sábado, 25 de junho de 2016

Grupo de cientistas propõe medidas para equilíbrio alimentar e energético

Relatório divulgado esta semana conclui que a terra disponível no planeta não é fator limitante para produção de bioenergia e alimentos e reforça recomendações científicas para uma economia de base biológica

Relatório Reconciling Food Security and Bioenergy: Priorities for Action (Conciliando a Segurança Alimentar e a Bioenergia: Prioridades para Ação) mostra que metas de produção de biocombustíveis, segurança alimentar e desenvolvimento sustentável podem ser alcançadas simultaneamente. As informações foram divulgadas dia 14 de junho por uma equipe internacional e multidisciplinar de especialistas de dez instituições de pesquisa em sete países.

O documento identifica medidas baseadas em conhecimento científico para mostrar que a área disponível não é um fator limitante para produção simultânea de alimentos e bioenergia no mundo. Entre as recomendações estão a adoção de estratégias para lidar com fatores locais de risco; engajamento de populações locais; estímulo à compatibilidade da coprodução de alimentos e bioenergia; adoção de culturas flexíveis e planejamento para diversificar mercados locais com aproveitamento de resíduos como palha e bagaço de cana, por exemplo.

“É um erro ignorar os custos e benefícios dos biocombustíveis com base em modelos globais ou afirmações generalizadas. É essencial trabalhar com dados confiáveis que não têm sido levados em conta nos debates que envolvem alimentos, biocombustíveis e clima”, disse Keith Kline, do Instituto de Ciência da Mudança do Clima do Laboratório Nacional Oak Ridge (ORNL, da sigla em inglês) e autor principal do relatório publicado na revista Global Change Biology – Bioenergy.
Colheitadeiras em um campo de cana-de-açúcar em Piracicaba, São Paulo – Foto: Mario Roberto Duran Ortiz / Wikimedia Commons

O estudo foi coordenado pelo ORNL, ligado ao Departamento de Energia dos Estados Unidos, e teve participação da coordenação do programa da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) de Pesquisa em Bioenergia (Bioen).

Outras medidas propostas são o apoio à implantação de unidades de produção com uso múltiplo, para aumentar o suprimento de biomassa sustentável; gerenciamento adaptativo dessas unidades; comunicação pública sobre os objetivos, obstáculos e oportunidades da coprodução para lidar com necessidades locais; e a colaboração em programas locais de desenvolvimento.

Uma parte significativa da energia de um país pode ser fornecida por biomassa ao mesmo tempo em que a produção de alimentos é aumentada.

“Uma parte significativa da energia de um país pode ser fornecida por biomassa ao mesmo tempo em que a produção de alimentos é aumentada”, disse Glaucia Souza, do Instituto de Química (IQ) da USP e membro da coordenação do programa Bioen. “O programa de etanol de cana do Brasil demonstrou, ao longo de 40 anos de monitoramento, aprendizado e adaptação, que é possível conciliar o aumento de incentivos para restauração da terra e serviços ecossistêmicos com o aumento da segurança alimentar e redução da pobreza.” A indústria do etanol de cana no Brasil é responsável por 4,5 milhões de empregos, melhora condições de subsistência no País e promove a infraestrutura e desenvolvimento rural.
Plantação de batatas orgânicas – Foto: Elza Fiuza / Wikimedia Commons

O zoneamento agroecológico desenvolvido em resposta às preocupações de sustentabilidade de biocombustíveis no Brasil tem influenciado outros setores agrícolas e ajudou a proteger a biodiversidade e as florestas, recursos importantes para a produção sustentável de alimentos em áreas rurais.

De acordo com o relatório, o desenvolvimento de uma economia de base biológica sustentável, conhecida como bioeconomia, é uma parte fundamental das estratégias nacionais para aumentar a segurança energética e reduzir as emissões de gases de efeito estufa.

O relatório também destaca que investimentos em pesquisa e no desempenho de sistemas de produção de base biológica para a aumentar a segurança alimentar e o abastecimento de energia podem atenuar situações de risco.

Participaram da elaboração do relatório pesquisadores ligados ao Centro de Política Ambiental do Imperial College London, no Reino Unido; IQ/USP e Programa Fapesp de Pesquisa em Bioenergia (Bioen); Universidade de Twente, na Holanda; Instituto de Ingeniería Rural (INTA), na Argentina; Stockholm Environment Institute (SEI África), no Quênia; Bureau of Energy Efficiency (BEE Energy), agência ligada ao governo da Índia; e do Banco Mundial, em Washington DC, Estados Unidos.

O relatório da pesquisa foi publicado em 14/6/2016 neste site.

Do Jornal da USP, in EcoDebate, 22/06/2016

Inovações Sustentáveis, artigo de Roberto Naime

[EcoDebate] Ricardo Abramovay assevera que precisamos de inovações sustentáveis.

Crítico do alarmismo, o professor Ricardo Abramovay defende divulgação de boas práticas ambientais para sensibilizar população. Em entrevista a Renato Grandelle afirma que “em qualquer setor, as empresas precisam conversar cada vez mais com os cientistas e ser sensíveis às mudanças das preferências dos consumidores”

Parece impossível discutir o futuro do planeta sem cair no pessimismo. As mudanças climáticas são tão flagrantes que teriam provocado o início de um novo período geológico.
A indústria ainda não consegue adaptar toda a sua cadeia de produção a práticas sustentáveis. O economista Ricardo Abramovay, da Universidade de São Paulo (USP) prefere não olhar para o abismo.

Existem estudos mostrando que até 80% do noticiário relacionado às mudanças climáticas é alarmista. Não é culpa dos meios de comunicação porque, quando alguém abre o jornal, as catástrofes chamam mais atenção. Então, é natural que ganhem mais ênfase.

É importante ressaltar que as ameaças não são inventadas. De fato vivemos uma situação preocupante. No entanto, acredito que, se quisermos sensibilizar a população, é importante expor exemplos e conquistas que permitam dizer que, apesar dos problemas, há condições de organizar a vida.

Indagado sobre quais são as consequências da comunicação baseada em catástrofes, arguiu, “se as pessoas têm a expectativa de que a vida vai piorar, elas acreditam que é melhor aproveitar enquanto há tempo. Você sabe o que está acontecendo, mas nada faz a respeito, porque não haverá um prejuízo imediato. Acredito que, se os gases de efeito estufa tivessem cor, nunca chegaríamos a esta situação. As pessoas se revoltariam contra a poluição. Infelizmente a destruição do sistema climático não é visível”.

Indagado porque tantos relatórios científicos também adotam um tom alarmista, mas ainda não convenceram os governos a estabelecer um acordo global assevera “a capacidade de comunicação da ciência é muito pequena. Aliás, ela parece avessa à comunicação. O discurso é hermético. Os relatórios são difíceis de compreender”.

Perguntado sobre onde os ambientalistas erram em seu discurso, manifesta que “um exemplo é o setor de transportes, hoje baseado em carros particulares, movidos a combustíveis fósseis. O discurso ambientalista convencional é “você não pode ter o automóvel que tanto almeja, porque ele é poluente”. Isso induz a uma reação, “como assim? Agora que eu quero (e posso), você me vem com esta história?”. O ideal é dizer: “Este carro não vai trazer o bem-estar que você quer”. Enquanto isso, devemos investir seriamente no transporte coletivo”.

Provocado a se manifestar sobre o setor energético, onde também há exagero quando se fala sobre a possibilidade de racionamentos no futuro, argumentou “nos Estados Unidos, alguns anos atrás, achava-se que seria necessário reduzir o uso de equipamentos elétricos e eletrônicos que são indispensáveis. O uso de tecnologias como a energia solar por um preço cada vez mais barato muda completamente este negócio. Mostra que a redução das emissões derivadas do consumo de energia não se traduz em mal-estar para as pessoas. Temos técnicas para assegurar que as mudanças exigidas à sociedade pelo aquecimento global sejam menos traumáticas do que pensávamos recentemente”.

Perguntado se acreditava que a crise hídrica tivesse sido uma lição para a sociedade sobre a fragilidade do fornecimento de energia, aduziu “a ocorrência dos eventos climáticos extremos coloca a sociedade em um clima de incerteza totalmente inédito. Não podemos dizer que fenômenos como este ocorrerão, por exemplo, a cada dez anos. Não há uma frequência correta. Falta uma campanha para mostrar à população que economizar energia continua sendo muito importante, mesmo com os avanços tecnológicos”.

O senhor também inclui o setor alimentício no rol daqueles que mais demandam mudanças radicais no relacionamento entre clima, empresas e consumidores. Manifestou convicto que “a indústria alimentícia é altamente dependente de insumos químicos.

Ao mesmo tempo, a explosão da epidemia de obesidade está fazendo com que as grandes empresas do setor agro-alimentar revejam os seus modelos de negócio.

Então, a forma de vender alimentos é cada vez mais contestada, tanto por organismos médicos como também pela opinião pública. Em qualquer setor, as empresas precisam conversar cada vez mais com os cientistas e ser sensíveis às mudanças das preferências dos consumidores. Do contrário, elas perdem sua legitimidade social, o que afeta seus lucros”.

Inquirido se as empresas estão preparadas para este diálogo, desenvolveu manifestações de que “ainda não. As empresas do século XXI são aquelas que conseguirão se organizar diante da preferência dos clientes, da rede de fornecedores, de políticas públicas e da concorrência. Elas sofrem pressões e devem reagir a elas. Já não investem mais em pesquisas que negam as mudanças climáticas, como faziam aquelas que exploram combustíveis fósseis”.

