Nenhuma planta medicinal tem mais destaque do que ela na
história da indústria farmacêutica. Isso porque foi a partir da casca da Salix
alba, espécie popularmente conhecida como salgueiro-branco, que foi isolado o
ácido salicílico, no começo do século 19. Derivado do princípio ativo
salicilato, o composto daria origem, em 1899, ao famoso ácido acetilsalicílico,
batizado comercialmente de Aspirina.
Mas as propriedades do salgueiro já eram conhecidas muito
antes disso. Hipócrates escreveu, no século V a.C., sobre um pó amargo extraído
da casca da árvore capaz de aliviar dores e baixar febres. Os índios americanos
usavam-na para combater dor de cabeça, febre, dores musculares, reumatismo e
calafrios. Na mitologia romana, o salgueiro era consagrado à deusa Juno, e
tinha propriedades para deter qualquer hemorragia e evitar o aborto.
Provavelmente vem daí seu tradicional uso para aliviar cólicas menstruais.
Na lista de fitoterápicos disponíveis no SUS, a planta
aparece indicada para o tratamento de dor lombar. “Ele pode ser indicado em
qualquer tipo de dor, mas é mais usado em dores do tipo reumáticas”, explica o
médico fitoterapeuta Luiz Carlos Leme Franco, de Curitiba. “Além de um bom
analgésico, é antitérmico dos melhores”, completa, confirmando as observações
feitas lá na antiguidade.
Todos esses poderes da planta, porém, não são atribuídos
apenas ao salicilato. Isso porque a concentração da substância seria
insuficiente para vencer a dor. Nessa missão, acredita-se que o salicilato
conte com a ajuda de outros compostos: os flavonoides e os polifenois. O fato
de ser uma força-tarefa, e não um único princípio ativo, de prontidão traz
vantagens. Os fitoterápicos à base da planta acabam tendo ação mais ampla e
menos efeitos colaterais. “Alguns estudos dizem que a Salix Alba não
tem o mesmo efeito antiplaquetário dos medicamentos com ácido
acetilsalicílico”, diz João Batista Calixto, professor do Departamento de
Farmacologia da Universidade Federal de Santa Catarina, referindo-se ao fato de
o fitoterápico não interferir na coagulação do sangue.
Ainda assim, o medicamento fitoterápico teve ser tomado com
orientação médica, já que possui, embora menores, alguns efeitos colaterais. O
salicilato presente na planta, por exemplo, é muito mais irritante à mucosa
gástrica do que o ácido acetilsalicílico. Além disso, pode haver interação com
outros medicamentos. “Essas interações podem inibir a metabolização do fármaco,
o que dificulta sua excreção e traz risco de intoxicação, ou aumentar a
metabolização, diminuindo sua ação”, explica o professor João Batista.
Texto: Raquel Marçal
Data: 06.09.2012
Foto: wikipedia
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