[EcoDebate] Reselvagerizar o mundo pode ser uma alternativa, mesmo que parcial, aos crescentes crimes do especismo e do ecocídio. Para garantir espaços para a vida selvagem será preciso descivilizar amplas áreas territoriais, diminuindo a pegada ecológica antrópica global, regional e local.
As estatísticas sobre a destruição do meio ambiente mostram que na época do Antropoceno (Era da dominação da ganância do homo sapiens) as espécies estão desaparecendo mil vezes mais rápido do que antes dos seres humanos apareceram na Terra. Quase um quarto de todos os mamíferos estão sob ameaça; um terço de todos os invertebrados, 70% de todas as plantas, assim como os ecossistemas que sustentam a vida da terra e que fornecem nossa comida, água, remédios e defesas naturais contra a mudança climática.
Mas há uma geração de cientistas e conservacionistas que estão tentando desfazer os danos da mentalidade desenvolvimentista desregrada, como Caroline Fraser em seu livro “Rewilding the world” (reselvagerizando o mundo). Ou seja, é preciso redelimitar o espaço da economia e da presença humana, garantindo áreas crescentes para liberdade e para a vida em todas as suas formas e esplendor.
A ideia de reselvagerizar o mundo visa salvar as espécies, restaurar os habitats naturais e ampliar os territórios de biodiversidade, defendendo as áreas verdes para o desenvolvimento da vida selvagem e também criando corredores de migração e de promoção da paz entre as pessoas e os animais nas áreas já dominadas pelos humanos.
No livro “Rewilding the world”, Fraser exemplifica como os projetos estão transformando a antiga “Cortina de Ferro” na Europa em um cinturão verde e, na África, criando parques transfronteiriços de paz para renovar rotas de elefantes. Trata-se de projetos de retorno ao natural.
A autora cita o caso da Costa Rica que tem buscado preservar o valor de suas florestas tropicais e outros ecossistemas que tem. Os costarricenses estão dando o exemplo ao destinar cerca de 25 por cento do seu país para as áreas protegidas. Mas é preciso dinheiro para realmente investir na proteção e ampliação da biodiversidade desses lugares.
Segundo reportagem de Bruno Calixto, da revista Época (08/08/2013) “A Costa Rica é conhecida por ter um dos programas de conservação mais ambiciosos do mundo. O país baniu o desmatamento de floresta tropical, proibiu o uso de animais em circos e conta com quase metade do seu território coberto por mata nativa. A proposta mais recente do Ministério do Meio Ambiente do país, no entanto, é polêmica: acabar com os zoológicos e devolver os animais ao meio ambiente”.
Mas o caso da Costa Rica é exceção, pois o crescimento da população mundial e da economia internacional tem se dado às custas da diminuição e da degradação das áreas selvagens e da pauperização dos ecossistemas. É por isto que o ambientalista David Attenborough disse que os seres humanos são “Uma praga na Terra” (Humans are plague on Earth).
A ideia de confinar os belos animais selvagem em “jardins zoológicos” para o deleite dovoyeurismo humano é cruel. Os animais merecem uma vida livre e distante da presença econômica humana. Neste sentido, faz parte do processo de reselvagerizar o mundo a proposta de fechar os jardin zoológicos, os aquários, as gaiolas, proibir os animais de circo e os demais espaços de cativeiro e devolver os animais ao meio ambiente para o livre desenvolvimento da vida selvagem. Evidentemente, não é possível permitir a caça e o contrabando de animais selvagens.
No Brasil temos os exemplos do Parque Nacional do Iguaçu (PR) e do Parque da Serra da Canastra (MG) que são insuficientes para preservar a vida selvagem. No primeiro caso, o parque tem sido insuficiente para abrigar uma grande população de onças-pintadas no pouco que resta da Mata Atlântica, pois sofreu uma redução de mais de 80% no número de indivíduos do final dos anos 1990 para cá. De uma média de cem onças estimadas em estudo naquele período, hoje só restam 18 indivíduos. O parque da Serra da Canastra não tem sido suficiente para manter a população de Tamanduá-bandeira e outros animais selvagens, nem mesmo para preservar adequadamente as nascentes do rio São Francisco.
Neste sentido, a proposta de Caroline Fraser em seu livro “Rewilding do Mundo” (Reselvagerizando o mundo) pode ser uma alternativa concreta para se evitar a extinção em massa da vida selvagem no Planeta e para criar uma esperança de conservação da biodiversidade e a convivência respeitosa e ética entre as espécies.
Referências:
Caroline Fraser. Rewilding the World: Dispatches from the Conservation Revolution.
David Attenborough – Humans are plague on Earth. Telegraph, UK, 22/01/2013
ALVES, JED. Especismo e as desigualdades entre espécies. EcoDebate, Rio de Janeiro, 14/03/2012
ALVES, JED. Erradicar o Ecocídio. EcoDebate, Rio de Janeiro, 31/10/2012
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: 100 milhões de tubarões mortos por ano. EcoDebate, Rio de Janeiro, 07/11/2012
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: o massacre de elefantes e o comércio de marfim. EcoDebate, Rio de Janeiro, 21/11/2012
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: a ameaça de extinção dos rinocerontes. EcoDebate, RJ,28/11/2012
ALVES, JED. Especismo e ecocÍdio: a destruição da Amazônia. EcoDebate, RJ, 01/02/2013
ALVES, JED. Especismo e ecocídio: Gorilas ameaçados de extinção. EcoDebate, RJ, 10/04/2013
José Eustáquio Diniz Alves, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em demografia e professor titular do mestrado em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE; Apresenta seus pontos de vista em caráter pessoal. E-mail: jed_alves@yahoo.com.br
EcoDebate, 14/08/2013
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