Nos quintais e
jardins em algumas regiões do Brasil, encontramos uma planta que gosta de
brincar de esconde-esconde. Em algumas épocas do ano aparece com sua bela
folhagem, como no verão, e depois toda a sua parte aérea murcha, ficando apenas
os rizomas escondidos na terra. Com freqüência, muitos imaginam que a planta
morreu e providenciam o plantio de outra espécie no mesmo local, provocando o
seu desaparecimento.
Seus rizomas
só nascem em época propícia, e não adianta ficar forçando, pois ficam em dormência
por meses. Mas pode retirá-los do solo, e guardar até observar a brotação. Se o
solo não for muito argiloso, nasce e cresce com facilidade por meio do seu
rizoma plantado no final do ano e enterrado a alguns centímetros no solo.
Desenvolve-se tão fácil, sem problemas com pragas, dando a impressão de ser
nativa, mas foi presente dos asiáticos, mais especificamente das florestas
tropicais da Índia, segundo os estudiosos da cultura.
O texto está
se referindo a uma planta de uso secular na culinária, a Curcuma longa,
e uns de seus principais nomes no Brasil é cúrcuma ou açafrão-da-terra, mas
também encontramos estes outros nomes: açafrão-da-índia, açafrão-da-terra,
batatinha-amarela, gengibre-amarelo, gengibre-dourado e mangarataia. Pertence à
família Zingiberaceae, a mesma do gengibre, da colônia e da menos conhecida,
zedoária. No mercado internacional é conhecida como turmeric.
O vegetal pode
alcançar altura em torno de 120
a 150 centímetros em condições ideais de clima e
solo; as suas folhas são grandes e exalam aroma agradável quando friccionadas,
não tanto quanto a espécie colônia; o seu rizoma principal ou central é
arredondado ou com formato de ovo e quando cortado mostra sua típica cor
alaranjada. No Brasil é raro encontrar variedades de cúrcuma, mas há muitas nas
principais regiões produtoras, como na Índia.
Apesar de ser
bem conhecido no Brasil, seu nome resulta em uma confusão que pode dar um belo
prejuízo financeiro. Enquanto a do texto custa alguns reais o quilo no atacado,
a verdadeira, Crocus sativus, possui preço comparável ao do ouro. Esta
última fornece os estigmas para serem usados na culinária, como na comida
espanhola paella. No entanto, os valores medicinais da cúrcuma são superiores,
além da facilidade de cultivo em todas as regiões brasileiras.
O rizoma, após
seco, fornece um pó amarelo muito aproveitado na indústria de alimentos, como
aromatizante e ingrediente no preparo de condimentos, laticínios e pratos
prontos. Adiciona sabor e cor aos alimentos, ajuda na sua conservação e auxilia
na digestão de quem o consome.
O uso de
corantes naturais nos alimentos industrializados, como a curcumina, substância
extraída desta espécie, vem aumentando, graças à forte demanda do mercado
consumidor por produtos mais saudáveis e também pela divulgação de estudos
relacionando os efeitos carcinogênicos dos corantes artificiais. Além da
curcumina, o vegetal contém óleo essencial com excelentes características,
sendo usado nas indústrias de perfumaria, medicinal e têxtil.
Sua utilização
como planta condimentar ou especiaria tem sido relatada como iniciada há
milênios, e desde a antiguidade já era muito utilizada como condimento no
preparo e conservação de alimentos. Em diversos países asiáticos, é considerada
componente indispensável no preparo de diversos pratos.
O curry é
considerado um dos temperos mais antigos, e a cúrcuma é a responsável por sua
cor característica. Além desta planta, o condimento, que é uma mistura de
várias espécies, pode conter também canela, cardamomo, coentro, cominho, cravo,
erva-doce, feno-grego, gergelim, noz-moscada, papoula, pimentas e tamarindo.
Na Índia e na
China a cúrcuma é usada na medicina tradicional para o tratamento de várias
doenças e os seus rizomas são considerados alimentos energéticos, com teores de
proteína próximos aos níveis médios encontrados em grãos de arroz e trigo.
Diversas
análises científicas sobre suas ações terapêuticas estão sendo realizadas e
muitas atividades foram constatadas como, por exemplo, cicatrizante,
antidepressiva, antioxidante e antiinflamatória. Alguns estudos indicam que o
seu uso é bastante seguro.
Também há
pesquisa que recomendava o uso da cúrcuma na aplicação em queijos, que é
considerado um grande meio de proliferação de microorganismos patogênicos. O
extrato alcoólico de cúrcuma acrescentado à ricota diminuiu a quantidade das
bactérias causadoras de doença, a Escherichia coli e a Enterobacter
aerogenes.
Atualmente tem
sido ressaltada sua ação benéfica no sistema imunológico e no tratamento de
câncer. Outra ação comprovada é como antiofídica, mas usando a substância
curcumina, que neutraliza a ação do veneno.
No livro
Farmácia Viva do professor Abreu Matos, que infelizmente faleceu no ano
passado, encontramos uma receita simples sobre o uso da planta para prisão de
ventre. Basta ralar um pouco do rizoma sobre a salada.
Texto do autor e foto no site: http://jornalinoff.com.br