quarta-feira, 24 de abril de 2013

A hora da verdade sobre as supostas propriedades de alimentos vendidos como ‘milagrosos’

Uma lista de exóticos alimentos funcionais, vindos do México, da Indonésia ou mesmo do cerrado goiano, mexeu com os sonhos das pessoas. As promessas abrangiam desde emagrecimento rápido a remissão do câncer. O que esses produtos realmente podem fazer por você? A Revista conversou com especialistas em busca de um parecer definitivo. Confira.


Produto: Babosa
O que é: Também conhecida como Aloe vera, é uma planta originária no norte da África.

Por que deu o que falar: Por ser rica em nutrientes, era indicada para tratar diversas doenças. Em novembro passado, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) proibiu a venda, a fabricação e a importação de alimentos e bebidas à base do vegetal. Era usada no tratamento de doenças de origem imunológica; como o câncer; era usada como tratamento complementar de artrite, artrose, bursite, gota e redução do colesterol e da pressão sanguínea. Seus adeptos a empregavam também contra disfunções hepáticas, osteoporose, acidez gastrointestinal, congestão intestinal, colite, cistite, fístulas, quistos, flatulência e infecção vaginal. Além disso, havia relatos da planta no controle de amenorreia, endometriose, prostatite, fibroma, glaucoma, leucemia, lúpus, psoríase, reumatismo, gripes e resfriados, bronquite, sinusite, herpes e diabetes. Porém, seu maior benefício seria a desintoxicação do organismo e a imunoestimulação.

Funciona mesmo? “É rica em vitaminas e minerais, como complexo B, vitamina C e D, magnésio, cálcio, zinco e outras substâncias biotivas. É indicada no tratamento de doenças inflamatórias intestinais, de indigestão, azia, úlcera, colite, gastrite, constipação intestinal, toxicidade intestinal e hepática e alergias. Auxilia na recuperação da mucosa orogastrointestinal. Tem ação bacteriostática e anti-inflamatória”, explica a nutricionista especializada em alimentos funcionais Carina Tafas.

Contraindicações: “Atualmente, o órgão controlador (anvisa), proibiu a comercialização dos sucos de babosa por se encaixarem na categoria de “novos alimentos”, e por não haver comprovação da segurança do uso do componente. Não deve-se consumir in natura e, sim, em sucos comercializados, pois apresenta uma substância chamada aloína, que possui potente efeito laxativo e tóxico”, esclarece a nutricionista.

Produto: Baru
O que é: Castanha do baruzeiro, árvore típica do cerrado, que tem gosto semelhante ao do amendoim e da castanha de caju.

Por que deu o que falar: É uma opção para quem tem alergia a castanha por ter gosto parecido e aminograma quase perfeita, ou seja, tem a maioria dos aminoácidos essenciais ao organismo. Tem alto valor nutricional.

Funciona mesmo? “Tem um alto valor biológico, sendo 26% de proteína, fonte de ferro (previne anemia) e zinco (aumenta a imunidade), fonte de fósforo e magnésio. Estudos recentes têm enfatizado o alto valor biológico deste fruto”, explica a nutricionista Simone Rocha, presidente da Associação de Nutrição do DF. “Auxilia também na prevenção das doenças cardiovasculares. Como é rica em e minerais como ferro e zinco, é potente contra a anemia e potencializa a fertilidade tanto feminina como masculina”, acrescenta Carina Tafas.

Contraindicações: Algumas pessoas têm intolerância à semente

Produto: Chá verde
O que é: É feito a partir das folhas da Camellia sinensis, planta típica da China da qual são extraídos também o chá preto e o chá branco. O nome “verde” é devido à baixa oxidação que sofre durante a colheita.

Por que deu o que falar: Atuaria no emagrecimento e na prevenção de doenças. Previniria câncer, alzheimer, artrite, mal de Parkinson; reduziria o risco de derrames; ajudaria no sono e teria ação antienvelhecimento. Seria mais saudável do que beber água.

Funciona mesmo? “É rico em substâncias antioxidantes, polifenóis, bioflavonoides e catequinas, que evitam a ação destrutiva dos radicais livres nas células. Tem também altas taxas de tanino, que diminui as taxas do LDL (colesterol ruim) e fortalece as artérias e veias. O chá verde também possui manganês, potássio, ácido fólico, vitamina C, vitamina K e vitaminas do complexo B”, afirma Simone Rocha. “E existem muitos estudos que afirmam que o consumo de chá verde diminui o risco de algumas doenças, entre elas o câncer, o ritmo de envelhecimento e aumenta o emagrecimento”, complementa a nutricionista Flávia Morais.

