terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Plantas da Caatinga podem revolucionar indústria farmacêutica e de cosméticos

05.12.2014 

Rede de pesquisadores gerenciada pelo Insa une esforços para estudar propriedades medicinais, terapêuticas e aromáticas das plantas da região semiárida brasileira 

 O dia amanhece no Parque Nacional do Catimbau, Unidade de Conservação com cerca de 62 mil hectares, localizada no semiárido de Pernambuco. A Vila do Catimbau, com seus pouco mais de 2 mil moradores, recepciona um grupo de professores e estudantes de pós-graduação vindos de Recife (PE). Os visitantes vêm ao encontro da sabedoria popular sobre as plantas da Caatinga. 

Único bioma exclusivamente brasileiro a Caatinga se constitui em uma região natural ainda muito pouco estudada. Até mesmo a Constituição Federal a exclui da sua lista de patrimônios naturais em seu artigo 225. Mas os moradores da região conhecem cada planta com potencial medicinal, por meio da tradição oral das culturas locais. É esse conhecimento que os pesquisadores querem catalogar para depois estudarem cientificamente as utilizações da atividade biológica dessa vegetação. 

Várias plantas endêmicas, próprias da região semiárida, como Aroeira, Coroa-de-frade, Jatobá, Jucá e Mororó, além de tantas outras, abrem novas possibilidades para os profissionais que procuram solução para alguns problemas humanos nas propriedades químicas das plantas. 

Hoje os farmacêuticos já lidam com bactérias resistentes a qualquer antibiótico existente, são as chamadas superbactérias. Mas os pesquisadores alertam que já há compostos estudados na vegetação da Caatinga capazes de substituir muitos desses medicamentos, pois eles possuem uma forte ação antimicrobiana, como avalia a professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Márcia Vanusa da silva. 

A professora explica que já foram realizadas pesquisas com plantas como fonte de compostos antibiofilmes e antibacterianos. Os biofilmes são comunidades biológicas de bactérias revestidas por películas de proteção produzidas por elas próprias. Nos seres humanos podem causar problemas em mucosas, nos dentes ou em próteses de órgãos. O tártaro dentário é um exemplo de biofilme que causa transtorno às pessoas. 

Biofilmes bacterianos podem atacar desde cateteres até marca-passos, lentes de contato e próteses de silicone. Durante as pesquisas, vários extratos de plantas da Caatinga mostraram-se eficazes no combate destas bactérias. 

Uma área recente de utilização das plantas da Caatinga é na elaboração de novos antibióticos capazes de substituir drogas incapazes de matar os micróbios resistentes aos tratamentos convencionais. Como exemplo cita-se a triconomose, doença causada pelo protozoário Trichomonas vaginalis, trata-se de uma enfermidade sexualmente transmissível, que causa mais de 174 milhões de novos casos por ano. Esse é um exemplo de doença que requer para seu tratamento o desenvolvimento de novos medicamentos porque os antigos estão perdendo a eficácia contra os micro-organismos resistentes. 

Uma possível solução para a triconomose veio da Rede de Pesquisa Nanobiotec, em um estudo supervisionado pela professora Tiana Tasca, docente da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), descobriu-se que o extrato da espécie endêmica da Caatinga Polygala decumbens, popularmente conhecida como “vick”, foi capaz de controlar a infecção causada pelo protozoário. 

Outra aplicação prática e rentável para a flora da região é a extração de óleos essenciais e utilização na indústria de cosméticos. Plantas com Umbu, Alecrim do campo, Jatobá, Velame e Aroeira podem ser transformadas em fonte de renda para as comunidades locais se os executivos da indústria da beleza prestarem atenção nas qualidades aromáticas e terapêuticas dessas espécies.

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