Quem ainda não ouviu dizer que a obesidade é um problema de saúde pública? Os dados são alarmantes. Relatórios do ano de 2012 da Organização Mundial da Saúde indicam que atualmente 12% da população mundial é obesa. É preciso entender que o combate à obesidade não ocorre para que as pessoas se enquadrem nos padrões de beleza, mas sim porque a obesidade é fator de risco para inúmeras doenças como as cardiovasculares e diabetes. Esta é a causa da morte de 2,8 milhões de pessoas por ano. Diante do exposto, durante uma conferência realizada em março deste ano o diretor da Organização Mundial da Saúde (OMS) declarou claramente que a luta contra a obesidade é uma prioridade.
Desta forma, inúmeras pesquisas vêm estreitando, ou tentando estreitar a cerca de 10 anos, a relação entre obesidade e flora intestinal. A flora intestinal é constituída de 100 trilhões de bactérias. Estas bactérias são majoritariamente divididas em duas classes: firmicutes e bacteroidetes. Dentre as firmicutes temos os Enterococcus, Lactobacillus e E. coli e no grupo das bacteroidetes temos as Bifidobactérias e Treponema. Em indivíduos normais existe um equilíbrio entre estes dois grupos enquanto em pessoas obesas as firmicutes estão em quantidades 20% superiores.
Um estudo publicado no mês de setembro de 2013 na revista americana Science, uma das revistas científicas mais conceituadas no mundo, comprovou que existe uma relação entre a flora intestinal e o excesso de peso. Segundo este estudo, as bactérias que habitam a flora de humanos "magros" podem conferir proteção contra o ganho de gordura em camundongos experimentais. Neste estudo, as cobaias receberam a mesma dieta e a mesma quantidade de alimento, mas o grupo de animais em que foram transplantadas as bactérias da flora intestinal de obesos engordou mais do que aqueles que receberam apenas bactérias do intestino de pessoas magras. Além disso, em um segundo momento do experimento, os animais obesos foram divididos em dois grupos: no primeiro os animais recebiam uma dieta saudável (rica em fibras e pobre em gorduras saturadas) e no segundo uma dieta não saudável (pobre em fibras e rica em gorduras saturadas). O primeiro grupo conseguiu emagrecer e obter as bactérias intestinais dos companheiros magros, o que não ocorreu com o segundo grupo, demonstrando assim a importância da dieta rica em fibras e pobre em gorduras saturadas para o bom equilíbrio da flora intestinal.
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É importante entender a forma como o desequilíbrio da flora intestinal influencia o ganho de peso. O desequilíbrio de bactérias da flora intestinal inibe uma proteína conhecida como ocludina, a qual é responsável por manter as paredes do intestino impermeáveis. Com a inibição da ocludina, bactérias e fragmentos de bactérias atravessam a parede do intestino e caem na corrente sanguínea. As células de defesa do nosso organismo reconhecem e destroem os microrganismos. No entanto, os fragmentos das bactérias se ligam aos macrófagos (células imunológicas responsáveis pela ativação do sistema imune). O fragmento LPS, muito comum e tóxico, se liga aos macrófragos estimulando a produção de substâncias inflamatórias conhecidas como interleucinas. As interleucinas, por sua vez, formam uma barreira contra a ação da insulina que é o hormônio responsável por levar glicose às células do organismo. Além disso, elas também inibem a produção de insulina pelo pâncreas. Esse bloqueio ocorre sobretudo nas células adiposas do abdômen, tornando seu metabolismo mais lento, o que propicia, consequentemente, o acumulo de gordura.
A flora intestinal pode ser desequilibrada pelo uso de antibióticos por período prolongado, dieta pobre em fibras, rica em gorduras e açúcares simples, bem como por uma infecção intestinal ou com a idade. Para combater este desequilibro podemos recorrer aos chamados probióticos. Os probióticos são microrganismos que quando ingeridos em quantidades adequadas conferem benefícios à saúde do consumidor através da manutenção da flora intestinal saudável. Estes microrganismos podem ser encontrados em produtos lácteos como iogurtes e queijos.
A dica desta semana é: mantenha sua flora intestinal equilibrada e além de prevenir inúmeras doenças intestinais você pode emagrecer. Agora que você já entendeu a relação entre a flora intestinal e a obesidade, basta explorá-la!
Maressa Caldeira Morzelle
Engenheira de Alimentos-UFMT
Doutoranda em Ciência e Tecnologia de Alimentos-ESALQ/USP
Sob orientação: Profª. Drª. Jocelem Mastrodi Salgado
Postado há 6 days ago por GEAF FUNCIONAIS
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