Tradução e observações:
Dra. Luiza Savietto, CRM - 146610luizanutriohm@gmail.com, www.facebook.com/nutriohm
Nutrologia - Vegetarianismo - Alimentação Viva - Alimentação funcional
O presente artigo teve como objetivo investigar a relação inversa entre os marcadores metabólicos dos níveis de vitamina B12 e o desempenho cognitivo, e os possíveis efeitos nesse com a presença da apolipoproteína E (ApoE) e de um quadro de depressão.
A progressão do déficit cognitivo e o desenvolvimento da demência são processos complexos que envolvem diversos genes e a inter-relação sinérgica desses com fatores ambientais. A deficiência de vitamina B12 é um importante fator modificável, e existem relatos de que sua associação com o declínio cognitivo pode depender da existência de polimorfismos genéticos, bem como a apolipoproteína E e a comorbidade depressão.
Diversos estudos relatam os benefícios de altos níveis de vit B12 na cognição e a relação entre baixos níveis de vit B12 e o déficit cognitivo entre idosos e pacientes com limitação cognitiva.
A Apo E está envolvida na regulação e no transporte de lípides e tem prováveis atividades regulatórias na deposição e formação da placa amiloide e de emaranhados neurofibrilares, ambos marcadores de atividade da doença de Alzheimer. Além disso, indivíduos portadores do genótipo que manifesta a ApoE são mais vulneráveis a riscos não genéticos de adquirir demência.
Depressão, por sua vez, pode pode acelerar o declínio cognitio e acredita-se ter um efeito adicional na progressão de quadros patológicos na saúde física, estado funcional, e mortalidade.
O objetivo deste estudo transversal, realizado com aproximadamente 2000 idosos residentes na comunidade, é investigar a associação dos níveis dos principais marcadores de vitamina B12 plasmática e específicas funções cognitivas; busca evidenciar se a presença destes dois fatores já expostos, o alelo cromossômico Apo E e sintomas depressivos, podem influenciar na cognição na população em estudo.
Os participantes, residentes na cidade de Bergen e nascidos entre 1925 e 1927, participantes do estudo Hordaland em 1992-93 foram convidados a realizar os testes cognitivos, e os que tomavam suplementação de vit. B12 foram excluídos.
Questionários individuais examinaram informações da dieta, estilo de vida e história medicamentosa. Exame clínico com medidas de peso, altura e pressão arterial foram realizados em todos os participantes, bem como amostrs sanguíneas de homocisteína (tHcy) plasmática, folato, vitamina B12, ácido metilmalônico (MMA), holotranscobalamina, transcobalamina total,creatinina plasmática e genotipia da Apo E.
Foram aplicados testes cognitivos, dos quais:
m-MMSE: Mini exame do estado mental/cognição global (modificado);
KOLT: Kendrick Object Learning Test/memória episódica;
m – DST: Digit Symbol Test/velocidade de percepção (modificado);
COWAT: Controlled Oral Word Association Test/memória semântica (versão resumida – S-task);
TMT – A: parte A do teste Trail Making Test/função executiva;
m-BD: Block Design/aptidão visual e espacial.
Observou-se uma significante interação entre Vit. B12 e Apo E, na pontuação do m-MMSE, como também entre depressão e vitamina B12, holoTC, e MMA (ácido metilmalônico). Interações acessadas em participantes separadamente, com ou sem o alelo da ApoE, demonstraram que baixos níveis de B12 e altos de MMA eram associados a um baixo número de pontos no m-MMSE, quando os mesmos eram portadores do alelo. Para os não portadores essa relação não foi demonstrada.
MMA plasmático obteve associação inversa com pontuações do m-MMSE e KOLT em participantes portadores de depressão, em modelos de regressão linear.
Altos níveis de tHcy foram associados a um déficit ne memória de evocação, porém, ao separar os sexos, observou-se uma significante associação inversa em homens.
Uma interação de fraca associação, porém importante, foi observada nas pontuações em teste de memória de evocação com o quociente holoTC/B12 e o MMA.
Houve ainda uma interação significativa entre doença depressiva e níveis de vit. B12, holoTC e MMA na pontuação do testa KOLT.
Em participantes deprimidos, evidenciou-se importante relação inversa entre altos níveis plasmáticos de MMA e pontuação do teste KOLT.
No teste m-DST, uma fraca associação inversa com a vit. B12 foi evidenciada, porém uma significante interação observada entre B12 e ApoE,na pontuação do referido exame.
Em deprimidos, a pontuação do teste COWAT mostrou forte e positiva associação com baixos níveis de holoTC e saturação de TC.
Altos níveis de MMA foram associados a resultados inferiores no TMT-A, em participantes portadores do alelo da ApoE, porém não evidenciados em não portadores.
Altos níveis de tHcy demonstraram uma relação positiva no TMT-A em modelos de regressão linear. Uma vez estratificados pelo sexo, altos níveis de tHcy foram associados a déficit cognitivo no teste, em homens.
A razão HoloTC/B12 demonstrou associação positiva nos resultados do m-BD apenas em participantes portadores da ApoE.
Neste estudo de grande amostra populacional, realizado em idosos noruegueses, o achado de maior significância é a evidência de que a associação do status de vitamina B12 e performance em testes cognitivos é mais forte com a presença do alelo daa ApoE ou na presença de depressão.
Os achados estão de acordo com resultados de recentes estudos publicados, que sugerem uma interação entre níveis de vit. B12 e genótipo ApoE, em funções cognitivas.
Neste estudo, a holoTC plasmática e a relação holoTC/B12 foram positivamente relacionados com pontuações globais na cognição.
Outros estudos reportam associações de altos níveis de MMA e performance inferior em diversos domínios cognitivos, como por exemplo habilidades espaciais.
No presente estudo, a relação inversa entre níveis de MMA e cognição global foi evidenciado somente em participantes positivos para ApoE e em participantes portadores de depressão.
Embora altos níveis plasmáticos de tHcy tenham sido associados a baixa performance em memória de evocação neste trabalho, não se observaram evidências de mudanças em efeitos nesta associação, na vigência de baixos níveis de B12.
O modelo transversal de estudo, neste caso, não permite interpretação de causalidades e não pode demonstrar se a associação com o status da vitamina B12 precede ou resulta das limitações cognitivas observadas no transtorno depressivo.
Por fim, a presença de fatores adicionais (Alelo ApoE e depressão), que contribuem no declínio cognitivo, fortaleceu as associações entre baixos níveis de B12 e a cognição. Embora os mecanismos biológicos pelos quais a ApoE ou a depressão modulam os efeitos de baixos níveis de B12 na cognição sejam desconhecidos, formula-se a hipótese de que pacientes portadores do alelo ApoE ou pacientes que exibem sintomas depressivos possam ser mais beneficiados com a suplementação de vit. B12 na fase da velhice. Estudos prospectivos em participantes com baixos níveis de B12 são necessários para elucidar a relevância da suplementação de B12 na prevenção do declínio cognitivo em idosos, e sugere-se que sejam estratificados em portadores ou não do alelo ApoE , portadoresou não de depressão.
Dados do artigo:
Autores
ANNA VOGIATZOGLOU; A. DAVID SMITH; EHA NURK et al.
Psychosomatic Medicine 75:00Y00 (2013)
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