quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Babosa (Aloe vera)

Composição

A parte utilizada da planta é a folha, cuja composição é majoritariamente água, com uma alta proporção de carboidratos (cerca de 60% do conteúdo após secagem), que são açúcares solúveis e polissacarídeos, que também estão em proporções diferentes conforme a parte da folha. Mais de 200 componentes fazem parte das substâncias encontradas nela, e têm sido estudados tanto no gel como no exsudato, podendo variar em proporção em um ou em outro. A quantidade de lipídios e proteínas é respectivamente de 2 a 5% e de 6 a 8%. Há ainda outras substâncias ativas, como compostos fenólicos, ácidos orgânicos, aminoácidos, vitaminas e sais minerais, além de compostos voláteis. Cita-se certa confusão, pois alguns autores levaram mais em conta o gel, ou o exsudato, ou o extrato total, o que explica a falta de concordância nos diferentes estudos107.

Componentes no exsudato

As antraquinonas, compostos fenólicos, predominam no exsudato, e provêm de oxidação de moléculas de menor peso molecular, como a aloina, que é um glicosídio derivado de aloe-emodina. Além disso, há quantidades menores de polissacarídeos e açúcares livres, como a glicose. Há também compostos voláteis e alifáticos.

Entre as cerca de 300 espécies de Aloe, praticamente todas contêm, componentes ativos, algumas até mais do que a Aloe vera, a mais citada. Foram identificados mais de 80 deles, entre os quais 13 compostos fenólicos (aloe-emodina, aloenina, aloesina, e outros) 107.

Componentes do gel

O gel de Aloe foi estudado em número menor de espécies, apesar de que grande número de autores atribuírem as qualidades terapêuticas a ele. Atribuem-se, inclusive, essas propriedades à ação conjunta dos inúmeros componentes ativos, o que torna difícil descrever um modo de ação. Pode-se considerar em separado a fração de carboidratos, a fração nitrogenada, a de outros componentes.

Há desacordo nas publicações, dependendo da subespécie ou variedade estudada, modificações sazonais, cultivo, e outros fatores. A instabilidade do gel é outro fato que influi nos estudos, assim como a forma de manipulação, a temperatura, a desidratação, etc.

Carboidratos

São a maior parte, constando de açúcares livres, polissacáridos solúveis e fibras. Os glucomanans do gel de Aloe são raros em outras espécies de plantas, no entanto são semelhantes a outros, existentes nos fluidos corporais humanos. Os polissacáridos representam cerca de 80% do gel liofilizado, e os monossacáridos são cerca de 25% do gel seco.

A proporção de polissacáridos depende do método empregado na sua separação, mas também depende do cultivo, da qualidade do solo, do clima. Constam de polímeros lineares, sem ramificações, contendo ligações 1-4 de β-glicosídeo passíveis de separação pela precipitação com álcool. Também há polímeros de outras hexoses.

Os polissacáridos do gel de Aloe podem ser acilados, parcialmente acilados, ou não-acilados. Há indicações de que pelo menos quatro glucomanans parcialmente acilados sejam os responsáveis pelo aspecto característico de sua mucilagem. O conjunto de carboidratos da planta tem sido denominado globalmente como acemanan, e tem ações terapêuticas. A separação por cromatografia do acemanan de Aloe vera mostra manose (93%),glucose (3%), galactose (3%), arabinose (1%)107.

Compostos nitrogenados

O número e proporção deles varia conforme a espécie: em Aloe vera há 12 polipeptídeos, glicoproteínas, com atividade biológica ou enzimática (por exemplo, a de hemoaglutinação), proteínas, enzimas (bradicinase, celulase, carboxipeptidase, amilase e oxidase) 107.

Outros componentes

Há várias substâncias, em pequena quantidade, como compostos fenólicos, flavonois, como campferol, quercetina e miricetina. Ácidos orgânicos, como o málico, que pode ser utilizado como marcador químico, e também ácido láctico e succínico, vitaminas A, C, E, B1, B3, B2, ácido fólico.

O gel contém ácidos graxos, esteróis, como colesterol, β-sitosterol.

Entre os minerais, alto teor de cloro e potássio, magnésio e cálcio, mas pouco sódio e ainda vários outros, em menor proporção, como ferro, cobre, zinco, manganês, etc, além de alguns tóxicos, como bário, alumínio, boro, cádmio, chumbo107.

