Campinas, 24 de agosto de 2015 a 30 de agosto de 2015 – ANO 2015 – Nº 634
Cientistas do CPQBA realizam caracterização genética de variedades da espécie
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Conhecida como vassourinha-do-campo ou alecrim-do-campo, a Baccharis dracunculifolia, um arbusto que se encontra facilmente na beira de estradas nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul, é comumente vista como uma espécie invasora em pastagens brasileiras, mas diversos estudos, realizados no país e no exterior, têm revelado o grande potencial da planta em áreas que vão da medicina à conservação ambiental. No Centro Pluridisciplinar de Pesquisas Químicas, Biológicas e Agrícolas (CPQBA) da Unicamp, a doutoranda Camila M.B. Belini, da Unesp Botucatu, realizou uma série de experimentos, incluindo o cultivo e a caracterização genética de variedades da espécie encontradas em diferentes altitudes do Estado de São Paulo, a fim de iniciar o processo de melhoramento para o cultivo.
A planta já tem valor econômico reconhecido: tanto suas folhas são fonte de um óleo essencial aromático, como também a própolis verde, produzida por abelhas que visitam a B. dracunculifolia, é exportada para diversos países. O “Brazilian green propolis” (“própolis verde brasileiro”), como é conhecido no exterior, tem sido alvo de pesquisas, principalmente no Japão, por conta de suas propriedades medicinais. A produção de própolis verde para exportação acontece principalmente no município de Bambuí, Minas Gerais.
“É importante a gente ter o conhecimento de como cultivar a espécie e extrair os produtos dela, para evitar o extrativismo, que pode levar à sua extinção”, disse Camila. A pesquisadora Glyn Mara Figueira, do CPQBA, coorientadora da tese de doutorado da Camila, acrescenta: “Para muitos agricultores, o alecrim-do-campo é uma praga de pastagem e por isso o removem, porém seu cultivo torna-se importante para extração do óleo essencial, produção da própolis verde e recuperação de áreas degradadas e contaminadas”.
“O alecrim não tem só o uso para produção da própolis verde”, lembrou a coorientadora. “Ele é aromático, produz um óleo essencial que tem um grande interesse para a indústria de fragrâncias, além do seu potencial antimicrobiano. Há uma tese, defendida em Minas Gerais, que diz que ela pode ser usada na biorremediação de solo, porque sequestra metais pesados. Então, é uma planta que tem potencial amplo”.
As pesquisadoras lembram que o alecrim-do-campo é uma planta pioneira, que cresce rapidamente e tem uma semente muito leve, que se espalha com facilidade. “Você planta numa área e ela já vai colonizando tudo”, disse Camila, reiterando o potencial da espécie na recuperação de áreas degradadas. “É uma planta importante, por tudo isso que oferece, em produtos e em importância ecológica”.
Em seu trabalho, Camila coletou sementes da B. dracunculifolia em diferentes altitudes do território paulista – em Ubatuba; na região de Campinas; e em Campos do Jordão. As populações naturais foram analisadas química e geneticamente em parceria com o Instituto Agronômico de Campinas e ESALQ/USP. Foi instalado um teste de procedências e progênies (descendência) no campo experimental do CPQBA para o processo de seleção e melhoramento da espécie.
No experimento de campo foram cultivadas 1.800 plantas que foram colhidas, pesadas e caracterizadas. “A gente avaliou o rendimento do óleo essencial e a capacidade de rebrota”, disse Camila. A análise avaliou o conteúdo de trans-nerolidol, o principal composto do óleo essencial presente nas folhas, que é usado na indústria alimentícia e de perfumes. “Vimos que as plantas provenientes de Campos do Jordão, cultivadas em Campinas, eram mais abundantes em trans-nerolidol do que as outras”, acrescentou a pesquisadora.
“Isso mostra, então, que o esse composto não é influenciado pelo ambiente, e sim é uma característica genética”, disse Glyn, já que os acessos de Campos do Jordão, cultivados em Campinas, mostraram-se mais produtivos. “A capacidade de rebrota foi uma técnica importante para o ganho de massa foliar, que já foi repassada aos produtores da própolis verde”, acrescentou. “Porque, à medida que cresce, em condições naturais, o alecrim-do-campo tem uma maior proporção de galhos que de folhas. Um dos seus nomes populares, vassourinha, é porque antigamente as pessoas a utilizavam como vassoura”, explicou.
A coorientadora explica ainda que tanto o óleo essencial como a resina usada pelas abelhas são retirados das folhas do alecrim. Esses dois processos ocorrem em momentos diversos, o que permite que uma mesma plantação seja usada para os dois fins. “O óleo é retirado na época da floração, mas a abelha prefere visitar a planta em outro momento, quando as folhas estão novas, para a produção da própolis verde”, disse ela. “Então, na verdade, esses produtos são complementares”.
Genética
A análise genética realizada até agora, explicam as pesquisadoras, foi suficiente para distinguir entre as diferentes populações de alecrim-do-campo, mas um trabalho mais aprofundado é necessário para buscar os genes responsáveis pelas características desejadas – seja a capacidade da planta de regenerar solos contaminados, seja a produção de quantidades maiores de óleo essencial ou de resina para as abelhas.
O trabalho faz parte da tese de doutorado de Camila, “Conservação e avaliação da composição de óleo essencial e diversidade genética de populações naturais e avaliação na produtividade em teste de procedências e progênies de Baccharis dracunculifolia dc. (Asteraceae)”, que será defendida na Unesp no fim de agosto, tendo como orientadora a pesquisadora Marcia Ortiz Mayo Marques, da Faculdade de Ciências Agronômicas do campus de Botucatu da Unesp. A pesquisa contou com apoio da Fapesp.
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