quarta-feira, 10 de abril de 2013

Usos da almecegueira

TEXTO DO PROJETO: “EXTRATIVISMO NÃO-MADEIREIRO E DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NA AMAZÔNIA


NOME CIENTÍFICO: Protium heptaphyllum (Aubl.) Marchand.
FAMÍLIA: Burseraceae

A planta é utilizada pela população para os mais variados fins, sendo valorizada economicamente em alguns setores. Apresenta qualidades ornamentais, é utilizada na fabricação de diversos produtos, a resina extraída tem alto valor na medicina, e seus frutos são bem apreciados como alimento por alguns índios da América Central e norte da América do Sul.

Esta espécie exsuda grande quantidade de resina, de cor branco-avermelhada (Corrêa, 1984), conhecida por almécega-do-brasil, goma-limão, devido ao seu aroma (Susunaga, 1996) ou breu-branco (Bandeira et al., 2002).

Alimento humano

As sementes têm uso alimentício (Amorozo & Gély, 1988).Os índios Chacó, da Colômbia e Panamá, consomem a polpa do fruto e no Chaco prepara-se uma bebida refrescante com os frutos (Correa & Bernal, 1990).

Calafetagem

Das incisões feitas à casca da árvore exsuda um líquido balsâmico, com cheiro de funcho, que, secando, se coalha numa massa de consistência mole de um branco ligeiramente amarelo. É empregado na calafetagem de embarcações, misturando-se ao calor do fogo, com azeite ou com sebo (Le Cointe, 1939).

Cosmético

A resina é bastante utilizada para a fabricação de cosméticos (Bandeira et al., 2003), de produtos de higiene e de perfumaria (Revilla, 2001).

Essência


As folhas deste breu são fortemente aromáticas (Silva et al., 1977). A resina oleosa produzida quando queimada, exala um cheiro muito aromático, e é utilizada como incenso (Le Cointe, 1939), e também na fabricação de pó aromático e sachês (Revilla, 2001). Em algumas cidades de sua região de ocorrência é comum o uso da resina em substituição ao incenso, em atos religiosos da igreja católica (Lorenzi & Matos, 2002).

Os índios Tanimuka, na região amazônica, têm o costume de queimar a resina num tubo longo de Ischnosiphon e soprar a fumaça aromática na coca em pó, para deixá-la com o aroma da planta. Os índios dizem que a resina, usada como essência para a coca, deve ser retirada exclusivamente de árvores velhas. A incisão é feita na casca e deve-se deixar secar; a resina só é usada 4 ou 5 meses depois da coleta (Schultes, 1981).

Insetífugo

A resina é bastante utilizada pela população como repelente de insetos (Bandeira et al., 2003). É usada para afugentar “carapanãs”, moscas e mosquitos (Revilla, 2002a).

O óleo essencial demonstrou ter efeito anti-alimentar para larvas de Spodoptera frugiperda (lagarta-do-cartucho do milho). O óleo extraído apresentou um bom índice de fagoinibição (80%) para as larvas (Silva et al., 2002).

Medicinal

A planta possui várias indicações terapêuticas populares: dor de cabeça, enfermidades venéreas, esquitossomose, sonífera, antidiarréico, contra úlcera gangrenosa, inflamações em geral, enteralgia, afecções dos olhos, hérnia, cefaléia (Revilla, 2002a).

A resina extraída do caule é empregada de muitas formas na farmácia (Arbelaez, 1975). É utilizada como anti-tumoral, cicatrizante, em feridas, fraturas (Susunaga, 1996), para bronquite, tosse, coqueluche, inflamações, dor de cabeça, antisséptico local, como estimulante, (Maia et al., 2001) e para tratar doenças venéreas (Revilla, 2002b). Os povos Kubeos, da Amazônia, utilizam a resina para desobstruir as vias respiratórias quando estão muito resfriados (Schultes & Raffauf, 1990). A resina misturada com a casca e as folhas é desinfetante e cicatrizante (Susunaga, 1996). Estudos farmacológicos recentes com o óleo da resina comprovaram sua eficácia terapêutica, demonstrando atividades anti-inflamatória, anticonceptiva e antineoplásica (Siani et al., 1999b; Bandeira et al., 2002).

A resina possui atividade cercaricida (Maia et al., 2001). É também considerada analgésica. Ao se comparar resultados de trabalhos recentes sobre analgesia, concluiu-se que a resina de P. heptaphyllum mostrou uma potente atividade analgésica superando apenas a atividade de Callophyllum brasiliensis (Susunaga, 1996).

