segunda-feira, 5 de maio de 2025

Relato de pesquisas sobre o uso da Curcuma longa no tratamento de equinos - I

Carina Wanchowski Palma - Universidade de Taubaté

Marcos Roberto Furlan - Universidade de Taubaté

Os benefícios à saúde humana atribuídos à especiaria cúrcuma/curcumina resultaram em sua ampla utilização como suplemento alimentar para animais de estimação e outros animais, incluindo cavalos.

No Pubmed destacamos os seguintes autores e pesquisas:

Biodisponibilidade 

A cúrcuma (Curcuma longa), amplamente reconhecida por seus benefícios à saúde humana, vem sendo cada vez mais utilizada como suplemento alimentar em animais de estimação e cavalos, devido às suas propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes atribuídas aos curcuminoides (curcumina, desmetoxicurcumina e bisdesmetoxicurcumina). No entanto, enquanto há extensa investigação sobre a metabolização desses compostos em humanos e roedores, os dados sobre sua absorção e metabolismo em equinos ainda são escassos.

Este estudo apresenta um método analítico validado (LC-ESI-MS/MS) para a quantificação simultânea dos curcuminoides livres e seus metabólitos de fase 2 (curcumina-O-sulfato e curcumina-O-glicuronídeo) em plasma equino. O método demonstrou alta sensibilidade, precisão (85 a 115%) e reprodutibilidade (<15% de variação), atendendo aos critérios da FDA. A ferramenta foi aplicada com sucesso para caracterizar a farmacocinética da curcumina-O-sulfato em cavalos.

Esse avanço metodológico representa um passo importante para a compreensão dos efeitos terapêuticos e da biodisponibilidade da cúrcuma em equinos, possibilitando estudos mais robustos sobre sua eficácia e segurança no contexto da nutrição e saúde animal.

Referência

Liu Y, Siard M, Adams A, et al. Quantificação simultânea de curcuminoides livres e seus metabólitos em plasma equino por LC-ESI-MS/MS. J Pharm Biomed Anal . 2018;154:31-39. doi:10.1016/j.jpba.2018.03.014

Segurança e eficácia de diferentes formas de cúrcuma

Em resposta a uma solicitação da Comissão Europeia, o Painel FEEDAP da EFSA avaliou a segurança e eficácia de diferentes formas de cúrcuma (Curcuma longa L.) — incluindo extrato, óleo essencial, oleorresina e tintura — quando utilizadas como aditivos sensoriais em rações e água de bebida para animais, abrangendo todas as espécies, inclusive cavalos.

O parecer científico concluiu que essas preparações são seguras para equinos quando utilizadas nos níveis máximos propostos. Especificamente para cavalos, a oleorresina de cúrcuma é segura até 5 mg/kg de ração completa, e a tintura de cúrcuma pode ser administrada até 6 mL por animal/dia. Não foram identificadas preocupações com a saúde dos consumidores decorrentes da ingestão de produtos de origem animal alimentados com esses aditivos, e os riscos ambientais também foram considerados desprezíveis.

Embora o foco do parecer tenha sido o uso sensorial (melhoria de sabor e palatabilidade), a avaliação reforça a segurança do uso da cúrcuma em formulações alimentares para equinos, permitindo seu uso potencial também como suporte à saúde, dadas as conhecidas propriedades anti-inflamatórias, antioxidantes e digestivas da planta. No entanto, os compostos derivados da cúrcuma são classificados como irritantes cutâneos e respiratórios e sensibilizantes da pele, exigindo cuidados no manuseio.

Esses resultados reforçam o uso seguro e regulamentado da Curcuma longa como aditivo funcional e sensorial na alimentação de cavalos, abrindo possibilidades para seu uso complementar em estratégias nutricionais voltadas ao bem-estar e à performance equina.

Referência:

Painel da EFSA sobre Aditivos e Produtos ou Substâncias Utilizados na Alimentação Animal (FEEDAP), Bampidis V, Azimonti G et al. Segurança e eficácia do extrato de cúrcuma, óleo de cúrcuma, oleorresina de cúrcuma e tintura de cúrcuma do rizoma de Curcuma longa L. quando usados ​​como aditivos sensoriais em rações para todas as espécies animais. EFSA J. 2020;18(6):e06146. Publicado em 12 de junho de 2020. doi:10.2903/j.efsa.2020.6146

Controle da Inflamação

Beghelli et al. (2023)

Exercícios intensos podem desencadear inflamação e estresse oxidativo devido à produção de espécies reativas de oxigênio, formando um ciclo vicioso entre esses processos fisiopatológicos. Um estudo duplo-cego controlado por placebo foi conduzido com 16 cavalos de salto para avaliar os efeitos de um suplemento fitoterápico comercial (Dolhorse®) contendo extrato de Curcuma longa (14.280 mg/kg), além de Verbascum thapsus e Boswellia serrata. Após 10 dias de suplementação, foram observadas mudanças significativas em 36 pontos proteicos relacionados a 29 proteínas, além da regulação negativa de citocinas pró-inflamatórias como IL-1α, IL-6, TLR4 e IKBKB, conforme análise por RT-PCR em tempo real.

