Como a agricultura urbana pode transformar o cultivo de plantas e alimentos

By Priscila Kichler Pacheco 20 de Abril de 2015
Você pode transformar qualquer espaço e fazê-lo prosperar.

Esse foi o princípio adotado pelo australiano Angelo Eliade (à esquerda), que transformou o jardim de sua casa em Melbourne em uma verdadeira fazenda urbana. Aliando sustentabilidade e economia, a agricultura urbana pode ser uma solução para os problemas de abastecimento alimentar – e, como mostra a experiência de Eliade, é aplicável em qualquer lugar.

Utilizando técnicas da permacultura, o australiano prova que é possível produzir diversos tipos de alimentos mesmo em áreas pequenas. Em seu blog, ele detalha uma a uma as etapas do projeto. Lá, a gente descobre, por exemplo, que a transformação levou quatro anos. Mas valeu a pena: o pátio da casa de Eliade passou de um jardim comum para um ambiente rico, onde frutas e vegetais crescem em quantidade.
(Foto: Deep Green Permacultura/Reprodução) 
(Fotos: Deep Green Permaculture/Reprodução)

Limão, maçã, figo, cereja, pêssego, uva, banana, feijão, pepino, batata, alface, cenoura, alho, entre muitos outros. Por ano, a plantação de Eliade produz em torno de 70 quilos de vegetais e 160 quilos de frutas. Além dos comestíveis e ornamentais, ele estima que o jardim abrigue ainda 95 espécies de ervas e plantas medicinais.

Para evitar o desperdício de água, a rega do jardim é feita com água da chuva, coletada em um sistema que permite a economia de pelo menos 21 mil litros por ano, considerando as médias de chuva na cidade e a capacidade de estoque. Evitar o desperdício, aliás, é um dos princípios da permacultura. No jardim de Eliade, nada é descartado: os resíduos são aproveitados como adubo para manter o solo saudável.
(Fotos: Deep Green Permaculture/Reprodução)

Especialista na construção dessas chamadas food forests, o australiano explica que a diferença entre um sistema desse tipo e um jardim comum é a autossustentabilidade: a natureza passa a controlar o ambiente por si mesma, trazendo benefícios diretos para a biodiversidade local.

O trabalho de Eliade mostra que, unindo sustentabilidade e cuidado com o meio ambiente, é possível cultivar uma grande quantidade de alimentos mesmo em espaços pequenos, sem usar pesticidas, herbicidas ou fertilizantes químicos, sem desperdício de água e com pouco trabalho, deixando que a natureza tome conta do ambiente e faça o que faz de melhor: florescer.


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MG: agricultura familiar melhora qualidade da alimentação escolar

Fonte: Consea - Sexta-feira, 15 de Maio de 2015 


O cenário tranquilo, verde e produtivo da Fazenda Matos, na Comunidade Matos de Cima, em Capim Branco, na região Central, representa bem a agricultura familiar em Minas Gerais. Com simplicidade e variedade, a família Moura aproveita a fertilidade da terra e a experiência produtiva para garantir, por gerações, o sustento que vem da atividade agropecuária e agricultura de subsistência.

Na pequena propriedade rural, o casal Raimundo Avelar Moura, 76 anos, e Maria Aparecida de Moura, 74, e os três filhos, Ênio, 52, Luiz Henrique, 53, e Raimundo Jr., 49, se dedicam exclusivamente ao cultivo de leite, hortaliças e frutas. Em um passeio pelas terras da fazenda, é possível encontrar plantações que vão do urucum, mandioca e milho até a banana, tangerina e alface.

Hoje, a família vive dos ganhos da lavoura e comercializa seus produtos para municípios circunvizinhos (Sete Lagoas, Prudente de Morais e Matozinhos), feiras, entrega porta a porta e mesmo na própria fazenda. No entanto, é pelo cultivo de hortaliças e frutas orgânicas, mais saudáveis, que o trabalho dos Moura tem chamado a atenção. Isto porque, com o suporte do Governo de Minas Gerais, eles também têm conseguido direcionar parte de sua produção para a merenda escolar.

Por lei, é determinado que pelo menos 30% dos recursos recebidos pelo poder público – na alimentação escolar - sejam aplicados para aquisição de alimentos junto aos agricultores familiares. Para tanto, são divulgados editais de chamadas públicas por cada escola estadual ou caixa escolar, para contratação de agricultores.

Garantir o fluxo para o fornecimento da alimentação escolar, em Minas Gerais, é uma das frentes de atuação da Secretaria de Educação, por meio do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE). A iniciativa nacional, que existe desde a década de 40, sob gerenciamento do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), realiza a transferência de recursos financeiros justamente para assegurar a alimentação escolar a alunos de escolas públicas por 200 dias letivos.

No estado, a entidade executora é a Secretaria de Educação, que utiliza como modelo a escolarização. "Ou seja, os recursos financeiros recebidos na conta do PNAE são descentralizados mensalmente para cada escola estadual, por intermédio das Caixas Escolares", explica a coordenadora do Programa de Alimentação Escolar, Valéria Monteiro.

Desse modo, o repasse de recursos, processo de compras dos alimentos, licitação e chamada pública, execução dos cardápios, entre outras ações necessárias ao desenvolvimento do programa, "estão presentes nos diversos níveis da secretaria, passando pelo órgão central, as 47 Superintendências Regionais de Ensino (SRE) e escolas estaduais", completa.

Em 2014, observa Valéria, "o PNAE na rede estadual atendeu cerca de 2,4 milhões de alunos em 3.615 escolas estaduais", detalha. O valor repassado pelo FNDE para a alimentação escolar foi superior a R$ 150,3 milhões, com R$ 28,6 milhões direcionados à aquisição de alimentos da agricultura familiar. "A cada ano, as escolas estaduais têm conseguido adquirir mais alimentos da agricultura familiar e, com certeza, isto reflete em melhor qualidade da alimentação ofertada aos alunos", avalia Valéria.

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Saberes indígenas, muito além do romantismo

POR RICARDO CAVALCANTI-SCHIEL– ON 13/05/2015

Enawenê Nawê pescando, Terra Indígena Enawenê Nawê, Mato Grosso.

Não se trata de opor um fantasioso “espiritualismo” a um materialismo ocidental. Mas de desafiar nosso regime de sociabilidade com outras ideias, disposições e possibilidades

Por Ricardo Cavalcanti-Schiel

Houve um tempo em que falar de índios no Brasil era um exercício romântico. Tão romântico quanto fantasioso.

No começo do século XX, alguns doutos paulistas saíram pelo seu estado batizando os lugares com nomes tupi, do Anhangabaú a Araçatuba, movidos por ímpetos eruditos, não necessariamente por remissões mais escrupulosas à realidade. Quando a região de Guaianases, na cidade de São Paulo, foi batizada com esse nome, havia centenas de anos que os Guainá, que ali teriam sido aldeados à força no século XVI, já não mais existiam para contar qualquer coisa a respeito da sua história. Os índios daqueles eruditos paulistas, cultores do “tupi antigo”, eram algo bastante postiço. Realizando com perversa ironia os ideais antropofágicos dos mesmos tupi, que séculos antes iam à guerra, entre outras coisas, para caçar, para seus futuros filhos, os nomes daqueles que comeriam, acabaram eles agora transformados em não mais que nomes, desta feita como que nomes em conserva, para serem usados nessa curiosa salada toponímica.

Enquanto isso, no oeste paulista, a partir de Bauru, travava-se uma guerra pela expansão da fronteira agrária, empurrada pela ferrovia. Era um legítimo cenário de bang-bang, e as principais vítimas do extermínio, operado por “bugreiros” e outros agentes, eram os Kaingang e os Xavante, genericamente chamados de Coroados, gente da família linguística jê (muito diferente da família tupi, portanto); extermínio que a história oficial paulista fez questão de sepultar sob a tampa de concreto do silêncio, escrevendo, em seu lugar, o relato fantasioso de uma simples saga de imigrantes. Assim, Araçatuba, por exemplo, terra kaingang, hoje capital do boi gordo, no extremo-oeste paulista, pôde, também ela, ganhar seu bucólico nome tupi: bosque de araçás.

