Revista Interdisciplinar de Estudos Experimentais, v. 1, n. 2, p. 32 - 37, 2009
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Fitoterapia – Uso de fitoestrogênios Para as mulheres com intolerância ou contraindicação aos estrogênios como terapia medicamentosa pode-se ainda indicar o uso de fitoestrogênios para o tratamento de alguns sintomas (CHENG et al., 2007). A Sociedade Norte Americana de Menopausa indica como primeira linha terapêutica para os sintomas vasomotores característicos do período de transição menopausal a mudança do estilo de vida com a prática de exercícios e dieta regular acompanhada da utilização de alguns medicamentos ditos “naturais” como as isoflavonas e fitoestrogênios (NAMS, 2004).
Devido à grande repercussão de estudos indicando em seus resultados correlação entre a administração de estrogênio e estabelecimento de efeitos adversos, o uso de compostos alternativos para o tratamento e controle dos sintomas da menopausa aumentou consideravelmente. Assim, a procura por opções fitoterápicas é crescente e a comprovação de sua eficácia vem sendo relatada na literatura, especialmente envolvendo seu uso para o tratamento de fogachos (HAN, K. K. et al., 2002; PRESTWOOD, 2003; KURZER, 2003; USUI, 2006; LOW DOG, 2007).
Dá-se a denominação de fitoestrogênios às substâncias presentes nas plantas que possuem efeito estrogênico. Dentre estes, destacam-se os flavonoides (KURZER; XU, 1997; CORNWELL et al., 2004).
A propriedade estrogênica dos fitoestrogênios decorre de sua estrutura química formada por anéis fenólicos heterocíclicos, similares aos dos estrogênios naturais e sintéticos (IBARRETA et al., 2001).
Os fitoestrogênios, na forma de compostos apolares ou conjugados à albumina sérica, podem atravessar a membrana plasmática e estimular os receptores esteroides no citoplasma, sendo assim carreados para o núcleo celular até o complexo de transcrição genética, agindo de forma semelhante aos compostos estrogênicos conhecidos (HAVSTEEN, 2002). Devido à semelhança estrutural dos fitoestrogênios com os estrogênios naturais endógenos, eles se ligam por competitividade ao receptor celular e inibem uma série de enzimas envolvidas no metabolismo hormonal (MIKSICEK, 1993; SKIBOLA; SMITH, 2000; IBARRETA et al., 2001).
Na dieta humana normal a presença de tais flavonoides é considerada inofensiva, pois geralmente nenhum fitoestrogênio está presente nos alimentos em quantidade necessária para produzir ou potencializar efeitos fisiológicos. Porém, este pode não ser o caso dos vegetarianos que ingerem uma grande quantidade de alimentos ricos em isoflavonas como a soja e outros cereais (HARBORNE; WILLIAMS, 2000).
Os fitoestrogênios são menos potentes do que o 17-β-estradiol, mas mostram boa eficácia farmacológica quando em concentrações ideais, podendo produzir efeito estrogênico próximo daquele produzido pelo hormônio endógeno (MIKSICEK, 1993; HARBORNE; WILLIAMS, 2000; IBARRETA et al., 2001).
O uso clínico de fitoestrogênios deve ser indicado em pacientes selecionadas, obtendo-se melhor resultado naquelas com pouca sintomatologia e no início da menopausa (TEMPFER et al., 2007). O alto teor de fitoestrogênios em algumas plantas caracteriza uma alternativa promissora para a terapia hormonal na menopausa (BECK et al., 2003).
O extrato de Cimicifuga racemosa, planta rica em fitoestrogênios, age no hipotálamo reduzindo a pulsatilidade do hormônio liberador de gonadotrofina (GnRH), previne a osteoporose e a incontinência urinária (WUTTKE et al., 2003).
Dentre os flavonoides com efeito estrogênico, o grupo das isoflavonas é um grande alvo de estudos, tendo a soja como principal fonte alimentar. A opção pelas isoflavonas para as mulheres que não aderem, se recusam ou têm efeitos adversos com a terapia hormonal clássica é decorrente de estudos epidemiológicos mostrando os efeitos clínicos do consumo de soja (FERNANDES et al., 2004). As isoflavonas em mulheres na pós-menopausa aliviam os sintomas vasomotores, sendo uma alternativa terapêutica (CARROLL, 2006; CASSIDY et al., 2006).
Cheng et al. (2007) desenvolveram um estudo clínico cujos resultados demonstraram que as mulheres que receberam 60mg de isoflavonas por dia, durante três meses, tiveram redução de fogachos e de sudorese noturna de 57% e 43%, respectivamente. Neste mesmo estudo não foram encontradas alterações endometriais e mamárias, indicando uma possível segurança no uso destas substâncias (CHENG et al., 2007).
De acordo com o Algoritmo para o Tratamento de Sintomas Vasomotores, proposto por Panay (2007), o uso de isoflavonas provenientes do trevo vermelho, Cimicifuga racemosa, e da soja está indicado para o tratamento dos sintomas vasomotores em pacientes com queixas leves (PANAY, 2007).
