domingo, 21 de dezembro de 2014

Maconha: canabidiol, proibido no Brasil, pode melhorar a vida de quem tem doenças graves - Bloco 3

Canabidiol é usado para tratar doenças como esquizofrenia e mal de Parkinson.

A polêmica é antiga. Embora a humanidade conviva há milênios com a cannabis sativa, o nome científico da maconha, e já tenham sido publicados centenas de estudos sobre suas propriedades medicinais, o assunto continua tabu. Ainda que o cultivo e o uso para fins medicinais e científicos estejam previstos em lei, não há no país regulamentação para o uso medicinal da planta e, na prática, não há regras claras para definir em que condições ela pode ser manipulada. Este foi o assunto de um seminário realizado aqui na Câmara. O evento, promovido em novembro, pela Comissão de Seguridade Social da Câmara, reuniu parlamentares, cientistas, professores, representantes do governo e familiares. Conheça ainda uma menina de 5 anos, com uma doença, que usa o canabidiol. A reportagem é de Mariana Monteiro

Anny Fischer é uma menina de 5 anos que tem uma doença genética rara. Por causa disso, sofria com crises de convulsão desde os primeiros meses de vida. Eram de 30 a 80 por semana.

Anny chegou a tomar, ao mesmo tempo, oito medicamentos para controlar o problema. Com indicação de um médico, a mãe dela, Katiele, e o marido resolveram tentar um remédio feito com o canabidiol.

A mãe conta que tiveram enorme dificuldade para conseguir a autorização e para importá-lo dos Estados Unidos.

“Porque a pessoa tem de experimentar todas as medicações autorizadas, como a Anny fez. Inclusive com medicações que causam cegueira parcial, com efeitos colaterais horríveis. Por que tem de ser o canabidiol a última opção? Por que a pessoa não pode ter o direito de usar como primeira opção? Por que não se libera a produção no país? Por que a gente precisa lutar tanto parta usar uma medicação que tem de ser importada?”

O canabidiol mudou a vida de Anny, que passou a ter menos convulsões – 3 por mês. Katiele Fisher agora luta para que outras pessoas tenham esse direito.

"A mesma alegria que me dá de ver a minha filha sorrido, coisa que ela não fazia há anos, é direito de outras pessoas também terem essa oportunidade de ter uma qualidade de vida."

O canabidiol já é usado em outros países para tratar doenças graves. Entre elas, a esquizofrenia e o Parkinson.

Existem pesquisas sobre o canabidiol no Brasil desde a década de 70. Mas, enquanto outros países já utilizam a substância, aqui, a Anvisa ainda não autorizou o uso. A agência só libera a utilização depois de analisar caso a caso os pedidos de importação.

Os estudos brasileiros têm surtido efeito no avanço dos debates. Em seminário na Câmara, em novembro, que discutiu o uso e a regulamentação do canabidiol, especialistas afirmaram que a substância não produz alucinações, como o THC, outro princípio ativo da maconha.

Marisa Lobo coordena a Campanha “Maconha Não”. Embora seja contra o uso recreativo da droga, mudou de ideia em relação à legalização do canabidiol como remédio.

“Nós estamos somando esforços, apelando para a votação política dos deputados e também da Anvisa e pedindo esta regulamentação.”

Presidente da Comissão de Seguridade Social, o deputado Amaury Teixeira, do PT da Bahia, acredita que é preciso debater o tema sem preconceito.

"Saúde pública não pode ser movida por questões religiosas, por preconceitos. Nós temos que nos desprover desse tipo de conduta e temos que ver o que é melhor para a população como um todo. Nossa opção religiosa é uma coisa, saúde pública é outra."

A deputada Mara Gabrili, do PSDB de São Paulo, defende o uso medicinal do canabidiol e vai além. Ela é tetraplégica e explica que em outros países já se usa o THC para melhorar a qualidade de vida dos tetraplégicos.

“Imagina esta cena: se eu, como deputado federal, tivesse que fazer esse uso aqui, no Congresso. Isso fica como uma provocação para o imaginário de cada um, para a gente ver que a gente precisa ampliar horizontes e pensar grande, sem descuidar das nossas crianças, dos nossos jovens, dos nossos brasileiros.”

Atualmente, o Conselho Federal de Medicina discute os termos de uma resolução sobre o tema. Ivo Bucaresky, presidente substituto da Agência, disse que a diretoria do órgão vai analisar a expectativa das famílias dos doentes de que a Anvisa reavalie a proibição do Canabidiol no Brasil.

“Nós estamos falando de questões de saúde, de pessoas, especialmente de crianças, este caso. Isso, obviamente, gera ainda mais paixões. É importante a gente avaliar a situação do uso e das famílias. Mas também temos de avaliar as questões técnicas e legais do país.”

Uma indicação de Integrantes da Comissão de Seguridade Social da Câmara dos Deputados pede para o Conselho Federal de Medicina autorizar os médicos de todo o País a prescrever, para uso medicinal, remédios feitos a partir da substância canabidiol.
Reportagem — Mariana Monteiro
Edição — Mauro Ceccherini

Data: 08.12.2014

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