Componentes biologicamente ativos e terapêuticos

Nem sempre está estabelecido de forma inequívoca qual componente seja responsável por cada efeito obtido, sendo, muitas vezes mais provável que as ações se devam a ação concomitante de mais de uma substância. Assim, não parece provável o isolamento de um composto que possa ser identificado como substância ativa e medicamento 108. Vários estudos indicam que os polissacarídeos tenham esse papel, e, portanto, a parte mucilaginosa de Aloe seja a parte atuante medicinalmente, por ser a porção rica em polissacarídeos 109.

Como é praticamente impossível, em escala industrial, impedir o contacto dos componentes do gel e do exsudato, especialmente das antraquinonas, na maior parte das vezes é mais interessante pensar nos componentes do extrato integral.

No tocante à atividade cicatrizante, a ação de Aloe parece dever-se a um conjunto de ações. Embora tenha sido sugerido, desde a década de 50, o efeito do ácido tânico, isso não se confirmou, até agora. A capacidade umidificante e emoliente parece ser importante. Pelo alto teor em água, Aloe dispensa a retirada dela dos tecidos danificados, evitando, assim, sua desidratação. Essa explicação é bastante adequada, quando se focaliza a ação imediata, especialmente em queimaduras, mas não explica o efeito a longo prazo. Mais recentemente foi sugerida a ação anti-inflamatória da atividade conjunta de polissacarídeos  glicoproteínas e polissacáridos sulfatados109. E também a atuação anestésica, bactericida e antitrombótica devem exercer um papel nesse processo. Foi proposto que a atividade anti-inflamatória fosse possivelmente atribuída à manose-6-fosfato, açúcar presente no extrato e conhecido como ativador do crescimento tissular. Além disso, o β-sitosterol do gel, que é um fator potente de angiogênese, promovendo a neovascularização, deve corroborar com essa atuação. A fração glicoproteica parece estar envolvida na proliferação e migração celulares. Aminoácidos estimulam a proliferação celular das camadas mais profundas da pele através de síntese enzimática109. Em estudo sobre agentes vegetais atuantes contra Staphylococcus aureus resistentes a meticilina, cita-se aloe-emodina (como outros polifenóis) como possuidora de alta potência antibacteriana, mas sem exercer ação sinérgica a oxacilina 111.

Aloe age inibindo a atividade das ciclooxigenases, com isso inibindo a síntese de prostaglandinas, que são mediadoras da inflamação. Portanto, atua como anti-inflamatório. Não só, mas também atua sobre o tromboxano, diminuindo sua concentração, quando o gel é aplicado topicamente, portanto agindo sobre o ácido araquidônico, inibindo sua oxidação. Essa atuação se dá pelo menos através de uma glicoproteína, que atua tanto na inibição da ciclooxigenase, como na síntese do tromboxano. O efeito anti-inflamatório e antitrombogênico também explica, ao menos em parte, o efeito sobre a cicatrização. Além disso, foi descrita, in vitro, com Aloe barbadensis, ação através da atividade anti-bradicinase (enzima que atua sobre a bradicinina, importante mediador da dor), agindo também, portanto, no processo inflamatório 112.

Em estudo sobre a atuação de vários agentes sobre a cicatrização, foram comentadas Aloe vera e Centella asiatica, e referido que o uso de Aloe aumenta o teor de colágeno, atribuindo-se a aumento da síntese de colágeno e aumento da proliferação de fibroblastos a melhora no tecido de granulação, fato observado com o uso interno, mas melhor com o uso tópico 113.

Especula-se sobre o papel de salicilatos em Aloe, podendo gerar efeitos similares aos descritos com a aspirina, embora nem sempre idênticos, mas justificando efeito anestésico. Há, por outro lado, a possibilidade de ação sinérgica com magnésio, levando a aumento desse efeito. E ainda se descreveu a hidrólise de compostos antraquinônicos, como emodina e aloina, convertendo a salicilatos. Também se observaram outros efeitos anti-inflamatórios em outras espécies de Aloe 107.

Foi descrita a presença de carboxipeptidase em Aloe arborescens, e essa enzima teve atuação na redução glicêmica de ratos e camundongos diabéticos, bem como aumentando a permeabilidade vascular, na resposta inflamatória de lesões das ilhotas pancreáticas induzida por estreptozoina. Esse mecanismo explica a atuação antidiabética 114; 115. Do mesmo modo que fibras solúveis influem sobre o metabolismo glicídico e a lipidemia, a atividade antidiabética pode ser atribuída aos componentes solúveis dos polissacáridos do gel, além de ter influência a presença de alguns minerais 107.

