“Não basta ter alimento, ele tem de ser
sustentável e contemplar aspectos econômicos, sociais, ambientais e culturais
das comunidades”, afirmou Finco durante o Seminário sobre Segurança Alimentar e
Nutricional realizado na FAPESP em 1º de outubro.
O evento reuniu os vencedores do 57º Prêmio
Bunge e do 33º Prêmio Bunge Juventude, que em 2012 contemplou os temas
“Avaliação Educacional” e “Segurança Alimentar e Nutricional”.
Contemplada na categoria “Juventude”, Finco
apresentou resultados de sua pesquisa de doutorado, realizada na Universidade
Hohenheim, na Alemanha, cujo objetivo era descobrir e divulgar as propriedades
funcionais de frutas típicas da região Norte do Brasil.
“Além de promover o consumo desses alimentos
entre a população local, o objetivo é agregar valor aos produtos. Pode ser que
alguém se interesse em estudar o processo tecnológico de polpa, por exemplo.
Isso pode fomentar o extrativismo”, explicou Finco.
Para identificar frutas interessantes para a
pesquisa, o primeiro passo foi conhecer os hábitos alimentares e os aspectos
socioeconômicos da população. Foram entrevistados 57 moradores de duas
comunidades rurais da Área de Proteção Ambiental Ilha do Bananal/Cantão, região
de transição entre o Cerrado e a Floresta Amazônica localizada no Tocantins.
O trabalho de campo revelou que 84% dos
entrevistados estavam em situação de insegurança alimentar, ou seja, não tinham
acesso garantido a alimentos. Paradoxalmente, quase 40% estavam com sobrepeso e
14% eram obesos.
Apesar de os dados indicarem baixo consumo de
frutas e hortaliças por essa população, Finco viu na bacaba – fruta extraída de
uma palmeira amazônica – uma boa candidata para a pesquisa. “Chegamos a estudar
também o jenipapo, mas nos concentramos na bacaba, pois ela mostrou mais
potencial”, disse.
A segunda etapa do trabalho foi investigar em
laboratório a presença de substâncias antioxidantes na bacaba. “A literatura
científica mostra que o consumo de alimentos ricos em antioxidantes está
associado a menor risco de doenças crônicas não transmissíveis, como diabetes,
câncer e doença cardiovascular”, disse Finco.
As análises bioquímicas revelaram a presença
de 1.759 compostos fenólicos com potencial ação antioxidante na bacaba. Por
meio de ensaios laboratoriais, a pesquisadora comparou a atividade antioxidante
dessa fruta com a de outros alimentos funcionais.
“Embora a bacaba perca para o açaí no teor de
antioxidantes, está bem à frente do mirtilo ou da cereja, que são alimentos
reconhecidos como funcionais, mas de acesso mais difícil no Brasil”, contou.
Por último, a pesquisadora investigou o
efeito do extrato de bacaba em linhagens de células de câncer de mama e
verificou que os antioxidantes da fruta induzem a apoptose, ou seja, o suicídio
das células malignas.
“Mostramos que, no caso da bacaba, isso
ocorre pela ativação de complexos proteicos conhecidos como caspases. Mas cada
extrato vegetal age de forma diferente”, ressaltou.
A pesquisa foi concluída em agosto de 2011 e
teve como desdobramento um projeto de cooperação internacional entre o Brasil e
a Alemanha batizado de Eco-Nutrição, no qual Finco coordena uma equipe
interdisciplinar.
“Investigamos agora as propriedades
funcionais do babaçu. Temos interação com uma empresa, parceria com o doutorado
em Ciência Animal da UFT, com pesquisadores da Embrapa, com economistas. A
ideia é montar uma rede e buscar apoio governamental. Também pretendemos voltar
às comunidades estudadas para trabalhar com educação nutricional”, disse Finco.
Biodiversidade e segurança
Em um debate realizado no fim do seminário,
Adalberto Luis Val, membro da Fundação Bunge e do Instituto Nacional de
Pesquisas da Amazônia (Inpa), também ressaltou a importância da biodiversidade
brasileira para a segurança alimentar.
“Entre os países produtores de alimento no
mundo, o Brasil é o único capaz de ampliar a produção acima de suas
necessidades. Mas não podemos fazer isso à custa da destruição dos ambientes
que temos hoje no país. Não podemos avançar sem conhecer essa biodiversidade”,
afirmou Val.
Também participaram do debate de encerramento
Sérgio Alberto Rupp de Paiva, da Sociedade Brasileira de Alimentação e
Nutrição, e Valdemiro Carlos Sgarbieri, da Universidade Estadual de Campinas
(Unicamp). O evento foi aberto pelo presidente da FAPESP, Celso Lafer, e pelo
presidente do conselho administrativo da Fundação Bunge, Jacques
Marcovitch.
Agência Fapesp
Texto: Karina Toledo
Data: 05.10.2012
Link:
ou
Bacaba (Oenocarpus bacaba).
Foto: Evandro Ferreira
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