A casca é hemostática, cicatrizante, anti-inflamatória; útil no tratamento de úlceras gangrenosas (Lorenzi & Matos, 2002). Da casca do caule é preparado um xarope para o tratamento de tosses, bronquites e coqueluches (Guarim Neto, 1987). A casca é usada em banhos para acalmar a dor de cabeça (Correa & Bernal, 1990).

As folhas são muito reputadas contra as úlceras gangrenosas e as inflamações em geral (Corrêa, 1984); são também hemostáticas (Lorenzi & Matos, 2002), cicatrizantes (Susunaga, 1996). O óleo essencial das folhas e frutos inibe a formação do flagelo na forma infectante do parasita de Schistossoma mansoni (Susunaga, 1996).

Os frutos produzem uma resina amarela, oleosa, conhecida como azeite-de-sassafrás, utilizada na medicina popular na cura da sífilis, espinhas, úlceras, inchações, dores de cabeça (Arbelaez, 1975).

Ornamental

Suas qualidades ornamentais podem ser exploradas na arborização urbana e rural (Lorenzi, 1992).

Tinturaria

A resina é bastante utilizada na fabricação de vernizes e tintas (Bandeira et al., 2003).

Velas

Tem uso na fabricação de velas (Revilla, 2001).

Outros

A espécie pode ser utilizada para o repovoamento vegetal em áreas degradadas de preservação permanente, principalmente ao longo de rios e córregos (Lorenzi, 1992).

A resina é usada para defumação e iluminação de casas (Susunaga, 1996). A resina tem uso mágico: é usada para defumação quando está trovejando (Amorozo & Gély, 1988).

A resina é usada pelos índios Waiwai para iluminação de suas malocas (Ribeiro, 1988).

Informações adicionais

Esta espécie caracteriza-se pela grande produção de resina, com alto percentual de constituintes voláteis e um grande número de terpenoides existentes na sua composição (Bandeira et al., 2003). A resina de almécega possui um alto conteúdo de amirina (40,98%), sendo classificada como “elemi”. Quando seca possui alto rendimento de óleo essencial (2,5%), que tem como principais componentes os monoterpenos, α-terpinoleno (24,25%), limoneno (20,12%) e dilapiol (8,05%) (Susunaga, 1996).

Os óleos essenciais presentes nas folhas, frutos e resina foram analisados por GC-MS (Bandeira et al., 2001). O principal componente identificado nas folhas foram os monoterpenos e sesquiterpenos, tais como mirceno (18,6%) e β-cariofileno (18,5%); nos óleos da resina, os componentes identificados foram monoterpenos como α-pireno (10,5%), limoneno (16,9%), α-felandreno (16,7%), e terpinoleno (28,5%); e o óleo do fruto, α-pireno (71,2%).

Foi verificado que a composição dos óleos essenciais desta espécie de Protium varia de acordo com a idade (Siani et al., 1999a). O óleo essencial de uma resina fresca é rica em α-terpeno (18%), ρ-cymeno (36%), γ-terpeno (12%). Já o óleo essencial de uma resina mais antiga contem ρ-cimeno (11%), terpinoleno ρ-cymeno-8-ol ( 11%), e dilapiol (16%).

As sementes contêm cerca de 40% de um óleo fluido e incolor (Ferrão, 2001). Em relação à madeira é branco-avermelhada, com cerne mais escuro, compacta, uniforme, ondeada e acetinada (Corrêa, 1984). É moderadamente pesada (densidade 0,77 g/cm3), compacta, dura, revessa, porém dócil ao cepilho, bastante elástica, de grande durabilidade quando em lugares secos. É própria para a construção civil, obras internas, assoalhos, serviços de torno, carpintaria e marcenaria (Lorenzi, 1992). A madeira é usada por índios para fabricar canoas (Ribeiro, 1988).

Dados sócio-culturais 

Os xamãs misturam o P. heptaphyllum ao tabaco para ficarem com a voz mais rouca e mais forte, para conversar com sobrenaturais (Wilbert, 1991).

Informações econômicas

Ainda não existem plantios com a espécie; a produção é totalmente extrativista (Revilla, 2002a). Atualmente se comercializa o breu, a casca e folhas (Revilla, 2001). O maior consumo é a varejo nos mercados locais e em menor escala no atacado para as empresas produtoras de repelentes e fitoterápicos (Revilla, 2001).

A espécie chega a produzir 1 a 1,2 ton./ha./ano peso fresco, dependendo do trato agrícola e seleção das variedades, podendo chegar a 1,5 toneladas em situação ideal.

Para o texto e para as referências, clique aqui.

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