Em continuidade na entrevista, diante da questão que o senhor já escreveu artigos sobre o Antropoceno, um novo período geológico, o primeiro provocado pelo homem. Como nossa intervenção sobre o planeta tornou-se tão importante?

Respondeu que “cerca de 10 mil anos atrás, na Revolução Neolítica, o homem tornou-se uma força biológica, porque alterou ecossistemas com o surgimento da agricultura. Desde então, a temperatura do planeta não sofreu grandes alterações, oscilava cerca de 1 grau Celsius. Isso mudou a partir da Revolução Industrial, no fim do século XVIII, quando começamos a usar combustíveis fósseis.

O ser humano, em vez de força biológica, converteu-se em uma força geológica. Em tão pouco tempo, a temperatura já aumentou 0,8 grau Celsius. Além disso, vivemos uma explosão populacional. Durante o século XX, passamos de 1,6 bilhão para 6,1 bilhões de pessoas. Pela primeira vez, causamos a chegada de um novo período geológico. Este é o Antropoceno”.

Finalizando, diante do questionamento sobre o que pode ser feito a partir de agora, conclui “o Antropoceno não significa o fim do mundo. A questão é: como transformar o limão em limonada? Levando em consideração as transformações que provocamos sobre a Terra, o que significa uma vida digna? Precisamos aumentar a cooperação das pessoas, mudar a relação com o mundo natural.

Isso deve ser apoiado em revoluções tecnológicas. Precisamos de inovações sustentáveis, porque já é certo que as temperaturas globais aumentarão de 3 a 6 graus Celsius até o fim do século. O sistema produtivo precisa ser modificado”.

Aqui isto frequentemente tem sido denominado nova autopoiese sistêmica, na interpretação livre da semântica das acepções de Niklas Luhmann e Ulrich Beck, para um novo arranjo civilizatório.

Nada foi mais nefasto na civilização humana do que as hecatombes ambientais produzidas pela falta de liberdade e práticas ambientalmente condenáveis geradas pela auto-suficiência de ditadores socialistas.

Esta mudança deve começar logo, juntando as lutas singulares, os esforços diários, os processos de auto-organização e as reformas para retardar a crise, com uma visão centrada numa mudança de civilização e uma nova sociedade em harmonia com a natureza.

Não é preciso esperar catástrofe ecológica ou hecatombe civilizatória para determinar nova autopoiese sistêmica. Nada foi mais deletério em causar a maior catástrofe ambiental do planeta do que a falta de liberdade e imprensa livre dos ditos regimes socialistas.

Mas esta é a concepção resultante de convicções muito pessoais e personalizadas.

Referência:


Dr. Roberto Naime, Colunista do Portal EcoDebate, é Doutor em Geologia Ambiental. Integrante do corpo Docente do Mestrado e Doutorado em Qualidade Ambiental da Universidade Feevale.

Sugestão de leitura: Civilização Instantânea ou Felicidade Efervescente numa Gôndola ou na Tela de um Tablet [EBook Kindle], por Roberto Naime, na Amazon.

Integração Lavoura Pecuária Floresta (iLPF): Tecnologia da Embrapa evita desmatamento de novas áreas para produção

“A tecnologia é capaz de dobrar a produtividade, quintuplicar a produção de pecuária sem alteração de custo e sem abertura de novas fronteiras agrícolas”, diz pesquisador da Embrapa. Foto: Divulgação Embrapa/ Breno Lobaro

A tecnologia aplicada na agricultura tem permitido que em uma mesma área sistemas integrados produzam até quatro safras por ano. Desenvolvido pela Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), os sistemas de integração envolvem a produção de grãos, fibras, madeira, energia, leite ou carne, em plantios em rotação, consorciação e/ou sucessão.

Tratada como a “revolução dos trópicos”, por um de seus criadores, o pesquisador da Embrapa Cerrados João Kluthcouski, a técnica funciona basicamente com o plantio, durante o verão, de culturas agrícolas anuais como arroz, feijão, milho, soja ou sorgo e de árvores, associado a espécies forrageiras (braquiária ou panicum). As combinações são variadas entre os componentes agrícola, pecuário e florestal e levam em consideração espaço e tempo disponíveis.

“Essa é a maior revolução dos trópicos, do cinturão tropical do mundo todo. Porque ela não é uma simples tecnologia, é um complexo tecnológico de fácil aplicação e entendimento, que permite recuperar áreas degradadas com alta sustentabilidade. Este é o sistema de integração: recuperação de áreas degradas, produção sustentável, quatro colheitas por ano que dependem apenas de chuva”, explica João Kluthcouski, conhecido como João K.

Ao integrar as atividades, evita a necessidade de desmatamento de novas áreas para o aumento da produção. A tecnologia resulta em diferentes sistemas integrados, como lavoura-pecuária-floresta (iLPF), lavoura-pecuária (iLP), silvipastoril (SSP) ou agroflorestais (SAF). A técnica de integração aceita todas as espécies vegetais, em áreas de a partir de 1 hectare de terra.

“A tecnologia é capaz de dobrar a produtividade, quintuplicar a produção de pecuária sem alteração de custo e sem abertura de novas fronteiras agrícolas”, disse João K.

O pesquisador foi o idealizador da implementação da tecnologia na Fazenda Santa Brígida, localizada em Ipameri (GO), a 200 km de Goiânia. Na ocasião, a proprietária Marize Porto Costa acabara de ficar viúva e a fazenda, até então administrada por seu marido, estava com dificuldades de manutenção.

“Quando nós assumimos a gestão da fazenda Santa Brígida em 2006, nós nos deparamos com pastos totalmente degradados, infestados de cupim e que não davam suporte para os animais que estavam aqui [na fazenda]. Quando fizemos o levantamento para ver quanto ficaria para recuperar esse espaço, nós vimos que da forma convencional era impossível fazer isso aí, era uma coisa cara e com retorno de logo prazo”, conta Marize, ao descrever o cenário da fazenda antes de procurar apoio técnico da Embrapa.

Visitada pela Agência Brasil*, a fazenda atua no sistema de integração lavoura-pecuária-floresta, com produção de gado, soja, milho, girassol e eucaliptos. Antes do sistema, a produção era de duas e meia arroba por hectare/ano. Atualmente, são 25 arrobas por hectare/ano. Com relação à soja, no começo, houve um empate de produção para uma evolução de 65 sacos por hectare/ano. A produção de milho, que era 90 sacos por hectare passou para projeção de 185 a 190 sacos por hectare.

Pecuária

Segundo o presidente da Embrapa, Maurício Lopes, o sistema representa um “novo paradigma de produção” da agricultura e pecuária brasileiras. A estatal trabalha no desenvolvimento de métricas que permitirão, ao associar a tecnologia de integração, o rastreamento da produção e a certificação da carne brasileira, em um sistema de chamado “Carbono Zero”.

Quando se cria uma métrica e um processo de rastreabilidade para a carne inserida num processo como esse, onde se tem soja, milho, árvore, pasto, o que acontece é que o sistema faz um ‘off-set‘ da emissão de metano. A Embrapa já tem dados seguros mostrando que é perfeitamente possível, quando se computa o carbono, que é incorporado pela pastagem, pelas lavouras”, explica Lopes.

Lopes ressalta que o desafio do sistema é a falta de informações do produtor rural e o estímulo para adoção do sistema. Segundo o presidente, a estatal tem atuado na adaptação de modelos para média e pequena propriedade. Nestes casos, as possibilidades de integração são mais diversificadas, mas ainda desconhecidas por parte dos agricultores.

“Com este sistema, nós estamos mudando o conceito tradicional de sustentabilidade, que era o seguinte: use os recursos naturais de forma inteligente, segura e garanta que ele esteja bom para os seus filhos. Nós estamos trabalhando um outro conceito de sustentabilidade, vamos entregar um produto muito melhor para os nossos filhos. A gente está construindo estoques de carbono no solo”, afirma Lopes.

Segurança alimentar

Segundo Maurício Lopes, os sistemas integrados diminuem a necessidade do uso de agrotóxicos na produção e atuam em variações de clima e temperatura de maneira mais segura.

“Sistemas integrados em oposição a sistemas únicos ou uso massivo de uma espécie só, eles são sistemas naturalmente mais resilientes. Esses sistemas mantém uma vida biológica extremamente mais diversificada, isso facilita por exemplo, abrigo para inimigos naturais de pragas, o que não se encontra, geralmente, em grandes culturas. Você elimina o abrigo para aqueles que seriam os inimigos naturais das pragas. Quando se tem um sistema mais diversificado, aumenta a probabilidade de você ter abrigo e proteção para inimigos naturais”, explica Lopes.

Rede de Fomento

Paulo Herrmann, presidente da empresa de máquinas agrícolas John Deere Brasil e da Rede de Fomento à Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (iLPF) explica que a tecnologia integra produção e preservação da natureza.

Do ponto de vista ambiental, ela é um avanço no que nós temos hoje, porque se tem sempre o solo coberto, sempre há vegetação, vai ter menos emissões de carbono o tempo todo, menos aquecimento global. Se consegue produzir a mesma quantidade de elementos, de produtos, que você faria num sistema convencional, numa área seis vezes menor, com 55% menos emissões [de gases]”, aponta.