Atuação antineoplásica foi descrita com algumas espécies de Aloe, com vários mecanismos, ainda não de todo elucidados. Esse efeito parece estar intimamente relacionado a glicoproteínas (lectinas) e a polissacarídeos. A capacidade de hemoaglutinação de lectinas promove o crescimento de células normais, inibindo o das tumorais. Descreveu-se a inibição de fibrossarcoma pela aloctina-A, de em Aloe arborescens, estando envolvido mecanismo imunológico. A aloctina-I, de Aloe vera, foi mais potente na atividade antitumoral. Parece fundamental a interação de vários fitoquímicos da planta nessa atividade. Em alguns experimentos pareceu haver atuação sobre a fagocitose, na ação antineoplásica. Os polissacáridos foram mencionados como fundamentais nesse processo, em vários estudos 107.

Estudando antraquinonas (aloesina, aloe-emodina e barbaloina) extraídas de Aloe vera e purificadas por cromatografia líquida, e também de N-terminal octapeptide derivado da verectina, glicoproteína da mesma planta, quanto à sua capacidade de prolongar a vida de células tumorais transplantadas em animais, esse fato foi observado, em ordem decrescente com barbaloina, octapeptide, aloesina e aloe-emodina. Mas houve inibição significativa de células de carcinoma de Erlich peritonial, em ordem decrescente para barbaloina, aloe-emodina, octapeptide e aloesina. Também em leucemia mieloide aguda e leucemia linfóide aguda se observou acentuada redução de células neoplásicas. Aloe-emodina também se demonstrou ativa contra linhagens celulares de câncer de colon humano. Os autores concluíram que as substâncias da planta atuam como antineoplásicas por mecanismo antioxidante, pelo fato de encontrarem concomitantemente ao tratamento elevação de enzimas ligadas à anti-oxidação 116.

Embora se tenha atribuído a antraquinonas um possível efeito cancerígeno, descreveu-se efeito antigenotóxico, antimutagênico e na apoptose, em vários órgãos. O efeito anticarcinogênico foi descrito em animais, porém já se sugeriu, em humanos, o uso de aloe-emodina no tratamento de câncer gástrico e no câncer cervical. Parece vital a atuação do citocromo P450 na biotransformação de antraquinonas no processo antineoplásico 107; 117.

Descreve-se o uso de algumas espécies de Aloe, na África, como antimalárico, e a ação antiplasmodial foi atribuída a antrona-C-glicosídeo homonataloina. Ação larvicida atribuída a antraquinonas, lectinas e proteínas. Também atribuída ação antimalárica a polissacáridos, manans, antraquinonas118.

Os polissacáridos também parecem ser os agentes na ação sobre a imunidade. Os polissacarídeos neutros, no acemanan e também no aloemanan têm propriedades antitumoral, anti-inflamatória e imunossupressora, enquanto as glicoproteínas têm atuação na bradiquinase e estimulação da proliferação celular identificada na fração não-dializável de várias espécies de Aloe. No acemanan foi descrito grande número de propriedades farmacológicas, como atuação antiviral, ativação de macrófagos, de monócitos e de anticorpos, estimulação de células T e do fator de necrose tumoral, assim como indução da produção de óxido nítrico. O acemanan parece atuar como ponte entre proteínas em vírus, microrganismos e macrófagos, facilitando a fagocitose. No entanto, alta concentrações de acemanan são necessárias, para efeito modesto na ativação de macrófagos. Isso leva à ideia de que acemanan atue sinergicamente com outros componentes, eventualmente até contaminantes, mesmo que estes estejam em pequena quantidade, mas essenciais para o efeito. Isso foi observado com aloeride, um polissacárido de alto peso molecular, que pode estar presente em quantidade mínima, como contaminante, mas exercendo grande potência na imuno-estimulação, nessa atividade sinérgica. Estudos in vivo e in vitro demonstraram que esse processo com polissacáridos de alto peso molecular, influenciando a produção de citoquinas e de óxido nítrico também influi na atividade antitumoral 107.

