Texto: Marcos Roberto Furlan
O conhecimento sobre os aspectos botânicos e agronômicos das plantas medicinais é essencial para que se cumpra o objetivo de produzir uma espécie com eficiente ação medicinal. Uma das principais preocupações, tanto da indústria farmacêutica quanto do profissional que prescreve os fitoterápicos, é com relação à variabilidade de princípios ativos da matéria prima.
Espécies dioicas, como a carqueja, ou as que são reproduzidas por sementes, produzem considerável variabilidade de princípios ativos entre os seus descendentes, fato que desestimula a produção de muitas plantas medicinais. No entanto, o dente-de-leão (Taraxacum oficcinale Weber ex F.H. Wigg.) e o hipérico (Hypericum perforatum L.), por exemplo, são propagados por sementes, mas são espécies apomíticas. A formação de suas sementes ocorre sem a fecundação dos gametas, o que proporciona geração de progênies geneticamente idênticas à planta mãe (DALL’AGNOL e SCHIFINO-WITTMANN, 2005).
A interação com o ambiente é outro fator que muito contribui para a formação dos princípios ativos, pois esses compostos possuem, como uma de suas principais funções, a adaptação ao meio ambiente. Para exemplificar, muitos dos vegetais são tóxicos, porque possuem alcaloides, substâncias com alta eficiência contra herbívoros, mas há alguns insetos, geralmente coloridos, que se alimentam de plantas tóxicas para se protegerem de predadores, fenômeno denominado de aposematismo. Como exemplo, as larvas da borboleta Placidula euryanassa, visando à sua proteção contra predadores, sequestram alcaloides tropânicos da solanácea Brugmansia suaveolens (Humb. & Bonpl. ex. Willd.) (TRIGO, 2000). Portanto, insetos podem ser indicativos da presença de alcaloides ou estimuladores da produção desses compostos.
Há alguns fatores que comprometem totalmente a produção de determinado princípio ativo, pois alguns desses só surgem após o ataque de microorganismo ou de insetos e dano mecânico, por exemplo. Essas substâncias são denominadas de fitoalexinas. Essa informação para a fitoterapia é essencial, principalmente porque é comum cultivar as plantas medicinais em um local onde serão irrigadas e adubadas, recebendo tratos culturais, de maneira que não possibilite a ação de defesa da planta e, consequentemente, a produção do princípio ativo, caso seja uma fitoalexina.
Como exemplo de fitoalexina, pode ser citado o resveratrol da uva, do amendoim ou da amora, dentre outras. Na uva, como já foi estudado, a substância é sintetizada na casca, como resposta, dentre outros, contra dano mecânico, irradiação de luz ultravioleta e infecção causada pelos fungos Botrytis cinerea e Plasmopora viticola.
Com relação à produção, são vários os fatores que afetam a produção de princípios ativos, mas, felizmente, alguns poucos são predominantes para cada espécie. Um exemplo é o que acontece com a Mentha x piperita, a qual, se for produzida em dias longos, reduz o teor de mentofurano, substância indesejável no óleo essencial dessa espécie, por ser uma hepatoxina, e aumenta a produção dos compostos mentona e mentol (FAROOQI et al., 1999).
Portanto, a eficácia do uso de uma planta medicinal ou de um fitoterápico depende, e muito, de algumas variáveis que antecedem a manipulação, e que, inclusive, podem colocar em risco a saúde do paciente.
Referências
DALL’AGNOL, M.; SCHIFINO-WITTMANN, M. T. Apomixia, genética e melhoramento de plantas. Revista Brasileira de Agrociência, v.11, n. 2, p. 127-133, 2005 Disponível em: http://www.ufpel.tche.br/faem/agrociencia/v11n2/artigo01.pdf. Acesso em 12 de out de 2011.
FAROOQI, A. H. A.; SANGWAN, N. S.; SANGWAN, R. S. Effect of different photoperiodic regimes on growth, flowering and essential oil in Mentha species. Plant Growth Regulation, v. 29, p. 181-187, 1999.
TRIGO, José R.. The chemistry of antipredator defense by secondary compounds in neotropical lepidoptera: facts, perspectives and caveats. J. Braz. Chem. Soc., v. 11, n. 6, Dec. 2000.
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