Contraindicações: “Tem muita cafeína, então não deve ser consumido de forma exagerada nem em substituição à água. Se usado em excesso, pode causar taquicardia, dores abdominais e náuseas. Deve-se evitar o seu consumo após as 17h, pois pode causar insônia”, explica a nutricionista Simone. Hipertensos e pessoas com problemas na tireóide também devem evitar o consumo.

Produto: Noni
O que é: O fruto amarelado é originário do sudeste asiático, tem cheiro estranho (em alguns lugares, é chamada de fruta de queijo ou fruta de vômito, devido ao odor) e gosto ruim.

Por que deu o que falar: Os produtores dizem a fruta tem mais de 101 aplicações medicinais, entre elas ação antiinflamatória e antioxidante, melhora do sistema digestivo e até cura do câncer.

Funciona mesmo? “É rico em ômega 6, óxido nítrico, betacaroteno, precursor da vitamina A e C. Possui propriedades antibiótica, antibacteriana, antifúngica e antiinflamatória. Devido aos poucos estudos em humanos, apesar de seu valor nutricional, pode ter substâncias tóxicas e não é recomendado”, esclarece Simone. “A fruta apresenta efeito bactericida, antiviral, antitumoral, hipotensor, melhora da saúde mental, e melhora na audição, além de apresentar efeitos benéficos no câncer, em infecções, artrite, diabetes, asma, hipertensão e dor. Estudo publicado em junho de 2006 na revista científica World Journal of Gastroenterology, não observou nenhum efeito tóxico ao fígado, mesmo em doses altas do suco, apesar de alguns estudos documentarem incidentes relacionando noni e hepatite”, complementa Carina.

Contraindicações: “Por enquanto, não há um número suficiente de estudos demonstrando eficácia no tratamento de patologias para as quais o suco vem sendo recomendado”, explica Carina. O alimento foi proibido pela Anvisa.

Produto: Óleo de coco

O que é: O óleo é extraído da parte carnosa do coco fresco e prensado a frio para chegar ao produto final.

Por que deu o que falar: Muito comparado ao azeite de oliva extravirgem, tem sabor agradável e ajudaria a emagrecer. Tem ação antioxidante e reduz o colesterol. Supostamente, melhora o sistema imunológico e as funções da tireoide.

Funciona mesmo? “O óleo de coco era considerada um vilão por ser saturado, mas agora já se sabe que é bom, tem triglicerídeos de cadeia média que aumentam o gasto calórico, emagrecem e diminuem o colesterol”, explica Flávia. “O óleo de coco é uma gordura que ajuda a queimar gordura. Para processá-lo, o organismo precisa trabalhar com muita intensidade, gerando o aumento da nossa termogênese e, assim, perdemos gordura e ainda dá saciedade. Outra característica importante é o fortalecimento do sistema imunológico, devido à alta concentração de ácido láurico, a substância presente no leite materno que protege os recém-nascidos”, esclarece Simone. “Apesar de ser rico em gorduras saturadas, elas não são prejudiciais ao organismo, como acontece no caso de outros óleos vegetais. Também reduz a incidência de lesões nas artérias e, portanto, auxilia na prevenção da aterosclerose. Além disso, o óleo de coco é excelente para questões estéticas, como para a saúde do cabelo, ajudando no seu crescimento saudável e proporcionando uma aparência brilhante. Na a pele, ele age como um hidratante eficaz”, complementa Carina.
Contraindicações: Não há.

Produto: Farinha de feijão branco
O que é: Trata-se da forma farinácea da proteína faseolamina.

Por que deu o que falar: Teria um alto poder de saciedade e diminuiria a glicose e a absorção de carboidratos.

Funciona mesmo? “A ingestão da farinha garante que parte do carboidrato da refeição, cerca de 20%, não seja absorvida pelo nosso organismo. Ela ajuda no controle glicêmico e é coadjuvante no emagrecimento”, explica Simone. “Há efeitos clinicamente comprovados na inibição da digestão e no absorção do amido. Reduz os picos de glicose e insulina após as refeições, e isso ajuda a controlar o peso”, esclarece Carina.

