Pantago ovata Forsskal é uma espécie frequentemente associada a outras duas, Plantago arenaria e Plantago indica sob um nome comum de Plantago psyllium. O nome popular é psyllium, em alguns textos aportuguesado para psílio ou psílium. Tem também alguma semelhança com a Plantago major, também chamada tanchagem. São espécies pertencentes à família Plantaginaceae, ordem Lamiales. O uso tradicional do psílio abrange várias situações, como abscessos, intoxicações, obstipação, diarreia, colite, doença de Crohn, obesidade, diabete, doenças de pele, como úlceras e panarícios, e outras. O uso medicinal é com as sementes e sua casca. Também tem sido utilizada em culinária, com as folhas e sementes em saladas, ou acrescentadas a iogurte. O nome psyllium deriva da palavra gregapsylla (pulga), referindo-se à pequena dimensão das sementes1.
Obs.: ver no blog sobre outra plantago -
Há inúmeras outras espécies de Plantago, todas nativas do sul e oeste da Ásia, mas introduzidas e bem adaptadas em outras regiões, como no sudoeste dos Estados Unidos2.
Psyllium é classificado como fibra mucilaginosa, em função da sua grande capacidade de formar gel em água. Contém nas cascas uma alta proporção de hemicelulose, composta por um suporte de xilana ligado a unidades de arabinose, ramnose e ácido galacturônico (arabinoxilanas). Nas sementes há cerca de 35% de polissacáridos solúveis e 65% de insolúveis (celulose, hemicelulose e lignina). A formação de gel depende da função de reter água do endosperma da semente, cuja função fisiológica é evitar o ressecamento das mesmas. A fermentação dos polissacaridos da semente levam à produção dos ácidos graxos de cadeia curta. Em face do conteúdo em fibras, as sementes de psyllium, ingeridas, têm a propriedade de aumentarem o bolo fecal e os ácidos graxos de cadeia curta. A maior parte da quantidade ingerida alcança o ceco em cerca de 4 horas, e as cascas também aumentam o peso fecal3.
Psyllium também tem a capacidade de interferir no metabolismo lipídico, reduzindo o colesterol, porém o mecanismo não é de todo esclarecido. Estudos em animais demonstraram aumento da colesterol-7-alfa-hidroxilase (citocromo 7A, ou CYP-7A) mais que o dobro do que fazem celulose e aveia, mas menos que colestiramina. Em animais submetidos a dieta hipergordurosa, aumentou a atividade da colesterol-7-alfa hidroxilase e também da HMG-CoA redutase. O mesmo parece ter ocorrido em humanos, em que se observou redução do LDL-colesterol, por estimulação da síntese dos ácidos biliares3.
Indicações clínicas
Constipação intestinal
A ingestão de 15 a 30g de sementes por dia produz melhora na grande maioria de casos de prisão de ventre crônica de causa indefinida e mesmo houve melhora em pacientes com retocele, prolapso e hipossensitividade retal3.
Incontinência fecal
Pacientes incontinentes, com fezes líquidas ou diarreia, também demonstraram melhora, pois o aumento do bolo fecal, especialmente se acompanhado da administração de goma arábica, reduziu a perda3.
Hemorroidas
A melhora do quadro clínico de portadores de hemorroidas é um corolário dos efeitos sobre a melhora da evacuação, porque propicia melhora da congestão perianal, e, consequentemente, do sangramento. Esse benefício é observado, em geral, após um mínimo de 30 dias de tratamento3. Em pacientes submetidos a hemorroidectomia, a administração de Plantago ovata, diminuiu o tempo de hospitalização, por reduzir-se a dor e o tenesmo4.
Colite ulcerativa
Tudo indica que a administração de psílio (10 g, duas vezes ao dia) a portadores de colite ulcerativa leva a aumento do ácido butírico, favorecendo a remissão do quadro3.