Hermann destaca o benefício social da tecnologia. “Como se trata de uma atividade mais intensa, se passa a ter uma atividade ao longo do ano e isso fixa mão de obra, gera mais emprego porque é mais intensiva, tem que ter mais gente especializada para trabalhar com máquina, com a parte de gado”.

O presidente da rede de fomento ressalta a mudança de paradigma como obstáculo para o uso da tecnologia no país. “A maior dificuldade é a quebra de paradigma, não é a dificuldade da pessoa em fazer. É ela colocar na cabeça que pode plantar duas coisas ao mesmo tempo sem ter prejuízo de produtividade. De uma maneira geral, não estamos preparados para esse tipo intensivo de trabalho”.

A Rede de Fomento ILPF foi criada em 2012, composta por uma parceria entre Embrapa e as empresas Cocamar, Dow AgroScience, John Deere, Parker, Syngenta. Atualmente, há 97 unidades de referencia Tecnológica distribuídas em todos os biomas brasileiros, que envolve a participação de 19 Unidades de Pesquisa da Embrapa para disseminar informações sobre a tecnologia.

*A repórter viajou a convite da John Deere Brasil 

Por Heloisa Cristaldo, da Agência Brasil, in EcoDebate, 21/06/2016

Degradação do solo e secas causam malnutrição crônica de 800 milhões de pessoas, alerta ONU

Em Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, celebrado na última sexta-feira (17), secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, alertou que “nos próximos 25 anos, a degradação do solo pode reduzir a produção de alimentos em até 12%, levando a um aumento de 30% no preço da comida”.
Família de refugiados da Somália foge da seca no país e consegue chegar à Etiópia. Foto: ACNUR / J. Ose

Quase 800 milhões de pessoas no mundo enfrentam subnutrição crônica ligada diretamente à degradação do solo, à redução da fertilidade das terras, à perda de biodiversidade, ao uso insustentável de recursos hídricos e à seca. Pelos próximos 25 anos, estimativas indicam que a produção global de comida pode registrar uma queda de até 12%, provocando aumentos de 30% no preço dos alimentos.

Os números foram divulgados pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, na última sexta-feira (17) — Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca.

“Os meios de subsistência e o bem-estar de centenas de milhões de pessoas estão em jogo”, alertou o chefe da ONU. “Mais de 50% das terras agrícolas estão moderada ou severamente degradadas, com 12 milhões de hectares de produção perdidos a cada ano.”

Neste ano, a data mundial conta com o tema “Proteger o planeta, Recuperar a terra, Engajar pessoas”. O objetivo é conscientizar a comunidade internacional sobre a importância do combate à desertificação e mobilizar apoio em torno da implementação da Convenção da ONU sobre o tema.

Ao contrário do que o nome pode sugerir, a desertificação não é a expansão natural de desertos existentes e não está vinculada necessariamente a biomas desérticos. O fenômeno envolve, na verdade, a degradação do solo — por atividades humanas como agricultura não sustentável, mineração, uso excessivo da terra para pastagem e corte raso de porções do território — em regiões áridas, semiáridas ou sub-úmidas e secas.

A queda da produtividade e a redução da cobertura vegetal são algumas das consequências da desertificação. Em seu pronunciamento, Ban Ki-moon ressaltou que este e outros problemas, como as mudanças climáticas e as secas, “estão interconectados”.

“Sem uma solução a longo prazo, a desertificação e a degradação do solo não vão apenas afetar o fornecimento de alimentos, mas levar também ao aumento das migrações, ameaçando a estabilidade de muitas nações e regiões.”

De acordo com o secretário-geral, uma estratégia importante para combater o esgotamento dos solos é a agricultura sustentável e sensível às questões climáticas. Além de contribuir para a absorção de carbono da atmosfera e seu armazenamento no solo, o investimento em práticas agrícolas conscientes poderia criar cerca de 200 milhões de empregos até 2050 em toda a cadeia global de produção de alimentos.

O chefe da ONU lembrou que a Agenda 2030 inclui uma meta — a terceira do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nº 15 — para neutralizar a degradação do solo — o que implica recuperar 12 milhões de hectares por ano.

A secretária-executiva da Convenção da ONU para Combater a Desertificação (UNCCD), Monique Barbut, alertou que a tendência a explorar novas terras, em vez de recuperar e reutilizar o solo já degradado, significa negar às gerações futuras o direito de se beneficiar dos mesmos recursos disponíveis hoje.

Segundo ela, a conservação e restauração da terra “é um voto para preservar nossas próprias liberdades de escolha e a das crianças”. “Também é um padrão moral contra o qual nós poderemos ser julgados pela história.”

UNESCO: desertificação representa um terço das ameaças globais à biodiversidade

“A desertificação é um fenômeno mundial, que afeta a disponibilidade de recursos e a sustentabilidade, além de causar impactos nos meios de subsistência de 900 milhões de pessoas em todos os continentes, representando um terço das ameaças mundiais à biodiversidade”, lamentou a diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Irina Bokova, também por ocasião do Dia Mundial.

“Essa é uma ameaça tanto para regiões áridas como para regiões não áridas, nas quais a superexploração do solo, incluindo a agricultura intensiva, a exploração das florestas para a obtenção de combustível e madeira, e as atividades pastoris realizadas em excesso transformaram solos férteis em terras estéreis.”

A chefe da agência da ONU lembrou que as Nações Unidas contam com iniciativas — o Programa sobre o Homem e a Biosfera, o Programa Hidrológico Internacional e o Programa de Ação Mundial de Educação para o Desenvolvimento Sustentável — que buscam engajar as pessoas em práticas de gestão sustentável da terra e em práticas agroflorestais.

O objetivo comum dos diferentes programas é promover o desenvolvimento de economias verdes, o consumo responsável e a recuperação de ecossistemas.

“A desertificação nem sempre é irreversível. A recuperação do solo é a melhor ferramenta para isso, e a UNESCO está determinada a fazer de tudo para recuperar os nossos ecossistemas, como foi destacado no Congresso Mundial de Reservas da Biosfera, que aconteceu em Lima, em março de 2016.”

Da ONU Brasil, in EcoDebate, 20/06/2016

quarta-feira, 22 de junho de 2016

Walnuts may improve your colon health

Eating walnuts changes the gut microbiome and reduces cancer growth, study shows

Date: June 2, 2016

Source: University of Connecticut

Summary:
Eating walnuts may change gut bacteria in a way that suppresses colon cancer, researchers report. A team of researchers found that mice that ate 7-10.5 percent of their total calories as walnuts developed fewer colon cancers. The effect was most pronounced in male mice, which had 2.3 times fewer tumors when fed walnuts as part of a diet similar to the typical American's.

Eating walnuts may change gut bacteria in a way that suppresses colon cancer, researchers led by UConn Health report in the journal Cancer Prevention Research.

A team of researchers from UConn Health and The Jackson Laboratory for Genomic Medicine found that mice that ate 7-10.5 percent of their total calories as walnuts developed fewer colon cancers. The effect was most pronounced in male mice, which had 2.3 times fewer tumors when fed walnuts as part of a diet similar to the typical American's. That's equivalent to a human eating about an ounce of walnuts a day.

"Our results show for the first time that walnut consumption may reduce colon tumor development," said Principal Investigator Dr. Daniel W. Rosenberg of UConn Health. "There is accumulating evidence that eating walnuts may offer a variety of benefits related to health issues like cancer. This study shows that walnuts may also act as a probiotic to make the colon healthy, which in turn offers protection against colon tumors."

Walnuts are packed with compounds known to be important nutritionally. They have the most polyunsaturated fatty acids of all the commonly eaten tree nuts, as well as the highest ratio of omega-3 to omega-6 fatty acids, and high levels of a form of Vitamin E with anti-cancer properties.

But walnuts are not merely the sum of their chemical parts, and it may be as a whole food that they pack the most significant anti-cancer punch against colon cancer, the third most common cancer in the world. Other studies have shown walnuts have promise warding off diseases connected to diet and lifestyle, including heart disease, diabetes and neurological disorders.

Rosenberg, a cancer researcher and professor of medicine at UConn Health and Dr. Masako Nakanishi, a research associate in the Center for Molecular Medicine at UConn Health tested the cancer prevention qualities of walnuts on mice fed two different diets. One group of mice ate a standard lab mouse chow, while the other group ate a chow that captured the nutritional profile of the typical American diet. Subsets of both groups were supplemented with walnuts.

Interestingly, male mice fed the Western diet fortified with 10.5 percent walnuts showed the greatest decrease in colon tumors compared with mice fed no walnuts.

To figure out why walnuts were beneficial, the UConn Health team collaborated with Dr. George Weinstock and colleagues at The Jackson Laboratory. Weinstock's lab took fecal samples from the mice and analyzed the communities of bacteria living in their digestive tracts. They found that walnut consumption tended to push the gut microbiome toward an ecology that was potentially protective against cancer. It's not clear exactly how this works, but there are clues. For example, previous research has shown that some gut bacteria digest fiber into compounds with anti-inflammatory properties that may reduce tumor initiation. The microbiome analyses also reflected interesting differences between male and female. Males on walnut-free diets tended to have less-diverse gut flora than females. Adding walnuts to the diets of male mice brought their microbiomes closer to those of female mice on either of the diets. Whether this change contributes to the protection seen in male mice remains to be determined.

Because the studies were done only in mice, more testing needs to be done in humans before walnuts can be unequivocally recommended as a cancer-prevention agent. Rosenberg's group is working with a nutritionist and surveying human colonoscopy patients about their diets as part of a longer term study in humans.

