segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Plantas denominadas de açafrão no Brasil - III

Texto: Carolina Nujo
Engenheira de Alimentos

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Açafrão-bastardo ou cártamo- Carthamus tinctorius

Esta planta é nativa do Irã, noroeste da Índia e África, pertence à família Asteraceae. Dentre seus nomes populares, são exemplos: açafrão-bastardo, açafroa, açafrol, falso-açafrão, açafrão-dos-tintureiros, cártamo, saflor. A palavra Carthamus deriva do hebraico “Kartami”, que significa tingir.

As partes do cártamo utilizadas são as numerosas e finas flores alaranjadas dos capítulos e ainda o óleo das sementes com usos diversos. Para utilização gastronómica as flores são previamente tostadas ao lume e pulverizadas, porém são menos aromáticas que o Crocus sativus

Das flores do cártamo se extraem dois corantes: um amarelo, solúvel na água, utilizado em culinária e um vermelho, insolúvel na água, utilizado tradicionalmente em tinturaria, pintura e cosmética. Muitas vezes as flores ou o pó são vendidos como “açafrão”. 

As suas sementes são ricas em vitamina E, bem como em ácido oléico ômega-9, de elevado valor dietético, sendo muito usado atualmente como suplemento alimentar, e que pode reduzir o risco de aparecimento de doenças cardíacas e a probabilidade de acidente vascular cerebral (AVC). Também é rico em ácido linoléico - CLA (ácido linoléico conjugado), responsável por regular o nível de colesterol LDL e triglicerídeos. Possui ação antioxidante e anti-inflamatória. 

As sementes são ricas em um óleo onde predominam os ésteres glicéridos de ácidos graxos. Nas flores do capítulo do cártamo são encontrados os pigmentos amarelo, cartamidina e vermelho-alaranjado cartamina, o óleo essencial (ácido araquico, ácido oléico, ácido linolênico, ácido palmítico, ácido esteárico) e as saponinas. As folhas e sementes possuem uma enzima que provoca a coagulação do leite. 

Dentre outras propriedades medicinais, o óleo pode ser usado contra prisão de ventre, reumatismo, dores. Também é considerado purgante e antifúngico. As flores são emenagogas, laxantes, sedativas e cicatrizantes.

Açafroeira ou urucum- Bixa orellana

Planta nativa da América tropical e pertencente à família Bixaceae. Popularmente é conhecida como urucum, urucu, açafrão-da-terra, açafroa, achicote, achiote, achote, bija, bixa, orocu, tintória e urucuzeiro. Levada para a Europa pelos primeiros colonizadores da América, é mundialmente empregada como corante para diversos fins.

Na culinária, a tintura de urucum em pó é conhecida como colorau, e usada para realçar a cor dos alimentos. Na indústria alimentícia, o urucum é usado como condimento e também colorante. É empregado sob a forma de pó obtido por trituração das sementes, usualmente misturadas a certo teor de outros grãos também triturados, devido ao arilo que envolve as sementes, que fornece matéria corante vermelha característica. É apreciado pela quase-ausência de sabor e por não apresentar os efeitos prejudiciais dos corantes artificiais. Com o banimento do uso de corantes alimentícios artificiais na União Européia, por prováveis efeitos cancerígenos, por exemplo a anilina, é intensamente importado da América tropical e África. 

Na cosmética é utilizada tradicionalmente pelos índios brasileiros e peruanos para as mais diversos finalidades, como, por exemplo, protetor da pele contra o sol e contra picadas de insetos. Há também o simbolismo de agradecimento aos deuses pelas colheitas, pesca ou saúde do povo. 

Na medicina, o urucum é utilizado como fitoterápico e possui várias propriedades medicinais, tais como: adstringente, afrodisíaca, anti-asmática, antibiótica, antidiabética,antidiarreica, antidesintérica, antídoto do ácido cianídrico, anti-hemorrágica, anti-inflamatória, antioxidante, antipirética, bactericida, béquica, cardiotônica, cicatrizante, depurativa, emoliente, estimulante, estomáquica. 

Os constituintes químicos do urucum são flavonóides, flavonas, ácidos fenólicos, ácidos graxos saturados,carotenóides,norbixina e vitamina C. As sementes do urucum contêm celulose (40 a 45%), açúcares (3,5 a 5,2%), óleo essencial (0,3% a 0,9%), óleo fixo (3%), pigmentos (4,5 a 5,5%), proteínas (13 a 16%), alfa e beta-carotenos e outros constituintes. Possuem também, dois tipos de pigmentos, a bixina, de cor vermelha e solúvel em óleo e a orelhena, de cor amarela e solúvel em água.

As diferenças encontradas entre as plantas habitualmente designadas como açafrão, não são apenas morfológicas e organolépticas, mas também se verificam ao nível das suas atividades biológicas, pelo que a sua clara designação e reconhecimento são de toda a importância. Existem ainda outras espécies que poderiam ser objeto de confusão ou falsificação, fato que pode apresentar risco em aplicações medicinais ou gastronômicas, dentre elas a Crocus clusii (açafrão-bravo), Crocus carpetanus (açafrão-da-primavera) e Colchicum autumnale (açafrão-de-outono ou açafrão-dos-prados).

REFERÊNCIAS:







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