Note-se: não estamos nos confins selváticos e geograficamente obscuros de uma imensa Amazônia; uma Amazônia quase que alheia e que nem parece ter fim (e que daí, pela “lei” da oferta e da procura, se presuma como tão… barata). Estamos no hoje pujante e urbanizado oeste paulista, há não mais que cem anos atrás, apenas vinte anos antes de São Paulo embarcar em uma aventura militar contra um incipiente governo nacional antioligárquico.

De romantismo em romantismo, chegamos aos anos 80, em que os índios, eternos candidatos a nobres selvagens, passam a ser agora heróis ecológicos. Esses, pelo menos, ainda estavam vivos. É bem verdade que a relação dos índios com aquilo que chamamos “natureza” é muito diferente da que a nossa sociedade tem, a começar pelo fato de que, como nos ensina a antropologia amazonista hoje, eles não a reconhecem como “natureza” ― como objeto exterior e à parte, feito para ser usado, apropriado e apenas eventualmente “preservado” como coisa patrimonializada ―, mas como “gente”, como uma multiplicidade de sujeitos imprescindíveis de uma relação sem a qual o mundo habitado não é compreensível nem poderia existir. No entanto, transformar os índios em heróis da “nossa” natureza, incorporados como parte daquele objeto à parte, e igualmente alheio a nós, pode não ser mais que uma dessas nossas projeções, tão românticas quanto utilitárias, de ver Peri beijar Ceci… e morrer em seguida. Parará tim bum bum bum.

Se o novo romantismo ecológico ao menos chamou os índios para a agenda enquanto eles ainda estão vivos, sua tônica acanhadamente preservacionista os fez equivaler, mais uma vez, ao passado; a um passado de aparente pureza florística e faunística que precisaria ser sempre revivido ― ou “resgatado”, como gosta de usar a terminologia patrimonializadora em voga ― de forma idealmente imutável. Mais uma vez, os índios parecem entrar na (nossa) dança sob a clave do embalsamamento, mesmo que, agora, sob a agenda de uma patrimonialização talvez tão fetichista quanto a toponímia mítica dos velhos eruditos paulistas.

No entanto, nos últimos tempos, os últimos lastros românticos que ainda pareciam nos avalizar a existência dos índios parecem estar ruindo, o que não nos augura necessariamente algo virtuoso, porque ficamos mal-acostumados a depender dos romantismos para assegurar uma (traiçoeira e manhosa) legitimidade simbólica desses Outros Nacionais (como os chamou a antropóloga Alcida Ramos) e, por consequência, garantir as bases institucionais da sua existência enquanto povos acolhidos e protegidos ― não falemos sequer ainda de “respeitados”, porque o respeito à diferença não é algo que se aprenda por meio de projeções românticas.

Não é preciso lembrar, para as pessoas razoavelmente informadas, o estado de coisas em que andam as políticas de governo… e os horizontes obscuros das políticas de Estado… com relação aos povos indígenas. Também já é quase ocioso lembrar o quanto um e outro (políticas de governo e projetos de política de Estado) têm se estimulado mutuamente, para promover o etnocídio indígena por meio do solapamento dos direitos. Seja para quem for, qualquer solapamento de direitos é sempre um sequestro da cidadania. Daria até para lembrar, parafrasticamente, aquele poema de Brecht: “primeiro levaram os índios…”.

O que alenta e justifica essa marcha implacável nós também já sabemos o que é: a velha ideologia desenvolvimentista repaginada pelo avatar inquestionável do consumo como critério, seja de teórica “inclusão” seja de teórico “bem-estar”. Assim, no coração dessa nova ideologia desenvolvimentista encontra-se uma operação utilitarista singela: trocar a cidadania pelo consumo. E, nela, o único lugar para os índios ― uma vez corroídas, por esse realismo neoclássico rasteiro, as amarras românticas que os sustentavam ― é o de se tornarem, eles também, modestíssimos consumidores, apoiados por programas assistenciais do governo, depois de entregarem seus “meios de produção” a quem realmente interessa, como aqueles que, vencidos, entregaram outrora o que são hoje terras de boi gordo.

Claro que os que já se renderam inteiramente à coisificação utilitarista do consumo (e provavelmente se esqueceram até de ser gente) vão dizer: melhor boi gordo do que índio ― e no estado em que chegamos, isso é exatamente o que muitos pensam, sem que tenham a necessidade de pronunciá-lo. No entanto, a troca utilitarista, na sua racionalidade de meios e no seu afã predatório, quer apenas ganhar hoje, para a aventura de uns quantos, o que o bem comum poderia, de outra forma, ganhar multiplicado amanhã, se sobreviver até lá. E é aí que a equação que move as curvas de utilidade se alarga para variáveis e horizontes impensados pelos mecano-economistas.

No atual estado de coisas, entretanto, parece haver apenas duas alternativas para salvar a (potencialmente subversiva) diversidade existencial dos Outros Nacionais da sanha desenvolvimentista de moê-la e transformá-la em salsicha: ou reciclamos as projeções românticas em algum novo (e duvidoso) feitiço encantatório das nossas narrativas nacionais, ou tiramos os índios do alheamento passadista a que sempre foram condenados e os reconhecemos como uma aposta sincera no futuro; num futuro não apenas deles, como também não apenas nosso, mas num futuro de diálogo, para além do alheamento, no qual eles também são, necessariamente, sujeitos de fala ― não “eles” a pessoa x ou y, ou a “representação” w ou z, mas, ainda mais radicalmente,as suas visões de mundo. A primeira alternativa, a da reciclagem das projeções românticas, sempre foi aquela imediatamente sedutora, e, com ela, chega-se até mesmo a lançar mão de alegados exotéricos. A segunda, por sua vez, é a que reclama uma reflexão antiutilitária, mas estratégica, que talvez seja exatamente aquilo pelo qual muitos de nós, antropólogos, trabalhamos.

Em 1952, num texto escrito para a Unesco, Lévi-Strauss defendia que as sociedades só sobrevivem porque aprendem umas com as outras. Uma sociedade que se isola na certeza das suas verdades fenece diante dos problemas para os quais sua visão de mundo não alcança soluções. As “soluções” de grande alcance, portanto, não são meramente tecnológicas, mas conceituais. São as ideias que dimensionam a técnica e que dão uso às ferramentas, ou, segundo a fórmula famosa do epistemólogo Georges Canguilhem: o microscópio não é a extensão da vista, mas a extensão da inteligência. Sem o conceito de micro-organismo, o que se veria pelas lentes de um microscópio seria apenas um conto de fadas.

Evidentemente que as tecnologias ajudam, mas o que está sempre por detrás delas são as ideias. De pouco adiantaria, para a expansão europeia dos séculos XV e XVI, o astrolábio que os europeus aprenderam dos árabes, se alguns deles não dispusessem do novo e herético conceito de uma Terra redonda. Descobrir a América, nesse sentido, foi a consagração de uma grande heresia, frente a uma doxa tão potente à sua época quanto os mitos econômicos atuais e suas leis inquestionáveis. E as coisas não pararam por aí, evidentemente, porque, como também nos lembrava Lévi-Strauss, isso é a história, e os europeus, casualmente, não se encontravam na situação dos Mayas em torno do ano 1.000, quando, orgulhosos e isolados, viram suas opulentas cidades colapsarem por conta de uma crise ecológica, por eles mesmo provocada, e para a qual nem o refinamento do conhecimento dos seus astrônomos e sacerdotes tinha uma solução a dar.
Ainda assim, um milênio após o fim do período Maya Clássico, o muralista Diego Rivera pintaria em uma das paredes do Palácio Nacional do México a lista do que a tradição ameríndia mexicana havia legado ao mundo: uma lista de cultivos alimentares que, além de cacau, tomate e feijão, é encabeçada, evidentemente, pelo milho, cuja notável diversidade genética dos cultivares meso-americanos a Monsanto está tratando hoje de eliminar, por meio de seu milho transgênico com patente “made in USA”. Não apenas o milho, mas sobretudo a batata, levada dos Andes pelos europeus, produzem muito mais calorias por hectare plantado que o trigo, nascido na Mesopotâmia e levado para a Europa. O cultivo desse tubérculo, rapidamente estimulado e expandido no Velho Continente, foi responsável por eliminar a fome endêmica e medieval da Europa, e constituir a base demográfica sem a qual a Revolução Industrial não teria sido possível e, com ela, a nossa arrogante modernidade.