However, Rosenberg isn't waiting for the final word. Even right now, he says, "I try to eat walnuts every day."

He adds: "We're excited about future studies where we will be able to look at food consumption patterns to see how these results apply to humans."

This research was supported in part by the California Walnut Commission (CWC) and the American Institute for Cancer Research.

Story Source:

The above post is reprinted from materials provided by University of Connecticut. Note: Materials may be edited for content and length.

Journal Reference:
M. Nakanishi, Y. Chen, V. Qendro, S. Miyamoto, E. Weinstock, G. M. Weinstock, D. W. Rosenberg. Effects of walnut consumption on colon carcinogenesis and microbial community structure. Cancer Prevention Research, 2016; DOI: 10.1158/1940-6207.CAPR-16-0026

Cite This Page:
University of Connecticut. "Walnuts may improve your colon health: Eating walnuts changes the gut microbiome and reduces cancer growth, study shows." ScienceDaily. ScienceDaily, 2 June 2016. <www.sciencedaily.com/releases/2016/06/160602162940.htm>.

Técnica acelera desidratação e preserva compostos da uva


Campinas, 29 de fevereiro de 2016 a 06 de março de 2016 – ANO 2016 – Nº 647

Protótipo está pronto para ser transferido a produtores de vinho ou de sucos



Edição de Imagens: André Vieira
Estudo de doutorado desenvolvido na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) dá um passo além na implementação de um sistema de imagens espectrais – de um mesmo objeto representado em diferentes comprimentos de onda – para análise de produtos agrícolas durante um processo de desidratação. “É uma técnica de imagem e de calibração de sistema já testada para a cultura da uva e com potencial para ser utilizada também em outros estudos na área de máquinas agrícolas e de pós-colheita”, concluiu o engenheiro agrícola Rodolpho César dos Reis Tinini.

Com os resultados obtidos, foi possível chegar ao protótipo de um sistema que já está pronto para ser transferido a produtores de vinho ou de sucos. Ele acelera o processo de perda de água e promove a desidratação moderada (perda de 10% de água) em no máximo 24 horas, agregando valor ao produto com a concentração de açúcares e potencializando a ação de polifenóis e reverastróis, compostos das uvas e derivados com efeitos benéficos à saúde humana (atividade antioxidante). Em geral, na Europa isso é feito de maneira mais lenta: demora entre 40 e 90 dias, dependendo do tipo de uva e do vinho licoroso que se deseja obter. 

Segundo a docente da Feagri Bárbara Teruel, orientadora da tese, a proposta é que, com essa técnica, sejam desenvolvidas análises de qualidade em tempo real, sem que haja destruição do produto, e que ela sirva como subsídio às estratégias de controle automático do processo. A ideia é ter em menos tempo o produto no ponto exigido para o processamento, tanto vinificação quanto produção de sucos integrais, aqueles normalmente comercializados nos supermercados em garrafas de vidro.

Esse estudo, coorientado pelo professor do Instituto de Física de São Carlos (IFSC), da USP, Luis Gustavo Marcassa, aplica as imagens para determinar a concentração de açúcares das uvas submetidas ao processo de desidratação parcial em grau Brix – uma escala numérica usada na indústria de alimentos para medir a quantidade aproximada de açúcares totais. Grau Brix pode ser considerado o grau de doçura de uma fruta ou de um líquido. Conforme aumenta a concentração de açúcar, a refração do líquido se altera. Daí aplica-se tal escala para medir a quantidade de açúcar.

Rodolpho revelou que o tema partiu de uma demanda do próprio processo que seu grupo de pesquisa perseguia. “Fizemos um estudo preliminar e medições nas quais se verificaram algumas possibilidades de futuro para a engenharia agrícola, entre elas as imagens espectrais. Resolvemos incorporá-las ao nosso sistema de desidratação de uvas, discutindo como esse produto responde às diversas fontes de iluminação em diferentes espectros para correlacionar a resposta através das imagens com a atividade físico-química do produto, no caso os sólidos solúveis.”

O próximo passo do doutorando foi avaliar três variedades de uvas de vinificação: a cultivar Brasil, a cultivar Itália e a cultivar Benitaka, para consumo em mesa ou para produção de sucos e vinhos. Num segundo experimento, o pesquisador trabalhou somente com a cultivar Itália, por ela ter mostrado melhor performance para uso na imagem espectral.

Os resultados da pesquisa foram significativos. “Conseguimos uma correlação muito alta entre a variável sólidos solúveis em graus Brix com a imagem espectral – entre 0,89 e 0,90 – e a possibilidade de aplicar o que vimos no processo de desidratação para medir e verificar os diferentes aumentos da concentração de açúcares no produto”, afirmou Rodolpho.

A professora Bárbara comentou que esse é um sistema de baixo custo que pode ser implementado de modo prático nas propriedades. As análises por meio de imagens poderiam ajudar a diminuir a quantidade ou mesmo eliminar as análises químicas em laboratório, o que traria benefícios para as linhas de produção, para não interferir no processo.

Conseguir a concentração de açúcar nas uvas destinadas à vinificação poderia colaborar para reduzir a quantidade dessa substância adicionada hoje ao processo do vinho, chamado chaptalização (que consiste em acrescentar açúcar de cana ou de beterraba ao mosto do vinho, antes ou durante a fermentação). O intuito é aumentar a quantidade total de açúcar e, assim, atingir o teor alcoólico exigido pela legislação, por causa das uvas não terem a concentração necessária.

Essas tecnologias já estão estudadas, desenvolvidas e prontas para adentrarem o mercado produtivo, além de poderem propiciar parcerias em projetos que viriam a transformá-las num equipamento. “Cada situação merece um projeto, um dimensionamento adequado à quantidade de produto, ao tipo de uva, de vinhos e de suco que se gostaria de produzir. Temos a expertise para desenvolver esse projeto, inclusive junto a empresas que fazem a montagem de equipamentos”, explicou Bárbara.

Melhoramentos

A retirada de água das uvas destinadas à vinificação já vem sendo feita há algum tempo na Europa, ressaltou a orientadora do estudo, sobretudo para vinhos doces – os chamados licorosos. Mas, informou Bárbara, isso é feito de maneira lenta, dependendo do tipo de uva e do vinho licoroso que se pretende atingir.

Em algumas regiões do Chile, essa retirada de água é feita em condições ambientais. As uvas são colocadas num meio natural, com o ar mais seco ou dentro de uma câmara onde as variáveis de temperatura e umidade relativa são mantidas dentro de certo patamar. Na Europa, isso é basicamente feito à baixa temperatura – em torno de 5º C. No Chile, em regiões desérticas, aproveita- se das condições ambientais de baixas temperaturas e baixa umidade relativa do ar.

No presente estudo, uvas foram submetidas a uma temperatura em torno de 37ºC para acelerar o processo de perda de água. Com isso, também foi possível verificar a potencialização de fenóis e de reverastróis. “Fizemos tudo em 24 horas: primeiro aumentando a temperatura até 37ºC, onde não há deterioração dos perfis aromáticos, e depois mantendo a uva em temperatura mais amena (por volta de 5ºC), para deixá-la pronta para processamento”, relatou Bárbara.

De acordo com Rodolpho, o processo em si pode ser utilizado em qualquer produto agrícola no qual se deseje tirar uma quantidade de água em curto espaço de tempo. Como o sistema incorpora o controle automático da temperatura e da vazão de ar, ele permite trabalhar em diferentes faixas. Mas vai depender do tipo de produto que vai ser oferecido.

As imagens, além de poderem ser aplicadas para identificar compostos físico-químicos, também são uma técnica factível para verificar danos mecânicos: algum machucado no produto, alguma necrose, algum distúrbio fisiológico (como fungos e bactérias), se ele for visível. As aplicações são tanto para a medida de uma característica físico-química quanto para uma questão que envolva danos visuais, frisou o pesquisador.

Sua orientadora assinalou ainda que houve uma resposta muito interessante entre a imagem e os dados que tinham sido colhidos no laboratório, para as mesmas análises. Então hoje se pode dizer que esses resultados são robustos, visto que houve uma correlação muito próxima de 0,90, o que significa que a imagem representa muito bem a concentração de açúcar na fruta. Sem essa validação, é difícil saber até onde ela está mostrando com precisão o que está acontecendo no caso da uva.

Linha

Rodolpho apontou que é possível acompanhar o processo na tela do computador através de um software de supervisão, para que o seu responsável também tenha uma dimensão das características em tempo real. Agora, o doutorando e seus orientadores vão entrar com um pedido de patente junto ao Instituto Nacional de Propriedade Industrial (Inpi), envolvendo os componentes do sistema térmico, instrumentação do processo e a supervisão através do computador. Assim, o produtor poderia estar observando, visualizando e entendendo o que está havendo com a uva para também tomar decisões, descreveu o pesquisador, porque em produto fresco há uma variabilidade muito grande. Dependendo do grau de maturação, da época de colheita, da variedade, há uma concentração diferente de açúcares e resposta diferente do processo. 

Agora, independentemente da época do ano em que foi aquela colheita, pode-se ter dados para reprodutibilidade, para saber o que ocorreu naquele ano específico. Cada uva tem um comportamento, dependendo da época do ano, da colheita, da variedade.