Cimicifuga racemosa
Em um estudo clínico randomizado, controlado e duplo cego, desenvolvido por Han et al. (2002), as isoflavonas reduziram os fogachos em mulheres pós-menopausadas possivelmente devido à sua ação estrogênica. Foi observado também um aumento da concentração sérica de 17-β-estradiol sugerindo uma possível ação do fitoestrogênio através da ligação das isoflavonas às globulinas ligadoras de hormônios sexuais.
Além disso, houve redução do colesterol de baixa densidade e ausência de aumento da espessura endometrial, constituindo uma alternativa segura para o tratamento de sintomas da menopausa (HAN et al., 2002).
O uso de fitoestrogênios também pode reduzir fatores de risco para o desenvolvimento de aterosclerose como a hiperlipidemia e a hipertensão através dos efeitos estrogênico e antioxidante, sendo demonstrada a diminuição dos níveis séricos de colesterol em ratas impúberes e ooforectomizadas que receberam soja (ADLERCREUTZ, 1995; KURZER; XU, 1997; DUNCAN et al., 2003; CORNWELL et al., 2004; CASSIDY et al., 2006; TEMPFER et al., 2007; KISHIDA et al., 2006).
Existe também uma proposta do uso de isoflavonas durante a menopausa para prevenir a perda óssea (SETCHELL; LYDEKINGOLSEN, 2003; CORNWELL et al., 2004; CASSIDY et al., 2006). De fato, as isoflavonas contidas na soja foram responsáveis, em ratos, pela prevenção da perda da densidade mineral óssea (ARJMANDI et al., 1998) e, em camundongos, pelo aumento da densidade mineral óssea (ERLANDSSON et al., 2005; PIE et al., 2006; POWER et al., 2006).
Outra função terapêutica na menopausa seria na prevenção contra alguns tipos de câncer através da inibição do crescimento e da angiogênese tumoral promovida por alguns fitoestrogênios (ADLERCREUTZ, 1995; DUNCAN et al., 2003; RICE; WHITEHEAD, 2006).
Recentemente, aventou-se a possibilidade do extrato de Ginkgo biloba ser utilizado como fitoestrogênio no tratamento de sintomas da menopausa (OH; CHUNG, 2004), porém poucos estudos foram desenvolvidos sobre os efeitos do uso deste fitoterápico durante esta fase.
Sabe-se que mulheres já utilizam o extrato de Ginkgo biloba para tratamento dos principais sintomas da menopausa. Da parcela de 52,7% da população norte-americana que utiliza algum composto alternativo em substituição aos medicamentos tradicionais, 6,8% relataram fazer uso de Ginkgo biloba como terapia complementar durante a menopausa.
Dentre as mulheres que utilizavam alguma terapia alternativa para o tratamento de sintomas vasomotores durante a menopausa, o Ginkgo biloba era utilizado por 7,2% delas. Já nas mulheres que utilizavam alguma terapia alternativa para tratamento de sintomas psicológicos e sintomas somáticos, o Ginkgo biloba era consumido por 8,3% e 7,8% delas, respectivamente (GOLD et al., 2007).
Recentemente, um estudo in vitro comprovou a ação estrogênica do extrato de Ginkgo biloba e seus principais flavonoides (quercetina, kaempferol e isorhamnetina) aventando a hipótese de uso durante o climatério (OH; CHUNG, 2004).
Sabe-se também que a quercetina e o kaempferol alteram a fisiologia do metabolismo ósseo, provavelmente, mediados pela ação estrogênica intrínseca destas substâncias, podendo ser utilizados para a prevenção e tratamento da osteoporose causada pela menopausa. O kaempferol impediu a produção de citocinas osteoclastogênicas pelos osteoblastos e ambas as substâncias alteraram a diferenciação celular dos osteoclastos (PANG et al., 2006). A quercetina e o kaempferol também mostraram inibir a reabsorção óssea pelos osteoclastos bem como induzir a apoptose dessa célula, provavelmente via efeito estrogênico (WATTEL et al., 2003). A quercetina e o kaempferol induziram o aumento da ação da fosfatase alcalina em osteoblastos, promovendo um aumento da atividade do osteoblasto (PROUILLET et al., 2004).
Não há consenso, entretanto, entre risco/benefício do uso de fitoestrogênios na menopausa. Estudos clínicos controlados e com longa duração devem ser feitos para melhor avaliar tal conduta (KRONENBERG; FUGH-BERMAN, 2002; POWLES, 2004) bem como a segurança do seu uso (STRAUSS et al., 1998).
Em síntese, diversos medicamentos mostraram-se eficazes no tratamento da menopausa e os fitoterápicos têm apresentado resultados promissores como coadjuvantes ou substitutos, em determinadas circunstâncias, dos medicamentos tradicionais. Entretanto, é importante que se continuem as pesquisas para a busca de um produto eficaz, eficiente e desprovido de efeitos colaterais para utilização no climatério.
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