Por trás da domesticação dos tubérculos nos Andes há um enorme conjunto de ideias sobre como a mãe-terra gera seus frutos, como o trabalho comum os recolhe, como eles podem ser acumulados e conservados, e como devem ser distribuídos. À época da Conquista, os indígenas dos Andes eram muitíssimo mais bem nutridos e saudáveis que os europeus. Diante dessa diferença evidente, estes últimos aproveitaram apenas um produto específico, o que, para eles, já foi muito. Há quem acredite que o socialismo e o Estado do bem-estar social teriam sido inventados alguns séculos antes se os europeus, além das batatas, tivessem levado as ideias.

Apostar nos índios, e portanto na diversidade cultural, como nosso futuro comum de não-alheamento, não significa meramente apostar que a erva de algum pajé possa trazer a cura para o câncer. Expor nossas ideias ao contato com outras visões de mundo pode nos curar de coisas muito piores: nossos próprios e mesquinhos limites.

Quando comentávamos antes que o militantismo ecologista, ao trazer intuitivamente os índios à baila, acabou descuidando do que eles poderiam pensar a respeito da “nossa” natureza ― apenas para servirem ao que nós continuamos a pensar dela e da sua “preservação” enquanto objeto ―, sugeríamos também que a recusa, por parte dos índios, à sumária objetificação dessa “natureza” corresponde ao reconhecimento dela, por eles, como sujeito de uma relação. Conceitos como animismo, perspectivismo e multinaturalismo (por oposição a multiculturalismo) vêm sendo testados pelos antropólogos para descrever o sentido da socialidade indígena na Amazônia e a sua maneira de reconhecer os agentes das relações. Esse fenômeno, no entanto ― como tentamos demonstrar em nossas pesquisas nos Andes ―, pode, na realidade, se constituir como um traço ameríndio generalizado, continental. E o que ele desafia não é apenas a nossa forma de relação com uma “natureza” dada, mas sim a forma como nós a conceituamos, para, em seguida, nos sentirmos à vontade para subjugá-la, a partir de uma relação sujeito-objeto em que a extensão do uso e da posse (a simples destruição incluída) se define pelos casuísmos de uma racionalidade instrumental.

Se aquele tipo de perspectiva sobre a socialidade tem uma incidência efetivamente ameríndia, continental, e se a dimensão do seu desafio pode e deve ser posta em larga escala, então quem nos manda o recado político é o movimento indígena equatoriano, que inspirou em boa medida a elaboração da última Constituição do país, referendada em 2008. Nela, pela primeira vez no mundo, a Natureza foi reconhecida como sujeito jurídico de direito, para que em seu nome e da sua integridade, seja defendida como parte interessada em qualquer ação judicial visando garantir sua “existência, manutenção e regeneração de seus ciclos vitais, estrutura, funções e processos evolutivos” (Art. 71). Talvez seja ocioso se prender a emblemas ou ressentimentos étnicos: se essa Natureza corresponde tão somente, ou não, à Pachamama, a mãe-terra dos andinos, tal como explicitamente a nomeia o mesmo artigo 71… Estamos, antes, em um terreno de fecundas heterogeneidades discursivas, no terreno do desafio das ideias. E é aí que se fazem as grandes apostas no futuro, porque é isso que, para o bem ou para o mal, com a lista de Diego Rivera e muitas outras, e também com toda a precariedade das experiências, constituiu o Novo Mundo.

O desafio posto pelo pensamento ameríndio de reconhecer a socialidade como espaço de interação necessária de muitos sujeitos, que faz o mundo girar não por conta de alguma hierarquia natural ou do imperativo de marcas de origem que definem privilégios, mas por conta das diferentes maneiras de vê-lo e de tecer acordos, nos sugere que viver em não-alheamento significa reconhecer que o Outro é, inescapavelmente, parte de qualquer consideração que se faça sobre si mesmo. Como já o enunciava, bela e sinteticamente, o professor Eduardo Viveiros de Castro, “para os ameríndios, o Outro não é apenas pensável, ele é indispensável”. Talvez não tenhamos lição melhor, para começarmos a repensar seriamente o que possamos entender por cidadania, em um contexto flagrado por iniquidades; um contexto que não será reformado se se insistir apenas no polo da objetificação alheadora, no fetiche da mercadoria e, em último termo, na dispensabilidade dos outros.

Não se trata de opor um fantasioso “espiritualismo” indígena a um materialismo ocidental “realista”. Trata-se de desafiar um certo regime de socialidade (o nosso, ocidental e moderno) com outras ideias, disposições e possibilidades. Algumas delas é bem provável que até já tenhamos aprendido inconscientemente, ao longo de nossa história cultural, afinal o território mais largo da cultura, a parte submersa desse iceberg, é, como também dizia Lévi-Strauss, esse inconsciente. Os índios que os portugueses aqui encontraram, com quem conviveram e que permanecem no (apenas aparente) subterrâneo das nossas mestiçagens, não legaram aos brasileiros de hoje simplesmente tapioca, rede de dormir e outras coisas. Legaram-nos também um modo de nos relacionarmos quotidianamente, que, muito diferente dos europeus, não parte do princípio do reconhecimento do lugar social e pertencimento de alguém sempre e necessariamente pelas suas marcas de origem ― algo que tanto prezam nossas elites senhoriais, que se querem mais “europeias”. Se os brasileiros aprenderam a se abrir cordialmente aos outros, digeri-los e abrasileirá-los como parte de um nós possível (ainda que muitas vezes perverso e hierárquico ― mas a hierarquia não é, com certeza, um legado indígena), isso seguramente não foi aprendido dos europeus.

E se se trata ainda de desafiar um certo regime de socialidade com outras ideias, disposições e possibilidades, então, levar a sério o não-alheamento diante da diversidade significa garantir aos muitos da cidadania um lugar ativo, ouvi-los mais detidamente e deixar-se desafiar pela possibilidade da invenção, pela potencial complicação do que parece já estar dado pelas nossas formas institucionais, recusando a simples tentação de domesticá-los às formas prévias, a uns quantos programas assistenciais, quotas e representações de fachada. Afinal de contas, o que é, por exemplo, o ideal político do “Buen Vivir” (ou, em quéchua, “Sumaq Kausay”), alentado pelas novas disposições constitucionais do Equador e da Bolívia, senão uma enorme complicação para a planura desenvolvimentista; uma complicação ainda a reclamar um ou vários Amartya Sen para lhe inventar indicadores por agora imponderáveis? Mas, e o que é também o ideal político do “Buen Vivir” senão um desafio em nome da “imanência da suficiência”, dos índios, contra a voraz e predatória “transcendência da necessidade”, do Ocidente capitalista, de que nos falava Eduardo Viveiros de Castro [1]?

Talvez seja também preciso dizer que encarar seriamente a opção do não-alheamento significa, com bastante probabilidade, molestar alguns lugares comuns tidos hoje como “politicamente corretos”, e que são aqueles tributários do multiculturalismo neoliberal, quais sejam, suas obsessões com fronteiras bem acabadas, identidades amuralhadas e os contratos de patrimonialização. Os verdadeiros diálogos não se realizam sobre a prévia domesticação dos seus termos por gramáticas unilaterais ― ou uma pretensa universalidade habermasiana. Eles não são uma mera exibição de emblemas, para marcar posição dentro de um mercado contratualista ― ou uma economia contratualista da alteridade. Os verdadeiros diálogos são aqueles em que nos “contaminamos” e nos arriscamos com as razões de ser dos outros. Os pós-estruturalistas talvez tenham nisso razão ao usarem o termo “devir”.

A Constituição brasileira de 88 consagrou os direitos coletivos indígenas como base positiva do direito à reprodução cultural. Sequestrar os primeiros é também sequestrar este último. O que perdemos todos com isso é mais do que uma diversidade meramente nominal, a diversidade passiva do multiculturalismo objetificador. Estaremos perdendo possibilidades de cidadania. E estaremos perdendo possibilidades de futuro. Pois é aí, e não num passado romântico ou instrumentalmente ecológico, que os índios deveriam sobretudo ser vistos.

[1] http://www.socioambiental.org/pt-br/blog/blog-do-isa/o-brasil-e-grande-mas-o-mundo-e-pequeno

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Para reabrir debate sobre o papel da Universidade

15 DE MAIO DE 2015
Roberto Leher, reitor recém-eleito da UFRJ, dispara: sistemas de avaliação atuais desestimulam criatividade e reflexão; educação superior precisa buscar novo padrão civilizatório

Entrevista a Pedro Almeida Ferreira e Raquel Varela, na Revista Rubra

Com um extenso trabalho de pesquisa em políticas públicas na educação, Roberto Leher falou-nos do ensino universitário e da produção acadêmica, da investigação científica e da ideologia neoliberal aplicada à educação. 

