quinta-feira, 27 de junho de 2013

Expansão econômica ainda é rival da proteção ambiental, dizem especialistas

A Alemanha busca uma transformação em sua matriz energética e quer alimentar o país a partir de fontes renováveis como sol, vento e a força da água. Muitos entendem que esse é um importante passo para um estilo de vida mais sustentável.

Karl-Heinz Paqué pensa diferente. “Mesmo que a Alemanha desenvolva programas adequados, o efeito global é praticamente nulo. Somos pequenos demais para isso”, afirma o professor de Economia da Universidade de Magdeburg. Para ele, decisivo é o que se passa nos países de economia emergente, que representam praticamente dois terços de toda a população mundial.

Os emergentes parecem seguir a mesma trajetória dos países europeus que, durante séculos, se preocuparam com o crescimento econômico e com a prosperidade antes de colocarem o meio ambiente no centro das atenções. “A prioridade em proteger o meio ambiente é algo que vem com a prosperidade”, afirma Paqué. “Para nós (europeus), isso começou na década de 1970, não antes. Na China, está começando agora. Na Índia, ainda vai demorar um pouco”, prevê.

O retorno do carvão

Esses mesmos países que figuram como economias prósperas e que caminham em busca de sustentabilidade vivem momentos de nervosismo. Isso porque uma fonte de energia considerada especialmente suja entre os europeus tem tido um papel importante no crescimento mundial. “O carvão está diante do maior renascimento da história da indústria”, afirma Ottmar Edenhofer, do Instituto de Pesquisa dos Impactos do Clima, em Potsdam.

Nos anos de 1990, muitos países substituíram o carvão pelo gás. Mas especialistas observam o retorno do carvão como uma alternativa “inacreditavelmente competitiva”, explica Edenhofer. “Principalmente o crescimento econômico da China foi muito impulsionado pelo carvão barato. O mesmo acontece na Índia, África do Sul e outros países do Leste Europeu”.

A queima do carvão e de outros combustíveis fósseis libera gás carbônico, que prejudica a atmosfera e agrava o quadro das mudanças climáticas. Se os países não fizerem nada, a temperatura média anual pode subir até 5,3 graus até o final do século, trazendo consequências devastadoras ao ambiente, alertou recentemente a Agencia Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

No entanto, todas as negociações em torno de um acordo mundial de proteção ao clima falharam até agora. Não importa se a negociação envolve a tentativa de limitar a emissão de gases do efeito estufa ou a negociação de créditos de carbono: os interesses particulares de cada país são diferentes demais para permitir um acordo.

Desvalorização das matérias-primas.

“Um acordo climático global significaria, no mínimo, o uso de menos carvão e petróleo”, explica Carl Christian von Weizsäcker, do Instituto Max Planck de Pesquisa em Bens Coletivos de Bonn, na Alemanha. Para países com grandes reservas de combustíveis fósseis, isso seria um problema. “Um acordo implicaria na queda do preço dos recursos naturais desses países. Isso complica ainda mais a chegada a um consenso.”

Além disso, há quem mude de posição durante as negociações. O Quênia, Uganda e Moçambique, por exemplo, descobriram novas reservas de petróleo e gás. No Canadá, a exploração do óleo em areias betuminosas mostrou-se rentável. Essa situação fez com que esses países praticamente perdessem o interesse em um acordo climático, já que limitar a poluição reduziria o valor de seus recursos naturais.

Depois do fracasso da Conferência do Clima em Copenhague, em 2009, especialistas avaliam que as chances de um novo acordo em curto prazo são muito pequenas. Menos provável ainda é que os países concordem em frear seu ritmo de crescimento. O sonho de uma vida plena sem crescimento econômico é difundido por movimentos ambientalistas em países industrializados do Ocidente.

É melhor parar de crescer?

Em termos globais, o crescimento zero não é uma opção viável. “Essas diferenças enormes, como as vistas entre África e a Europa ou entre a África e a América são completamente inaceitáveis”, afirma Ottomar Edenhofer, de Potsdam. Ele tem um exemplo calculado. “Os Estados Unidos precisariam reduzir sua renda per capita em 80% para que, na África, as pessoas tivessem um padrão de vida aproximado ao da América Latina. Os conflitos sociais seriam imensos.”

Uma restrição consciente do crescimento estaria fora de cogitação, assim como diretrizes globais para a proteção do clima. Esforços regionais, como as negociações europeias dos créditos de carbono, não funcionam ou são insuficientes. É por isso que a maior parte das pessoas vê o mundo caminhando para um abismo.

Mas o professor de economia Karl-Heinz Paqué não acredita nesses prognósticos. Para ele, previsões confiáveis sobre o futuro não são confiáveis. “Imagine que se em 1913, há 100 anos, nós tivéssemos uma previsão do desenvolvimento mundial feito com base nos padrões tecnológicos daquela época”, compara Paqué. “O que aconteceu desde então, em apenas três gerações, estaria completamente além da nossa imaginação. Por isso mesmo precisamos ser cuidadosos com as nossas previsões”, alega.

Em outras palavras: não é preciso entrar em pânico. A humanidade pode ainda encontrar uma saída. Resta torcer para que Paqué não esteja errado em suas próprias previsões.

Matéria da Agência Deutsche Welle, DW, publicada pelo EcoDebate, 27/06/2013

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