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By Rachel Moreno,
ARAR OU NÃO ARAR: Ao deixarem o solo intacto, sem arar, os agricultores podem ajudar a reduzir os níveis de dióxido de carbono na atmosfera, embora a compactação do solo também seja um problema. Por David Biello
Quando as chuvas pesadas chegaram a Iowa nessa primavera americana, o cultivador de milho Dave Miller arou as partes irregulares de sua lavoura de 255 hectares.
Os sulcos no solo retardam as enxurradas e impedem a erosão da terra fértil e fofa. Há alguns anos, essa operação teria lhe custado dinheiro graças a uma tentativa de unir agricultores determinados a melhorar a gestão de carbono em seus solos e empresas que procuram reduzir a poluição.
“Sabemos que o aumento de matéria orgânica no solo é bom para a terra, a sociedade e o clima”, diz Miller que também trabalha como economista para o Iowa Farm Bureau (IFB, na sigla em inglês).
No passado, ele operou o maior serviço de crédito de carbono agrícola do país. A ideia é simples: o solo é um dos melhores lugares para se depositar o dióxido de carbono que causa as mudanças climáticas e atingiu novos picos de concentração na atmosfera terrestre. As plantas ajudam a depositar o carbono no solo por meio da fotossíntese ao transformarem o CO2 e a água em carboidratos por meio da luz solar.
Além disso, os fazendeiros podem incrementar o processo ao converterem algumas dessas plantas em carvão, ou biocarvão como os defensores dessa prática gostam de chamar o processo.
No entanto, os agricultores precisam de incentivos para adotar essas práticas.
Um dos poucos esforços para estimular os fazendeiros americanos a cuidar de suas terras e da atmosfera foi o agora extinto Chicago Climate Exchange (CCX), um plano que reuniu diversas empresas que se ofereceram, voluntariamente, a adotar um limite para a poluição de CO2 e negociaram créditos de carbono para cumprir essa meta.
Com o CCX, Miller começou a elaborar um programa climático que também “funcionaria para a agricultura” em vez de ser projetado por “engravatados de Chicago”.
Em suma, um programa como o CCX é implantado e estabelece um limite para as emissões de gases de efeito estufa geradas por um conjunto de empresas, como as concessionárias de energia elétrica.
As empresas poluidoras no programa teriam de reduzir suas emissões ou comprar créditos de redução de poluição de outras. Os fazendeiros, representados pelo IFB, forneceriam uma parte dessas reduções adicionais de CO2 ao mercado CCX.
Em seu auge, o programa de Miller contava com mais de quatro mil fazendeiros, pecuaristas e silvicultores cadastrados em 31 estados do país.
Um programa similar da North Dakota Farmers Union envolveu mais agricultores ainda.
As regras do programa de Iowa, concebidas por Miller e seus colegas, eram simples: não arar o solo durante cinco anos. Ao não revolverem a terra e expor a matéria orgânica, Miller e outros fazendeiros como ele prenderam o carbono no solo. (A prática, no entanto, não é uma panaceia: ela não armazena carbono em todas as paisagens).
A política de plantio direto ajudou os produtores a formar um solo melhor e, ao mesmo tempo, combater as alterações climáticas. Em troca, eles receberam cerca de US$ 1 por 0,40 hectare. “A maioria dos participantes não estava interessada no dinheiro”, observa Miller, mas esperava descobrir como se adaptar a possíveis novas regras para a poluição do CO2. “Eles estavam ali para aprender”.
Entre 2003 e 2010 o programa de Miller cobria cerca de 810 mil hectares de lavouras, mais de dois milhões de hectares de pastagens e cerca de 400 mil hectares de florestas. “Estávamos nos preparando para milhões de toneladas de créditos de compensação de carbono por ano”, lembra Miller.
O serviço tinha planos de expansão nacional ao vender créditos em um proposto programa de “cap-and-trade” (“limite e comércio”), embora a abordagem fosse criticada por ambientalistas e outros grupos. “Não se tratava de gerar um monte de dinheiro”, diz Miller, “tratava-se de uma solução de baixo custo para a mudança climática”.
Em vez disso, não houve nenhum programa nacional de combate à mudança climática nos Estados Unidos, nem cap-and-trade, nem qualquer outra alternativa depois que a legislação para instituir um programa desse tipo não obteve a aprovação do Congresso dos Estados Unidos em 2009.
Em parte, a razão pela qual a legislação não foi aprovada é que o American Farm Bureau, do qual o IFB faz parte, retirou seu apoio no último momento. “Acreditamos que a política de cap-and-trade impactaria de modo significativo a indústria agrícola, particularmente em termos de custos energéticos”, explica Mace Thornton, um porta-voz do Farm Bureau. “A organização também se preocupa com o fato de as terras agrícolas estarem sendo utilizadas como um ‘poço’ de carbono tirando-as da linha de produção de alimentos’”, acrescenta.
Como resultado, os planos de expansão do serviço de Miller desmoronaram quase imediatamente — assim como ocorreu com o mercado CCX, que fechou em 2010. “Fomos um dos poucos participantes que honraram todos os nossos compromissos”, diz Miller. “Perdemos dinheiro fazendo isso”.
Atualmente há mais lavouras sendo aradas no cinturão do milho e mais CO2 se concentrando na atmosfera.
O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos lançou programas de conservação para ajudar os agricultores a acumular carbono no solo e tem apoiado mais pesquisas sobre a “saúde do solo”, o que proporcionará algum alívio climático na ausência de um mercado cap-and-trade para gases de efeito estufa. “Acreditamos que esta seria a melhor abordagem baseada no mercado para lidar com a mudança climática”, diz Roger Johnson, presidente da União Nacional de Fazendeiros e agricultor na Dakota do Norte. “Obviamente isso não acontecerá por algum tempo – se é que acontecerá”.
Quanto a Miller, quando, no início deste ano caíram chuvas torrenciais de mais de152,4 milímetros, ele arou as encostas de suas terras para protegê-las. “Isso libera carbono? Sim, com certeza”, admite ele. Em vez de reduzirem o risco de mudanças climáticas, os agricultores só terão que aprender a ajustar-se a elas, até terem uma razão para fazer o contrário.
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