Síndrome do intestino irritável
Estudo em ratos transgênicos demonstrou melhora do quadro inflamatório colônico, evidenciado pelo aspecto citoarquitetural e associado com a diminuição de mediadores pró-inflamatórios, como óxido nítrico, leucotrieno B4, fator de necrose tumoral alfa (TNFα). Demonstrou-se ainda aumento da produção de ácidos graxos de cadeia curta, butirato e propionato (estes com atividade, demonstrada in vitro, de reduzir a produção de TNFα)5.
Revisão sobre várias plantas utilizadas no tratamento da doença inflamatória intestinal no Irã considera Plantago ovata e Plantago psyllium efetivas, melhorando o processo inflamatório e a citoarquitetura intestinal. Atua através do óxido nítrico, leucotrieno B4 e TNF-α e também aumentando a produção de ácidos graxos de cadeia curta. Os mucopolissacárides da planta propiciam cicatrização e limitam a cicatriz. Comparando com o tratamento com mesalamina, o fitoterápico foi eficiente no mesmo grau6.
Redução do risco de câncer colo-retal
Pessoas que não têm hábito de praticarem exercícios físicos comprovadamente têm maior risco de câncer de colon. Esse risco se associa à incidência de constipação. Quando consumidores de psílio, o risco diminui significativamente7.
Em cultura de células de câncer intestinal de diferentes fenotipos tratadas com Plantago ovata, fermentada com bactérias anaeróbias comuns na flora intestinal, demonstrou-se a capacidade protetora do fitoterápico, pois observou-se apoptose (em todos os tipos de células cancerosas), tanto em células de câncer primário, como nas de câncer metastático. Os autores tecem explicações para os mecanismos intrínsecos e extrínsecos observados e sugerem que psyllium possa ser considerado como um bom adjuvante da terapêutica quimioterápica8.
Controle do apetite e perda de peso
A ingestão de 20g de psyllium 3 horas antes da refeição e logo após a ingestão alimentar leva a sensação de plenitude e pode ser um método para auxílio do controle ponderal, inclusive por diminuir a ingestão gordurosa3. Um grupo de 200 pacientes obesos, ou com sobrepeso, foi submetido a estudo duplo-cego, controlado por placebo, com 3 braços: ao primeiro, administradas 2 doses diárias de psyllium; ao segundo, 3 doses diárias; ao terceiro, placebo. A todos, prescrita dieta hipocalórica. Seguidos por 16 semanas, observou-se tendência a maior perda ponderal nos grupos que utilizaram fibras, porém não houve diferença significativa, do ponto de vista estatístico. No entanto, embora em todos tenha havido redução de lipidemia, nos grupos medicados a diferença foi maior, com significância. Não se observou diferença na glicemia, nos níveis de proteína c-reativa, ou na insulinemia9.
Controle da lipidemia
Estudos, tanto em animais, como em humanos demonstraram a capacidade de redução da lipidemia pelo uso de Plantago ovata. A redução foi entre 3,5 e 25%, em diferentes estudos, conforme revisão realizada até 20023. Em crianças e adolescentes obesos e dislipidêmicos, a administração de Plantago ovata reduziu o LDL-colesterol entre 2 e 23%, e os triglicérides em até 8,5%10.
Em homens com doença cardíaca isquêmica, psílio foi considerado bom método de prevenção secundária, uma vez que reduziu o triacilglicerol (6,7%), a relação apo-B/apo-A-1 (4,7%), e apo-A-1 aumentou (4,3%), comparando-se com um grupo que consumiu fibras insolúveis. Também houve aumento do HDL-colesterol (6,7%), com decréscimo da relação colesterol total/HDL (10,6%) e LDL/HDL (14,2%). Todas essas porcentagens foram estatisticamente significantes11. Em estudo multicêntrico, duplo-cego, placebo-controlado, com pacientes dislipidêmicos, o fitoterápico promoveu melhora dos biomarcadores de doença cardiovascular, como a lipidemia, apolipoproteína-B, insulina, em níveis significativos, do ponto de vista estatístico, além de reduzir a pressão arterial12.
