A Organização Mundial da Saúde define a obesidade como uma doença que resulta do desequilíbrio entre o consumo e gasto calórico e que traz algum risco à saúde. Apesar da maioria das pessoas visualizar a obesidade como apenas um problema estético, sua característica metabólica inflamatória faz uma relação direta com outras doenças, como diabetes, hipertensão e aterosclerose.
No Brasil, os índices de obesidade são crescentes e alarmantes. Os dados da última pesquisa do sobre fatores de risco e proteção para doenças crônicas não-transmissíveis, de autoria do da Saúde (VIGITEL, 2011), mostra que 48,1% dos brasileiros estão com excesso de peso e 15,0% estão obesos. Houve um crescimento significativo de 2006 a 2010.
Estes números são reflexos de um comportamento alimentar errado e com atividade física cada vez mais escassa, nesta vida tão corrida que levamos hoje. Aliás, os últimos estudos de nutrigenômica mostraram que muito mais importante que o fator genético, são os fatores externos aos quais o indivíduo está exposto, para determinar se este será ou não obeso. É o que chamamos de ambiente obesogênico.
É consenso científico que, para obter redução de peso, é necessário uma reeducação alimentar ou uma dieta apropriada, além da prática de atividade física e eliminação de outros fatores de risco, como cigarro e consumo de álcool: é o que chamamos de mudança de estilo de vida.
Os medicamentos aprovados no Brasil para o tratamento da obesidade atualmente são: sibutramina, femproporex, anfepramona, mazindol e orlistat. Porém, a ANVISA pretende retirar do mercado em agosto de 2011 os quatro primeiro desta lista, com a alegação de apresentarem riscos cardiovasculares relevantes.
Segundo informações do fornecedores de insumos, desde maio a ANVISA não tem permitido a entrada destes quatro fármacos no país, surgindo um forte indício de proibição dos medicamentos manipulados e industrializados ainda em 2011.
Com isso, as opções terapêuticas na obesidade ficarão escassas, tendo em vista que os medicamentos inovadores no tratamento da obesidade, que atuam por novos mecanismos de ação (como modulação da colescistoquinina, leptina e grelina) estão ainda em fase de testes clínicos e os medicamentos com aprovação no Brasil para tratamento do diabetes e que promovem redução de peso como efeito adverso, não têm aprovação das entidades sanitárias para esta finalidade por falta de evidências científicas (p. ex.: liraglutida).
Neste sentido, os fitoterápicos surgem como alternativas para o tratamento da obesidade, porém devem ser utilizados com cautela e com critérios técnicos, pois da mesma forma promovem efeitos benéficos, podem produzir efeitos indesejados ou maléficos.
Existem muitos fitoterápicos que são utilizados para auxiliar na perda de peso, porém, aqui serão listados apenas os que possuem evidências científicas no tratamento da obesidade: Camellia sinensis (Chá Verde), Garcinia cambogia, Irvingia gabonensis, Plantago ovata (Psyllium), Amorphophallus konjac (Glucomanan), Citrus aurantium (laranja amarga) e Phaseolus vulgaris (Faseolamina).
O Chá Verde é a forma de processamento da Camellia sinensis mais investigada e consumida no mundo, portanto é a que apresenta maior perfusão de trabalhos científicos avaliando sua eficácia e segurança no tratamento da obesidade.
O extrato seco da folha contém os compostos chamados “catequinas”, que são da classe dos polifenóis, substâncias produzidas pela planta que lhe confere diversos mecanismos de defesa. Estas catequinas, segundo estudos in vitro e in vivo, funcionam na obesidade principalmente aumentando o gasto energético das células (termogênese) e reduzindo a digestão de macronutrientes (carboidratos e gorduras), por inibir a ação de enzimas digestivas de origem pancreática. (FIGURA).
