Reportagem e foto de Vanessa Colaço
vanessa.acolaco@gmail.com
Enquanto prepara o terreno para plantar
hortaliças, Manuel perde-se em memórias de infância que surgem ao ver uma
criança de meses que se embrenha na terra em brincadeiras. Estamos nas Bio Hortas
Urbanas de Almeirim um espaço que reúnem gerações.
Candidataram-se ao programa e, agora que
receberam uma horta para cultivar, partilham a tarefa com familiares e amigos
num total de cerca de 150 pessoas envolvidas no cultivo das 60 hortas, só no
município de Almeirim. Os números demonstram um claro interesse pela
agricultura em conselhos urbanos historicamente ligados à atividade, mas onde
atualmente esta constitui apenas uma pequena parte da ocupação laboral, com a
predominância dos setores secundário (indústria) e terciário (serviços).
Cartaxo, Rio Maior, Almeirim e Santarém são
exemplos de concelhos que abraçaram este projeto de desenvolvimento sustentável
que visa o aproveitamento de espaços na periferia ou centro das cidades.
No passado mês de abril, a iniciativa arrancou
na zona norte da cidade de Almeirim onde uma área de 1.516m2 foi dividida em 60
lotes distribuídos gratuitamente. Para que a exploração fosse feita à luz da
agricultura biológica foram organizadas quatro sessões de formação, em sala e
no terreno, um complemento educativo que surgiu da parceria entre a Câmara
Municipal e a Agrobio – Associação Portuguesa de Agricultura Biológica.
Meses depois, o conceito deu frutos no concelho
do Cartaxo, por iniciativa da Eco Cartaxo – Movimento Alternativo Ecologista, e
começaram a ser cultivados na Quinta das Pratas, inicialmente, 14 talhões. Os
valores do campo foram redescobertos e a adesão dos habitantes foi uma boa
surpresa para os seus empreendedores. Rapidamente, foram preenchidos os 22
espaços disponíveis, atingindo-se os 100% de ocupação. Estima-se que estejam
envolvidas nesta iniciativa entre 50
a 60
pessoas, que perfazem um grupo heterogéneo englobando diferentes níveis
sociais, de formação e faixas etárias, à semelhança do que acontece nas
restantes hortas da região. O fim primordial dos alimentos é o consumo
familiar, apesar de ser permitida a comercialização dos produtos.
Em Rio Maior, a iniciativa avançou com a
distribuição de 31 talhões, dos 44 disponíveis. O terreno com cerca de 1.800m2
dispõe de abastecimento de água, uma zona de compostagem e arrumos.
A
antiga Escola Prática de Cavalaria, em Santarém, foi o primeiro local a receber
um projeto desta natureza. Levado a cabo pela Casa Solidária das Artes e
Ofícios, o projeto, na altura pioneiro, data de 2011.
Ao contrário dos
exemplos anteriores, as hortas foram criadas estritamente numa prestativa de
apoio social a famílias afetadas pelo desemprego ou em situação de carência
socioeconómica. Aqui encontraram uma ocupação que ajuda a manter hábitos de
trabalho e proporciona a aquisição de competências profissionais, no âmbito da
agricultura tradicional. Têm neste momento 8 talhões ocupados, bem como
laranjeiras e limoeiros a serem cultivados no espaço comunitário. Os 22 lotes
ainda disponíveis aguardam a ocupação e exploração por parte de famílias em
dificuldades interessadas na atividade agrícola.
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