Submeter as uvas ao processo de desidratação moderada contribui para a diminuição da heterogeneidade entre os produtos após a colheita, diminuindo ao mesmo tempo a variabilidade em termos de como ela está antes do processo de vinificação ou de produção de sucos, com o conhecimento da matéria-prima.

Por outro lado, a supervisão do processo em tempo real, acompanhado de imagens no computador e da medição dessas variáveis (temperatura, umidade relativa, peso do produto, a imagem que está sendo colhida e processada, que também está gerando uma resposta de como está a uva), permitem ao sistema se reajustar automaticamente, seja para aumentar a velocidade e a temperatura do ar.

Esse trabalho agregou muito à linha de pesquisa Agricultura de Precisão, técnicas que possibilitam o gerenciamento localizado dos cultivos, cuja responsável é a professora Bárbara Teruel. “Ele permitiu adquirir novas habilidades. Começamos a trabalhar na Feagri com o uso de imagens espectrais e processamento desse tipo de imagem aplicado à análise de qualidade não destrutiva e incorporar isso a um processo real de desidratação”, observou a orientadora.

Os alunos envolvidos nesse projeto participaram de cursos no Brasil e no exterior, adquirindo outras habilidades. Surgiram oportunidades de parcerias com a Espanha (Universidade Politécnica de Madri), os Estados Unidos (Universidade de Washington) e a Itália (Universidade da Tuscia), que trouxeram ao laboratório infraestrutura física para adquirir todos os componentes dos sistemas, além do sistema de imagens, que foi importado. O projeto de pesquisa teve financiamento da Fapesp. 

Além do doutorado defendido por Rodolpho recentemente, o projeto gerou uma tese de mestrado, já defendida (cujo pós-graduando foi indicado ao Prêmio Jovem Cientista em Fruticultura, na categoria de Mestrado, em 2012, pela Sociedade Brasileira de Fruticultura), e diversos trabalhos de iniciação científica pelo Programa Pibic.

Publicação

Tese: “Avaliação não destrutiva de sólidos solúveis por meio de imagens espectrais de uvas submetidas à desidratação parcial”
Autor: Rodolpho Tinini
Orientadora: Bárbara Teruel
Coorientador: Luis Gustavo Marcassa
Unidade: Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri)
Financiamento: Fapesp

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Estudo com células mensura toxicidade em achocolatados


Campinas, 04 de março de 2016 a 11 de março de 2016 – ANO 2016 – Nº 648

Método pioneiro consiste em simulação in vitro que avalia riscos e benefícios de ingestão de alimentos



Edição de Imagens: André Vieira
Nem sempre o teor total de elementos presentes em um alimento, seja ele essencial ou tóxico para a saúde, é absorvido pelo organismo humano. Um achocolatado à base de cacau, por exemplo, pode conter um teor total de determinado elemento metálico, como o níquel e o bário, capaz de causar, em princípio, eventual preocupação do consumidor, embora isso não represente, de fato, que aquela quantidade do elemento será assimilada pelo organismo humano. 

Uma pesquisa inédita e pioneira no Brasil desenvolvida no Instituto de Química (IQ) da Unicamp conseguiu simular, em um ambiente fechado e controlado de laboratório, elementos metálicos encontrados em 34 marcas de achocolatados em pó que poderiam ser efetivamente absorvidos pelo organismo. A simulação in vitro utilizou-se de células epiteliais do intestino humano para realizar uma avaliação mais realística do risco e do benefício associado à ingestão destes elementos.

O trabalho foi conduzido pela química Rafaella Regina Alves Peixoto, como parte de sua tese de doutorado defendida em agosto deste ano junto ao Programa de Pós-Graduação em Química do Instituto de Química (IQ) da Unicamp. O estudo foi orientado pela professora Solange Cadore, que atua no Departamento de Química Analítica do IQ. A docente trabalha junto ao Grupo de Espectrometria Atômica (GEAtom) da unidade e coordena linha de pesquisa sobre o tema.

A pesquisadora Rafaella Peixoto explica que o emprego de células epiteliais no estudo considerou a função do intestino delgado no organismo humano, responsável por 90% de todo o processo de absorção de nutrientes provenientes da alimentação. O órgão funciona como uma barreira às enzimas digestivas e substâncias não utilizadas pelo organismo, controlando seletivamente a entrada de nutrientes e de xenobióticos, compostos químicos estranhos ao corpo.

Embora constatada a presença de elementos metálicos que poderiam representar toxicidade ao organismo nos seus teores totais, sobretudo em achocolatados do tipo diet e light, o estudo demonstrou que, do ponto de vista da absorção destes elementos, não há qualquer risco à saúde. Os resultados mostraram que, em geral, uma pequena fração dos elementos bário (Ba), boro (B), manganês (Mn), níquel (Ni), selênio (Se) e cobalto (Co) foi capaz de atravessar as camadas celulares. Isto sugere, conforme Rafaella Peixoto, que tais elementos seriam absorvidos em uma extensão de fraca à moderada pelo epitélio intestinal humano.

“O achocolato pode sim contribuir para a ingestão de alguns elementos essenciais e, do ponto de vista toxicológico, dos contaminantes, este alimento é totalmente seguro. Com relação a esses elementos que nós avaliamos a possível absorção pelo organismo, os resultados mostraram que eles seriam absorvidos em uma extensão de fraca à moderada. Do ponto de vista toxicológico, portanto, isso não representa nenhum perigo”, garante a estudiosa da Unicamp.

Outros trabalhos coordenados pela professora Solange Cadore vêm sendo desenvolvidos para avaliar a efetiva absorção de elementos presentes em amostras de carnes bovinas cruas e processadas, no café solúvel, chá e em hortaliças utilizadas na dieta do brasileiro, como a alface e a couve. Todos os estudos recebem aporte financeiro da Fundação de Amparo à

Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) e do Instituto Nacional de Ciências e Tecnologias Analíticas Avançadas (INCTAA), tanto para a compra de equipamentos quanto para a concessão de bolsas de estudos.

“Este método desenvolvido pela Rafaella pode ser aplicado a todo tipo de alimento. Por enquanto estamos trabalhando com os alimentos separadamente, mas o objetivo, no futuro, é agregar, por exemplo, o achocolatado e o leite e o café com o leite, para analisar como estas interações entre os próprios alimentos podem ou não afetar a absorção de elementos metálicos pelo organismo”, antecipa a orientadora Solange Cadore. A docente da Unicamp desenvolve estudos nesta área desde 2011.
Pioneirismo

A química Rafaella Peixoto ressalta que a maioria dos estudos nutricionais e toxicológicos com relação à presença de elementos metálicos em alimentos ainda é feita baseando-se nos teores totais dos elementos, desconsiderando suas interações no organismo.

O estudo constitui-se, portanto, de acordo com ela, no primeiro do país, na área de química, a trabalhar com células do tipo Caco-2, oriundas do intestino humano, e aplicá-las para avaliação do que é denominado de biodisponibilidade e bioacessibilidade de elementos metálicos. Os conceitos consideraram, a partir de determinado alimento, as transformações que ocorrem nos componentes alimentares no trato gastrointestinal e sua absorção através do epitélio intestinal humano.

“Nós fomos o primeiro grupo que se tem conhecimento no Brasil, da área de química, a trabalhar com este tipo de células e aplicá-las para avaliação da biodisponibilidade de elementos metálicos. Esse método é muito usado na área farmacológica, mas na área de alimentos ainda é pouco explorado. Esta foi a maior relevância da nossa pesquisa, ou seja, avaliar o teor total, a fração digerida, que é a fração bioacessível, e chegar até a fração biodisponível, que se refere à quantidade de elementos que seriam absorvidos pelo epitélio intestinal.”

A estudiosa da Unicamp explica que o termo bioacessibilidade, na área nutricional, é um parâmetro usado como indicativo da quantidade máxima do composto ingerido que pode ser absorvido pelo epitélio intestinal. Já a biodisponibilidade refere-se à fração do elemento que é absorvido pelo organismo humano, alcança a circulação sistêmica e é utilizado para desempenhar funções vitais em seus tecidos alvos.

“O teor total é uma informação importante. A maioria dos trabalhos considera os teores totais. Mas uma avaliação mais adequada, tanto do ponto de vista nutricional quanto da segurança alimentar, precisa considerar que, quando nós ingerimos um alimento, ele tem todo o sistema digestivo para passar. Portanto, neste sistema digestivo vão ocorrer reações químicas de natureza enzimática capazes de influenciar no quanto desse elemento ingerido estará disponível para ser absorvido pelo corpo humano e no quanto efetivamente ele é absorvido”, esclarece Rafaella Peixoto.

“Atualmente os órgãos internacionais que regularizam a presença de elementos metálicos em alimentos estão começando a considerar estes dados de modo a estabelecer os níveis seguros de ingestão ou os níveis recomendados para os elementos essenciais. O ‘Codex Alimentarius’, uma comissão que regula mundialmente os padrões sobre alimentos, tem solicitado dados de bioacessibilidade e de biodisponibilidade para estabelecer os limites aceitáveis. Só que os dados ainda são escassos. Portanto, é um trabalho de grande contribuição”, completa a pesquisadora.

Ela informa que os estudos de bioacessibilidade foram conduzidos em parceria com o Grupo de Elementos Traza, do Instituto de Agroquímica y Tecnología de Alimentos (IATA) de Valência, na Espanha. O Instituto espanhol, um dos principais nesta área de pesquisa no mundo, pertence ao Conselho Superior de Investigação Científica (CSIC) da Espanha. A química graduada na Unicamp permaneceu seis meses em Valência. O estudo também contou com a colaboração do Instituto de Biologia (IB) da Unicamp.