Em várias plantas, e também em Aloe, têm sido descritos, e despertado interesse crescente, polissacáridos de molécula grande, com efeitos biológicos como antifúngicos, antibacterianos, antivirais. Cromone descrito em Aloe barbadensis, tem efeito antioxidante potente, equivalente ao do α-tocoferol. Vários compostos com atividade antioxidante e anti-inflamatórias de Aloe vera foram estudados (cinamil, p-cumaroil, feruloil, cafeoil aloesina), concluindo-se que essas atividades estão relacionadas aos compostos acilados. Mas também glicoproteínas de alto peso molecular inibiram ciclooxigenase-2 e tromboxano-A2-sintase. Assim, tanto as frações glicoproteicas como os compostos relacionados a aloesina têm papel importante como anti-inflamatórios e antioxidantes 107. 

Atividade toxicológica

Afora umas poucas espécies, muito venenosas, a imensa maioria das plantas do gênero Aloe são completamente desprovidas de toxicidade, Vários estudos em ratos demonstraram virtual ausência de efeitos danosos, mas revelaram alguns efeitos protetores, como o hepatoprotetor, o aumento da macrófagos (favorecendo a fagocitose), e mesmo antitumoral 107. 

Em humanos, foram descritas reações alérgicas, em casos isolados 119. Em alguns casos em que se utilizou Aloe , observou-se que a exposição aos raios UV levava a pigmentação persistente da pele. Também foi observada reação contrária à esperada, em queimaduras que, em vez de cicatrizarem melhor com Aloe, demoravam mais. Quando utilizado na pele, em alguns casos provocou ardor, atribuído a aumento da circulação. Outros autores observaram que, embora houvesse melhora na cicatrização, podia haver eritema duradouro, ou sensação dolorosa107.

A agência reguladora americana (FDA) listou uma série de eventos adversos citados em diferentes estudos, De 30 eventos, em 7 somente Aloe era o ingrediente potencialmente suspeito. Os efeitos mencionados foram de vários tipos, como náusea, tontura e fraqueza, tinitus, pressão na cabeça, aumento da pressão arterial, ataques de pânico, insônia, dificuldade de concentração, problemas de memória, fibrilação atrial, erupção cutânea avermelhada e pruriginosa, meningite asséptica, acidente vascular cerebral 107.

Há várias citações de casos isolados de toxicidade em humanos, porém sem os subseqüentes estudos toxicológicos, como 2 casos de hepatite, sangramento intraoperatório intenso, insuficiência renal aguda, vômitos acentuados, e, em alguns deles havia a possibilidade de ter havido interação com outras drogas. Outro problema descrito foi o aumento do risco de hipoglicemia, em diabéticos, especialmente se em associação com outros medicamentos para o controle glicêmico. E também, quando associado a drogas glicosídicas para tratamento cardiológico, risco de eliminação de potássio, aumentando a possibilidade de hipocalemia. Em citações esporádicas, o exsudato foi mencionado como causador de abortamento e indução menstrual 107.

A possibilidade de haver contaminantes nos produtos de Aloe deve ser considerada, especialmente de compostos fenólicos, como antrona-C-glicosídeos. Esses contaminantes derivados antraquinônicos podem ser responsabilizados pelo efeito laxativo. Particular atenção tem sido dada a aloe-emodina e aloina, que podem ser agentes de efeitos adversos. Preparados sem aloina tem-se demonstrado mais seguros. Também saponinas amarelas parecem ter algum efeito pernicioso. O gel colorido é menos eficaz que o gel incolor, no processo de cicatrização. Em estudos de cultura celular, houve efeito citotóxico com amostras comerciais contendo as saponinas coloridas. Pelos estudos realizados, aloina e aloe-emodina foram incluídas numa lista de 12 componentes com quantidade máxima alimentar regulamentada, na União Europeia 107.

Controle de qualidade e aspectos legais

A legislação sobre o uso de plantas medicinais varia enormemente de país para país, o que dificulta muito a regulamentação. No caso de Aloe, que tem sido comercializada como alimento, a situação tem alguns problemas que devem ser considerados. A começar do fato de que se encontram muitos produtos em que há adulteração, como, por exemplo, acrescentando-se água ao gel. Também conta muito na qualidade aspectos do plantio, de armazenamento e da produção industrial. Por exemplo, as folhas devem ser utilizadas imediatamente após colhidas, ou devem ser congeladas, no intuito de preservação de seus componentes, que se podem modificar rapidamente, por oxidação ou hidrólise. O tratamento do gel com carbono ativo, com a finalidade de remover a aloina e as antraquinonas é outro passo. A esterilização sob calor pode promover mudanças bioquímicas, também, principalmente destruindo mucopolissacáridos, o que promoverá diminuição do potencial terapêutico. Há ainda considerações a serem tomadas, quanto a estabilização do produto, acréscimo de outros componentes, como vitamina C, ou ácido cítrico, condições de armazenamento, e outras. Recomenda-se que os produtos sejam analisados sempre levando em conta: 1-investigação de autenticidade; 2-teste para verificar a presença de componentes inadmissíveis; 3- determinação do conteúdo em aloina 107. 

