Esgotamento dos recursos renováveis do planeta chega mais cedo a cada ano, segundo estimativa de ONG. Brasil ainda está entre os poucos países que consomem menos do que repõem.
Um estudo divulgado pela ONG Global Footprint Network mostrou que, se a humanidade consumisse apenas o que a natureza tem capacidade de regenerar no planeta no intervalo de um ano, já teria esgotado, nesta terça-feira (20/08), a mais de quatro meses de 2014, os recursos disponíveis.
A data limite, chamada pela organização anualmente de Dia da Sobrecarga, chega este ano dois dias mais cedo do que em 2012. Segundo Roland Gramling, representante da ONG WWF na Alemanha, se a situação continuar assim, em 2050, os seres humanos vão precisar do equivalente a três planetas Terra para suportar um consumo tão alto.
“O consumo normal de recursos naturais por pessoa é de 1,8 hectares por ano. Mas hoje em dia, uma pessoa costuma utilizar 4,8 hectares na Alemanha, por exemplo. Um americano chega a utilizar 7 hectares por ano. Países desenvolvidos são os que mais gastam”, diz Gramling à DW Brasil.
A Global Footprint Network começou a calcular o Dia da Sobrecarga há uma década, mas centraliza suas primeiras análises a partir de 1961. Ela usa o conceito de “pegada ecológica”, uma medição objetiva do impacto do consumo humano sobre os recursos naturais.
Especialistas afirmam que, em 2050, os seres humanos vão precisar do equivalente a três planetas terra para suportar um consumo tão alto.
O Brasil está entre os países credores, ou seja, que consomem menos do que repõem. Com ele estão ainda Canadá, Indonésia, Madagascar, Suécia e Austrália. O restante consumiu e ainda passou dos limites.
Entre os fatores que contribuem para que o Brasil fique entre os países que exploram menos a natureza estão a grande área florestal brasileira, concentrada especialmente na Amazônia, e a densidade demográfica do país, que é uma das menores do mundo.
“A matriz energética do Brasil, comparada com outros países, é bem maior, o que protege o planeta de uma certa forma”, afirma Michael Becker, superintendente de Conservação do WWF-Brasil.
Energia renovável como saída
Para a WWF, que faz o cálculo da pegada ecológica no Brasil, a saída mais rápida seria investir em energias renováveis, não só em países desenvolvidos. Uma redução significativa no consumo de carne por pessoa também ajudaria.
“Nós ainda temos floresta e água, mas nós estamos devendo muito à natureza. Nós pegamos emprestado todo o ano, mas não conseguimos pagar de volta”, diz Gramling.
Segundo coordenador da WWF Brasil, qualidade do consumo dos produtos no Brasil precisa melhorar
O cálculo da pegada ecológica está sendo feito de maneira segmentada no Brasil. O primeiro estado a ser analisado foi Mato Grosso do Sul, em 2010. Um ano mais tarde foi a vez de São Paulo passar pela checagem.
“O cálculo traz informações importantes que ajudam no planejamento da gestão ambiental das cidades com o direcionamento das políticas públicas, com a meta de reduzir esses impactos”, afirma Becker.
Segundo ele, o consumo consciente de alguns produtos poderia reduzir os impactos no meio ambiente.
“Modificar os padrões de alimentação ajudaria muito na questão da redução da pegada ecológica no país. Mas a cultura e os costumes de um país também devem ser levados em consideração. O que deve melhorar é a qualidade do consumo destes produtos”, opina.
Becker diz que a próxima meta da WWF no Brasil é fazer uma análise dos estados brasileiros e comparar os dados uns com os outros, como mecanismo que controle a redução do consumo dos recursos naturais no país. A estimativa é de que a comparação comece a ser feita a partir de julho de 2014.
Matéria de Maryan D’Ávila Bartels, da Agência Deutsche Welle, DW, publicada pelo EcoDebate, 21/08/2013
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