Deutsche Welle — publicado 24/05/2013
Um estudo divulgado nesta semana com base na análise de publicações científicas das últimas duas décadas mostrou que 99% dos artigos apontam a ação humana como a causa das mudanças climáticas – um consenso frente aos chamados céticos do clima, que atribuem o aquecimento global a fatores exclusivamente naturais.
A análise é assinada por John Cook, estudante de pós-doutorado em astrofísica da Universidade de Queensland, na Austrália, e foi publicada no jornal científico Environmental Research Letters. Ele avaliou o abstract, o resumo do conteúdo, de 11.944 artigos científicos sobre aquecimento global e mudanças climáticas publicados entre 1991 e 2011.
A avaliação de todo esse volume de material, disponível no banco de dados científico Web of Knowledge, revelou que 66,4% das publicações posicionaram-se em concordância a corrente do aquecimento global antropogênico, ou seja, causado pelo homem. Outros 32,6% dos artigos pesquisados endossavam essa posição. Cook encontrou apenas 0,7% das publicações negando a participação humana no aquecimento global e 0,3% expressando incerteza quanto às reais causas das mudanças climáticas.
Uma pesquisa semelhante, porém com uma amostragem menor, já havia sido publicada por cientistas da Universidade de Standford em 2010. Na verificação de 1.372 publicações, entre 98% e 99% dos pesquisadores apontavam a participação humana nas mudanças climáticas.
Para meteorologista, "negacionistas"
Os números deixam claro como as publicações céticas quanto ao papel do homem nas mudanças climáticas são minoria. Pesquisadores desta linha – alguns de universidades renomadas– argumentam que as medições que apontam o aquecimento não seriam precisas, que a terra já foi mais quente do que é hoje em um passado recente ou ainda que o sol teria uma influência muito maior nas mudanças climáticas do que os gases do efeito estufa.
Para o coordenador geral da Rede Brasileira de Pesquisas sobre Mudanças Climáticas e Globais (Rede Clima), Paulo Nobre, os pesquisadores que discordam da participação do homem não deveriam ser chamados de céticos, e sim de “negacionistas”.
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“Ceticismo é um pilar da ciência. É formular uma hipótese e ser cético com relação a ela para buscar respostas”, compara. Segundo ele, diante das evidências científicas existentes, não há como negar a participação humana no processo de aquecimento global: “Há 20 anos até poderia haver espaço para o ceticismo, mas hoje não existe mais.”
A interpretação equivocada de dados de variabilidade climática são, na opinião do meteorologista, uma das bases para a negação da responsabilidade humana. Na Rede Clima, que busca prover substrato científico para embasar programas governamentais, por exemplo, a parcela humana no processo de mudanças é levada em conta. Os dados levantados buscam entender exatamente a dimensão humana dessas alterações e as formas de adaptação que permitam garantir a segurança energética, hídrica e alimentar do país.
“É um processo em curso e precisamos propor formas de adaptação e mitigação”, resume Nobre.
O artigo publicado por Cook rompeu as fronteiras da comunidade científica e virou notícia em populares blogs de ciência e na imprensa internacional. A repercussão reflete outra face do trabalho do pesquisador australiano. Além do pós-doutorado no Instituto de Mudanças Globais da Universidade de Queensland, o cientista mantém o blog científico Skeptical Science (www.skepticalscience.com). No site, ele e outros colaboradores contrapõem os argumentos usados para negar a interferência humana nas mudanças climáticas em uma linguagem simples e mais acessível para quem está fora do circuito acadêmico.
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