No momento, Rafaella Peixoto se planeja para dar sequência aos estudos com uma pesquisa de pós-doutorado na Universidade de Oviedo, também na Espanha, sobre a especiação, fortificação com nanopartículas, biodisponibilidade e bioacessibilidade dos elementos presentes no leite materno.

Desafios

O desenvolvimento do estudo, que simula os processos digestivos que ocorrem na boca e no intestino, foi bastante desafiante do ponto de vista da pesquisa científica, reconhece a professora Solange Cadore. “No teor total há um número razoável de elementos num determinado alimento. À medida que vai passando para a etapa bioacessível, este número diminui. E quando chegamos à etapa da biodisponibilidade, com o uso das células, a concentração de elementos se torna muito pequena. E aí reside o grande desafio analítico, ou seja, desenvolver métodos para determinar estes valores.” 

Publicações

PEIXOTO, R. R. A.; OLIVEIRA, A.; CADORE, S. Multielemental determinations in chocolate drink powder using multivariate optimization and ICP OES. Journal of Agricultural and Food Chemistry, v. 60, p. 8117-8122, 2012.

PEIXOTO, R. R. A.; MAZON, E. A. M.; CADORE, S. Estimation of the bioaccessibility of metallic elements in chocolate drink powder using an digestion method and spectrometric techniques. Journal of the Brazilian Chemical Society, v. 24, p. 884-890, 2013.

Tese: “Elementos metálicos em achocolatados: teores totais e frações bioacessíveis e biodisponíveis”
Autora: Rafaella Regina Alves Peixoto
Orientadora: Solange Cadore
Unidade: Instituto de Química (IQ)
Financiamento: Fapesp, INCTAA

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Grupo pesquisa alcance da medicina baseada em evidências


Campinas, 29 de fevereiro de 2016 a 06 de março de 2016 – ANO 2016 – Nº 647

Pesquisadores da FT-Limeira trabalham com o conceito de translação do conhecimento

Texto: Carlos Orsi


Edição de Imagens: André Vieira
“Medicina Baseada em Evidências” é o nome dado à prática de integrar os resultados de estudos científicos bem conduzidos, incluindo os trabalhos mais recentes, ao processo de tomada de decisões pelos médicos no tratamento individual de seus pacientes, unindo os resultados das pesquisas à experiência pessoal do médico. O movimento tem ganhado impulso nas últimas décadas, mas enfrenta, além de resistências culturais, uma enorme dificuldade técnica: com mais de um milhão de artigos indexados a cada ano, como avaliar a qualidade das evidências e levá-las até o consultório?

No Brasil, a busca de solução para esses problemas tem sido alvo de estudos conduzidos pelo grupo de pesquisa Tecnologia e Informação em Saúde, liderado pelo pesquisador Ivan Luiz Marques Ricarte, da Faculdade de Tecnologia (FT) do campus de Limeira da Unicamp.

“Existe um certo folclore em torno da Medicina Baseada em Evidências”, disse Ricarte. “O pessoal acha que o objetivo é automatizar o processo de decisão clínica, mas não é por aí”, explica. “A ideia é fornecer a informação mais atualizada sobre os resultados de pesquisa para que, junto com a experiência do médico, do profissional de saúde – porque a gente também fala mais genericamente em Prática da Saúde Baseada em Evidências – a pessoa possa tomar a melhor decisão”.

O pesquisador acrescenta que a base de seu grupo de pesquisa é o conceito de translação do conhecimento, “que é como levar o resultado da pesquisa para a prática clínica”, define. “O que nós temos, normalmente, é o nosso mundo acadêmico: a gente faz a pesquisa, publica, cita, e aí ficam aqueles índices de produtividade, de impacto, mas do que isso tem de impacto real, na prática, nada se mede”, disse.

“A translação do conhecimento é um processo que passa pela difusão, pelo intercâmbio e pela aplicação do conhecimento da pesquisa, com o objetivo de melhorar o sistema de saúde. A ideia básica é: como você faz para levar essa informação, que é resultado de pesquisa, publicada em revista científica, à aplicação no paciente”.

Bases de Evidência

A internet abriga diversos websites que atuam como bases de evidência, onde editores monitoram a literatura científica da área médica, selecionam os artigos que têm maior chance de ser relevantes para a prática clínica e elaboram sínteses em uma linguagem mais acessível para o médico não-pesquisador. Os sites cobram pelo acesso, mas há serviços – como o Portal da Saúde Baseada em Evidências, do governo federal – que franqueiam o acesso de profissionais da área médica a diversas dessas bases.

“Mas há outras dificuldades, no sentido de que não basta colocar a informação à disposição”, disse Ricarte. “Não é suficiente. Há análises que mostram que não basta disponibilizar, porque muitas vezes o profissional não sabe que não sabe. Ele não sabe que precisa da informação. Às vezes, a pessoa acha que já sabe o suficiente e desconhece que há uma informação mais nova que pode até contradizer o conhecimento prévio dela”.

“Em um dos projetos que temos em andamento, fizemos essa pergunta para quem se inscrevia: que recurso você usa quando precisa tirar uma dúvida, tomar uma decisão sobre um paciente? E efetivamente no resultado que temos aí, com pouco mais de 350 participantes, a questão das evidências fica lá para baixo”, revela. “As pessoas respondem: vou ler um livro, um artigo científico, pergunto para os colegas... Mas as bases de evidências, e o portal Saúde Baseada em Evidências, então não são muito utilizados. E não é por falta de acesso à internet: outro tema que vimos foi, com que frequência você acessa a internet? Então, de 350, 315 acessam todo dia. E quantos acessam o portal Saúde Baseada em Evidências? Poucos acessam o portal, e quem acessa vai uma vez por mês. Então, está disponível mas não é acessado”.

O grupo de Ricarte trabalha nesse contexto: como que a tecnologia da informação pode ajudar o profissional de saúde a alcançar informações relevantes para apoiar o exercício de sua prática clínica, e a tomada de decisão clínica? “A informação está lá, agora é preciso usar a tecnologia para levar a informação ao profissional”, disse.

Exemplo canadense

Uma dissertação de mestrado orientada por Ricarte, com o título “Sistema de Recomendação de Evidência a Profissionais da Saúde”, defendida pela pesquisadora Natália Cristina Borges de Faria, na Faculdade de Engenharia Elétrica e de Computação (FEEC) da Unicamp, avaliou um sistema de recomendações de evidências médicas usado no Canadá.

“A Associação Médica Canadense tem um programa de capacitação dos profissionais que, diariamente, oferece uma síntese de evidências retirada de uma dessas bases de dados, via e-mail. O profissional recebe um e-mail desses todos os dias”, explica o pesquisador. “Porque não basta ter a informação disponível. O médico tem acesso à base de dados via web, mas não vai atrás”. Com o sistema de “push” – literalmente, “empurrar” – a informação é repassada ao médico sem que ele precise procurá-la. “Então, o profissional recebe a informação, vê o assunto do e-mail, de repente se interessa”.

Esses e-mails são estruturados sob a forma de uma questão clínica – uma eventual dúvida a que a evidência apresentada na mensagem pode responder – uma sinopse, o nível de qualidade da evidência e o link para a referência completa. “O e-mail também tem um link que permite à pessoa avaliar a evidência. Existe um questionário que foi desenvolvido na Universidade McGill, que avalia quatro aspectos da evidência, dessa informação que foi passada: qual foi o impacto cognitivo – a informação trouxe algo novo? Ou apenas fez lembrar alguma coisa que você já sabia? Ou você discorda de alguma informação, acha que ela está errada, tem algum problema com ela? Esse é o lado cognitivo”, descreve Ricarte.

“Tem ainda a questão de se o profissional vê uma possibilidade de aplicação prática daquela informação para algum de seus pacientes. Se for relevante para algum paciente: a terceira dimensão avaliada no questionário é, que tipo de uso você pretende fazer da informação? Você vai usar essa informação para, de repente, alterar a forma com que você está tratando o paciente? Ou você vai usar essa informação para convencer o paciente a fazer alguma coisa que ele estava meio reticente? Ou vai usar a informação para levar a um colega? E a quarta e última dimensão é: se você pretende fazer algum uso, é porque você espera algum benefício dessa informação. Espera? Sim ou não? E que tipo de benefício é esse”.

Na dissertação, foram avaliadas as respostas dadas aos questionários de avaliação durante um ano, juntamente com o perfil demográfico dos respondentes. “Nesse levantamento, vimos que havia algumas diferenças por tipo de perfil, área de atuação, faixa etária, até sexo influenciava um pouco. A partir disso, a Natália modelou um sistema que permitiria ao profissional poder saber qual informação está sendo melhor avaliada por pessoas com perfil similar ao seu”. O trabalho produziu um sistema de recomendação de práticas baseadas em evidências. “A partir de agora há um modelo de sistema que, baseado nessa estratégia de coletar informações sobre o que pessoas avaliam, e tendo o perfil demográfico de quem avalia, permite derivar que pessoas podem se beneficiar melhor dessa mesma informação”.

Prontuário eletrônico

Outra dissertação orientada por Ricarte na FEEC – onde atuava como professor-associado antes de se transferir para a FT como titular – trata de técnicas para agregar evidências ao prontuário eletrônico dos pacientes. Esse trabalho é de autoria do peruano Jan Carl Beeck Pepper, e intitulado “Usando Ontologias para Recuperar Evidências de Anotações Clínicas”.

