domingo, 21 de março de 2021

Centelha-asiática na fitoterapia aplicada aos animais: pesquisa sobre ação cicatrizante

Texto:
Giulianna Salvatto - Acadêmica - Medicina veterinária - UNITAU
Marcos Roberto Furlan - Engenheiro agrônomo, professor - FIC e UNITAU

Nos quintais, calçadas e jardins, a centelha-asiática é encontrada nascendo, geralmente, por conta própria, pois, para muitos, é considerada invasora ou daninha. No entanto, é utilizada desde a antiguidade como planta medicinal, principalmente pela medicina Ayurvédica, onde ela é conhecida por gotu kola, dentre outros nomes. Há muitos ensaios clínicos comprovando suas atividades farmacológicas relacionadas ao sistema nervoso.

Seu nome científico é Centella asiatica (L.) Urban e pertence à família Apiaceae. A mesma família que inclui, por exemplo, a comestível cenoura (Daucus carota L.), as medicinais e/ou condimentares salsinhas (Petroselinum spp), coentro (Coriandrum sativum L.), anis ou erva-doce (Pimpinella anisum L.) e funcho (Foeniculum vulgare Mill.). Assim como a centelha-asiática, são plantas ricas em óleos essenciais, principais responsáveis pelas atividades antioxidantes e antimicrobianas dessas espécies.

Quanto aos seus usos medicinais para os sistemas nervoso e cardiovascular há um número significativo de pesquisas. Outra área em que a centelha-asiática se destaca é a cosmética, como ingrediente de fitocosméticos para tratamento da celulite. Em alguns países asiáticos é consumida como alimento. Mas com relação ao tratamento de animais ainda há poucas pesquisas. Boelter (2010) cita, por exemplo, o uso da centelha-asiática no tratamento de animais que sofreram lesão que provocou acidente vascular cerebral ou para tratar sequelas de cinomose.

Pesquisa sobre sua ação cicatrizante em animais

Um dos principais princípios ativos da C. asiatica, é o saponosídeo triterpênico asiaticosídeo. Na pesquisa de Nazareth (2018), a autora avaliou a solução de tartarato de ketanserina (0,345%) e asiaticosídeo (0,20%) como opção terapêutica, aplicada via tópica, no processo de cicatrização de lesões cutâneas em cães atendidos. Concluiu que a formulação é efetiva nas fases de inflamação, de proliferação e de reparo da lesão quando comparado às feridas tratadas com solução salina 0,9%.

Referências

BOELTER, Ruben. Plantas medicinais usadas na Medicina Veterinária. 2 ed. ANDREI: São Paulo. 2010.

NAZARET, Thuanny Lopes. Estudo para avaliação da ação e eficácia da formulação de tartarato de ketanserina (0,345%) e asiaticosídeo (0,20%), aplicada via tópica, no processo de cicatrização de lesões cutâneas em cães. 2018, 62 f. Dissertação (Mestrado e em Cirurgia Veterinária). Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias – Unesp, Jaboticabal, 2010. Disponível em: https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/183051/nazaret_tl_me_jabo.pdf?sequence=5&isAllowed=y

Foto: Centella asiatica (L.) Urban.


CICLO DE LIVE FITOISA Nº 14: Fitoterapia e Psicologia na promoção do bem...

LIVE'S FITOISA Nº 13: Importância da validação científica de produtos na...

CICLO DE LIVE'S FITOISA nº12: Impactos no desenvolvimento sustentável do...

CICLO DE LIVE'S FITOISA Nº 11: Nova Economia Digital e o Empreendedorism...

