Fonte: FreePick.com
A área da saúde está entre os campos de trabalho mais intensos. Os níveis de estresse entre enfermeiros é frequentemente maior do que entre membros das forças armadas. Em um estudo realizado de 2007 a 2012, na Fundação South Warwickshire do Reino Unido, a pontuação dos profissionais de enfermagem em uma escala de avaliação do estresse foi 1,5 vezes maior que a média de soldados após passarem por traumas em zonas de guerra. A Síndrome de Burnout, ou de estafa profissional, também é bastante presente na medicina, em especial nas Unidades de Tratamento Intensivo (UTIs). A síndrome é caracterizada por uma combinação de exaustão profissional, falta de realização pessoal no trabalho e despersonalização. Esse último fenômeno se dá quando, pela instabilidade emocional, o profissional se torna frio e distante de colegas e pacientes.
A gravidade da situação mostra que novas formas de gerenciar o estresse do dia a dia são extremamente necessárias. O programa de Redução do Estresse e Desenvolvimento da Empatia na Medicina (Redemed) se apresenta como uma alternativa possível. Desenvolvido pelo Instituto Visão Futuro e oferecido em parceria com o Departamento Científico da Faculdade de Medicina, o programa já teve duas turmas em São Paulo, com a próxima prevista para março de 2015. O Redemed estreia também na Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, no dia 5 de novembro.
O curso se baseia em pesquisas neurocientíficas e em áreas como a psiconeuroimunologia e a neurobiologia interpessoal, e tem sido ministrado por Emmanuel Burdmann, professor associado de nefrologia,e por Susan Andrews, fundadora do Visão Futuro, psicóloga e antropóloga pela Universidade Harvard e autora do livro “O stress a seu favor”. Parte do curso tem como objetivo aprender a diferenciar o estresse “bom” do “ruim”.
Em situações de crise e tensão, o corpo libera o hormônio cortisol. Ele nos coloca em um estado de atenção e vigilância, que teve função evolutiva essencial para a sobrevivência da espécie humana. Quando a reação natural do corpo se dá em excesso, ou em situações nas quais não há ameaça real, como nos transtornos de ansiedade, por exemplo, é que o estresse passa a fazer mal. Identificar esses limites é parte importante do gerenciamento do estresse.
O Redemed tem como base a meditação para o desenvolvimento de inteligência emocional. Susan Andrews conta que as técnicas ensinadas no curso têm como base a chamada “resposta de relaxamento”, conceito criado pelo cardiologista Herbert Benson, professor de Harvard e um dos grandes pioneiros no estudo científico da meditação. “Essas técnicas diminuem a atividade do sistema nervoso simpático, proporcionam controle mais adequado da reação de estresse e aumentam o foco mental”, conta a psicóloga.
Estudos de neuroimagem da Universidade da Califórnia de Los Angeles mostraram, por exemplo, que a meditação é capaz de aumentar a quantidade de substância cinzenta no cérebro, o que pode ajudar a explicar por que os adeptos da prática desenvolvem um grande controle sobre suas emoções. Além disso, o limiar de resistência a dor torna-se maior: segundo um estudo publicado no periódico Psychosomatic Medicine, ela se torna 18% mais suportável. “Pelas avaliações dos médicos que participaram como alunos no curso anterior, [as técnicas] funcionam”, afirma Susan, que compartilha que uma das ex-alunas sentiu efeitos positivos na capacidade de se concentrar ao meditar antes de começar um plantão.
O Redemed se dedica também à estimular a empatia na prática médica. “Pesquisas realizadas nos EUA mostraram que a falta de empatia dos médicos pode levar a tratamento ineficiente, aconselhamento ignorado e insatisfação do paciente”, diz Susan, que acrescenta que a probabilidade de que o paciente aceite as recomendações médicas, mesmo quando se trata de mudanças amplas no estilo de vida, aumenta quando a abordagem é mais empática.
Para medir a eficácia do programa, os alunos participam de uma pesquisa que inclui questionários sobre níveis de estresse, empatia e qualidade de vida. Além disso, são medidas as quantidades de citosina no sangue, antes e depois do programa. Essas substâncias são responsáveis pela comunicação no sistema imunológico, determinam a intensidade das respostas de defesa do corpo e participam também da resposta inflamatória do sangue. Sua produção aumenta por conta do estresse e quantidades equilibradas de citosina após o curso podem ser um indicativo importante do sucesso do programa.
por ANA CAROLINA LEONARDI
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