A efetiva extensão
Por: Márcio Andrade e Paulo César Barboza, professores
Uma pesquisa feita pela Federação Internacional de Universidades Católicas (Fiuc) com alunos de universidades em geral mostrou, dia desses, que os estudantes acadêmicos priorizam os interesses pessoais aos coletivos. Tal análise induz à reflexão sobre o entendimento de muitos docentes e discentes acerca do papel das instituições de Ensino Superior brasileiras, especialmente das universidades públicas. Não é incomum, desde o ingresso nas faculdades, notar-se o incentivo à busca sistemática por títulos. Estes, no imaginário de boa parte dos calouros, muitas vezes possuem maior significado que o próprio conhecimento, e fundamentam a hierarquização da vida acadêmica, constituindo a matriz para veneração e obediência ao longo da caminhada universitária.
Conforme o aluno vai avançando nos estudos, menos ele deixa de ser "educando", e mais vai se tornando um "pesquisador", dentro de um processo produtivista, no qual o formalismo certificador tende a suplantar o conteúdo e secundarizar a relevância social da produção acadêmica. Menos o estudante deixa de ser preparado para transformar a sociedade e mais é moldado para se adaptar a ela. Exasperação da competitividade e da individualidade, numa maratona de “produção” que, em muitos casos, provocaria inveja em Taylor.
Iniciados como pesquisadores, vários estudantes produzem artigos em série, qualificam o seu currículo lattes e buscam pontuações acadêmicas. Inúmeros pensam o aprendizado para os próprios objetivos, enquanto a comunidade não qualificada sofre com a carência de fraternidade, altruísmo e justiça social. Não seria o momento de redirecionarmos aqueles velhos autores, impostos, verticalizados, ensimesmados para algo maior? Quem sabe, começarmos o debate sobre isonomia, valorização do coletivo ou educação cidadã, efetivando a extensão universitária e derrubando os muros que aprisionam a universidade num universo de projetos individuais, algumas vezes surdos às demandas da comunidade.
Assim, criar-se-ão novos laços de cumplicidade com o povo, carente de ideias e ações para viver melhor. E, cada vez mais, reduziremos a peculiar e rotineira “privatização” do interesse público, estimulando o protagonismo social a que se destina a universidade.
Data: 19.09.2012
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