Por Bely Pires, diretora adjunta da AHPCE Associação Holística de Participação Comunitária Ecológica (AHPCE)
“Me cansei de lero-lero
Dá licença, mas eu vou sair do sério
Quero mais saúde”
Trecho da música “Saúde” – Rita Lee e Roberto de Carvalho
Não é só a Rita Lee que quer saúde! Como dia 7 de abril comemoramos o Dia da Saúde, tomo emprestados os versos de sua música para fazer uma breve reflexão sobre o quanto nossa saúde é dependente dos ecossistemas para prevenção e tratamentos de doenças.
Em outros boletins tivemos a oportunidade de mencionar o conceito de serviços ecossistêmicos: os benefícios que o ser humano obtém da natureza. De fato, todos os tipos de serviços ecossistêmicos - provisão, regulação, culturais e de suporte - são importantes para a garantia do bem-estar, mas neste boletim falaremos de dois serviços específicos: a provisão de produtos bioquímicos, medicamentos naturais e produtos farmacêuticos e a regulação da qualidade do ar.
Talvez poucas pessoas saibam, mas vários remédios alopáticos, como a aspirina, são derivados de produtos naturais. Muitos deles, atualmente, são obtidos sinteticamente em laboratórios e não mais nos ecossistemas. Mas sabendo do imenso potencial das florestas, a indústria farmacêutica investe pesadamente em pesquisas de espécies da flora e fauna, buscando princípios ativos que possam contribuir com tratamentos de doenças diversas. A fitoterapia, por exemplo, usa as plantas medicinais para prevenção e tratamento de doenças e distúrbios da saúde.
Conforme destaca a pesquisadora Massako Nakaoka, do Instituto Florestal da Secretaria de Meio Ambiente do Estado de São Paulo, a importância dos fitoterápicos é tamanha que, em 2005, a Organização Mundial da Saúde (OMS) publicou documento sobre a Política Nacional de Medicina Tradicional e Regulamentação de Medicamentos Fitoterápicos (http://apps.who.int/medicinedocs/pdf/s7916e/s7916e.pdf). No Brasil, em 2006 foi publicado o Decreto Nº 5.813 (http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/programa_nacional_plantas_medicinais_fitoterapicos.pdf) que trata da Política Nacional de Plantas Medicinais e Fitoterápicos. Em 2011, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária – ANVISA – publicou o Formulário de Fitoterápicos da Farmacopeia Brasileira (http://www.anvisa.gov.br/hotsite/farmacopeiabrasileira/conteudo/Formulario_de_Fitoterapicos_da_Farmacopeia_Brasileira.pdf) no qual são elencadas diversas espécies e sua utilização. Entre elas, temos algumas velhas conhecidas de nossos avós e pais: arnica (anti-inflamatório); carqueja, espinheira santa e alcachofra (atuam nas dificuldades digestivas); capim-santo, melissa e erva-cidreira (calmante leve), malva e guaco (expectorante), muitos destes incorporados ao Sistema Único de Saúde (SUS), possibilitando que o usuário da saúde pública tenha acesso a medicamentos fitoterápicos. Muitos remédios ainda podem ser descobertos a partir dos princípios ativos de plantas, mas isso só é possível se mantivermos os ecossistemas conservados.
Outro importante papel dos ecossistemas, especificamente de florestas, é sua capacidade de funcionar como um filtro gigante de particulados (substâncias que compõem a poluição atmosférica). Esses particulados são detidos pela casca e folhas das árvores, impedindo que se disseminem, conforme pesquisa da engenheira florestal Ana Paula Garcia Martins. É o serviço ecossistêmico de regulação da qualidade do ar, extremamente importante na composição de políticas públicas voltadas à saúde, visto que, segundo Paulo Saldiva, da Faculdade de Medicina da USP, 4 mil pessoas morrem anualmente na cidade de São Paulo em decorrência de doenças provocadas por poluição, como doenças respiratórias, infartos do miocárdio.
Mais informações sobre estes temas estarão disponíveis na publicação “Serviços Ecossistêmicos e Bem-estar Humano na Reserva da Biosfera do Cinturão Verde da Cidade de São Paulo”, organizado por uma parceria entre Ahpce, Instituto Florestal e Fundação Florestal, a ser lançado este ano.
Fica a mensagem sobre a importância da conservação de ecossistemas, se quisermos de fato cuidar de nossa saúde. Afinal, tomando emprestados novamente os versos de Rita Lee, se a natureza continuar “viva e cheia de graça, Talvez ainda faça um monte de gente feliz...”
Talvez não! Certamente fará!
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