Em Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca, celebrado na última sexta-feira (17), secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, alertou que “nos próximos 25 anos, a degradação do solo pode reduzir a produção de alimentos em até 12%, levando a um aumento de 30% no preço da comida”.
Família de refugiados da Somália foge da seca no país e consegue chegar à Etiópia. Foto: ACNUR / J. Ose
Quase 800 milhões de pessoas no mundo enfrentam subnutrição crônica ligada diretamente à degradação do solo, à redução da fertilidade das terras, à perda de biodiversidade, ao uso insustentável de recursos hídricos e à seca. Pelos próximos 25 anos, estimativas indicam que a produção global de comida pode registrar uma queda de até 12%, provocando aumentos de 30% no preço dos alimentos.
Os números foram divulgados pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, na última sexta-feira (17) — Dia Mundial de Combate à Desertificação e à Seca.
“Os meios de subsistência e o bem-estar de centenas de milhões de pessoas estão em jogo”, alertou o chefe da ONU. “Mais de 50% das terras agrícolas estão moderada ou severamente degradadas, com 12 milhões de hectares de produção perdidos a cada ano.”
Neste ano, a data mundial conta com o tema “Proteger o planeta, Recuperar a terra, Engajar pessoas”. O objetivo é conscientizar a comunidade internacional sobre a importância do combate à desertificação e mobilizar apoio em torno da implementação da Convenção da ONU sobre o tema.
Ao contrário do que o nome pode sugerir, a desertificação não é a expansão natural de desertos existentes e não está vinculada necessariamente a biomas desérticos. O fenômeno envolve, na verdade, a degradação do solo — por atividades humanas como agricultura não sustentável, mineração, uso excessivo da terra para pastagem e corte raso de porções do território — em regiões áridas, semiáridas ou sub-úmidas e secas.
A queda da produtividade e a redução da cobertura vegetal são algumas das consequências da desertificação. Em seu pronunciamento, Ban Ki-moon ressaltou que este e outros problemas, como as mudanças climáticas e as secas, “estão interconectados”.
“Sem uma solução a longo prazo, a desertificação e a degradação do solo não vão apenas afetar o fornecimento de alimentos, mas levar também ao aumento das migrações, ameaçando a estabilidade de muitas nações e regiões.”
De acordo com o secretário-geral, uma estratégia importante para combater o esgotamento dos solos é a agricultura sustentável e sensível às questões climáticas. Além de contribuir para a absorção de carbono da atmosfera e seu armazenamento no solo, o investimento em práticas agrícolas conscientes poderia criar cerca de 200 milhões de empregos até 2050 em toda a cadeia global de produção de alimentos.
O chefe da ONU lembrou que a Agenda 2030 inclui uma meta — a terceira do Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) nº 15 — para neutralizar a degradação do solo — o que implica recuperar 12 milhões de hectares por ano.
A secretária-executiva da Convenção da ONU para Combater a Desertificação (UNCCD), Monique Barbut, alertou que a tendência a explorar novas terras, em vez de recuperar e reutilizar o solo já degradado, significa negar às gerações futuras o direito de se beneficiar dos mesmos recursos disponíveis hoje.
Segundo ela, a conservação e restauração da terra “é um voto para preservar nossas próprias liberdades de escolha e a das crianças”. “Também é um padrão moral contra o qual nós poderemos ser julgados pela história.”
UNESCO: desertificação representa um terço das ameaças globais à biodiversidade
“A desertificação é um fenômeno mundial, que afeta a disponibilidade de recursos e a sustentabilidade, além de causar impactos nos meios de subsistência de 900 milhões de pessoas em todos os continentes, representando um terço das ameaças mundiais à biodiversidade”, lamentou a diretora-geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO), Irina Bokova, também por ocasião do Dia Mundial.
“Essa é uma ameaça tanto para regiões áridas como para regiões não áridas, nas quais a superexploração do solo, incluindo a agricultura intensiva, a exploração das florestas para a obtenção de combustível e madeira, e as atividades pastoris realizadas em excesso transformaram solos férteis em terras estéreis.”
A chefe da agência da ONU lembrou que as Nações Unidas contam com iniciativas — o Programa sobre o Homem e a Biosfera, o Programa Hidrológico Internacional e o Programa de Ação Mundial de Educação para o Desenvolvimento Sustentável — que buscam engajar as pessoas em práticas de gestão sustentável da terra e em práticas agroflorestais.
O objetivo comum dos diferentes programas é promover o desenvolvimento de economias verdes, o consumo responsável e a recuperação de ecossistemas.
“A desertificação nem sempre é irreversível. A recuperação do solo é a melhor ferramenta para isso, e a UNESCO está determinada a fazer de tudo para recuperar os nossos ecossistemas, como foi destacado no Congresso Mundial de Reservas da Biosfera, que aconteceu em Lima, em março de 2016.”
Da ONU Brasil, in EcoDebate, 20/06/2016
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