Destaca-se o papel da cúrcuma (Curcuma longa), reconhecida por suas propriedades anti-inflamatórias e moduladoras da resposta imune, como provável agente contribuinte para a redução dos marcadores inflamatórios. Embora não tenham sido observados efeitos significativos sobre o sistema antioxidante, o suplemento levou à superexpressão de proteínas associadas à imunidade e ao metabolismo, e à redução de proteínas inflamatórias e fragmentos do sistema complemento. Esses resultados sugerem que a fitoterapia, especialmente com cúrcuma, pode auxiliar no controle da inflamação em cavalos atletas, atuando como adjuvante na manutenção da saúde durante atividades físicas intensas.

Referência: Beghelli D, Zallocco L, Angeloni C, et al. Suplementação alimentar com Boswellia serrata, Verbascum thapsus e Curcuma longa em cavalos de salto: efeitos no proteoma sérico, estado antioxidante e expressão gênica anti-inflamatória. Life (Basel) . 2023;13(3):750. Publicado em 10 de março de 2023. doi:10.3390/life13030750 

quinta-feira, 24 de abril de 2025

Óleos de citrus e a ansiedade

Paula Barcelos Benedicto - Universidade de Taubaté

Marcos Roberto Furlan - Universidade de Taubaté

Os óleos essenciais de citrus, como Citrus sinensis e Citrus aurantium, têm demonstrado eficácia no controle da ansiedade, conforme evidenciado em estudos. Utilizados principalmente por meio da aromaterapia, esses óleos influenciam positivamente o sistema nervoso, promovendo efeitos ansiolíticos. Os resultados de pesquisas indicam que a inalação desses óleos pode reduzir significativamente a ansiedade em diferentes contextos, como em pacientes submetidos a procedimentos médicos — incluindo angiografia coronária e coleta de material medular —, em estudantes durante exames e em pacientes internados em unidades de terapia intensiva (UTI).

Além da redução da ansiedade, o aroma de Citrus aurantium demonstrou melhorar a qualidade do sono em mulheres na pós-menopausa, graças às suas propriedades sedativas e ansiolíticas. Também se observou alívio da ansiedade em ambientes odontológicos, especialmente entre mulheres e indivíduos com níveis elevados de ansiedade, através da vaporização de óleos como o de Citrus sinensis. Em situações específicas, como no caso de pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM), a aromaterapia com óleo essencial de limão reduziu os níveis de ansiedade. Já o óleo essencial de yuzu (Citrus junos) apresentou efeitos terapêuticos em sintomas pré-menstruais, contribuindo para a diminuição da tensão, ansiedade, raiva e fadiga.

Em alguns estudos, os efeitos dos óleos essenciais de citrus na redução da ansiedade foram comparáveis aos de medicamentos tradicionais, como o diazepam. Isso se deve aos seus mecanismos de ação, que incluem propriedades neuroprotetoras, ansiolíticas, antioxidantes e sedativas. A inalação de aromas cítricos também influencia o sistema nervoso autônomo, podendo diminuir a frequência cardíaca e aumentar a atividade parassimpática, o que contribui para o relaxamento corporal.

De modo geral, a aromaterapia com óleos essenciais de citrus é considerada segura e eficaz, com poucos efeitos colaterais relatados. A combinação dessa prática com outras abordagens terapêuticas, como a musicoterapia, pode potencializar os efeitos ansiolíticos. No entanto, a utilização dos óleos deve ser sempre orientada por um profissional qualificado, que poderá indicar a forma de uso mais adequada e a dosagem ideal para cada caso.

Referências

ABBASPOOR, Zahra; SIAHPOOSH, Amir; JAVADIFAR, Nahid; SIAHKAL, Shahla Faal; MOHAGHEGH, Zeynab; SHARIFIPOUR, Foruzan. The Effect of Citrus Aurantium Aroma on the Sleep Quality in Postmenopausal Women: a randomized controlled trial. International Journal Of Community Based Nursing And Midwifery, [S.L.], v. 10, n. 2, p. 86-95, abr. 2022. http://dx.doi.org/10.30476/ijcbnm.2021.90322.1693.

