quinta-feira, 11 de outubro de 2012

Destaques de uma pesquisa sobre uso de plantas medicinais no tratamento da diabetes

Título do trabalho: Plantas medicinais utilizadas por idosos com diagnóstico de Diabetes mellitus no tratamento dos sintomas da doença

Autores: FEIJÓ, A.M.; BUENO, M.E.N.; CEOLIN, T.; LINCK, C.L.; SCHWARTZ, E.; LANGE, C.; MEINCKE, S.M.K.; HECK, R.M.; BARBIERI, R.L.; HEIDEN, G.

Fonte: Revista Brasileira de Plantas Medicinais [online]. 2012, vol.14, n.1, pp. 50-56. 

Parte do resumo

Foram entrevistados 18 idosos com idade entre 60 e 77 anos, sendo 14 do sexo feminino. Os participantes citaram 20 plantas medicinais utilizadas como terapia complementar no tratamento do Diabetes mellitus. Entre estas, as mais citadas utilizadas para diminuir os níveis de glicose no sangue foram Sphagneticola trilobata, Bauhinia spp. e Syzygium cumini, sendo que para as duas últimas há comprovação científica do efeito hipoglicemiante. A infusão foi a forma de preparo predominante. Considera-se importante a realização de estudos farmacológicos que investiguem os efeitos das plantas utilizadas pela população, a fim de que o uso proporcione os benefícios desejados e não cause danos à saúde.

Sobre as plantas relatadas pelos participantes (com observações minhas), e com discussão dos pesquisadores, as que possuem pesquisas sobre efeito hipoglicemiante são:

Encontrou-se para Baccharis genistelloides efeito hipoglicemiante (Xavier et al., 1967) e para Baccharis trimera efeito hepatoprotetor, analgésico, anti-ulcerativo, antiinflamatório (Soicke et al., 1986; Gene et al., 1996) e potencial atividade antidiabética (Oliveira et al., 2005), reforçando os efeitos indicados pelo entrevistados.

Obs.:
Baccharis trimera pode ser sinônimo de Baccharis trimera var. genistelloides

Baccharis trimera

Bauhinia forficata é amplamente utilizada na medicina popular brasileira para o tratamento de diabetes. Um estudo realizado com ratos diabéticos verificou que o tratamento com esta planta não apresentou efeito hipoglicemiante (Volpato et al., 2008). Em outra pesquisa realizada com extrato aquoso de folhas de B. forficata e Cissus sicyoides comprovou-se que apresenta potencial fonte de antioxidantes naturais e pode ser útil na prevenção de complicações diabéticas associadas ao estresse oxidativo (Khalil et al., 2008).

Cissus sicyoides
Bauhinia forficata

Obs.: link sobre confusões que ocorrem com a B. forficata

O extrato metanólico das folhas de Bauhinia cheilandra foi testado em ratos diabéticos nas doses de 300, 600 e 900 mg Kg-1, demonstrando atividade hipoglicemiante significativa (Almeida et al., 2006). Foi encontrado também outro estudo que comprova a eficácia de B. forficata na redução da hiperglicemia e o mesmo sugere a validade do uso clínico da planta no tratamento do DM tipo 2 (Lino et al., 2004). Estas pesquisas confirmam o uso referido pelos sujeitos do estudo.

Campomanesia xanthocarpa e Cuphea carthagenensis são tradicionalmente usadas no Sul do Brasil na forma de infusão para tratar os níveis elevados de colesterol e triglicérides. O tratamento crônico com extrato aquoso de C. xanthocarpa induziu redução significativa no ganho de peso em ratos, em comparação ao grupo controle. Além disso, a análise bioquímica mostrou que esse tratamento reduziu aglicemia, enquanto nenhum efeito sobre os níveis lipídicos foi observado (Biavatti et al., 2004), vindo ao encontro ao efeito citado pelos entrevistados.

Em relação a Cynara scolymus citada pelos indivíduos portadores de Diabetes mellitus, os estudos indicam efeito antioxidante (Skarpanska-Stejnborn et al., 2008), melhora dos sintomas da Síndrome do Intestino Irritável (Bundy et al., 2004) e atividade antiespasmódica (Emendörfer et al., 2005), sem efeitos hipoglicemiantes.

Estudo realizado com o extrato metanólico de Equisetum arvense indicou efeito antidiabético significativo desta planta (Safiyeh et al., 2007). Também foram realizadas pesquisas com as partes aéreas de E. myriochaetum, encontrando como resultado efeito hipoglicemiante em pacientes diabéticos tipo 2 a partir de 90 minutos após a administração (Revilla et al., 2002).

