[EcoDebate] As condições do transporte público no Brasil são um grave caso de desrespeito aos direitos humanos e a maioria dos estudantes e trabalhadores do país vive isso diariamente. Paga-se, ainda, um preço abusivo por esse serviço. Essa foi a gota d’água que levou milhares de manifestantes às ruas nos últimos dias, mas as reivindicações vão muito além da questão dos transportes, incluindo, saúde, educação, segurança e combate à corrupção.
Lutar por um sistema de transporte público de qualidade e a preço justo, significa, também, lutar pela redução da emissão de gases do efeito estufa – GEE (mesmo que nem todos os manifestantes tenham se dado conta disso).
Ao subsidiar o transporte individual, dando incentivos fiscais ao comércio de automóveis, o governo acaba por seguir na direção contrária à Política Nacional sobre Mudança Climática – PNMC, na qual o país compromete-se voluntariamente a reduzir suas emissões antrópicas de GEE. No entanto, investir no transporte público significa, além de atender aos clamores da população por melhor qualidade de vida, tomar medidas práticas para alcançar os objetivos da PNMC.
O setor de transportes representa 13% das emissões globais de GEE, segundo o Intergovernmental Panel on Climate Change - IPCC. No Brasil, o setor energia (que inclui os transportes em seu cálculo) teve um aumento de 21,4% no volume de emissões de GEE, de 2005 a 2010, segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia – MCT.
O setor tradicionalmente responsável pelo maior volume de emissões de GEE no Brasil é a mudança no uso da terra e florestas (especialmente desflorestamento do bioma Amazônia), mas já há uma tendência de redução do desflorestamento nos últimos oito anos. Isso viabilizou a redução das emissões totais do Brasil de 20,03 bilhões de toneladas de CO2 eq, em 2005 para 1,25 bilhão de toneladas de Co2 eq, em 2010 (uma redução de 38,7%) em cinco anos, de acordo com o MCT. Houve, assim, um rearranjo nas posições dos três setores responsáveis pelos maiores percentuais de emissões de GEE no país passando de: uso da terra, 57%; agricultura, 20% e energia, 16% no ano de 2005, para: agricultura, 35%; energia 32% e uso da terra, 22% no ano de 2010. Ao observar esses dados, fica clara a crescente importância da energia (incluindo os transportes) no contexto das emissões brasileiras de GEE nos últimos anos.
É sempre importante refletir sobre a questão climática, especialmente nesse momento de forte participação popular na política. E também durante essa semana em que jovens ativistas de 135 países estão reunidos na Turquia para debater a mudança climática. Espera-se que toda essa mobilização traga bons frutos.
Referências
Vanessa da Costa, mestranda em Estudos Populacionais e Pesquisas Sociais da Escola Nacional de Ciências Estatísticas.
EcoDebate, 01/07/2013
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