Plantas medicinais são conhecidas e utilizadas pela
população, mas ainda são pouco recomendadas pelos médicos
Lenilda Luna - jornalista
A partir de 2006,
a utilização de plantas medicinais no tratamento de
algumas doenças foi oficialmente incluída no programa de atenção à saúde do
Sistema Único de Saúde (SUS). Com a fitoterapia fazendo parte da política
nacional de práticas integrativas e complementares, novas demandas de pesquisa
foram colocadas para os farmacêuticos e demais profissionais da área. Tornou-se
necessário levantar quais as plantas mais utilizadas pela população e comprovar
a eficiência dos fitoterápicos, partindo da prática popular para o conhecimento
científico.
Na Ufal, o grupo de Estudos em Plantas Medicinais
(Geplam) realiza pesquisas importantes nesta área. O núcleo multidisciplinar é
formado por pesquisadores que trabalham com espécies vegetais medicinais,
utilizadas em Alagoas. “O objetivo é identificar necessidades de intervenção
com população usuária de plantas medicinais e fitoterapia. Percebemos que,
apesar de ser um conhecimento que faz parte da sabedoria popular, 90% das
plantas medicinais são utilizadas de forma incorreta. O erro está no preparo ou
na parte da planta utilizada”, informa a professora Sâmia Silva, uma das
coordenadoras do Geplam.
O grupo se dedica a três linhas de pesquisa: Avaliação
Farmacológica e Toxicológica de Plantas Medicinais do Estado de Alagoas,
Conhecimentos Tradicionais, Populares e Biodiversidade em Alagoas e
Fitoterapia. Os estudos são coordenados pelas professoras Sâmia Silva e Êurica
Adélia Nogueira Ribeiro, pesquisadoras doutoras da Escola de Enfermagem e Farmácia
(Esenfar). Além de desenvolver os estudos farmacológicos e contribuir com a
implantação da fitoterapia no SUS em Alagoas, o grupo tem interesse em orientar
a população a utilizar de forma correta as plantas medicinais.
Os alunos ligados ao grupo de pesquisa desenvolveram estudos
relacionados ao projeto “Fitoterapia: quais as ações necessárias junto aos
profissionais de saúde e usuários do sistema para sua consolidação no SUS?”,
que foram financiados com recursos do Ministério da Saúde e Fundação de Amparo
à Pesquisa do Estado de Alagoas (Fapeal). Além da coordenação da professora
Sâmia, o projeto contou com a colaboração da pesquisadora Sabrina Joany
Felizardo Neves, também doutora do curso de Farmácia da Ufal.
As pesquisas foram desenvolvidas em quatro unidades básicas
de saúde do 6º Distrito Sanitário de Maceió, que fica no Benedito Bentes. As
atividades foram realizadas no Posto de Saúde do Conjunto Frei Damião, no CAIC
Benedito Bentes, na Unidade Básica de Saúde do Conjunto Freitas Neto e na Unidade
de Saúde do Conjunto Selma Bandeira. “Nosso principal objetivo foi identificar
as necessidades de intervenção junto aos atores envolvidos na utilização de
plantas medicinais e fitoterapia para a promoção do uso correto e racional de
plantas medicinais e fitoterápicos”, explica a professora Sâmia.
Fitoterapia nos postos de saúde
O trabalho “Conhecimentos e práticas em fitoterapia: um
estudo realizado com prescritores da Estratégia de Saúde da Família do VI
Distrito Sanitário, Maceió, AL” foi apresentado no 21º Simpósio de Plantas
Medicinais do Brasil, em
João Pessoa-PB , em 2010. “Neste trabalho apontamos a
necessidade de capacitação dos atores relacionados à prescrição e indicação de
fitoterápicos e plantas medicinais, que é compreensível, uma vez que apenas o
curso de Farmácia vem oferecendo conteúdos sobre plantas medicinais e
fitoterapia. Entretanto, o resultado mais animador desta pesquisa é o fato de
termos identificado uma boa aceitação, por parte destes atores, à fitoterapia”,
destaca Sâmia.
Nesta pesquisa, os alunos orientados pelas professoras
Sabrina Joany e Sâmia Andrícia S. da Silva, avaliaram a importância de um
estudo adequado para a inclusão da fitoterapia no SUS. “É preciso alertar a
população para o fato de que as plantas medicinais e os remédios caseiros
preparados com elas não são isentos de efeitos colaterais. Os fitoterápicos
contêm substâncias químicas que não estão isentas de provocar reações adversas
e interações entre constituintes químicos presentes em outras plantas,
alimentos ou medicamentos sintéticos, por isso é preciso o acompanhamento
médico, iniciado pela prescrição, para não acarretar problemas graves à saúde
do usuário”, alerta a pesquisadora.
Diante dessa preocupação, os alunos se propuseram a
identificar os conhecimentos e atitudes dos profissionais que prescrevem
fitoterápicos na Estratégia Saúde da Família de Maceió do VI Distrito
Sanitário. O levantamento foi feito com médicos e odontólogos das unidades e a
amostra resultante foi composta por 11 prescritores. Os alunos observaram que,
apesar de formação média de 16 anos e de atuação de pelo menos seis anos no
PSF, os prescritores ainda desconheciam a Política Nacional de Práticas
Integrativas e Complementares no SUS. Mesmo assim, esses profissionais
demonstraram abertura em oferecer a fitoterapia como tratamento complementar. A
maioria (81,8%) dos médicos e dentistas que atua neste distrito demonstra
acreditar na eficácia dos fitoterápicos.
Os pesquisadores constataram ainda que os médicos e
odontólogos gostariam de contar com pesquisas mais aprofundadas sobre o
potencial dos fitoterápicos, para se sentirem mais seguros em substituir os
medicamentos sintéticos pelas plantas medicinais em alguns tratamentos. Ainda
sem este embasamento, metade dos profissionais entrevistados revelou que já
prescreve fitoterápicos aos pacientes.
Eles também revelaram a preocupação em manter um
acompanhamento médico dessas prescrições, para não causar problemas de saúde
aos pacientes. Os estudantes concluíram, então, que não haverá resistência por
parte dos profissionais de saúde na implantação da fitoterapia no VI Distrito
Sanitário de Maceió e que eles estão abertos à uma proposta de capacitação para
prescrever plantas medicinais.
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Data: 27.04.2012
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