Um exagero carinhoso seria chamá-lo de “nosso Hawking”, mas seu sobrenome é Dusik, ele é de Esteio e desenvolveu um teclado virtual que facilita o acesso ao computador a pessoas com limitações físicas, como ele próprio. Dusik apresenta atrofia muscular espinhal, que dificulta ao extremo seus movimentos, mas os obstáculos desde pequeno não foram só físicos: seus pais tiveram de lutar contra os preconceitos para conseguir um lugar na escola para o filho. Uma luta que culminou emocionando a banca do Mestrado na UFRGS, em março de 2013, na dissertação sobre o aplicativo que ele criou.
Os diagnósticos médicos, na sua infância, eram de que ele viveria no máximo até os 14 anos, mas além de já ter chegado aos 36 anos de idade, Dusik agora pode ser reconhecido como o criador do Mousekey. Ele era graduado em Psicologia, antes do Mestrado em Educação. Ah, Mousekey é o techado virtual, pelo qual ele ganhou nota máxima da banca. Seu aplicativo será colocado livremente à disposição das pessoas que dele necessitarem, como explicou na entrevista sobre sua dissertação “Tecnologia Virtual silábico-alfabético: tecnologia assistiva para pessoas com deficiência”.
Mas o Mousekey pode ser interessante para mais pessoas: uma educadora da UFSM descreve que com um clique no mouse é possível digitar maiúsculas ou minúsculas dispensando a tecla ‘shift’, além disso permite digitar sílabas prontas, conjugações verbais e pronomes. Palavras ou sentenças podem ser repetidas com apenas um clique, entre outros recursos inteligentes. No seu blog sobre educação, Tissiana Köhler conclui que “eu testei o software e achei muito interessante, imaginando a pessoa que já adquiriu essa habilidade com o uso do mouse, o quão rápido seria”.
Dusik era visto pela sociedade – pelas escolas, mais especificamente – como um problema, mas ele acaba de demonstrar que é uma solução. O que me lembra um teste sobre prognósticos de saúde, “o pai é alcoólatra e dos sete irmãos quatro morreram na infância, você seria a favor do nascimento dessa criança?”. Se você dissesse que não, estaria sendo contra o nascimento de Beethoven, o maior gênio musical da história, um dos pilares de toda a música ocidental.
Médicos haviam “desenganado” a família dizendo que Dusik viveria no máximo até os 14 anos. Eu, que também sou médico, compreendo que prognósticos reservados podem ser formas de prevenir contra expectativas exageradas, que gerem sofrimentos futuros, mas também compreendo que médicos não são deuses e não deveríamos nos comportar como tal. Felizmente, a família Dusik não desistiu de lutar e hoje está aí, dando a sua contribuição para a humanidade.
Tanto o Mestre, quanto o Mousekey, são realizações que desafiam nossos preconceitos e ignorâncias.
Montserrat Martins, Colunista do Portal EcoDebate, é Psiquiatra.
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