Publicação da Assessoria de Comunicação da Universidade Federal de Goiás
ANO VII – Nº 68 – Outubro – 2014
Pesquisadores do Laboratório de Nutrição Experimental realizaram ensaio clínico inédito para analisar o efeito do fruto em seres humanos
Texto: Águita Araújo Fotos: Carlos Siqueira e Divulgação
A prevenção de doenças cardiovasculares, como a arteriosclerose, agora tem uma nova aliada: a amêndoa de baru. Pesquisadores do Laboratório de Nutrição Experimental (Lanut) da Faculdade de Nutrição (Fanut) da UFG descobriram, por meio de uma pesquisa inédita, que indivíduos com alteração moderada nos níveis de colesterol total (hipercolesterolemia) podem se beneficiar do consumo de baru.
A pesquisa, iniciada em 2013 e desenvolvida como parte de uma dissertação de mestrado da então estudante do Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde, Ana Paula Nunes Bento, foi publicada este ano no Nutrition, Metabolismand Cardiovascular Disease, periódico de referência mundial na área de nutrição e doenças cardiovasculares. Ana Paula Bento desenvolveu o estudo com a orientação da professora Maria Margareth Veloso Naves e coorientação das professoras Mara Reis Silva e Cristiane Cominetti.
Cristiane Cominetti, Ana Paula Nunes Bento e Maria Margareth Veloso Naves, autoras do artigo no periódico Nutrition, Metabolismand Cardiovascular Disease
O objetivo do trabalho foi avaliar o efeito da inclusão de uma porção diária de amêndoa de baru na alimentação de pessoas moderadamente hipercolesterolêmicas. Foram avaliados o perfil lipídico e o estado oxidativo desses indivíduos. O método utilizado foi o crossover, no qual todos os voluntários da pesquisa são submetidos tanto ao tratamento testado (nesse caso, o baru) quanto ao tratamento com placebo (nesse caso, uma cápsula de amido de milho). Esse método permitiu a observação mais precisa do momento em que houve o processo de redução das concentrações lipídicas dos indivíduos, aumentando a força estatística dos resultados obtidos.
Homens e mulheres com idade entre 21 e 57 anos compuseram o grupo de 20 indivíduos que participaram do estudo. Eles consumiram 20g, que equivale aproximadamente a 15 unidades de amêndoa de baru por dia, durante seis semanas. Ao final da suplementação, foi observada uma redução significativa, comparada ao período que o voluntário consumiu placebo, nas concentrações de colesterol total (-8,1%) e lipoproteínas de baixa densidade associadas ao colesterol, LDL - colesterol (-9,4%). De acordo com Ana Paula Bento, a suplementação da dieta de indivíduos moderadamente hipercolesterolêmicos com amêndoas de baru melhorou o perfil lipídico, isso indica que este alimento pode ser incluído em dietas para reduzir o risco de doenças cardiovasculares.
As vantagens do baru
A formação de placas de gordura na parede dos vasos sanguíneos é considerada um dos principais fatores para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, como a arteriosclerose. Segundo a nutricionista, Ana Paula Bento, o colesterol e os triglicerídeos compõem a categoria dos lipídios que, em níveis elevados na corrente sanguínea, contribuem mais para a ocorrência dessa doença.
Ela esclarece que o baru atua justamente na redução desses lipídios. Esse efeito é atribuído à composição nutricional do alimento, com destaque para o conteúdo de ácidos graxos mono e poli-insaturados. Além disso, o fruto possui fibras e compostos bioativos, como os polifenóis, que possuem a propriedade de reduzir a absorção de gordura no intestino e atuar como antioxidantes, respectivamente, explica Ana Paula Bento.
A descoberta da suplementação alimentar diária com a castanha relacionada à prevenção de doenças cardiovasculares pode contribuir também para a valorização da vegetação do bioma Cerrado
O efeito do consumo da amêndoa de baru na redução das concentrações de colesterol total e de LDL possui um diferencial em relação a outras oleginosas já pesquisadas. “A maior parte dos estudos feitos com oleaginosas, como castanha-do-pará, amêndoas, macadâmia e nozes, utilizou uma porção de 60g a 100g. No nosso estudo, utilizamos apenas 20g de amêndoa de baru, o que foi suficiente para obtermos um resultado satisfatório, ou seja, a porção utilizada foi de 3 a 5 vezes menor em comparação a outros estudos”, explica a nutricionista.
Essa importante descoberta para a prevenção de doenças cardiodvasculares pode contribuir também para a valorização da vegetação do bioma Cerrado. Ana Paula Nunes explica que a árvore do baru costuma ser abatida para a comercialização da madeira. Uma vez que o fruto se torna um elemento importante para a alimentação, a espectativa da nutricionista é de que a exploração da madeira seja evitada.
Novas questões
Os resultados do estudo realizado por pesquisadores do Lanut estimulam outras investigações, como a relação entre a dose consumida e a resposta no organismo; se o fruto pode beneficiar indivíduos em diferentes fases e condições fisiológicas; o impacto sobre outros tipos de doença e desfechos clínicos, além de estudos com enfoque no impacto do alimento sobre a expressão de genes e a influência da genética no efeito do alimento no organismo.
Segundo a professora Maria Margareth Veloso Naves, coordenadora do Lanut, análises prévias da composição da película que envolve o fruto, semelhante a do amendoim, porém mais espessa, indicam a presença de altas concentrações de compostos fenólicos, que possuem atividade antioxidante. Ela explica que é importante conduzir outras pesquisas para esclarecer os tipos de compostos fenólicos existentes na película do fruto e quais benefícios podem trazer para a saúde das pessoas.
Pesquisas da Fanut sobre o fruto
Há sete anos, o grupo de pesquisa da professora Maria Margareth vem desenvolvendo estudos para identificar os benefícios do baru para a alimentação. Ao longo deste tempo, os pesquisadores já realizaram atividades como o levantamento completo dos componentes do fruto, como macronutrientes, composição mineral, perfil de ácidos graxos, qualidade proteica, compostos bioativos e capacidade antioxidante de frutos coletados em diferentes regiões do Cerrado. Em decorrência desses estudos, o grupo já publicou vários artigos em revistas de impacto internacional.
Além dos estudos de caracterização química e nutricional, ensaios com modelos animais foram realizados para investigar o efeito do baru no perfil lipídico no sangue, tendo sido obtidos resultados positivos, o que motivou o estudo em seres humanos. De acordo com a professora Maria Margareth, o Lanut contribuiu fundamentalmente para a identificação e análise do potencial do fruto para consumo humano, em termos de qualidade proteica e lipídica, tendo em vista que constitui um laboratório próprio para experimentação com animais, com o objetivo de investigar o efeito dos alimentos ou seus componentes na saúde.
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