por Lucas Maia e Maria Angélica Comis
Utilizada tradicionalmente há séculos, a planta Salvia divinorum possui efeitos farmacológicos e comportamentais que variam de intensidade. O uso ritualístico difere do uso recreacional; o último tem incitado à proibição da planta em diversos países.
Foto por Aut Fleming. © 2007 Erowid.org
A Salvia divinorum (Lamiaceae) é conhecida como “ska Maria Pastora” e considerada sagrada para a cultura Mazateca, do México, sendo utilizada para fins medicinais e ritualísticos. Os propósitos medicinais incluem o tratamento da dor, diarréia, reumatismo e doenças neurológicas. Existem diversas espécies de sálvia, um grande número de plantas ornamentais e condimentares (ex. Salvia officinalis), as quais não contêm substâncias psicoativas.
Consumida principalmente sob as formas de extratos (via oral) ou folhas secas (fumadas ou mascadas), a Salvia divinorum pode produzir efeitos psicodélicos intensos, às vezes considerados assustadores. Tais efeitos dependem da concentração, da via de administração e da dose utilizada. Os estados de consciência alterada são produzidos a partir da ação da salvinorina, um diterpeno estimulador de receptores opióides tipo kappa.
Em altas doses, são relatados efeitos subjetivos que incluem distorção da percepção de tempo e espaço, imagens vívidas, sinestesiase diferentes sintomas de dissociação como: sensação de fusão com o Universo, estar em outra dimensão, sentir-se como outro indivíduo ou artefato, entre outras experiências consideradas transcendentais ou enteógenas para aqueles que utilizam a planta para fins ritualísticos ou religiosos.
O estado mental do indivíduo e o contexto de uso da substância interferem nas experiências vivenciadas. Há relatos de eventos adversos considerados aversivos, entre eles sedação, tonturas, confusão mental, medo, pânico, perda da coordenação física e riso incontrolável. A literatura sobre potencial de abuso e dependência é escassa. Segundo estudos qualitativos, o uso recreacional da sálvia é comumente associado à curiosidade. Conforme relatos de abandono de uso, a continuação parece ocorrer esporadicamente, tendo em vista os efeitos adversos¹.
Diversos países proibiram o uso da Salvia divinorum em virtude do aumento do uso recreacional². No Brasil, está em tramitação na Câmara dos Deputados um projeto de lei (PL 897/11) que visa proibir o consumo, o cultivo e a comercialização da sálvia e substâncias derivadas. Entretanto, cabe questionar se a postura proibicionista é de fato a mais eficaz em controlar o uso de substâncias.
A regulamentação é uma opção política que preconiza o direito de escolha do indivíduo, respeitando o consumo como tradição. Além disso, possibilita o desenvolvimento de estudos científicos sobre esta planta e seus possíveis potenciais terapêuticos.
Referências
EROWID – Base de dados sobre a complexa relação entre humanos & psicoativos
¹ Nyi PP et al. Influence of age on Salvia divinorum use: results of an Internet survey. J Psychoactive Drugs 42(3): 385-392. 2010.
² Schneider RJ e Ardengui P. Salvia divinorium Epling & Játiva (Maria Pastora) e Salvinorina A: crescente uso recreacional e potencial de abuso. Revista Brasileira de Plantas Medicinais12: 358-362. 2010.
Ratsch C. The Encyclopedia of Psychoactive Plants. Vermont: Park Street Press, 2005.
Lucas Maia é biólogo, mestrando pelo Programa de Pós-Graduação em Psicobiologia da Universidade Federal de São Paulo e integrante do Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (CEBRID).
Maria Angélica Comis – Psicóloga Clínica e Mestre em Psicobiologia pela Universidade Federal de São Paulo.
Data: 22.11.2011
Link:
Nenhum comentário:
Postar um comentário