“Ontologias descrevem domínios de conhecimento”, explica Ricarte. “É difícil tentar fazer uma extração de conhecimento, via computador, que seja genérica. Dado um texto de qualquer especialidade médica você pode querer tirar dele, por exemplo, o que é importante ali para buscar evidências associadas. Mas quando se focalizam determinados domínios de conhecimento, domínios específicos, fica mais fácil. Os termos são mais limitados, você já consegue, por meio da modelagem do conhecimento daquela área, saber que aquele termo tem a ver com um procedimento, ou que outro termo pode ser o nome de um medicamento. Com isso, dá para elaborar uma questão clínica, necessária para acessar as bases de evidências”.

O trabalho de Beeck-Pepper, relata o pesquisador, foi esse: “Ele pegou uma área de conhecimento que foi a parte de asma, doenças respiratórias. E fez um modelo, uma ontologia, para essas doenças e, a partir de notas clínicas simuladas, mostrou que era possível, a partir das notas, extrair os termos que seriam relevantes para fazer buscas em diferentes bases de evidências”.

Brasil

O método de agregar evidências aos prontuários está mais próximo da realidade brasileira, disse Ricarte, porque o Brasil ainda não conta com um sistema de “push” de evidências similar ao canadense. “No Brasil existe já um movimento no Ministério da Saúde de implantar o prontuário eletrônico”.

Quanto ao “push”, foi realizado um teste, chamado Evid@SP, encerrado em dezembro. “A gente fez um piloto, de praticamente um ano, só que em vez de mandar todos os dias, mandamos três vezes por semana. O último chega na véspera de Natal”. Com o fim dos testes, o sistema estará disponível para implementação no SUS, se as autoridades desejarem.

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Técnica permite aproveitamento integral de sementes de urucum


Campinas, 21 de março de 2016 a 03 de abril de 2016 – ANO 2016 – Nº 650
O urucum é o fruto do urucuzeiro, planta nativa da América tropical, que atinge de três a cinco metros de altura, tem grandes folhas verde-claro e flores rosadas. Os frutos são constituídos por cápsulas arredondadas, revestidas de espinhos moles, que se tornam vermelhas na maturação, contando de 30 a 40 sementes pequenas e duras. Estas sementes utilizadas pelos indígenas como corante são tradicionalmente empregadas também em cosméticos, contra picadas de insetos e na elaboração de certos pratos tradicionais. O urucum, empregado na culinária para realçar a cor dos alimentos, é conhecido como colorau.

As sementes de urucum (Bixa orellana L.) são hoje amplamente exploradas industrialmente com vistas à obtenção do pigmento bixina que possui aplicações em produtos cosméticos, farmacêuticos, têxteis, alimentícios - como carnes, embutidos, sucos, entre outros. O pigmento, que vai da coloração amarela ao vermelho intenso passando pelo laranja, passou a ter particular importância com o advento de legislações que impõem a substituição de corantes artificiais, grande parte deles lesivos à saúde, por outros de origem natural.

Pesquisa desenvolvida no Laboratório de Tecnologia Supercrítica: Extração, Fracionamento e Identificação de Extratos Vegetais (LASEFI) da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA) Unicamp, especializado em extrações de compostos de origem vegetal, por Sylvia Carolina Alcázar Alay, graduada no Peru em engenheira em indústrias de alimentos, usou como matéria-prima sementes de urucum que resultam do processo que utiliza CO2 supercrítico - Supercritical Fluid Extraction using CO2 (SFE-CO2 ) - com a finalidade de extrair a fração lipídica (gorduras) que as constitui, rica em tocotrienóis, antioxidantes importantes na indústria química, farmacêutica, de alimentos e de cosméticos.

Os pigmentos, devido a pouca afinidade com o CO2, permanecem nas sementes após a extração da porção lipídica. Desse processamento resultam sementes de muito valor em termos de bixina, pigmento com grande potencial de coloração e múltiplos empregos. O resíduo resultante da extração dos lipídeos mostra-se rico no pigmento, em carboidratos, proteínas e material lignocelulósico e livre de contaminantes nocivos à saúde humana.

O trabalho, orientado pela professora Maria Angela de Almeida Meireles Petenate e coorientado pela professora Tania Forster Carneiro, desenvolvido com a aplicação de tecnologias limpas para o aproveitamento integral das sementes de urucum de reduzido teor lipídico, decorreu da constatação de que atualmente em escala industrial são utilizadas técnicas rudimentares e ineficientes para o aproveitamento integral e sustentável das sementes de urucum.

O resíduo sólido derivado da SFE-CO2 é constituído de materiais ainda passíveis de aproveitamento porque contém polissacarídeos como amido, celulose, hemicelulose e lignina. Estes polissacarídeos constituem as chamadas fibras alimentares, que não são metabolizados pelo organismo mas contribuem em diferentes formas com a saúde. Além disso, estes componentes do material vegetal são considerados fontes de energia renovável. Hoje pesquisas apontam na direção do aproveitamento dessas fontes de energia para a produção de combustíveis e açúcares fermentescíveis, que podem ser utilizados para a síntese de biocompostos ou produção de energia. 

A pesquisadora propôs-se a estudar, então, técnicas que envolvem tecnologias limpas que possibilitem o máximo aproveitamento das sementes de urucum, segundo uma política de sustentabilidade que elimine ou minimize a geração de resíduos. Frise-se que, atualmente, extraída a bixina, o material residual é em grande parte descartado.

No processo adotado, as sementes de urucum – resíduo do processo de extração da fração lipídica – foram moídas e separadas em função do tamanho das partículas resultantes. Na fração de partículas de menor tamanho constatou-se uma concentração relevante de bixina e que, por isso, foi direcionada para obtenção de extratos com maior concentração desse pigmento.

Verificou-se, paralelamente, que as partículas maiores não continham uma concentração relevante de bixina, mas nelas eram importantes os teores de amido, proteína e material lignocelulósico - constituído de hemicelulose, celulose e lignina, o que levou a pesquisadora a tratá-las hidrotermicamente, usando água pressurizada assistida por CO2 supercrítico, com vistas a obter modificações na estrutura e propriedades dos seus componentes, visando novas aplicações na indústria.

Como resultados desses processos, os produtos gerados na pesquisa foram: 1) pó rico em bixina, composto pela fração de partículas de tamanho menor; 2) farinha de urucum, resultantes das partículas de maior tamanho após tratamento hidrotérmico, com características modificadas e adaptáveis a diferentes processos de aproveitamento, rica em fibra alimentar e com cor característica; 3) carboidratos hidrolisados que podem ser usados como suplemento alimentar ou na produção de energia.

Procedimentos

Em vista disso, diz a pesquisadora, “o nosso intuito inicial era o de aproveitar esse resíduo e submete-lo à hidrólise, pois a reação com a água leva a um processo de partição das grandes moléculas de polissacarídeos, constituídas por unidades de glicose unidas por diferentes tipos de ligações. Dessa partição resultam os chamados açúcares fermentescíveis, de que os micro-organismos conseguem se alimentar”. Com base nesse foco, ela pretendia obter um produto hidrolisado com açúcares que pudessem ser utilizados na produção de energia ou de alimentos, embora seu foco maior, como especialista em alimentos, estivesse particularmente centrado neles.

Mas a ideia era extrair o máximo do pigmento da semente antes da hidrólise. Já existiam estudos para extração desse pigmento com água ou etanol, usando a tecnologia de extração com líquidos pressurizados e a baixa pressão, mas como os resultados direcionaram novos estudos sobre o tema, a pesquisadora considerou que seria melhor realizar o processo à pressão ambiente, utilizando como solvente o álcool, substância aceita no processamento de alimentos e com maior afinidade pela bixina do que a água.

Para conseguir aumentar a superfície de contato das sementes com o solvente elas foram moídas. Após a moenda as partículas sólidas foram submetidas a sucessivas peneirações de forma a separá-las em várias granulações. Nesse processo ela se deu conta de que nas partículas menores concentrava-se 80% do pigmento, e o restante distribuía-se por outras granulações. Além do que, essas partículas pequenas não podiam ser levadas ao equipamento de tratamento hidrotérmico pelas caraterísticas técnicas do procedimento.

Estas constatações levaram a pesquisadora a repensar o trabalho, separando inicialmente as partículas finas do resíduo resultante da mistura das partículas maiores. A partir do granulado mais fino, com vistas à obtenção de um extrato com maior concentração de bixina, ela aplicou um procedimento de extração com etanol que demanda baixa pressão em leito agitado. Foi quando verificou que para a indústria o custo seria mais viável se o pigmento fosse fornecido já na forma granulada, sem necessidade de passar por um processo de extração e evaporação do álcool.

No passo seguinte Sylvia submeteu a mistura de partículas maiores a um processo hidrotérmico que viabilizasse seu aproveitamento na área de alimentos. Essas partículas grossas, resultantes da moagem, constituídas de cerca de 80 a 90% da massa das sementes, que contêm ainda reduzida porcentagem do pigmento, amido, material lignocelulósico e também um importante conteúdo de proteínas, passou a ser chamada de farinha de urucum. A ideia era tratá-la de forma a que pudesse ser usada, por exemplo, na panificação ou na produção de macarrão, em mistura com a farinha comum. Para tanto, haveria necessidade de um tratamento hidrotérmico que, sem destruir o amido presente, modificasse as propriedades reológicas da farinha tendo em vistas as aplicações desejadas.

