sábado, 19 de maio de 2012

Fitoterapia na medicina veterinária - I

Plantas cicatrizantes

Texto e fotos: Médica Veterinária Carolina Granconato de Abreu

As feridas cutâneas ou músculo-cutâneas são afecções comuns na rotina do médico veterinário, tanto de pequenos animais quanto de grandes e de silvestres. Tais feridas podem ser dos tipos traumático, ou causadas por cirurgia ou por agente infeccioso. Após a injúria, o tecido cutâneo vai cicatrizar tentando reparar a lesão. Este reparo pode ser por primeira intenção, quando o médico sutura a pele e, se necessário, o tecido muscular e subcutâneo aproximando as bordas da lesão com pontos, ou, o reparo pode ser por segunda intenção, quando a ferida é deixada aberta permitindo proliferação de tecido por toda a extensão até as bordas se unirem novamente, formando um grande tecido cicatricial.

Durante estes processos, o médico veterinário encontra algumas barreiras para tratar seu paciente, tendo em vista que pode haver contaminação por bactérias, por fungos, e até pelas moscas de miíase (bicheira), os quais impedem a reconstrução do tecido lesionado. Os animais mais acometidos, de produção ou de estimação, são aqueles que residem em regiões do interior, e que têm mais contato com a natureza e ficam mais expostos aos riscos de feridas, bem como os silvestres.

Existem diversos produtos disponíveis ao médico veterinário empregar nos pacientes, mas nem sempre viáveis do ponto de vista econômico, principalmente quando se trata de animais de produção. Com relação à fitoterapia, ela proporciona benefícios de diferentes formas, pois, por exemplo, podemos encontrar princípios ativos das plantas cicatrizantes com outras funções interessantes à cicatrização de feridas, tais como ações antimicrobiana, anti-inflamatória e proliferativa (com formação de crostas que protegem as feridas). Além disso, o custo é muito menor e reduz outras dispensas com antibióticos e anti-inflamatórios parenterais em alguns casos. Infelizmente, são poucos médicos veterinários que empregam os fitoterápicos ou os reconhecem como bons medicamentos, mas o conhecimento sobre as plantas medicinais é mais disseminado e é de grande valia nas regiões rurais do Brasil.

Muitos pesquisadores de Universidades Brasileiras têm se empenhado em realizar estudos a fim de comprovar cientificamente e dar confiabilidade e segurança no uso das plantas para tratar doenças, além da descoberta de mais empregos de plantas já utilizadas.

Como exemplos de plantas utilizadas popularmente como cicatrizantes, mas que já foram estudadas, podem ser citados: a aroeira, o confrei, a camomila, o trigo, a calêndula, a guaçatonga, a babosa, o barbatimão, o pau-ferro e a melaleuca. Seus compostos responsáveis já foram identificados e foram testadas em animais de produção, cobaias e animais de estimação comprovando sua eficácia. Taninos e flavonoides são exemplos de compostos presentes em tais vegetais que proporcionam a cicatrização.

E como as plantas participam ou influenciam o mecanismo de cicatrização das feridas nos animais? Os princípios ativos terão ação anti-inflamatória, estimulam fibroblastos, a produção de colágeno e também podem auxiliar tendo efeito antisséptico. Estes fatores contribuem para uma menor dor no local, uma proteção a infecções da ferida e proteção mecânica pela formação de crostas impedindo a contaminação e menor tempo de resolução da ferida. Por trás ainda podemos citar os benefícios múltiplos em um só medicamento, com baixo custo e facilidade de acesso nas áreas rurais, melhorando o bem-estar do animal acometido e evitando problemas que podem surgir sem um tratamento adequado da ferida.

É importante ressaltar a necessidade do conhecimento das plantas medicinais através da identificação visual e do nome científico a fim evitar confusões com plantas parecidas ou de mesmo nome popular. Também é fundamental o conhecimento científico dos compostos presentes nas plantas para se ter maior segurança no tratamento do animal. lembre-se: antes de tratar uma ferida com algum medicamento, lave bastante com água e sabão ou, se possível, com algum anti-séptico como o clorexidine, dessa forma os princípios agem melhor e você diminui muito as chances de contaminação do local.


 Foto 1: aroeira (Schinus terebinthifolius)
Foto 2: confrei: Symphytum officinale

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