CZAKERT, Judith; KANDIL, Farid I.; BOUJNAH, Hiba; TAVAKOLIAN, Pantea; BLAKESLEE, Sarah B.; STRITTER, Wiebke; DOMMISCH, Henrik; SEIFERT, Georg. Scenting serenity: influence of essential-oil vaporization on dental anxiety - a cluster-randomized, controlled, single-blinded study (aroma_dent). Scientific Reports, [S.L.], v. 14, n. 1, p. 1-13, 19 jun. 2024. http://dx.doi.org/10.1038/s41598-024-63657-w.

EBRAHIMI, Abed; ESLAMI, Jamshid; DARVISHI, Isan; MOMENI, Khadijeh; AKBARZADEH, Marzieh. An overview of the comparison of inhalation aromatherapy on emotional distress of female and male patients in preoperative period. Journal of Complementary and Integrative Medicine, [S.L.], v. 19, n. 1, p. 111-119, 12 maio 2021. http://dx.doi.org/10.1515/jcim-2020-0464.

HOZUMI, Hideaki; HASEGAWA, Sho; TSUNENARI, Takazumi; SANPEI, Noriko; ARASHINA, Yuko; TAKAHASHI, Kieko; KONNNO, Ayako; CHIDA, Emi; TOMIMATSU, Souichi. Aromatherapies using Osmanthus fragrans oil and grapefruit oil are effective complementary treatments for anxious patients undergoing colonoscopy: a randomized controlled study. Complementary Therapies in Medicine, [S.L.], v. 34, p. 165-169, out. 2017. http://dx.doi.org/10.1016/j.ctim.2017.08.012.

KARIMZADEH, Zahra; FOROUZI, Mansooreh Azizzadeh; RAHIMINEZHAD, Elham; AHMADINEJAD, Mehdi; DEHGHAN, Mahlagha. The effects of Lavender and Citrus aurantium on anxiety and agitation of the conscious patients in intensive care units: a parallel randomized placebo-controlled trial. Biomed Research International, [S.L.], v. 2021, p. 1-8, 15 jun. 2021 http://dx.doi.org/10.1155/2021/5565956.

MATSUMOTO, Tamaki; KIMURA, Tetsuya; HAYASHI, Tatsuya. Does japanese citrus fruit yuzu (Citrus junos Sieb. ex Tanaka) fragrance have lavender-like therapeutic effects that alleviate premenstrual emotional symptoms? A single-blind randomized crossover study. The Journal of Alternative and Complementary Medicine, [S.L.], v. 23, n. 6, p. 461-470, jun. 2017. http://dx.doi.org/10.1089/acm.2016.0328.

MORADI, Khalil; ASHTARIAN, Hossein; DANZIMA, Nicholas Yakubu; SAEEDI, Hamid; BIJAN, Behrouz; AKBARI, Farzaneh; MOHAMMADI, Mohammad Mehdi. Essential oil from Citrus aurantium alleviates anxiety of patients undergoing coronary angiography: a single-blind, randomized controlled trial. Chinese Journal of Integrative Medicine, [S.L.], v. 27, n. 3, p. 177-182, 22 jun. 2020. http://dx.doi.org/10.1007/s11655-020-3266-5.

MOSLEMI, Farhad; ALIJANIHA, Fatemeh; NASERI, Mohsen; KAZEMNEJAD, Anoshirvan; CHARKHKAR, Mahsa; HEIDARI, Mohammad Reza. Citrus aurantium aroma for anxiety in patients with acute coronary syndrome: a double-blind placebo-controlled trial. The Journal of Alternative and Complementary Medicine, [S.L.], v. 25, n. 8, p. 833-839, ago. 2019. http://dx.doi.org/10.1089/acm.2019.0061.

PIMENTA, Flávia Cristina Fernandes; ALVES, Mateus Feitosa; PIMENTA, Martina Bragante Fernandes; MELO, Silvia Adelaide Linhares; ALMEIDA, Anna Alice Figueirêdo de; LEITE, José Roberto; PORDEUS, Liana Clébia de Morais; DINIZ, Margareth de Fátima Formiga Melo; ALMEIDA, Reinaldo Nóbrega de. Anxiolytic effect of Citrus aurantium L. on patients with Chronic Myeloid Leukemia. Phytotherapy Research, [S.L.], v. 30, n. 4, p. 613-617, 20 jan. 2016. http://dx.doi.org/10.1002/ptr.5566.

RAMBOD, Masoume; RAKHSHAN, Mahnaz; TOHIDINIK, Sara; NIKOO, Mohammad Hossein. The effect of lemon inhalation aromatherapy on blood pressure, electrocardiogram changes, and anxiety in acute myocardial infarction patients: a clinical, multi-centered, assessor-blinded trial design. Complementary Therapies in Clinical Practice, [S.L.], v. 39, p. 1-7, maio 2020.  http://dx.doi.org/10.1016/j.ctcp.2020.101155.