Publicado em 3/dezembro/2014
Juliana Pinheiro Prado
juliana.pinheiro.prado@usp.br
Amora: segundo a literatura, potencial anti-inflamatório e anticarcinogênico
Projeto de doutorado da nutricionista Vanessa Cardoso Pires na Faculdade de Ciências Farmacêuticas (FCF) da USP avalia a hipótese de o consumo de extrato de amora pelos pais e pelas mães diminuir o risco de desenvolvimento de câncer de mama nas futuras filhas. A pesquisa está em andamento e tem a orientação do professor Thomas Prates Ong.
Por ser rica nos compostos antocianinas e elagitaninos, os chamados polifenóis, a amora, segundo a literatura, possui um potencial anti-inflamatório, anticarcinogênico e antiproliferativo, e “foi daí que veio a ideia de verificar se há um efeito protetor na programação fetal, ou seja, se as filhas dos pais que consumiram amora teriam algum benefício”, explica a pesquisadora.
A pesquisa intitulada Efeitos do consumo materno e/ou paterno de extrato aquoso de amora preta (Rubus spp.) na suscetibilidade da prole feminina à carcinogênese mamária quimicamente induzida, apesar de ainda estar em andamento, ganhou destaque a partir da premiação do concurso Euraxess Science Slam, no qual pesquisadores têm a oportunidade de apresentar seus projetos aos seus pares e ao público em geral de forma diferente do habitual, em um ambiente alegre e descontraído.
Ao encarnar a personagem da morte em busca de emprego, Vanessa apresentou sua pesquisa por meio de uma encenação, o que lhe rendeu o primeiro lugar entre os cinco finalistas.
Vanessa apresentou a pesquisa por meio de uma encenação: primeiro lugar
Ciência vista com outros olhos
Surgido há poucos meses, o grupo GATU, cujo nome deriva da palavra tupi “nheengatu”, que significa “língua fácil de ser entendida”, é formado por Vanessa e mais dois integrantes, seus colegas do mestrado na Unifesp, Gustavo Arruda e Leonardo Parreira, e possui justamente a proposta de mostrar a ciência de uma forma diferente para as pessoas leigas, tornando-a mais palpável, dado que em geral os cientistas “falam como se as outras pessoas já tivessem um conhecimento prévio”, comenta a pesquisadora.
Assim, lançado o concurso Euraxess, o grupo se mobilizou para inscrever a pesquisa de Vanessa. Os trabalhos do grupo surgiram nas palestras que haviam planejado dar individualmente. Versando sempre sobre os assuntos acadêmico-científicos das pesquisas desenvolvidas, os pesquisadores utilizavam recursos como o storytelling, no qual o assunto abordado é desenvolvido em meio a uma história, o que permite ao espectador imergir na apresentação, despertando o seu interesse.
“A primeira vez que usei essa técnica foi em um simpósio de nutrição pediátrica no qual 80% das pessoas que estavam assistindo eram pediatras. Eu fiquei com medo porque estava trazendo uma coisa bem diferente para pessoas bastante tradicionais. Foi o momento de ver se o negócio iria pra frente. E o pessoal adorou a ideia”, relata, atribuindo o retorno positivo da plateia à interação obtida, que demonstrou o interesse do público. Muitos, inclusive, a procuraram para conversar após a exposição.
No Euraxess, pesquisadores podem apresentar seus projetos de forma descontraída
Além do storytelling, a apresentação trouxe slides nos quais não constavam palavras, mas animações, imagens e desenhos, aproximando as informações da realidade.
O grupo acredita que contextualizar e aproximar a explicação do dia-a-dia são mecanismos para atrair a curiosidade do público, especialmente porque no fim seria a isso que se prestaria a ciência.
As dificuldades, entretanto, também fazem parte da rotina dos membros do GATU em função de a ideia ser bastante inovadora no universo acadêmico. Ainda assim, Vanessa destaca a aprovação da proposta: “há uma aceitação maior entre as pessoas mais tradicionais na área do que entre as pessoas mais jovens. Acredito que porque estes estão acostumados e condicionados a respeitar as pessoas que falam mais seriamente”, conta.
Imagens: Marcos Santos / USP Imagens
Mais informações: email vanessacpires@usp.br, com Vanessa Cardoso Pires
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