Texto da Médica Veterinária Carolina Granconatto de Abreu
O presente texto se refere à Schinus
terebinthifolius, pertencente à família
Anacardiaceae. Ocorre em boa parte do Brasil e é conhecida principalmente pelo nome aroeira (denominação comum
para outras espécies de plantas). Recebe também outras denominações populares, como, por exemplo, corneíba, fruto-de-sabiá, cambuí,
aroeira-da-praia, aroeira-branca e aroeira-do-sertão.
Popularmente,
é muito utilizada pela população por seus efeitos antiinflamatório e cicatrizante. No entanto, há carências de pesquisas
objetivando verificar a eficácia da maioria das recomendações indicadas popularmente.
Para
a correta divulgação dos efeitos de uma planta e a possibilidade do seu uso de
modo seguro, os estudos são geralmente iniciados em animais de laboratório e
depois a campo, tendo em vista que nessas condições é muito importante que se testem os
efeitos. Muitas vezes, nos testes há uma eficácia, mas na prática a
campo não, pois os desafios não são únicos e ainda são maiores, a exemplo, no
caso das feridas nos animais atendidos em clínicas ou fazendas. Elas não serão
descontaminadas, pois o ambiente não será controlado, o que acarreta no estresse,
além das particularidades de cada espécie e também individuais, levando a maior
dificuldade na resolução da ferida.
Os
ratos de laboratório são animais escolhidos em muitos testes já que são
resistentes, se proliferam com facilidade, são fáceis de manter e de serem acondicionados
no laboratório e se assemelham, em vários aspectos, aos seres humanos e em alguns
outros animais. Em ratos, o efeito da aroeira foi estudado sobre a
cicatrização da pele e foi observado que quanto à formação de vasos novos no
tecido, não houve diferença com o uso da planta. Além disso, neste estudo, aos 14 dias após a
formação da ferida, o uso da aroeira retardou a reparação epitelial e causou
maior inflamação na pele dos animais. No entanto, devem ser realizados mais
estudos com outras concentrações da planta, pois existem vários
princípios ativos e, dependendo da concentração utilizada, eles podem auxiliar ou
lesar tecidos, diferindo, portanto, do que se sabe popularmente.
Na
mesma espécie, por outro lado, quando se tratou da cicatrização de tecido do
trato gastrointestinal, o cólon, a tintura de aroeira demonstrou efeito
positivo usada na mesma concentração do estudo anterior. Foi possível
determinar, por meio da análise histológica dos tecidos, que o estágio da
cicatrização se mostrou mais avançado nos animais tratados e houve aceleração da cicatrização com a tintura de aroeira, em comparação ao do grupo
controle. Em cirurgias de bexiga em ratos também verificou-se que a inflamação
foi menor no grupo de animais tratados com extrato de aroeira, enquanto que a
formação de novos vasos no tecido e a colagenização foi maior no mesmo grupo,
influenciando positivamente na cicatrização.
Em
lesões de língua em roedores também, os pesquisadores puderam observar
aceleração da cicatrização, maior proliferação de vasos novos e de fibroblastos
(células que produzem colágeno) em relação ao controle, sendo então benéfica
neste outro tecido.
Em
répteis, com o objetivo de testar ações cicatrizante e antiinflamatória,
concluiu-se que o extrato obtido do cozimento da casca da aroeira, usado topicamente em
ferimentos, agiu mais contra a inflamação, e a babosa (Aloe vera) proporcionou
melhor efeito cicatrizante nos espécimes estudados. Porém, os autores citam a
importância de novos estudos, mais aprofundados, a fim de preconizar melhor as
doses e verificar efeitos em diferentes condições ambientais e estágios das
doenças. Ainda assim, o estudo teve bons resultados, pois todos os répteis
tratados tiveram ótimas evoluções dos quadros somente com o uso das plantas, o
que torna um meio promissor de pesquisa, já que pouco se sabe sobre fitoterapia
neste campo da medicina veterinária.
A
aroeira teve sua tintura hidroalcoólica testada também em cabritos recém
nascidos, os quais tiveram o umbigo tratado após o corte do tecido excessivo.
No entanto, não houve diferença macroscópica entre os animais tratados com esta
tintura, nem com a de outras plantas, as quais foram: quixabeira (Brumelia sertorium)
e angico (espécie não descrita), todas comparados aos usos do soro fisiológico e
do iodo. Porém, é importante citar que os grupos de animais consistiam em cinco
indivíduos cada e não foi realizada uma análise mais detalhada do que ocorreu
nos tecidos dos umbigos para se afirmar algo mais concreto sobre a planta. Além
disso, a frequência da aplicação a campo pode ter de ser maior do que em
laboratório devido às condições citadas inicialmente.
Dessa
forma, apesar de ainda serem necessários mais estudos sobre a cicatrização
epitelial, percebemos que quando se trata de mucosas, a aroeira parece bem
efetiva. Talvez doses e intervalos de aplicação maiores no tecido epitelial
queratinizado sejam necessárias para melhor atividade da planta.
Como nenhum
estudo relatou intoxicações, traz aos clínicos uma maior segurança no uso da
aroeira, apesar de que seria interessante a realização de testes em animais
imunocomprometidos ou com lesões em órgãos como rins ou fígado, responsáveis
pela depuração do organismo e eliminação de toxinas, a fim de verificar se
nestas condições, o uso do fitoterápico seria benéfico também e seguro.
Referências:
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H. N. et al. Uso de Plantas Medicinais no Tratamento de Répteis em Cativeiro:
Um Estudo Preliminar Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 4, n.1, 2004.
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COUTINHO,
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R. M. et al. Efeito da Schinus terebinthifolius Raddi sobre o processo de
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SACRAMENTO,
L. R. et al.Tintura de aroeira, quixabeira e angico no tratamento do coto
umbilical de caprinos neonatos. Trabalho realizado na Faculdade de Medicina
Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco, s.d.
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aroeira-vermelha
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aroeira-vermelha
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