O que é que pensa do processo de avaliações externas e da medição da produtividade do trabalho universitário por número de publicações em revistas científicas?

No Brasil, a avaliação externa de toda a pós-graduação é feita pela CAPES (Coordenação do Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior ). Esta determina prazos para mestrado e doutoramento, estabelece a quantidade mínima de publicações por docente em revistas por ela qualificadas e, conforme a pontuação do programa de pós, atribui uma nota que pode ir de 1 a 7. Entretanto, nem todos programas podem obter a nota 7, a despeito de sua qualidade, pois este conceito é restrito a 3 ou 5 programas por área em todo país. É um campeonato em que a maioria, apesar da febre produtivista, ficará para trás. Programas com índice igual ou inferior a 3 podem ser fechados. A coerção econômica dá-se pela associação entre a nota obtida e o número de bolsas para os estudantes, bem como o apoio a projetos de pesquisa, etc. É uma forma de submeter o trabalho acadêmico às diretrizes gerais do Estado e do mercado, em total desconsideração com a prerrogativa da autonomia universitária constitucionalmente assegurada em 1988.

Não se verifica o mesmo rigor da aferição do desempenho nos novos campi universitários públicos e nos Institutos Federais de Educação Tecnológica. Nestes, os cursos são muito semelhantes aos que, na Europa, seguem o Protocolo de Bolonha — cursos de 2 ou 3 anos. Os professores que atuam nestes cursos dificilmente conseguirão seguir para a pós-graduação e terão de se conformar com a docência em cursos massificados, em geral, com turmas com enorme número de estudantes. Nas instituições privadas, responsáveis por 75% das matrículas, a situação é muito mais grave. É uma educação aligeirada, um genocídio intelectual.

A obsessão de que a única produção acadêmica relevante é a veiculada pelas revistas qualificadas pela CAPES relaciona-se com o que podemos chamar de “rotas de excelência” e com o que é dado a pensar na universidade. As pequenas recompensas materiais que o Estado assegura a alguns pesquisadores — bolsas, recursos para os projetos, viagens, etc. — não são para todos. É preciso criar bloqueios. As revistas são a forma aparentemente “neutra” e “legítima” de segregação, de seleção, de estabelecer os temas desejáveis. O espaço das revistas pertence sobretudo aos “excelentes” que fazem pesquisas “pertinentes”. No entanto, mesmo estes estão presos, em sua maioria, aos interesses das corporações, desenvolvendo “inovação tecnológica”, e de programas de governo, especialmente relacionados com a gestão tecno-científica da pobreza e do controle social. O poder simbólico destes pesquisadores no campo científico decorre em grande parte da capacidade de captação de recursos. Existem exceções, grupos de pesquisa que, apesar de não estarem inseridos na lógica imediata do capital, sobrevivem nesse sistema, mas com alto custo pessoal.

De que forma é que essa captura da universidade pelo capital empobrece a investigação científica e a liberdade do docente?

Eis a grande questão! O Estado, que estruturou o capitalismo monopolista durante a ditadura-militar do Brasil, apropriou e incorporou conhecimento em vários domínios — energia, telecomunicações, engenharias etc. — com as empresas estatais. À medida que estas foram privatizadas, os seus departamentos de Pesquisa e Desenvolvimento foram fechados. Hoje, as universidades prestam esses serviços e muitos professores viraram funcionários de corporações. Em Berkeley, o Instituto de Biociências e Energia e, na Universidade de São Paulo, a Escola Luiz de Queiroz, recebem recursos da coalizão liderada pela British Petroleum para monopolizar o conhecimento, e a produção, da agro-energia mundial, o etanol. Cabe indagar: como estes grupos financiados pela corporação poderão avaliar de modo isento os impactos sócio-ambientais desta forma de produção de energia?

A situação paradoxal é que grande parte dos recursos de pesquisa é destinada a inovação tecnológica; contudo, a inovação, nos Estados Unidos e nos países do G7, ocorre fundamentalmente dentro das empresas e não na universidade. No Brasil, como realidade geral, a inovação tecnológica, no sentido próprio do termo, não existe. Somos um país capitalista dependente, inserido em circuitos produtivos em que o grosso da produção industrial já recebe tecnologia pronta. Então, o que a universidade está fazendo é simplesmente prestar serviços para corporações que nem sequer necessitam investir em laboratórios e em pessoal qualificado e, ao adquirir um serviço, desembolsar seus próprios recursos, pois os referidos serviços contam com recursos públicos do CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa, atualmente chamado Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico), da FINEP (Financiadora de Estudos e Projetos), do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econêmico e Social) …

Há, assim, um novo ethos acadêmico: o do professor-empreendedor, em que a universidade é uma peça na engrenagem do capital. A minha hipótese é que uma das novas funções da universidade é aumentar o exército industrial de reserva.

Explique-nos melhor essa hipótese.

O grande desafio da última década foi a socialização do que os pós-modernos chamam de “excluídos”, os que estão afastados do controle estatal ou de uma socialização que os integre como força de trabalho.

Nos anos 90, o desemprego cresceu muito no Brasil — chegou a 45 ou 50% entre a população jovem mais explorada, tal como hoje em países europeus. A força de trabalho desempregada ou em rotação de trabalhos já mantinha os salários muito baixos, por isso, os jovens das favelas, por exemplo, não se viam como potenciais assalariados e procuravam formas alternativas de vida, trabalhos informais, etc.

Com o ciclo expansivo 2003-2008, foi necessário fazer com que essa juventude das periferias das grandes cidades se percebesse como força de trabalho potencial. Existem “programas focalizados” para cada fracção da classe trabalhadora até então fora do mercado de trabalho: programas de educação para jovens negros e para mulheres jovens da favela – mas, se examinarmos as condições em que acontecem, percebemos que são cursos que asseguram tão somente rudimentos de conhecimentos, em geral, mais ligados à socialização condizente com o “espírito do capitalismo”.…

E a educação joga esse papel com o ensino profissional…

Sim. O ensino profissional é estratégico. Para uma grande parte da população, começa a abrir-se a possibilidade de educação superior e de formação profissional pós-ensino médio, pois a taxa bruta de matrículas na educação superior ainda é muito baixa, 28%. Mas, no Brasil, 75% das matrículas na educação superior – e na formação profissional é ainda maior – são privadas e mercantis. A educação superior está sendo ocupada pelos setores com fins lucrativos, e já não são, como até 2005, empresas familiares, agora são setores financeiros, vinculados a bancos que organizam fundos de investimento…

Uma das grandes conquistas da revolução em Portugal foi o ensino unificado, que vem sendo destruído. Nos anos 90, com as medidas chamadas neoliberais, criou-se a via de ensino e a via científica na formação universitária. Observa isto no Brasil?

No processo de redemocratização, lutamos, como vocês, para ter universidades capazes de assegurar uma formação geral, culturalmente ampla e científica, para que todos tivessem uma visão integrada, inventiva e crítica do seu labor. Mas isso vem sendo duramente combatido há muitos anos. Em meados da década de 1990, o presidente Fernando Henrique Cardoso promoveu uma disjunção entre a formação profissional em nível médio e a formação propedêutica, científica, impondo um sistema de educação profissional que não formava os jovens, mas os treinava para o trabalho simples. E é esse o modelo dos atuais Institutos Federais e, sobretudo, do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), um vasto programa de formação utilitarista, voltado para o adestramento dos jovens, ofertado principalmente por organizações de ensino privadas, vinculadas aos sindicatos patronais, mas mantidos com verbas públicas. Quando as entidades patronais reclamam da falta de mão de obra qualificada, em rigor estão reclamando da baixa escolaridade dos jovens que os afasta do exército industrial de reserva, situação que preocupa o patronato, pois o modelo econômico brasileiro tem como fundamento a superexploração do trabalho.

A preocupação com a chamada sociedade do conhecimento é puramente proclamatória. No Brasil foi criado um programa, que seria financiado com verbas do Estado e das empresas, chamado “Ciência sem Fronteiras”, para que jovens fizessem parte da graduação em universidades na Europa e Estados Unidos. O programa foi criado, mas as empresas não cumpriram sua parte, colocando recursos para ampliá-lo!

