Nome científico: Datura suaveolens H. et B. ex Willd.
Família botânica: Solanaceae
Outros nomes populares: erva-do-diabo, trombeteira, trombeta-de-anjo,
beladona, figueira-do-inferno, aguadeira, zabumba.
Sinonímia botânica: Brugmansia suaveolensG. Don., Datura arborea L.
Arbusto perene, de
até 3m de altura, de caule ramoso com lenticelas. Folhas alternas, curto-pecioladas,
inteiras, ovado-oblongas, assimétricas na base, de margem inteira e levemente
sinuada, de até 30cm de comprimento. Flores brancas a amarelo-creme, pendentes,
com até 30cm de comprimento, cálice tubular, pentâmero. Fruto capsular, indeiscente
e fusiforme.
Originária da
América do Sul e atualmente conhecida apenas como planta cultivada, a D.
suaveolens vem acompanhando o homem durante os diversos estágios da
civilização (Schultes, 1979, apud Schenkel et al., 2001). Entre os índios
americanos é, provavelmente, a espécie que há mais tempo tem sido utilizada por
suas propriedades psicotrópicas (Lockwool, 1979, apud Schenkel et al., 2001).
Encontra-se muito disseminada no Brasil, onde é cultivada em calçadas e jardins
com propósitos ornamentais.
As atividades psicotrópicas desta espécie, bem como de todo o gênero, é
resultante da presença de alcaloides
tropânicos em todas as partes da planta. Estes são, muitas vezes,
denominados alcaloides beladonados, devido às semelhanças que apresentam com o
alcaloide atropina, encontrado na espécie Atropa belladonna, pertencente a esta
mesma família.
Os alcaloides beladonados estão presentes em vários outros gêneros, e são os
alcaloides vegetais mais bem conhecidos. As plantas que os contêm estão
largamente distribuídas e ocupam importantes espaços na medicina de muitas
culturas. Destas extraem-se principalmente a 1-hiosciamina, a atropina e a
escopolamina (Norton, 1996). Na D. suaveolens, a escopolamina é predominante,
seguida da hiosciamina. Entretanto, o teor destes alcaloides pode variar com a
idade da planta, prevalecendo a escopolamina em plantas jovens e a hiosciamina
em plantas mais velhas (Schenkel et al., 2001).
Os alcaloides tropânicos, em geral, são agentes anticolinérgicos. Inibem a ação
da acetilcolina em efetores autônomos inervados pelos nervos pós-ganglionares
colinérgicos, bem como na musculatura lisa, que é desprovida de inervação
colinérgica (Gilman et al., 1980). A escopolamina tem grande ação no sistema
nervoso central, enquanto a hiosciamina atua primariamente bloqueando
receptores muscarínicos colinérgicos do sistema nervoso parassimpático (Norton,
1996).
As intoxicações podem ser acidentais, ocorrendo através da ingestão de folhas,
flores e/ou frutos por crianças, ou pelo contato da seiva com os olhos durante
a poda. Todavia, são mais freqüentes os casos relacionados ao uso da planta na
preparação de chás com finalidades alucinógenas. Em ambos os casos de ingestão,
o quadro clínico inicia-se rapidamente, começando com náuseas e vômitos pouco
intensos. Logo a seguir surgem sintomas anticolinérgicos, caracterizados por
pele quente, seca e avermelhada, secura das mucosas, principalmente bucal e
ocular, taquicardia, midríase intensa, disúria, oligúria, distúrbios de
comportamento, confusão mental e agitação psicomotora. O paciente passa
repentinamente de uma atitude calma e passiva para grande agitação e
agressividade, voltando subitamente à atitude anterior. As alucinações são
freqüentes, principalmente as visuais, sendo pouco descritas as auditivas. Nos
casos mais graves, após este período, o intoxicado começa a apresentar
progressiva depressão neurológica, com torpor e coma profundo, distúrbios
cardiovasculares, respiratórios e óbito. No caso do contato da seiva com os
olhos, desenvolve-se midríase marcante, que pode ser confundida com desordem
neurológica (Norton, 1996; Schvartsman, 1979; Scavone & Panizza, 1980).
Os sintomas podem
ser, às vezes, confundidos com os da hidrofobia (raiva) e os da
meningoencefalite. Os testes descritos a seguir são úteis para a confirmação do
diagnóstico: Teste da Fenolftaleína – pingam-se gotas de urina do paciente em
um papel de filtro embebido em fenolftaleína e deixa-se secar; coloca-se álcool
sobre o papel e deixa-se secar novamente. A seguir, molha-se com água; o
aparecimento de coloração vermelha é indicativo da presença de hiosciamina ou
atropina. Teste de Geriard – em 5ml de urina do paciente pingam-se algumas
gotas da mistura de cloreto de mercúrio 2% em solução alcoólica 50%. A atropina
dá uma coloração vermelha imediata, enquanto que a hiosciamina produz uma cor
amarela que passa ao vermelho pelo aquecimento (Schvartsman, 1979).
Coremans et al. (1994) relatam que o principal tratamento é a proteção do
paciente aos perigos que seu comportamento agressivo possa levá-lo, acompanhado
de lavagem gástrica precoce e enérgica, utilizando-se sonda de calibre
suficiente para a passagem de restos do vegetal. A lavagem pode ser feita com
água ou de preferência com soluções de permanganato de potássio ou de ácido
tânico 4%. A hipertemia deve ser tratada com medidas físicas (bolsas de gelo,
compressas úmidas etc), pois os analgésicos são geralmente ineficazes.
Sedativos diazepínicos ou barbitúricos podem ser utilizados no controle da
agitação psicomotora muito intensa. Seu emprego deve ser cauteloso, pois podem
potencializar o estado depressivo que segue a agitação psicomotora
(Schvartsman, 1979). Fenotiazinas são contra-indicados devido as suas
propriedades anticolinérgicas. A fisiostigmina é um antídoto eficaz, porém é
necessária muita cautela na sua administração. A dose da fisiostigmina para
adultos é de 2mg por injeção intravenosa, podendo ser repetida a cada 15
minutos. A dose nunca deve exceder 4mg em meia hora (Coremans et al., 1994).
Correções dos distúrbios hidrelitrolíticos e metabólicos, juntamente com
assistência respiratória adequada, completam o tratamento.
O viciado que utiliza a Datura requer tratamento especializado por clínico e
psiquiatra, semelhante ao realizado com consumidores de outras drogas.
Texto: Rejane
Barbosa de Oliveira
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