Trechos da reportagem
Maior preocupação da população com qualidade de vida e
medicamentos menos ‘agressivos’, aliada à comprovação de eficácia dessa
terapêutica, faz com que esse mercado já movimente US$ 1 bilhão no País. O resultado de tais investimentos fez com que o mercado de
fitoterápicos crescesse exponencialmente no País nos últimos anos. “O avanço no
mercado de fitoterápicos no Brasil se dá, especialmente, devido ao
desenvolvimento de regulamentação específica para o setor em várias esferas,
como a definição de marcadores e maior clareza na regulamentação para concessão
de registros. Outro aspecto positivo é a possibilidade de exposição de
fitoterápicos no autosserviço das farmácias”, justifica o diretor executivo de
medicamentos da Hypermarcas, Walker Lahmann.
Dados fornecidos pela Associação Brasileira das Empresas do
Setor Fitoterápico, Suplemento Alimentar e de Promoção da Saúde (Abifisa)*
mostram que, em 2011, esse setor movimentou US$ 1 bilhão no País, alta de 25%
em relação ao ano anterior, quando totalizou US$ 800 milhões.
O potencial da fitoterapia é tamanho que as indústrias já
enxergam o segmento de maneira estratégica, como é o caso do Laboratório
Simões, onde os medicamentos dessa classe representam 35% de todo o faturamento
da empresa. A diretora deste laboratório, Poliana Silva, justifica que de todos
os medicamentos produzidos no mundo atualmente, cerca de 30% são de origem
vegetal e que boa parte desses medicamentos tem alto poder curativo e raríssimo
– ou quase nenhum – efeito colateral. “A maioria dessas espécies já é de
conhecimento popular, sendo largamente utilizada no interior brasileiro, por
meio de informações que são passadas de geração para geração. Além disso, a
sociedade moderna vem priorizando, cada vez mais, os tratamentos com produtos à
base de plantas medicinais por entenderem que, quando utilizados de maneira
adequada, os fitoterápicos apresentam efeitos terapêuticos, às vezes,
superiores aos de medicamentos convencionais. Aliás, estudos científicos
comprovam sua eficácia clínica e melhora no controle de qualidade, além do
menor custo para o consumidor”, argumenta a especialista.
Outra indústria que enxerga os fitoterápicos de modo
estratégico é a Aspen Pharma, empresa que tem registrado um crescimento
bastante significativo com esses produtos. “Crescemos, nos últimos 24 meses,
21% em unidades vendidas, sendo que um dos nossos medicamentos teve alta de
44%. Saímos de 1,9 milhão de unidades vendidas em 2010 para 2,3 milhões em 2011”, comemora o gerente de
marketing da companhia, Jackson Figueiredo, salientando que a linha de
fitoterápicos da Aspen também cresceu com a aquisição das marcas que possuem as
substâncias Hedera helix e Hypericum perforatum.
Na Natulab, o crescimento dos fitoterápicos entre 2010 e
2011 também foi bastante expressivo e bem acima da média de mercado. “Crescemos
67% e esse resultado se deve à ampliação da linha, trabalho com propaganda
médica e ações de marketing, como divulgação dos produtos, veiculação em
revistas especializadas e direcionadas ao público-alvo. Ações em PDV também
contribuíram”, conta o presidente da empresa, Marconi Sampaio. Neste ano, a
Natulab também afirma continuar lançando novos fitoterápicos, inclusive em
nichos ainda não atendidos ou com pouca atuação na indústria farmacêutica.
“Estamos trabalhando em projetos inovadores em parceria com instituições de
pesquisa e universidades, em busca de um produto inovador e pertencente à
biodiversidade brasileira”, destaca Sampaio, revelando que os fitoterápicos
representam, hoje, 13% do faturamento da empresa. O presidente da Natulab
também anunciou que está apostando em algumas classes terapêuticas específicas
para 2012, como produtos voltados para aparelho respiratório, digestivo e
circulatório. Todos esses projetos se encontram em fase de análise na Agência
Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).
O crescimento e o investimento da indústria nesse mercado,
somados ao aumento do número de prescrições médicas com fitoterápicos, fazem
com que as farmácias também lucrem com esse setor. Na Drogaria Rosário, por
exemplo, esses medicamentos já representam 7% do faturamento do grupo e essa
fatia tem crescido ao longo dos anos. “Esse resultado também é reflexo do
trabalho da indústria, que tem investido em pesquisas, novos produtos e merchandising nas
farmácias e drogarias”, explica o gerente de compras do Grupo Rosário
Distrital, Edney Gomes. De 2010 para 2011, os fitoterápicos cresceram 21% em
vendas nas farmácias do grupo e, para 2012, estima-se alta de 25%.
*Números fornecidos por meio de levantamentos da indústria,
uma vez que o setor não é auditado.
Oportunidades e desafios
O País também tem desenvolvido políticas de incentivo que
vêm beneficiando todo o setor fitoterapia. Em 2006, foram publicadas duas
importantes políticas do Ministério da Saúde: a Portaria Ministerial MS/GM nº.
971/2006, que aprova a Política Nacional de Práticas Integrativas e
Complementares (PNPIC) no Sistema Único de Saúde (SUS), e o Decreto nº
5.813/2006, que aprova a Política Nacional de Plantas Medicinais e
Fitoterápicos (PNPMF) e dá outras providências. “Essas políticas apresentam,
entre suas diretrizes, o incentivo à pesquisa e desenvolvimento relacionados ao
uso de plantas medicinais e fitoterápicos, que devem ser disponibilizados com
qualidade, segurança e eficácia à população, priorizando a biodiversidade do
País e de modo a promover um maior acesso a tratamentos seguros e eficazes”,
explica o especialista em regulação e vigilância sanitária da Anvisa, João
Paulo Silvério Perfeito. “A iniciativa do governo em incluir fitomedicamentos
no SUS também está contribuindo para um aumento na prescrição deste tipo de
medicamento. Esperamos que esta listagem aumente e não fique restrita às
plantas atuais”, acrescenta Jackson Figueiredo, da Aspen Pharma.
Vale ponderar que o mercado brasileiro de fitoterápicos é
crescente, mas ainda muito pequeno quando comparado ao de outros países.
Segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), fornecidos pela Aspen
Pharma, 80% da população europeia consome medicamentos fitoterápicos, enquanto
no Brasil menos de 10% da população consome fitomedicamentos com comprovação de
eficácia, industrializados, registrados e regulamentados pela Anvisa.
Data: 06.03.2012