reconhecimento destes. Falta de reconhecimento a mãe natureza que sempre alimentou todos seus filhos de forma saudável, equilibrada e justa. Podemos construir juntos outra proposta alimentar.
Faça parte dessa rede que se propõe a repensar a comida no mundo. Acesse também o site do projeto. Ele está em construção mas você pode se cadastrar e receber notícias atualizadas do projeto.
O Tear também cultiva algumas Pancs, quem é leitor assíduo do Diário do Quintal lembra-se dos posts que fizemos sobre algumas pancs que existem em nossa horta.
Para refrescar a memória, falamos da Chaya, um espinafre maia que brota facilmente e chegou ao Rio pelo intermédio de Luiz Poeta, as flores beldroega e verdolaga, que inspiraram os codinomes de nossos jardineiros, e a emilia aquela plantinha vermelinha que parece um matinho e é ótima de comer com arroz.