Bloco se adianta ao propor oficialmente corte de “pelo menos 40%” de suas emissões de gases estufa até 2030 em relação a 1990
A União Europeia (UE) deu a largada rumo ao acordo do clima de Paris nesta quarta-feira (25/02), ao tornar-se o primeiro bloco a colocar na mesa sua proposta de redução de gases de efeito estufa para o novo tratado global, a ser implementado em 2020. Umdocumento divulgado pela Comissão Europeia detalha a visão dos 27 países sobre o novo regime climático e diz o que os europeus estão dispostos a fazer.
A chamada Contribuição Nacionalmente Determinada Pretendida (INDC) da UE chega um mês antes do prazo informal dado pelas Nações Unidas para os países desenvolvidos apresentarem seus números. Traz também um avanço ao propor que o novo acordo, que os europeus já estão chamando de Protocolo de Paris, tenha força de lei internacional. Porém, ainda faz pouco para colocar o mundo na trajetória segura de limitar o aquecimento global no fim deste século a 2 °C, objetivo almejado pelos membros da Convenção do Clima da ONU, com base nas recomendações da ciência.
A INDC europeia propõe reduzir as emissões dos 27 países do bloco “em pelo menos 40%” até 2030 em relação aos níveis de 1990, sem a compra de créditos de carbono de fora. Segundo o documento da Comissão Europeia, isso colocaria a UE numa trajetória “economicamente viável” de cortar 80% de suas emissões até 2050, permitindo uma chance “provável” de ficar dentro do limite de 2 °C.
Na linguagem estatística do IPCC, o painel do clima da ONU, “provável” significa uma chance de pelo menos 66%.
“Os europeus merecem crédito por terem sido os primeiros a fazer o anúncio, mas sua oferta está aquém do que seria sua contribuição justa ao esforço mundial de redução de emissões”, diz Mark Lutes, analista sênior de clima do WWF, uma das organizações integrantes do Observatório do Clima. “Estamos dizendo que o mundo precisa reduzir a zero as emissões de queima de combustíveis fósseis e chegar a 100% de energia renovável até 2050; e a proposta europeia não chega lá.” No entanto, ressalta Luttes, os europeus deixaram a porta aberta para revisões periódicas dos compromissos a partir de 2020, algo que o Brasil tem defendido nas negociações.
“Esperamos que a UE ainda possa aumentar sua contribuição à luz do que a ciência diz que é necessário fazer para evitar o caos climático”, diz o secretário-executivo do Observatório do Clima, Carlos Rittl. “Da mesma forma, esperamos que o Brasil não fique dependendo disso para colocar na mesa um compromisso de redução de emissões ambicioso e proporcional a sua responsabilidade. Para o Brasil, fazer a coisa certa no clima representa oportunidade de recolocar a economia nos eixos, e nós não podemos deixar essa oportunidade passar só porque outros países estão fazendo menos do que deveriam.”
“O Brasil é um dos países com mais oportunidades para redução de emissões e tem tudo para assumir um papel de protagonismo, estimulando os outros países a aumentarem a ambição do novo acordo global”, afirma o gerente de estratégias da conservação da Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza e coordenador-geral do Observatório do Clima, André Ferretti.
Colaboração de Maria Luiza Campos, para o Portal EcoDebate, 26/02/2015
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