Contraindicações: “A dose recomendada é de uma colher de café, duas vezes ao dia. Quantidades maiores podem causar náuseas, distenção abdominal e diarreia”, alerta a nutricionista Flávia Morais.

Produto: Quinoa
O que é: Cultivada nos Andes bolivianos, é encontrada no mercado na forma de grãos, flocos ou farinha. Os incas consideravam a quinoa um alimento sagrado, por isso, era chamada de “grão de ouro”.

Por que deu o que falar: Foi escolhida pela Nasa para fazer parte da alimentação de astronautas por ser uma fonte de proteínas com alto valor nutricional (foi usada também em programas de erradicação da fome). Seria capaz de prevenir câncer de mama, osteoporose e problemas cardíacos. Também seria indicada para fortalecer a imunidade, melhorar a aprendizagem e a memória, além de recuperar tecidos.

Funciona mesmo? “A quinoa possui proteína de alto valor biológico; é rica em fibras que estimulam o funcionamento do intestino e previnem alterações metabólicas; não contém colesterol e tem muitas vitaminas e minerais. É considerada um alimento completo, de fácil digestibilidade. Melhora o quadro glicêmico, e, por ser rica em fibras, ajuda no funcionamento do intestino, diminui o colesterol e previne o aparecimento de doenças crônicas. Fonte de magnésio e zinco, participa da produção de energia, no controle da pressão arterial e aumenta a ação de enzimas que combatem os radicais livres, fortalecendo o sistema imunológico”, esclarece Simone

Contraindicações: “Não há restrição de consumo. É indicado para gestantes, idosos, crianças e vegetarianos. Como não contém glúten, é uma boa opção também para os celíacos”, explica Flávia.

O que vem por aí

Prepare-se para uma overdose de chia. “O grão não foi tão falado em 2011, mas está começando a ser consumido. É minha aposta para o ano que vem”, afirma a nutricionista Flávia Morais. O óleo de coco também será uma das estrelas. “Vários estudos científicos estão sendo desenvolvidos, com resultados positivos. Acho que não vai ficar no modismo”, aposta Simone. Já Carina alerta para três novos produtos: a semente de sucupira (“Na literatura, encontramos alguns relatos sobre excelente capacidade de cicatrização de úlceras, grande poder antiinflamatório”), a jabuticaba (“com ações benéficas na saúde venosa como melhora do retorno venoso e redução de varizes, aumento do HDL (bom colesterol), ação anticâncer em diversos órgãos, redução da absorção excessiva de colesterol, queima de gordura, rejuvenescimento da pele e melhora da capacidade cognitiva”) e o alho negro, que “vem mostrando seus benefícios a saúde, como capacidade de reduzir a inflamação e o estresse oxidativo, reduz risco de aterosclerose e a disfunção endotelial. O resultado é pressão mais baixa e menos resistência à insulina”, afirma. Pelo jeito não vai faltar assunto em 2012.

Produto: Chia
O que é: Uma semente originária do México, muito consumida pelas civilizações antigas. Pode ser consumida em farinha, grãos e óleo.

Por que está dando o que falar: Há indícios de que o alimento aumenta da saciedade, combate inflamações, reduz o colesterol e controla a glicemia.

Funciona mesmo? “Rica em proteínas (possui mais que a quinoa, aveia, o amaranto e o trigo). Ajuda a reduzir a chamada glicemia pós-prandial (pico de glicemia pós-refeições). É importante que seu consumo seja acompanhado de uma dieta equilibrada”, explica Simone. “A semente, em contato com água ou suco gástrico, se transforma em um gel, que causa uma sensação de saciedade mais longa, tornando a digestão mais lenta”, esclarece Carina. “A qrande quantidade de fibras solúveis aumenta a viscosidade das fezes e ajuda no tratamento da prisão de ventre. Por ser rica em ômega 3, também é benéfica para a saúde do coração, dos tecidos da pele e dos neurônios”, complementa Flávia.

Contraindicações: “Não tem. Além disso, apresenta baixa alergicidade, sendo uma opção para doentes celíacos”, afirma Simone. A Anvisa ainda não se pronunciou sobre a chia.

Agradecimentos: Associação de Nutrição do DF, Mundo Verde

EcoDebate, 03/01/2012
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