"Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a
cidade. A gente só descobre isso depois de grande. A gente descobre que o
tamanho das coisas há que ser medido pela intimidade que temos com as coisas.
Há de ser como acontece com o amor. Assim, as pedrinhas do nosso quintal são
sempre maiores do que as outras pedras do mundo. Justo pelo motivo da
intimidade (...)""
Se a gente cavar um buraco ao pé da goiabeira do quintal, lá
estará um guri ensaiando subir na goiabeira. Se a gente cavar um buraco ao pé
do galinheiro, lá estará um guri tentando agarrar no rabo de uma lagartixa. Sou
hoje um caçador de achadouros da infância. Vou meio dementado e enxada às
costas cavar no meu quintal vestígios dos meninos que fomos (...).''
Do livro: Memórias inventadas: a infância
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