quarta-feira, 8 de maio de 2013

Fitoterapia na veterinária: Efeitos da aroeira (Schinus terebinthifolius) na cicatrização


Texto da Médica Veterinária Carolina Granconatto de Abreu

O presente texto se refere à Schinus terebinthifolius, pertencente à família  Anacardiaceae. Ocorre em boa parte do Brasil e é conhecida principalmente pelo nome aroeira (denominação comum para outras espécies de plantas). Recebe também outras denominações populares, como, por exemplo, corneíba, fruto-de-sabiá, cambuí, aroeira-da-praia, aroeira-branca e aroeira-do-sertão.

Popularmente, é muito utilizada pela população por seus efeitos antiinflamatório e cicatrizante. No entanto, há carências de pesquisas objetivando verificar a eficácia da maioria das recomendações indicadas popularmente.

Para a correta divulgação dos efeitos de uma planta e a possibilidade do seu uso de modo seguro, os estudos são geralmente iniciados em animais de laboratório e depois a campo, tendo em vista que nessas condições é muito importante que se testem os efeitos. Muitas vezes, nos testes há uma eficácia, mas na prática a campo não, pois os desafios não são únicos e ainda são maiores, a exemplo, no caso das feridas nos animais atendidos em clínicas ou fazendas. Elas não serão descontaminadas, pois o ambiente não será controlado, o que acarreta no estresse, além das particularidades de cada espécie e também individuais, levando a maior dificuldade na resolução da ferida.

Os ratos de laboratório são animais escolhidos em muitos testes já que são resistentes, se proliferam com facilidade, são fáceis de manter e de serem acondicionados no laboratório e se assemelham, em vários aspectos, aos seres humanos e em alguns outros animais. Em ratos, o efeito da aroeira foi estudado sobre a cicatrização da pele e foi observado que quanto à formação de vasos novos no tecido, não houve diferença com o uso da planta.  Além disso, neste estudo, aos 14 dias após a formação da ferida, o uso da aroeira retardou a reparação epitelial e causou maior inflamação na pele dos animais. No entanto, devem ser realizados mais estudos com outras concentrações da planta, pois existem vários princípios ativos e, dependendo da concentração utilizada, eles podem auxiliar ou lesar tecidos, diferindo, portanto, do que se sabe popularmente. 

Na mesma espécie, por outro lado, quando se tratou da cicatrização de tecido do trato gastrointestinal, o cólon, a tintura de aroeira demonstrou efeito positivo usada na mesma concentração do estudo anterior. Foi possível determinar, por meio da análise histológica dos tecidos, que o estágio da cicatrização se mostrou mais avançado nos animais tratados e houve aceleração da cicatrização com a tintura de aroeira, em comparação ao do grupo controle. Em cirurgias de bexiga em ratos também verificou-se que a inflamação foi menor no grupo de animais tratados com extrato de aroeira, enquanto que a formação de novos vasos no tecido e a colagenização foi maior no mesmo grupo, influenciando positivamente na cicatrização.

Em lesões de língua em roedores também, os pesquisadores puderam observar aceleração da cicatrização, maior proliferação de vasos novos e de fibroblastos (células que produzem colágeno) em relação ao controle, sendo então benéfica neste outro tecido.

Em répteis, com o objetivo de testar ações cicatrizante e antiinflamatória, concluiu-se que o extrato obtido do cozimento da casca da aroeira, usado topicamente em ferimentos, agiu mais contra a inflamação, e a babosa (Aloe vera) proporcionou melhor efeito cicatrizante nos espécimes estudados. Porém, os autores citam a importância de novos estudos, mais aprofundados, a fim de preconizar melhor as doses e verificar efeitos em diferentes condições ambientais e estágios das doenças. Ainda assim, o estudo teve bons resultados, pois todos os répteis tratados tiveram ótimas evoluções dos quadros somente com o uso das plantas, o que torna um meio promissor de pesquisa, já que pouco se sabe sobre fitoterapia neste campo da medicina veterinária.

A aroeira teve sua tintura hidroalcoólica testada também em cabritos recém nascidos, os quais tiveram o umbigo tratado após o corte do tecido excessivo. No entanto, não houve diferença macroscópica entre os animais tratados com esta tintura, nem com a de outras plantas, as quais foram: quixabeira (Brumelia sertorium) e angico (espécie não descrita), todas comparados aos usos do soro fisiológico e do iodo. Porém, é importante citar que os grupos de animais consistiam em cinco indivíduos cada e não foi realizada uma análise mais detalhada do que ocorreu nos tecidos dos umbigos para se afirmar algo mais concreto sobre a planta. Além disso, a frequência da aplicação a campo pode ter de ser maior do que em laboratório devido às condições citadas inicialmente.

Dessa forma, apesar de ainda serem necessários mais estudos sobre a cicatrização epitelial, percebemos que quando se trata de mucosas, a aroeira parece bem efetiva. Talvez doses e intervalos de aplicação maiores no tecido epitelial queratinizado sejam necessárias para melhor atividade da planta.

Como nenhum estudo relatou intoxicações, traz aos clínicos uma maior segurança no uso da aroeira, apesar de que seria interessante a realização de testes em animais imunocomprometidos ou com lesões em órgãos como rins ou fígado, responsáveis pela depuração do organismo e eliminação de toxinas, a fim de verificar se nestas condições, o uso do fitoterápico seria benéfico também e seguro.

Referências:

ALBUQUERQUE, H. N. et al. Uso de Plantas Medicinais no Tratamento de Répteis em Cativeiro: Um Estudo Preliminar Revista de Biologia e Ciências da Terra, v. 4, n.1, 2004.

CASTELO BRANCO NETO,  M. L. et al. Avaliação do extrato hidroalcoólico de Aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi) no processo de cicatrização de feridas em pele de ratos. Acta Cirúrgica Brasileira - Vol 21 (Suplemento 2) 2006.

COUTINHO, I. H. I. L. S. et al.  Efeito do extrato hidroalcoólico de Aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi) na cicatrização de anastomoses colônicas. Estudo experimental em ratos. Acta Cirúrgica Brasileira ,vol 21 (Suplemento 3), 2006.

LUCENA, P. L. H. et al. Avaliação da ação da Aroeira (Schinus terebinthifolius Raddi) na cicatrização de feridas cirúrgicas em bexiga de ratos. Acta Cirúrgica Brasileira - Vol 21 (Suplemento 2) 2006.

OLIVEIRA, R. M. et al. Efeito da Schinus terebinthifolius Raddi sobre o processo de reparo tecidual das lesões ulceradas induzidas na mucosa bucal do rato. Revista Odonto Ciência – Fac. Odonto/PUCRS, v. 21, n. 53, jul./set. 2006.

SACRAMENTO, L. R. et al.Tintura de aroeira, quixabeira e angico no tratamento do coto umbilical de caprinos neonatos. Trabalho realizado na Faculdade de Medicina Veterinária da Universidade Federal Rural de Pernambuco, s.d.
Aroeira-vermelha
http://pt.wikipedia.org/wiki/Aroeira-vermelha

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