CICLO DE LIVE'S FITOISA Nº 10: PARCERIA BIODIVERSIDADE INOVAÇÃO (P, B+ I)

quarta-feira, 17 de março de 2021

Plantas espontâneas na alimentação animal: beldroega

Texto:
Laura Fernanda Chaves Perrenoud - acadêmica de Medicina veterinária - UNITAU
Marcos Roberto Furlan: Engenheiro agrônomo e professor - UNITAU

Os quintais acompanham o ser humano desde o neolítico, quando de nômade passou a ser sedentário e se fixou em povoados ou em cidades. Nesses locais começou a cultivar vegetais para serem usados como alimentos ou como medicamentos, tanto para a família quanto para os seus animais domésticos, habituando essa flora ao seu redor.

Mesmo com a redução na intensidade de uso dessas espécies ao longo do tempo, se verifica que boa parte ainda se mantém nas proximidades das moradias, inclusive urbanas. São, para alguns pesquisadores, classificadas como plantas negligenciadas, por não serem aproveitadas, apesar de seu potencial de uso.

Portanto, é possível encontrar em um quintal, ou até mesmo nas calçadas, uma riqueza de plantas para tratamento de doenças ou para serem usadas na alimentação humana ou de animais, mesmo que não sejam cultivadas pelo morador. Importante ressaltar que as encontradas nas calçadas não devem ser consumidas devido à poluição e resíduos que caem sobre elas. No entanto, é importante o reconhecimento preciso dessas espécies e conhecer alguns itens para seu uso seguro.

Dentre as espécies espontâneas encontradas nos quintais em várias regiões do Brasil, uma se destaca, a beldroega (Portulaca oleracea), por ser utilizada há milênios e que já tem uma boa divulgação como umas das plantas alimentícias não convencionais (PANC) para consumo humano. É de fácil identificação (foto), e quanto às restrições para consumo humano a preocupação é com relação ao teor de oxalato. Mas além de alguns minerais, é uma das espécies mais ricas em ômega-3.

Para a alimentação animal, ainda há poucos relatos de usos no Brasil.  Em alguns países da África é utilizada para alimentação de animais domésticos. Na publicação da EMBRAPA (http://panorama.cnpms.embrapa.br/plantas-daninhas/identificacao/folhas-largas/beldroega-portulaca-oleracea-l) é citado o seu consumo em pequenas quantidades para animais.

Apesar de seu potencial na alimentação humana, ainda não é seguro recomendar para alimentação de animais. Uma pesquisa demonstrou que seu uso pode causar intoxicações em ovinos (SIMÕES, 20130). Foram utilizadas grandes quantidades nos tratamentos, o que pode justificar a intoxicação.

Mas para aves, Aydin e Dogan (2010) demonstraram que a beldroega na ração proporcionou melhor palatabilidade, aumento de aumentando do peso e da produção de ovos. Concluíram que a adição de beldroega desidratada à dieta de galinhas poedeiras aumentou significativamente a produção e o peso dos ovos, embora não tenha havido redução na concentração de colesterol no ovo. Este estudo também mostrou que a inclusão de beldroegas na dieta enriqueceu ovos com ácidos graxos ômega-3 e diminuiu a proporção de ômega-6 / ômega-3 na gema.

Essa série de artigos sobre plantas espontâneas para alimentação animal pretende fazer buscas para ter mais subsídio quanto à beldroega e outras espécies espontâneas como alimento para animais.

Referência:

AYDIN, R.; DOGAN, I. Fatty acid profile and cholesterol content of egg yolk from chickens fed diets supplemented with purslane (Portulaca oleracea L.). Journal of the Science of Food and Agriculture, Oxford, v. 90, p. 1759–1763, 2010. Disponível em: https://onlinelibrary.wiley.com/doi/abs/10.1002/jsfa.4018.

SIMÕES, João Gonçalves. Intoxicação por Portulaca oleracea L. em ovinos. 2013, 34 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Medicina Veterinária) - Universidade Federal de Campina Grande, Centro de Saúde e Tecnologia Rural, 2014. Disponível e: http://www.cstrold.sti.ufcg.edu.br/grad_med_vet/mono_2013_2/monografia_joao_goncalves_simoes.pdf
Foto: Portulaca oleracea
Autoria: Luciana Ferreira Chaves Perrenoud