É importante citar que o efeito terapêutico do Chá Verde se obtém de forma mais segura e eficaz, na forma de extrato seco padronizado a 50% de polifenóis totais, pois esta possui um teor menor de xantinas (cafeína e derivado), comparado com a droga vegetal (forma utilizada em infusão ou chá). Deve-se obter o consumo diário de 250 a 500mg de polifenóis totais para obter redução de peso, do colesterol total, do LDL-Colesterol, da glicemia e da pressão arterial sistêmica segundo investigações científicas.
A Garcinia cambogia é uma planta da região da África conhecida como tamarindo malabar e foi muito utilizada nos anos 90 no tratamento da obesidade, devido ao grande número de publicações científicas feitas no final dos anos 80.
O extrato do seu fruto deve conter 50% de Ácido Hidroxicítrico, que é a substância responsável pelos efeitos farmacológicos. Ela é capaz de inibir uma enzima conhecida como citrato-liase, responsável pela conversão de citrato a ácidos graxos, reduzindo então a conversão de açúcares a gorduras. Clinicamente, promove redução de peso, colesterol total, LDL-colesterol e da glicemia.
A Irvingia gabonensis é um tipo de manga da África que foi capaz de melhorar significativamente os parâmetros metabólicos em dois estudos clínicos feitos em 2005 e 2008.
Entretanto, não se sabe exatamente por qual substância ou grupo de substâncias o extrato utilizado no estudo, chamado OB131, foi capaz e promover tais efeitos clínicos, sendo assim cabível de questionamento sobre a qualidade dos extratos disponíveis para manipulação no Brasil.
O consumo de fibras na alimentação reduz a incidência da obesidade, assim sendo, as plantas Plantago ovata (Psyllium) e Amorphophallus konjac (Glucomanan), que são ricas em fibras solúveis, podem contribuir na dietoterapia do paciente. São as únicas formas de tratar, devidamente estudado e de forma segura, a obesidade em crianças.
Plantago ovata
Elas atuam reduzindo a quantidade e a velocidade de absorção de carboidratos e gorduras, reduzindo o consumo calórico ao dia. Em adultos e crianças, é capaz de gerar efeito sacietógeno se utilizado antes das refeições, reduzindo a quantidade de alimentos consumidos em uma refeição e, assim, de reduzindo número de calorias por refeição.
O Citrus aurantium (laranja amarga) contém em seu extrato seco 6% de sinefrina, um alcaloide responsável pelo seu efeito termogênico, ou seja, estimula a quebra de gorduras nos adipócitos, assim como o Chá Verde. Entretanto, seus efeitos adversos possuem freqüência relativamente elevada, do ponto de vista cardiovascular, sendo contra-indicada em pacientes com doença cardiovascular estabelecida ou potencial.
O Phaseolus vulgaris (feijão branco) contém em seu extrato das sementes uma proteína conhecida como Faseolamina, que inibe a ação da enzima digestiva alfa-amilase, responsável por digerir o amido dos alimentos.
Assim sendo, existe uma redução na absorção de carboidratos menores (maltose, glicose, amilopectina) e do consumo calórico. Estudos clínicos mostraram haver redução de peso, glicemia e colesterol após o consumo de 500 a 2000 mg ao dia deste extrato.
Estas são as opções que foram investigadas com maior rigor técnico-científico até então, portanto, são os fitoterápicos mais confiáveis para o tratamento da obesidade. Apesar disto, os resultados clínicos são mais relevantes se estiverem sendo utilizados dentro de um plano de mudança de estilo de vida, que envolve alimentação saudável, exercícios e eliminação de fatores de risco, como ditos anteriormente.
Por esta razão, o médico ou nutricionista devem ser consultados para que seja feita uma avaliação clínica e bioquímica inicial, e após isto, entender quais são os fitoterápicos mais apropriados para o caso clínico em questão. Além disso, são produtos com ação farmacológica, assim sendo, não estão isentos de efeitos adversos, precauções, advertências, contra-indicações e interações com nutrientes ou outros medicamentos.
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