Por que?

Não está na estratégia empresarial organizar um setor de pesquisa e desenvolvimento próprio. A associação com o imperialismo permite que as frações burguesas locais tenham lucros exorbitantes. O Brasil, hoje, regride na sua base produtiva. Tem uma industrialização importante, mas de menor sofisticação tecnológica. Mesmo a agricultura possuiu hoje uma base tecnológica muito mais subordinada do que a dos anos 70. A chamada revolução verde exigia domínio da genética e de estudos sobre evolução e ecologia, pois as sementes híbridas tinham de estar adaptadas aos ecossistemas brasileiros. Mas hoje, o padrão dos transgênicos da Monsanto não exige isso! A simplificação da formação universitária não é um problema geral para o setor produtivo.

O aumento do exército industrial de reserva com formação precária é estratégico para a organização do capital ou é consequência de uma educação mercantilizada? Pergunto isto porque, em Portugal, vemos empresas a pedir engenheiros pré-Bolonha…

Aqui, a Petrobras também não aceita candidatos para as engenharias vindos desses cursos aligeirados. É uma contradição que não deixa de ser irônica. O sistema de pós-graduação existente nas áreas consideradas prioritárias cumpre esse papel de fornecimento de força de trabalho com maior sofisticação em áreas muito específicas.

Em relação ao grosso da força de trabalho, a formação é precária e brutal mas funcional ao capital. No Brasil, mais de 1 milhão de jovens – 16% das matrículas no ensino superior, sendo 84% em organizações privadas – são feitas em cursos a distância, sem presença em laboratório. Teremos químicos que nunca viram uma pipeta, biólogos que nunca viram um microscópio!

Mais do que o interesse pragmático de formação da mão-de-obra para postos de trabalho x, y ou z, a preocupação parece ser a governabilidade. A preparação da força de trabalho é construída a partir de uma plataforma de socialização para o ethos capitalista. A partir daí, constroem-se competências mais específicas para padronizar a força de trabalho e facilitar a mobilização do capital.

O que acha dessa palavra, “competências”?

À medida que foram feitas algumas teses de doutoramento e estudos mais sistemáticos sobre esta questão, tornou-se claro que a noção não tem origem na educação. Ela surge nos processos de reestruturação produtiva, na Europa e Estados Unidos, a partir dos anos 70 e, mais nitidamente, nos 80. Surge vinculada à fragmentação do trabalho e da identidade do trabalhador, para destruir o conceito de carreira, de categoria profissional, que sustentava a organização sindical..

Mas a mente humana não opera por meio de “competências”! Isto não tem suporte científico! É ideológico. Diz-se que o manejo do conhecimento se dá por via de “competências” que devem ser aferíveis e quantificadas por testes como o PISA ou, aqui no Brasil, o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica). O objectivo é definir mundialmente por meio do Projecto Tunning o que os organismos internacionais desejam de um curso universitário, quais as “competências” básicas que deve garantir.

Não é também uma forma de criar mão-de-obra flexível?

Sim, o salário do trabalhador já não depende do contrato, varia de acordo com o desempenho. E como se afere desempenho? Em alguns setores, se um trabalhador produziu 20 mercadorias e outro 25, então, este merece gratificação. Mas noutros é mais difícil. No setor de serviços, e mesmo na área das indústrias que não pertence à parte final da produção, foi necessário criar descritores aferíveis. Aí surgem as “competências”. É o mesmo movimento que o capital vem fazendo com os professores, o de passar de uma subordinação formal a uma subordinação real do Trabalho ao capital, de alcançar uma expropriação sem precedentes.

Na educação básica, isso é feito com o uso de cartilhas, livros aligeirados, materiais pedagógicos que o professor repete. Nesta situação, o docente não é protagonista das suas aulas: só aplica cartilhas. E quem as produz são as corporações. Aqui, no Brasil, é um grupo chamado Grupo Pearson, dono das maiores editoras do mundo, do Financial Times e The Economist.

Hoje, o que fazemos na universidade?

É uma pergunta constrangedora. Há muitas formas de fazer universidade. E acho que há uma forma dominante, hegemênica, que está socializando a juventude para o capitalismo. A universidade está sendo direcionada para a formação da força de trabalho que o capital precisa. Existem contradições, com mediações específicas, mas é essa a tendência geral, e parece-me que foi naturalizada, legitimada.

Que papel devia cumprir a universidade numa sociedade desejável?

Historicamente, a função social da universidade foi constituída num processo de lutas em defesa de uma universidade que produzisse ciência e tecnologia, não que prestasse serviços. A maior preocupação, hoje, é a mudança dessa função social em prol da pesquisa e desenvolvimento, da inovação, algo que deveria ser realizado nas empresas.

Numa sociedade socialista, a universidade deveria ser espaço de convergências de movimentos sociais e pesquisadores. Se queremos uma agricultura agro-ecológica, temos de produzir e socializar conhecimento científico rigoroso sobre ecologia, sobre os solos, o uso cuidadoso das reservas aquíferas, trabalhar em prol da soberania alimentar, conhecer as sementes crioulas (nativas), e isso exige conhecimentos produzidos em conjunto com os camponeses, os povos originários. São desafios epistemológicos e epistêmicos.

A pesquisa sistemática, livre e em prol do bem viver dos povos é indispensável em todos os domínios. A humanidade está desafiada a produzir um outro horizonte civilizatório que não o da barbárie do capital. A universidade deveria ser uma instituição para isso!

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Biodiversidade, a nova vítima dos deputados

15 DE MAIO DE 2015
Projeto favorece agronegócio e indústria, exclui povos tradicionais dos benefícios gerados por seus conhecimentos e anistia biopirataria. Entidades pedem veto a Dilma 

Por Jaime Gesisky, no site da WWF

Organizações e movimentos sociais ligados à proteção dos direitos de povos indígenas e comunidades tradicionais protocolaram em 6/5 carta à presidente Dilma, pedindo veto total ou parcial ao projeto de lei da biodiversidade (PL) 7735/2014. A carta leva a assinatura de 150 entidades civis. (leia texto completo).

O principal argumento é que camponeses, pequenos agricultores, povos e comunidades locais foram excluídos do debate que os implica diretamente, e que vários artigos da lei restringem seus direitos garantidos em acordos internacionais e mesmo na Constituição Federal.

Esses povos e comunidades são responsáveis por extensas áreas naturais, ricas em biodiversidade. É o caso de indígenas, extrativistas, quilombolas. Eles também são guardiões de espécies crioulas de larga utilização agrícola.

Juntos, eles também detêm conhecimentos ancestrais, saberes que indicam usos e aplicações de plantas e animais – o que para a indústria representa atalhos científicos importantes na hora de pesquisar substâncias que podem se transformar em remédios e cosméticos.

“Por isso essas comunidades são chave no debate, e sua inclusão seria uma maneira de integrá-los social e economicamente por meio do uso sustentável da biodiversidade”, considera André Dallagnol, da ONG Terra de Direitos, uma das articuladoras da carta.

Mas o processo político conduzido pelo governo desconsiderou esses grupos. É como se eles não existissem para o país. Além de não terem sido ouvidos durante a elaboração da lei, à exceção da fase de tramitação no Senado, esses povos e comunidades se dizem prejudicados por pontos específicos da lei que restringem seus direitos e os deixam vulneráveis diante da indústria.

Das 23 emendas apresentadas pelo Senado com o objetivo de diminuir os prejuízos aos direitos dessas populações, 11 das foram derrubadas pelos deputados federais.

Polêmicos

Um dos artigos que mais causam preocupação aos povos e comunidades tradicionais diz que o consentimento prévio para acesso ao conhecimento tradicional poderá ser feito por órgãos oficiais, retirando dos comunitários o poder de decidir se eles querem ou não participar, por exemplo, de uma pesquisa que pode gerar produtos ou teses científicas.

Isso restringiria direitos já assegurados em acordos internacionais que o Brasil assinou, como a Convenção da Diversidade Biológica – CDB e a Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho – OIT.

Esses dois tratados são claros quanto à consulta prévia, livre e informada para povos e comunidades quando se trata de decisões que podem comprometer seu ambiente natural ou seus modos de vida.