Resultados

A pesquisadora conseguiu então através de tratamento hidrotérmico, sem a utilização de produtos químicos, produzir modificações simples, de baixo custo, viabilizando a utilização da farinha de urucum na produção de alimentos. Essas modificações centraram-se na modificação do amido e os atributos que a farinha passa a ter viabilizam seu uso nas indústrias de alimentos, tornando o resíduo aproveitável. Os subprodutos derivados do tratamento hidrotérmico são monossacarídeos, oligossacarídeos, ácidos orgânicos e outros de interesse comercial para a indústria de alimentos, química e energética.

Sylvia enfatiza: “Essa farinha poderá ser usada para substituir nos farináceos, por exemplo, 10% do trigo, reduzindo custos. Hoje as sementes de urucum são usadas em rações ou descartadas, pois seu aproveitamento não é considerado na indústria de alimentos. Ao usar a farinha de urucum aproveita-se ainda uma matéria-prima benéfica para a saúde rica em fibras e que, mesmo depois de desengordurada, contém ainda certa quantidade de lipídeos e antioxidantes, além de cor caraterística”.

A opção de tratamento apresentada é sustentável porque não gera resíduos, diferentemente de processos químicos muitas vezes utilizados para os mesmos fins. Além do que, o processo sugerido abre caminho para o aproveitamento de outras fontes de amido não convencionais, provenientes de outros produtos de origem vegetal.

Publicação 

Tese: “Aplicação de tecnologias limpas para o aproveitamento integral das sementes de urucum (Bixa orellana L.) de reduzido teor lipídico”
Autora: Sylvia Carolina Alcázar Alay
Orientadora: Maria Angela de Almeida Meireles Petenate
Coorientadora: Tania Forster Carneiro
Unidade: Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA)

Link:

Biocidas e membranas de quitosana são opções para controle microbiológico


Campinas, 11 de abril de 2016 a 24 de abril de 2016 – ANO 2016 – Nº 652

Estudo considera viável o uso associado de materiais em sistemas de distribuição de água

Fotos: Antonio Scarpinetti Divulgação
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O uso associado de biocidas e membranas de biopolímeros é uma alternativa viável ao controle microbiológico de sistemas que envolvem a distribuição de água, em substituição a produtos mais agressivos, que podem causar danos ao ambiente e comprometer a sustentabilidade. A conclusão é tese de doutorado da farmacêutica bioquímica Raquel Vannucci Capelletti, defendida na Faculdade de Engenharia Química (FEQ) da Unicamp, sob a orientação da professora Ângela Maria Moraes. De acordo com a autora, o estudo abre uma ampla gama de aplicações para esta estratégia, principalmente a partir da combinação de biocidas com membranas de quitosana.

De acordo com Raquel, os micro-organismos estão presentes na Terra muito antes do surgimento da espécie humana. E é muito provável que sobrevivam a ela. Esses seres microscópicos podem ser encontrados nas mais variadas superfícies na natureza, assim como nos processos industriais concebidos pelo homem. Colônias deles podem se concentrar em interfaces úmidas na forma de filmes, formando o que os especialistas denominam de biofilmes. Estes podem ser encontrados, por exemplo, na superfície dos dentes ou em tubulações de água de indústrias, residências e hospitais.

A presença dos biofilmes nesses locais, observa Raquel, pode acarretar a propagação de agentes patogênicos para todo o ambiente, provocando eventualmente a contaminação de pessoas. “A presença de biofilmes em tubulações de água de hospitais, por exemplo, pode ser decisiva para a disseminação de doenças infecciosas, principalmente entre pessoas que estejam com o sistema imunológico debilitado, como é o caso de pacientes internados em UTIs. Por hipótese, essa contaminação pode se dar até mesmo no momento do banho, por meio da água do chuveiro”, alerta.

No caso de uma indústria alimentícia, prossegue a autora da tese, os biofilmes podem se desenvolver na superfície de tanques e tubulações responsáveis pelo processamento ou transporte dos alimentos, causando sérios riscos de contaminação ou de dano a equipamentos. Uma das maneiras de promover o controle microbiológico é a realização de procedimentos constantes de limpeza e sanitização. Uma das estratégias mais utilizadas é a aplicação de biocidas, substâncias com ação germicida. “Ocorre que o uso indiscriminado desses produtos para combater a atividade microbiana pode gerar culturas resistentes e causar corrosão em tubulações”, observa Raquel.

A pesquisadora destaca que a eliminação de biofilmes dos ambientes industriais, hospitalares e residenciais não é uma tarefa trivial. Embora esse tipo de procedimento possa ser feito com 100% de eficácia, nem sempre é recomendável que a erradicação dos micro-organismos seja completa, tanto por causa dos custos envolvidos, quanto por questões técnicas. “Alguns processos industriais podem conviver com pequenos agrupamentos de biofilmes. Entretanto, vale reforçar, pacientes com o quadro de saúde debilitado ou que utilizem próteses ou cateteres correm maiores riscos frente aos biofilmes”.

A água, lembra Raquel, é um composto essencial ao desenvolvimento dos seres vivos, inclusive dos micro-organismos. “Em outras palavras, onde houver água haverá atividade microbiana. Dependendo das condições desse meio aquoso, podemos ter maior ou menor quantidade de micro-organismos dispersos ou associados”, explica. Em sua pesquisa, Raquel promoveu o uso combinado de biocidas comerciais com membranas de biopolímeros com o objetivo de prevenir a contaminação pelos biofilmes. “Utilizamos biocidas de referência com ação preservante [duradoura] e sanitizante [efêmera]”, informa.

Quanto às membranas de biopolímeros, a pesquisadora utilizou materiais desenvolvidos no Laboratório de Engenharia de Biorreações e Colóides da FEQ. Foram testadas membranas produzidas com quitosana [substância obtida a partir da quitina, presente na carapaça dos crustáceos, notadamente caranguejos e camarões] e com alginato [cujas principais fontes são algumas espécies de alga], ambos de baixa toxicidade a humanos. A quitosana, por si só, apresenta apreciáveis propriedades antimicrobianas em determinadas condições de uso.

Já o alginato tem atividade mais limitada. “Durante os testes, foram cumpridas diversas etapas. Primeiramente, nós verificamos se era tecnicamente factível o uso das membranas produzidas com diferentes tipos de quitosana e com o alginato, de forma isolada ou associada a biocidas, em substituição a agentes químicos mais agressivos no controle microbiano”, detalha a pesquisadora.
Depois, Raquel avaliou a atividade antimicrobiana dos dispositivos contra micro-organismos usualmente aplicados para validação laboratorial destes sistemas e também contra culturas resistentes oriundas de sistema de água de ambientes industriais. Na sequência, ela procurou determinar a forma de atuação da membrana selecionada como a mais promissora, no caso a produzida a partir da quitosana, e o seu grau de eficácia. “O que pudemos constatar foi que o uso da quitosana e do alginato como materiais para a produção de membranas que incorporam agentes com atividades antimicrobianas se mostrou adequado para a finalidade de controlar o desenvolvimento de biofilmes formado por contaminantes comuns”, afirma.

Com base nas etapas cumpridas ao longo da pesquisa, a autora da tese propôs um conjunto de recomendações sobre os cuidados que devem ser adotados pelo segmento industrial. As sugestões também indicam diretrizes para outros ambientes suscetíveis a contaminações, como o segmento de processamento de alimentos, de artigos para uso humano e de amparo à saúde. Segundo Raquel, os ensaios que compuseram o estudo foram realizados em um vestiário localizado em uma unidade industrial que atua no processamento de produtos químicos para linha escolar, no qual foram identificados focos importantes de contaminação e, consequentemente, um elevado potencial de comprometimento da saúde humana.

Raquel considera que a pesquisa descortinou uma ampla gama de aplicações para o uso desse tipo de estratégia de controle microbiológico, particularmente o emprego da membrana de quitosana associada a biocidas. “Nós cogitamos dar continuidade ao estudo, dessa vez analisando a viabilidade de uso das membranas para recobrir superfícies de materiais em instalações de distribuição de água, a exemplo do que é feito com as membranas de osmose reversa. Isso permitiria, por exemplo, a incorporação de novas tecnologias de detecção de contaminantes por monitoramento computadorizado em tempo real, para a avaliação mais precisa do desempenho do sistema”, infere.

A farmacêutica bioquímica não contou com bolsa de estudo concedida por agências de fomento, mas teve o poio da empresa para a qual trabalha, a Thor Brasil Ltda, que cedeu seus laboratórios para a realização das análises, bem como a liberou em alguns dias da semana para participar dos estudos teóricos e experimentos na Unicamp. “Este tipo de parceria entre o setor privado e instituições de pesquisa de renome como a Unicamp, que resulta na formação de pessoal qualificado e no desenvolvimento de novas tecnologias, é muito importante para a cadeia produtiva e para o avanço do nosso país”, considera Raquel.

Publicação
Tese: “Análise da associação de agentes antimicrobianos a biopolímeros para o controle de biofilmes em ambientes suscetíveis ao desenvolvimento de contaminantes oriundos de água”
Autora: Raquel Vannucci Capelletti
Orientadora: Ângela Maria Moraes
Unidade: Faculdade de Engenharia Química (FEQ)

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