Aplicações e uso medicinal

Embora seja descrito seu uso desde tempos bíblicos, há controvérsia quanto a vários aspectos de sua utilidade, e não está bem determinada a melhor dosagem para uso oral, com mais segurança quanto à aplicação tópica. Encontram-se, no entanto, referências a várias indicações.

Pele e cicatrização

Há numerosas referências ao uso dermatológico da planta. Revisão demonstrou a capacidade de melhorar a hidratação da pele, promover a diferenciação cós queratinócitos, reduzir a perda hídrica transepidérmica de Aloe e de algumas outras plantas, em humanos e in vitro 120.

Revisão abordando as plantas mais utilizadas em dermatologia menciona a escassez de conhecimento de membros da classe médica sobre sua atuação, e que nem sempre há informação científica confiável. Sobre Aloe, cita vários efeitos documentados, como imunomodulação, antibacteriana, antiviridal contra herpes simples e varicela-zoster. Menciona a utilidade no tratamento de feridas e úlceras e antineoplásica. Ressalta a contra-indicação na gravidez e lactação e o risco de interação com antiarrítmicos, digitálicos, diuréticos tiazídicos, por aumento da perda de potássio 121.

Aloe atua, ao que tudo indica, tanto no reparo do epitélio danificado, como na imunidade. É conhecido seu efeito cicatrizante e anti-inflamatório, com utilidade em feridas, queimaduras, cortes, eczemas, hemorroidas e veias varicosas, pele quebradiça, e outros. O benefício obtido com o uso tópico pode ser atribuído a efeito antioxidativo. Há documentação do reparo da pele após radiação UV, demonstrando sua efetividade em queimaduras de primeiro e segundo graus 122. Há necessidade, no entanto, de estudos mais bem estruturados e detalhados quanto aos componentes da planta utilizados, para confirmação dessa indicação.

Em relação a feridas, as referências são mais claras no tratamento de úlceras herpéticas e outras úlceras, podendo ser atribuída sua efetividade a ação antiviral, observada com gel a 80% 109.

Revisão sobre o uso de Aloe em queimaduras selecionou entre 1069 estudos apenas 4 que preenchiam as condições estabelecidas, resultando num total de 371 pacientes. A conclusão foi de que o tratamento com a planta pode ser de valia, em queimaduras de primeiro e segundo graus, comparando com outros tratamentos usuais (antibióticos, vaselina), mas que seriam importantes outros estudos estruturados 110.

No tratamento da dermatite decorrente de radioterapia, os estudos mostram resultados controversos. A maior parte dos estudos não mostrou resultado efetivo. Comparando-se com o uso de corticoides locais, o resultado com gel de Aloe foi favorável, e com menos efeitos adversos. No entanto, a ideia de que se devem fazer mais estudos persiste 123; 124.

Revisão sistemática quanto ao uso da planta em escaras de decúbito não mostrou resultado benéfico, porém os estudos eram escassos 125.

Utilizando extrato versus placebo, com 60 pacientes, demonstrou-se atuação muito vantajosa no tratamento de psoríase com creme de Aloe vera 126; outros estudos, posteriores, também mostraram bons resultados, inclusive comparando com corticoide 127; 128.

Estudo bem conduzido demonstrou eficácia no tratamento do líquen plano oral, conforme revisão de estudos controlados 129. Outra revisão menciona 28 estudos, concluindo que as evidências a favor de Aloe vera são fracas, porém nenhum tratamento se mostrou muito superior, incluindo corticoides e ciclosporina 130.

Revisão sobre o uso dermatológica da planta localizou 40 estudos, mencionando inúmeros usos com potencial benéfico sobre herpes, psoríase, lesões causadas pelo HPV, líquen plano, xerose, queimaduras , dermatite seborreica cicatrização e inflamação. Apesar de haver indicações promissoras, na maior parte dos casos seria necessário aprofundar a exploração para se poderem ter conclusões definitivas 131. 

Diabete

Vários autores comprovaram efeito hipoglicêmicos em ratos e coelhos diabéticos. A ação hipoglicêmica parece dever-se a mediação da estimulação, síntese ou liberação da insulina no pâncreas 107; 132.