A lei também prevê que o conhecimento tradicional associado ao patrimônio genético de variedades tradicionais ou crioulas relacionadas à alimentação e agricultura será tratado como conhecimento tradicional “de origem não identificável”.

Por isso, seu acesso não dependeria do consentimento prévio de comunidades tradicionais ou povos indígenas. A medida beneficia apenas ao agronegócio. Este é um dos vetos pedidos na carta.

A possibilidade de o usuário (empresa) escolher quem será beneficiário da repartição de benefícios também não agrada aos povos e comunidades tradicionais. Isso pode gerar distorções à ideia de repartição justa e equitativa dos benefícios.

“Os deputados deram muita ênfase ao acesso, olhando apenas o lado da indústria e do agronegócio. Pouco se discutiu a repartição de benefícios e isso criou um desequilíbrio na lei”, avalia Jean François Timmers, Superintendente de Políticas Públicas do WWF-Brasil.

A isenção da repartição de benefícios sobre exploração econômica de produtos cujos ingredientes naturais tenham sido acessados antes de 2000 é outro nó do projeto. Isso significa que quem acessou o patrimônio genético antes dessa data não precisa repartir os benefícios com as comunidades de origem, mesmo que estejam lucrando agora com a venda de produtos acabados.

No entendimento dos povos e comunidades tradicionais, da maneira como está, a lei poderá ser questionada por ser inconstitucional em vários pontos. Isso faria com que a segurança jurídica, principal reivindicação da indústria, não aconteça na prática.

“Para uma lei que vai prevalecer pelas futuras gerações e regular o uso da biodiversidade, um bem que é público e estratégico para o Brasil, o ideal seria vetar tudo e recomeçar a discussão com todos os segmentos da sociedade envolvidos no tema”, defende André Dallagnol.

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O Manifesto Colher de Pau e seu porquê

POR JULIANA DIAS – ON 14/05/2015
Normas “sanitárias” obtusas favorecem agroindústria, demonizam utensílios populares e tentam estigmatizar culturas alimentares brasileiras. Começou campanha para enfrentá-las

Por Juliana Dias, editora do site Malagueta

A colher de pau está impregnada de cultura, afetos, memória e sabor. É utensílio indispensável na cozinha brasileira, utilizada no dia a dia dos lares, seja no campo ou na cidade. Faz parte do ritual culinário, com seu acervo de gestuais e saberes. Segundo o sociólogo Gilberto Freyre, o artefato de madeira estava presente na culinária dos povos indígenas. Por ser um objeto emblemático e milenar, que mexe com múltiplas questões alimentares, a colher de pau foi escolhida como elemento simbólico da campanha Comida é Patrimônio, lançada pelo Fórum Brasileiro de Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (FBSSAN). O ícone da colher na identidade visual da campanha representa nossa diversidade em produzir, preparar, servir e comer.

Como parte das ações estratégicas dessa mobilização, o Fórum lança com exclusividade o Manifesto Colher de Pau (leia, ao final, na íntegra), de autoria do antropólogo e museólogo Raul Lody, pesquisador na área de alimentação, com diversos livros publicados e idealizador do Museu de Gastronomia Baiana. “O Manifesto Colher de Pau é um sinal de cuidado, atenção e entendimento da diversidade, respeitando-se a longa experiência de sanidade e do consumo de alimentos”, destaca Lody. O documento sintetiza de forma clara e acessível as dificuldades enfrentadas na produção de alimentos tradicionais, artesanais e de base familiar.

O debate sobre normas sanitárias mais inclusivas e adequadas à lógica e dinâmicas da produção familiar e artesanal faz parte da pauta de lutas políticas de muitos movimentos sociais, organizações e redes, incluindo o FBSSAN. Um dos desdobramentos desse processo foi a publicação, em 2013, da Resolução da Diretoria Colegiada (RDC) nº 49, pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA). Esta RDC trata sobre Inclusão Produtiva com Segurança Sanitária. É destinada à regulamentação da produção de alimentos pelos microempreendedores individuais (MEIs), empreendimentos familiares rurais e empreendimentos da Economia Solidária. Antes da publicação, a proposta passou por consulta pública, que contou com a contribuição de 150 pessoas e instituições, envolvendo mais de 6 mil participantes em seminários regionais, segundo dados da ANVISA.

A RDC busca dialogar com os princípios de Segurança Alimentar e Nutricional e com uma visão mais ampliada de saúde, propondo-se a preservar a característica artesanal dos alimentos e a priorizar uma fiscalização voltada mais para a orientação dos empreendedores. A Resolução busca ainda promover a integração e a articulação dos processos e dados do Sistema Nacional de Vigilância Sanitaria (SNVS) com os demais órgãos e entidades com o objetivo de evitar a duplicidade de exigências para os empreendimentos. A publicação da RDC, sem dúvida, foi uma importante conquista, mas agora o desafio é a sua efetiva implementação.

Por outro lado, a sociedade civil organizada avalia, em Carta Aberta elaborada em agosto de 2014 e subscrita por 72 organizações, que para a produção e processamento de produtos de origem animal e polpas de frutas, permanecem normas excludentes e inadequadas e a dificuldade de diálogo com o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).

O documento apontou que apesar das mudanças, a legislação sanitária ainda mantém padrões de qualidade baseado na produção agroindustrial de larga escala, padronizados e com uso intensivo de insumos químicos. Com isso, acaba aproximando o modelo artesanal da industrialização e artificialização, aumentando custos e afastando-o de suas características socioculturais. “É urgente e necessário que se deem passos largos e concretos para avançar nessa questão por meio da criação de legislação e sistema de inspeção sanitários específicos para a produção familiar e artesanal. Devem ser fundamentados em conhecimentos, práticas, experiências e modos de vida dos agricultores e agricultoras, contemplando também a diversidade cultural e alimentar que caracteriza a produção desses alimentos”, informa o texto da carta.

A substituição da colher de pau pela de outros materiais, como a de polietileno é uma das modificações que mais chamaram atenção na resolução. Por isso, o utensílio é o emblema da campanha e do Manifesto. Entre as proposições expressas na carta está a “criação de espaços para discussão e formulação de conceitos/definições importantes que estão na Resolução 49/2013, tais como a classificação de risco; distinção entre in natura, semi-processado, processado e cultura alimentar”.

As complexas relações entre ingrediente e processos culinários constituem um rico acervo de significados, comportamentos, afirmações, identidades e sabedoria tradicional. Assim, a comida está associada ao pertencimento. “Creio que ouvir, entender, respeitar e agregar tantas descobertas é uma base sensível para organizar ‘regras’ e como empregá-las, respeitando-se diversidade, identidade, e o sentido verdadeiro da comida, que é muito além do ato de alimentar”, aponta Lody. A campanha, a Carta Aberta e o Manifesto fazem parte de um processo de comunicação popular que visa ampliar o debate a respeito dos graves problemas de saúde gerados por uma alimentação pautada no consumo de produtos alimentícios processados, com alto teor de conteúdo publicitário, sal, gordura e açúcar.

Essas iniciativas também podem colaborar para a construção e efetivação de políticas públicas, como a Política Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional. Dessa forma, evidencia-se a necessidade de “valorizar, resgatar e disseminar práticas alimentares e da culinária que preservem a cultura, a biodiversidade e a autonomia das diversas regiões do Brasil”, conforme aponta a carta endereçada à ANVISA. O autor do Manifesto Colher de Pau sinaliza que “empregar regras sanitárias sem entender os motivos acumulados na história, na sabedoria tradicional de povos, de segmentos étnicos é apenas uma ação “burocrática” que distancia o verdadeiro sentimento de comida, de comensalidade e de outros valores agregados à mesa”.

Outro ponto de convergência é aquecer as discussões que serão postas à mesa durante a Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, organizada pelo Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea), cujo tema será “Comida de verdade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimentar”, prevista para acontecer em novembro em Brasília.

Ao fomentar propostas como o Manifesto, a campanha Comida é Patrimônio vem enriquecer o caldo dos debates que buscam aproximar as questões sanitárias pertinentes à segurança dos alimentos com a cultura alimentar. Digamos que é o ponto certo para “meter a colher”, como diz o ditado popular. Essa mobilização pretende provocar reflexões e atitudes em prol da comida de verdade, bem comum, patrimônio material e imaterial, usando arte, poesia, manifestações e reivindicações.