Um estudo realizado com Hydrangea macrophylla var. thunbergii em ratos constatou que a planta reduziu significativamente a glicose no sangue, os níveis de triglicérides e de ácidos graxos livres duas semanas após a administração na dose de 200 mg kg-1 (Zhang et al., 2009).

Com relação a Morus nigra foi encontrado efeito antioxidante moderado (Al-Mustafa & Al-Thunibat, 2008) e o fruto da planta tem ação protetora contra danos de biomembranas e biomoléculas (Naderi et al., 2004).

Quanto a Phaseolus vulgaris, através de experimentos com o extrato das vagens em ratos diabéticos foi encontrado efeito hipoglicemiante (Pari & Venkateswaran, 2003; Pari & Venkateswaran, 2004) e hipolipemiante (Pari & Venkateswaran, 2004).

Pesquisa realizada em ratos comprovou o efeito hipoglicemiante de Stachytarpheta cayennensis, com ação similar a glibenclamida (medicação hipoglicemiante) (Adebajo et al., 2007), justificando o uso na busca deste efeito pelos sujeitos do estudo.

Estudo realizado com teste oral de tolerância à glicose mostrou que apenas a casca de Syzygium cumini apresentou atividade anti-hiperglicêmica (Villaseñor & Lamadrid, 2006). Outro estudo refere que S. cumini reduziu a glicemia de ratos nãodiabéticos. Porém, este efeito foi associado com redução do consumo de alimentos e o peso corporal, indicando que este pode não ser um verdadeiro efeito hipoglicemiante (Oliveira et al., 2005). Pesquisas realizadas com as folhas da planta preparadas em forma de chá mostraram que esta não possui efeito hipoglicemiante (Teixeira et al., 2006; Teixeira & Fuchs, 2006).

Pesquisa realizada com ratos hipertensos utilizando o extrato bruto etanólico de folhas de   Echinodorus grandiflorus demonstrou significativo efeito anti-hipertensivo, sugerindo a eficácia para tratamento oral de hipertensão arterial (Lessa et al., 2008).

O extrato aquoso de Persea americana apresentou redução dos níveis de glicose no sangue de ratos diabéticos (Edem et al., 2009).

A raiz de Polymnia sonchifolia (yacon) apresenta propriedades benéficas ao organismo, entre elas o controle da glicemia (Vilhena et al., 2000). Diferentemente da maioria das raízes, que armazenam carboidratos na forma de amido, o yacon armazena carboidratos na forma de frutanos. O corpo humano não possui enzimas que hidrolisam os fruto-oligossacarídeos, dessa forma, eles passam através do trato digestivo sem ser metabolizados, o que significa que o yacon fornece pouca energia e torna-se alimento promissor para dietas e para os diabéticos, sendo considerado um alimento funcional (Seminario et al., 2003; Candido & Campos, 2005).

Em relação às plantas identificadas encontrou-se estudos que comprovam a associação com o efeito hipoglicemiante para 11 destas (Baccharis genistelloides, Baccharis trimera, Bauhinia cheilandra, Campomanesia xanthocarpa, Equisetum arvense, Equisetum myriochaetum, Hydrangea macrophylla, Phaseolus vulgaris, Stachytarpheta cayennensis, Persea Americana e Polymnia sonchifolia). Para duas plantas (Bauhinia forficata e Syzygium cumini) os estudos contradizem-se quanto à redução da glicemia.

As referências poderão ser encontradas no link:

2 comentários:

  1. Prof. Marcos Roberto Furlan gostaria de saber como é feito o tratamento com a Baccharis genistelloides.

    Obrigada Fabiana

    ResponderExcluir
    Respostas
    1. Oi, Fabiana!

      Grato pela procura.

      No blog há outras postagens sobre plantas para diabetes. Basta colocar na busca a palavra, que irá encontrar os links.

      Quanto à dosagem, ainda não determinada cientificamente, depende da forma em que for usar, da idade, dentre outros fatores. Geralmente, para adulto, é uma colher de sopa por xícara de chá, 3 vezes ao dia. Mas há espécies mais indicadas.

      Se for seca e para uso Interno:
      Infuso ou decocto a 2,5%: 50 a 200mL ao dia.
      Tintura: 5 a 25mL ao dia.
      Extrato Fluido: 1 a 5mL
      Dose: 1 a 4g ao dia.


      Nesse link, encontra mais informações sobre outras espécies
      http://saude.londrina.pr.gov.br/protocolo_saude/downloads_site_protocolosaude_2007/prot_fitoterapia.pdf

      Excluir