Revisão sistemática sobre vários tratamentos herbáceos para diabéticos chegou à conclusão que não há evidências suficientes para conclusões definitivas sobre a maior parte delas, mas que há fortes indicações em relação a benefício quanto ao ginseng americano e Coccinea indica, mas boas indicações, que exigem estudos mais amplos, sobre outras, entre as quais se inclui Aloe vera 133.

Outra revisão, abordando os estudos disponíveis sobre o controle do quadro diabético utilizando Aloe por via oral mostrou que forma demonstrados benefícios, porém que há necessidade de mais estudos consistentes, para plena conclusão, uma vez que o que existe peca pela falta de homogeneidade de métodos 122.

Controle da lipidemia

Revisão avaliando estudos controlados concluiu que embora haja indícios de que o uso oral de Aloe influa favoravelmente sobre a lipidemia, em especial sobre a trigliceridemia, os resultados são controversos, não permitindo a indicação precisa com esse fim 122.

Efeitos sobre o trato digestivo

Efeito profilático e cicatrizante sobre úlceras gástricas com o gel foi obtido em animais e em humanos, e atribuído a moléculas grandes , porém há estudos que não levaram ao efeito benéfico esperado 134.

Em revisão sobre atuação de Aloe sobre a defesa no trato gastrointestinal, refere-se que a sua ação seria sobre os mastócitos, estabilizando-os, o que seria uma condição importante na citoproteção digestiva 135.

Tradicionalmente se tem utilizado o exsudato das folhas para a obtenção de efeito laxante, atribuído às antraquinonas 107; 136 .

Revisão avaliando estudos controlados comenta que, a despeito de haver falta de evidências, Aloe tem sido amplamente empregada no tratamento de colite. No entanto, os poucos estudos disponíveis mostram que o produto utilizado por via oral teve resultado melhor que o do placebo, melhorando o aspecto histológico e não demonstrando efeitos adversos importantes. Também há poucas referências sobre o tratamento de refluxo, e o resultado parece ser desfavorável. Há várias referências de melhora de mucosite conseqüente ao tratamento antineoplásico 122. 

Efeito anticancerígeno

Já desde a segunda metade do século 20,descreve-se que o uso de “suco” de babosa (ao que tudo indica, do gel), como preventivo do câncer de pulmão e de outros órgãos. Também se descreveu a ativação de macrófagos como mecanismo de estimulação imunitária. Em cultura de hepatócito murino, o gel inibiu a carcinogênese, assim como se observou a regressão tumoral com extratos107.

Anti-inflamatório

Revisão comenta que o uso nas dores devidas a artrite é feito tradicionalmente, há séculos, mas que as evidências científicas de bom nivel são escassas. Comenta ainda que seu uso poderia ser útil sob dois pontos de vista: pela sua ação anti-inflamatória específica, e por diminuir a irritação gastrointestinal provocada pelo uso de outros agentes anti-inflamatórios 122.

Efeito antioxidante

Foram descritos efeitos atribuíveis a ação antioxidante. Por exemplo, em ratos, uso de longo prazo do gel trouxe benéficos sobre envelhecimento, cardiopatia, nefropatia, na prevenção de problemas tromboembólicos. O efeito antioxidante pode ser atribuído à capacidade do gel reduzir radicais livres pelo dióxido de carbono supercrítico e foi demonstrado ser mais potente que butil-hidroxianisol e α-tocoferol 107.

Outros efeitos benéficos

Várias outras aplicações terapêuticas têm sido descritas.

Menciona-se na medicina ayurvédica o uso de Aloe como coadjuvante no tratamento de infertilidade feminina 137.

Descreveu-se ação redutora dos hormônios tireoidianos, embora menos potente que a de Aegle marmelos, mas com a vantagem de, além de não ser hepatotóxico, proteger o fígado, o que pode ser útil no tratamento de hipertireoidismo moderado. Também foi demonstrada, em ratos, que a ingestão do gel reduziu a calcitonina e dos níveis do paratormônio. Descreveu-se vantagem no uso odontológico, melhorando a dor e a cicatrização de cirurgia periodontal. O uso veterinário, no tratamento de pruridos, feridas, alergias, dores e inflamações, também tem sido descrito 107.

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Um comentário:

  1. Li que as lectinas da Ale fazem crescer e proliferar os linfocitos e que tem atividade mitogenica, e verdade?

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