Manifesto da Colher de Pau:

Pela salvaguarda das cozinhas regionais e tradicionais do Brasil, e com respeito aos acervos culinários que são também identificados nos conjuntos de objetos de madeira, metal, fibra natural trançada, cerâmica entre outros; conjuntos de objetos variados e fundamentais ao ofício de se fazer a comida e possibilitar a preservação das receitas, e ainda preservam a estética de cada prato e o seu serviço em diferentes espaços e ambientes sociais.

A comida servida à mesa, em banca, sobre esteira, sobre folha de bananeira, traz vivências das muitas experiências culturais de comensalidade nos cenários das casas, dos mercados, das feiras, dos restaurantes, dos templos, entre tantos outros.

Pela segurança alimentar e principalmente pela soberania alimentar o “Manifesto Colher de Pau” quer valorizar cada objeto, implemento de cozinha, e rituais sociais de oferecimento de comida e bebida como forma de preservação do exercício dos saberes tradicionais e indentitários de famílias, regiões, segmentos étnicos, religiões; e, em destaque, a compreensão plena da importância técnica e simbólica de cada objeto.

Assim, morfologia, material, função, trazem memórias ancestrais que são definidoras das peculiaridades das culturas e dos povos que são identificados em cada objeto. Objeto vinculado ao que se entende por “patrimônio integrado” no entendimento contemporâneo de patrimônio cultural imaterial.

Respeitar e manter estes acervos materiais nas cozinhas, e nos serviços, garantem os espaços de singularidade e de peculiaridade dos nossos sistemas alimentares de brasileiros, e os acervos significativos dos sabores, da construção dos paladares, ações que se dão no exercício das culturas.

Para participar da campanha, acesse www.facebook.com.br/fbssan

#comidaepatrimonio #pensamentopimenta

Texto: Juliana Dias

Revisão de conteúdo: Juliana Casemiro e Vanessa Shotz

Revisão geral: Mariana Moraes e Mónica Chiffoleau

Foto: Carolina Amorim

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Medical marijuana pill may not be effective in treating behavioral symptoms of dementia

Date: May 13, 2015

Source: American Academy of Neurology (AAN)

Summary:
Medical marijuana pills may not help treat behavioral symptoms of dementia, such as aggression, pacing and wandering, a new study concludes. However, researchers did find that the drug dosage used in the clinical trial was safe and well-tolerated.

A new study suggests that medical marijuana pills may not help treat behavioral symptoms of dementia, such as aggression, pacing and wandering. The research is published in the May 13, 2015, online issue of Neurology®, the medical journal of the American Academy of Neurology. However, researchers did find that the drug dosage used in the clinical trial was safe and well-tolerated.

"Our study results are valuable since any firm evidence of the effectiveness and safety of medical marijuana in this disease area is scarce," said study author Geke A.H. van den Elsen, MD, with Radboud university medical center in Nijmegen, the Netherlands. "Ours is the largest study carried out so far on evaluating this drug for behavioral symptoms of dementia."

For the study, researchers randomly selected 50 participants with dementia and behavioral symptoms to receive 1.5 milligrams of medical marijuana or a placebo pill three times per day for three weeks. The medical marijuana pill contained tetrahydrocannabinol (THC), which is the main chemical involved in marijuana's psychoactive effects. The main study measurement was change in scores on a test of behavioral symptoms called the Neuropsychiatric Inventory, assessed at the start of the study and after two and three weeks.

The test scores improved for both the medical marijuana and the placebo groups, but there was no significant difference between the scores for the two groups. There was also no difference between the two groups for participants' quality of life, daily living activities or pain-related behavior and pain intensity.

Van den Elsen said improvements in the placebo group could be due to several factors, including attention and support from the study personnel, expectations of patients and caregivers and training of nursing home personnel.

People in the two groups had a similar number of mild and moderate side effects. There were no serious side effects in either group.

"Since the side effects were mild to moderate, it's possible that a higher dose could be tolerated and could possibly be beneficial," said van den Elsen. "Future studies are needed to test this. A drug that can treat the behavioral symptoms of dementia is much needed, as about 62 percent of dementia patients in the general community and up to 80 percent of nursing home residents experience these symptoms."

Story Source:

The above story is based on materials provided by American Academy of Neurology (AAN). Note: Materials may be edited for content and length.

Journal Reference:
Geke A.H. van den Elsen, Amir I.A. Ahmed, Robbert-Jan Verkes, Cees Kramers, Ton Feuth, Paul B. Rosenberg, Marjolein A. van der Marck, and Marcel G.M. Olde Rikkert. Tetrahydrocannabinol for neuropsychiatric symptoms in dementia: A randomized controlled trial. Neurology, May 2015 DOI: 10.1212/WNL.0000000000001675

Cite This Page:
American Academy of Neurology (AAN). "Medical marijuana pill may not be effective in treating behavioral symptoms of dementia." ScienceDaily. ScienceDaily, 13 May 2015. <www.sciencedaily.com/releases/2015/05/150513163951.htm>.

Infant antibiotic use linked to adult diseases

Date: May 13, 2015

Source: University of Minnesota, Academic Health Center

Summary:
A new study has found a three-way link among antibiotic use in infants, changes in the gut bacteria, and disease later in life.
Antibiotics are by far the most common prescription drugs given to children.
Credit: © mangpor2004 / Fotolia

A new study led by researchers at the University of Minnesota has found a three-way link among antibiotic use in infants, changes in the gut bacteria, and disease later in life. The imbalances in gut microbes, called dysbiosis, have been tied to infectious diseases, allergies and other autoimmune disorders, and even obesity, later in life.

The study, led by Biomedical Informatics and Computational Biology program graduate student fellow Pajau Vangay, also developed a predictive model with potential clinical importance for measuring healthy development of bacteria in the gut of young children. The findings were published today in the scientific journal Cell Host & Microbe.

Antibiotics are by far the most common prescription drugs given to children. They account for about one-fourth of all medications prescribed to children, with a third of these prescriptions considered unnecessary. Other studies have shown profound short- and long-term effects of antibiotics on the diversity and composition of the bacteria in our bodies, called our microbiome.

"Diseases related to metabolism and the immune system are increasing dramatically, and in many cases we don't know why," said the study's senior author Dan Knights, a computational biologist and assistant professor in the University of Minnesota's Department of Computer Science and Engineering and Biotechnology Institute. "Previous studies showed links between antibiotic use and unbalanced gut bacteria, and others showed links between unbalanced gut bacteria and adult disease. Over the past year we synthesized hundreds of studies and found evidence of strong correlations between antibiotic use, changes in gut bacteria, and disease in adulthood."

Knights and his colleagues developed a framework to map how antibiotics may be acting in the gut to cause disease later in life. In the case of allergies, for example, the use of antibiotics may eradicate key gut bacteria that help immune cells mature. These cells would have been essential for keeping the immune system at bay when confronted with allergens. Even if these bacteria return, the immune system remains impaired. Related to obesity, antibiotic-induced changes in the gut microbiota resulted in increased levels of short-chain fatty acids that affect metabolism.

The study also examined the development of bacteria in the gut. Researchers demonstrated that an infant's age could be predicted within 1.3 months based on the maturity of their gut bacteria. This finding could lead to a clinical test and interventions for children whose microbiome is developmentally delayed due to antibiotics or other factors.

"We think these findings help develop a roadmap for future research to determine the health consequences of antibiotic use and for recommendations for prescribing them," Knights said. "The clinical test we demonstrated would also allow us to think about interventions at an early age."

In addition to Knights and Vangay, researchers involved in the study include Tonya Ward, a postdoctoral researcher in the University of Minnesota Biotechnology Institute and Jeffery Gerber, a researcher with the Division of Infectious Diseases at the Children's Hospital of Philadelphia.

Story Source:

The above story is based on materials provided by University of Minnesota, Academic Health Center. Note: Materials may be edited for content and length.

Journal Reference:
Pajau Vangay, Tonya Ward, Jeffrey S. Gerber, Dan Knights. Antibiotics, Pediatric Dysbiosis, and Disease. Cell Host & Microbe, 2015 DOI:10.1016/j.chom.2015.04.006

Cite This Page:
University of Minnesota, Academic Health Center. "Infant antibiotic use linked to adult diseases." ScienceDaily. ScienceDaily, 13 May 2015. <www.sciencedaily.com/releases/2015/05/150513140929.htm>.