Influência sobre o diabete
Estudo em ratos diabéticos obesos demonstrou que complementando a dieta com psyllium houve prevenção de disfunção endotelial, da hipertensão e da obesidade, melhorando a dislipidemia e a concentração plasmática de adiponectina e TNF-α13. Em ratos com diabete tipo 1 e tipo 2 comprovou-se que houve redução do excesso glicêmico por diminuição da absorção intestinal de glicídios e melhora do peristaltismo14.
Observou-se, em homens diabéticos e dislipidêmicos, não só a redução da lipidemia, mas diminuição do pico de elevação glicêmica pós-prandial3. Em crianças e adolescentes obesos, o tratamento com psílio reduziu a glicemia pós-prandial em 12 a 20%15. Estudo duplo cego, placebo-controlado com 45 pacientes diabéticos demonstrou melhora não só do nível glicêmico em jejum, mas ainda da hemoglobina glicada e também da lipidemia16.
Influência sobre cicatrização
Os mucopolissacárides do psílio demonstraram influir melhorando a cicatrização e limitando a cicatriz, quando aplicados em solução hidrocoloide sobre as lesões, provocando aderência bacteriana no hidrocoloide, entre 2 e 3 horas, e também estimulando os macrófagos, sem desenvolver de modo significativo manifestações alérgicas ou irritativas17. Estudo in vitro demonstrou que os poilissacáridos hidrossolúveis de Plantago ovata exerceram intenso efeito em queratinócitos e fibroblastos. A linhagem de queratinócitos HaCaT foi estimulada, de modo dose-dependente. Arabinoxilana demonstrou efeito sobre a expressão de fator de crescimento dos queratinócitos (KGF) nas células HaCaT. O comportamento de diferenciação dos queratinócitos humanos normais foi influenciado, embora menos, pela estimulação da proliferação celular e indução indireta da diferenciação celular18.
Interações medicamentosas
Estudo em coelhos demonstrou que, ao contrário de goma-guar, psílio aumentou levemente a absorção de etinilestradiol, embora propiciando uma absorção mais lenta. Outros estudos não mostraram alterações séricas de drogas3.
Em coelhos, o uso de psyllium concomitantemente a levodopa (associada a carbidopa), por 2 semanas, mostrou elevação do nível sérico da droga, elevando-se com o correr do tempo e ainda maior com dose maior de fibras. A eliminação de levodopa também foi mais lenta no grupo que utilizou fibras. Esse achado já havia sido observado em estudos prévios, e tem implicação potencial no tratamento de pacientes com doença de Parkinson, aos quais é prescrita levodopa, de modo favorável, até, pois propicia menos efeitos adversos, maior tempo eficaz de ação da droga. A explicação sugerida pelos autores é de que psyllium aja sobre componentes enzimáticos importantes na absorção da droga, ou ainda que retenha a substância, propiciando mais absorção em áreas intestinais mais distantes19; 20; 21.
Efeitos adversos e toxicidade
Afora uma possível diminuição de vitamina B12, com uso prolongado do produto medicamentoso, não foram encontradas reações adversas, nem alterações nos níveis séricos de sais minerais e vitaminas. Há relatos de manifestações alérgicas3. Entre os casos alérgicos descritos, uma mulher que desenvolveu urticária após dois anos de uso22. Houve obstrução esofágica em alguns pacientes que utilizaram a medicação em grânulos, sem a devida ingestão de líquido em quantidade suficiente, o que poderia ter sido evitado, com o esclarecimento e informação adequados, ao se fazer a prescrição23. Esses casos levaram a agência reguladora americana a regulamentar que, para uso sem receita médica, não seriam liberadas fórmulas em grânulos24.
Contraindicações
Como há relatos de manifestações alérgicas, não deve ser administrado a pessoas com essa característica, e, inclusive, deve ser levado em consideração com equipes de saúde que tratem de pacientes usuários dessa fibra3; 24.
Referências
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