How used coffee grounds could make some food more healthful

Date: May 13, 2015

Source: American Chemical Society

Summary:
Coffee has gone from dietary foe to friend in recent years, partly due to the revelation that it's rich in antioxidants. Now even spent coffee grounds are gaining attention for being chock-full of these compounds, which have potential health benefits. Researchers now explain how to extract antioxidants from the grounds. They then determined just how concentrated the antioxidants are.
Spent coffee grounds contain high levels of phenols which could potentially be extracted and used to increase nutritional value of other foods.
Credit: © manulito / Fotolia

Coffee has gone from dietary foe to friend in recent years, partly due to the revelation that it's rich in antioxidants. Now even spent coffee-grounds are gaining attention for being chock-full of these compounds, which have potential health benefits. In ACS' Journal of Agricultural and Food Chemistry, researchers explain how to extract antioxidants from the grounds. They then determined just how concentrated the antioxidants are.

María-Paz de Peña and colleagues note that coffee -- one of the most popular drinks in the world -- is a rich source of a group of antioxidants called dietary phenolic compounds. Spent grounds, however, often end up in the trash. But recently, scientists have discovered that antioxidants aren't just in the brewed coffee; they're also in the used grounds. De Peña wanted to figure out the total phenolic content in extracts from these leftovers.

The researchers used three different methods to release antioxidants from spent grounds and found high levels of phenols in the extracts -- sometimes at higher levels than in brewed coffee. Thus, they have the potential to serve as additives to enhance the potential health effects of other food products, the scientists conclude.

Story Source:

The above story is based on materials provided by American Chemical Society. Note: Materials may be edited for content and length.

Journal Reference:
Carmen Monente, Iziar A. Ludwig, Angel Irigoyen, María-Paz De Peña, Concepción Cid. Assessment of Total (Free and Bound) Phenolic Compounds in Spent Coffee Extracts. Journal of Agricultural and Food Chemistry, 2015; 63 (17): 4327 DOI: 10.1021/acs.jafc.5b01619

Cite This Page:

American Chemical Society. "How used coffee grounds could make some food more healthful." ScienceDaily. ScienceDaily, 13 May 2015. <www.sciencedaily.com/releases/2015/05/150513112035.htm>.

Childhood obesity influenced by how kids are fed, not just what they eat

Date: May 13, 2015

Source: Ohio State University Center for Clinical and Translational Science

Summary:
As the childhood obesity epidemic increases, researchers are discovering that the way caregivers feed their kids may be just as important as what they give them to eat. A new study reviews how a mother's body mass index (BMI), ethnicity and personal eating habits may influence how she feeds her child.

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Can diet and exercise prevent muscle loss in old age? Maybe not

Date: May 13, 2015

Source: University of Southampton

Summary:
Between the ages of 40 and 80, an estimated 30 to 50 per cent of muscle mass is lost, resulting in lower strength and less ability to carry out everyday tasks. This process -- known as sarcopenia -- is common and clearly linked to frailty and poorer health in older people. Although some studies find diet can enhance the effects of exercise to prevent muscle loss in later life, current evidence about what works is inconsistent, new research shows.

Growing interest: School-grown vegetables increase salad selection

Date: May 14, 2015

Source: Cornell Food & Brand Lab

Summary:
If kids grow vegetables, they're more likely to eat them. A new study shows that when garden grown vegetables were slipped into school salads, kids were over four times as likely to take a salad.

If kids grow vegetables, they're more likely to eat them. A new Cornell study published in Acta Paediatrica shows that when garden grown vegetables were slipped into school salads, kids were over four times as likely to take a salad.

"This is a small study, but it suggests gardens can help children's diets -- even in the snow belt," said lead author Brian Wansink PhD, Director of the Cornell Food and Brand Lab and author of Slim by Design.

This pilot study, conducted in upstate New York, measured the change in vegetable selection and plate waste when school grown salad greens were incorporated in the cafeteria school lunch. The researchers measured the selections and plate waste of a total of 370 enrolled high school students over three separate days.

When the salad bar contained produce grown by students, the percentage of those who selected salads with their meals increased from 2% to 10% and on average, students ate two-thirds of their salads. Unfortunately, in addition to increased salad selection, the amount of plate waste also increased. Overall salad consumption for the entire student body increased from approximately 5 to 12 servings per day.

This study implies the larger potential benefits of the school garden programs. "We see great promise with this research. The first hurdle in increasing vegetable consumption is simply getting kids to put them on their plate," concluded co-author Drew Hanks of Ohio State University.

Story Source:

The above story is based on materials provided by Cornell Food & Brand Lab. The original article was written by Brian Wansink. Note: Materials may be edited for content and length.

Journal Reference:
Brian Wansink, Andrew S. Hanks, David R. Just. A plant to plate pilot: a cold-climate high school garden increased vegetable selection but also waste. Acta Paediatrica, 2015; DOI: 10.1111/apa.13028

Cite This Page:

Cornell Food & Brand Lab. "Growing interest: School-grown vegetables increase salad selection." ScienceDaily. ScienceDaily, 14 May 2015. <www.sciencedaily.com/releases/2015/05/150514132915.htm>.

Many probiotics are contaminated with traces of glutenn

Date: May 15, 2015

Source: Columbia University Medical Center

Summary:
More than half of popular probiotics contain traces of gluten, according to an analysis. Tests on 22 top-selling probiotics revealed that 12 of them (or 55%) had detectable gluten. Gluten is a protein found in wheat, rye, and barley, and patients with celiac disease need to eliminate it from their diet or face pain, bowel symptoms, and an increased risk of cancer.

More than half of popular probiotics contain traces of gluten, according to an analysis performed by investigators at the Celiac Disease Center at Columbia University Medical Center (CUMC). Tests on 22 top-selling probiotics revealed that 12 of them (or 55%) had detectable gluten.

Probiotics are commonly taken by patients for their theoretical effect in promoting gut health, though evidence of benefits is limited to a few clinical situations. "Many patients with celiac disease take dietary supplements, and probiotics are particularly popular," said Dr. Samantha Nazareth, a gastroenterologist at CUMC and the first author of the study. "We have previously reported that celiac patients who use dietary supplements have more symptoms than non-users, so we decided to test the probiotics for gluten contamination," said Dr. Nazareth.

Gluten is a protein found in wheat, rye, and barley, and patients with celiac disease need to eliminate it from their diet or face pain, bowel symptoms, and an increased risk of cancer. The investigators used liquid chromatography-mass spectrometry, a sensitive detection technology, to quantify gluten content. Most of the probiotics that tested positive for gluten contained less than 20 parts per million of the protein, and would be considered gluten-free by Food and Drug Administration (FDA) standards. However, four of the brands (18% of the total) contained in excess of that amount.

More than half of the 22 probiotics were labeled gluten-free, but this had no bearing on whether or not traces of gluten were present. Two probiotics that did not meet FDA standards carried the label. "We have been following reports in the scientific literature and news media on inaccurate labeling of nutritional supplements, and it appears that labels claiming a product is gluten-free are not to be trusted, at least when it comes to probiotics," said Dr. Peter Green, professor of medicine and director of the Celiac Disease Center, "This is a potential hazard for our patients, and we are concerned."

It is uncertain whether these trace amounts of gluten could cause symptoms or otherwise harm patients with celiac disease. "We know that most patients with celiac disease only develop intestinal damage when consuming more than 10 milligrams of gluten daily, and it is unlikely that contaminated probiotics can lead to that amount unless patients are ingesting mega-doses," said Dr. Benjamin Lebwohl, assistant professor of medicine and epidemiology at the Celiac Disease Center and a co-author of the study. Still, these findings raise troubling questions, Dr. Lebwohl says. "Why is there any gluten in these products? Why should the consumer pay any attention to gluten-free labeling on such products? And given the great consumer interest in probiotics, will regulatory bodies take action to protect the public?"

The study, "Widespread Contamination of Probiotics with Gluten, Detected by Liquid Chromatography-Mass Spectrometry," will be presented by Dr. Samantha Nazareth on May 16 at Digestive and Disease Week (DDW) in Washington DC.

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The above story is based on materials provided by Columbia University Medical Center. Note: Materials may be edited for content and length.

Cite This Page:

Columbia University Medical Center. "Many probiotics are contaminated with traces of gluten." ScienceDaily. ScienceDaily, 15 May 2015. <www.sciencedaily.com/releases/2015/05/150515083232.htm>.